Alunos denunciam desmonte do Conservatório de Tatuí

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Desde o começo do mês, alunos do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí, no interior de São Paulo, realizam atos e mobilizações contra a demissão de professores, a falta de transparência e diálogo de diretores e o desmonte da escola. 
 
Estudantes de música afirmam que o estopim para as reações foi a demissão do professor e regente da Jazz Combo, Paulo Flores, considerado um dos fundadores do curso de MPB da instituição. Somente entre abril e maio deste ano, o conservatório demitiu 17 profissionais por cortes de verba.
 
A primeira das manifestações foi realizada no dia 6 de junho, em um protesto organizado pelo Grêmio Estudantil do Conservatório. Entre as reivindicações listadas no manifesto estavam mais transparência da administração com os alunos, clareza nas informações, reformulação do regimento escolar e da concessão de bolsas de estudo e melhores condições de infraestrutura para os alunos.
 
“Depois de muito debater com os alunos em assembleias gerais foi decidido fazer uma manifestação em formato de passeata com o objetivo de divulgar o que está acontecendo no Conservatório. Estamos vivendo uma situação lamentável de desvalorização da cultura no Brasil e vemos um descaso enorme do governo em relação à arte. Convidamos a todos que se identificam com a causa a participarem do ato”, disse Gustavo Marson, um dos integrantes do Grêmio.
 
No começo deste ano, a instituição não abriu o processo seletivo de bolsas de estudo e negou esclarecer a situação aos alunos. Referência na formação musical no Brasil, passaram pela instituição o pianista e compositor André Marques, do Trio Curupira, o baterista e compositor Cléber Almeida, do Trio Macaíba, e o saxofonista e também compositor Vinícius Dorin, parceiro musical de Hermeto Pascoal.
 
Paulo Flores trabalhava há 35 anos no Conservatório. “Os diretores não deram nenhuma
explicação sobre o motivo da demissão. Isso gerou uma enorme revolta aos alunos, pois, há meses vem sendo demitidos músicos e professores da instituição, que foram extremamente importantes por proporcionarem a fama que o Conservatório tem, de ser o melhor da América Latina”, disse Fernanda Marques, ex-aluna da instituição, ao GGN.
 
A ex-estudante contou que em uma tentativa de conversa com os alunos, o diretor se recusou a fazer uma assembléia para maiores esclarecimentos e, na última sexta-feira (24), “o diretor simplesmente, fechou a escola às 16:30h, e foi embora, um absurdo, pois, a mesma, em dias normais, fecha apenas às 22h”, relatou.
 
Na última terça-feira (21), cerca de 150 alunos de música se reuniram para protestar contra a demissão de Paulo Flores. Reivindicaram diálogo com Henrique Autran Dourado, diretor executivo da organização social Associação Amigos do Conservatório de Tatuí (AACT), responsável pela gestão do conservatório.
 
De acordo com estudantes, o diretor chegou a ler um comunicado a eles, justificando que a demissão do professor não estava relacionada a questões orçamentárias, mas sim administrativas, sem trazer outros detalhes. Após o ato, Henrique Dourado conversou com os alunos, que expuseram suas principais reivindicações, entre elas, o retorno do professor, considerado responsável pela projeção da escola no país, mais transparência da diretoria e mais diálogo.
 
Dourado se comprometeu a realizar encontros mensais com os estudantes, no intuito de aumentar o diálogo, mas descartou a possibilidade de recontratar Paulo Flores, indicando que outro profissional será contratado.
 
Nessa última sexta (24), os alunos realizaram mais um ato, desta vez contra o fechamento da escola e a demissão dos professores. A manifestação em forma de sarau ocorreu na entrada da unidade do Conservatório. De acordo com os estudantes, um encontro de músicos ocorreria dentro do prédio, mas os portões foram fechados às 16h30, antes do horário normal, sem poder realizar o evento.
 
“Eles não explicaram nem a demissão e nem o motivo de terem fechado a escola. Estão colocando os alunos para fora e nós não estamos podendo acessar o Conservatório. Estamos fazendo protesto por essas situações”, disse Rafael Gandolgo Scherk, representante dos alunos.
 
“Estão ocorrendo diversos atos autoritários contra os alunos, ferindo o exercício de democracia e direito à instituição. Além claro, do sucateamento de um dos que foi considerado, o maior e melhor Conservatório de música da América Latina”, afirmou a ex-aluna Fernanda Marques.
 
Em resposta, o Conservatório informou que o fechamento da instituição ocorreu por conta do final das provas do primeiro semestre letivo e não haver nenhum evento agendado para a data aós às 16h30. A instituição disse desconhecer qualquer evento dos alunos na sexta (24), pois não foi realizada nenhuma solicitação de uso das dependências.
 
Sobre as manifestações, o Conservatório disse que respeita o direito de livre expressão, mas que abriu sindicância interna para investigar registros de pessoas que “extrapolaram” na manifestação da última terça-feira (21).
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Desculpem mas não consigo

    Desculpem mas não consigo mais segurar o grito: vão para o inferno seus fdp!

    Um de meus professores estudou em Tatuí e me falava da sua excelência.

     

  2. Sou aluno do Conservatório e

    Sou aluno do Conservatório e a situação é realmente deprimente. A demissão claramente política de um dos melhores e mais respeitados professores da instituição foi um golpe muito forte. Um grande músico com mais de trinta anos contribuindo na formação de inúmeros músicos brasileiros e estrangeiros é demitido pela decisão de burocratas que,ao contrário dos excelentes músicos funcionários do Conserva, não entendem nem se importam com a música e com a cultura, e que foram indicados na canetada da hierarquia desfuncional do estado, que sob o PSDB atua no modo hardocre-implosão programada de qualquer coisa pública. Um microcosmo do que acontece no país. É um processo muito semelhante do que ocorre nas faculdades públicas, vide Rodas e Zagos da vida.

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