Do blog de Milton Corrêa da Costa no Brasilianas.org
AMARILDO
A noite da última da terça-feira, 30 de abril, foi de emoção e gratidão para o ex-craque de futebol Amarildo Tavares da Silveira, hoje com 73 anos, campeão do mundo na Copa de 62 no Chile, onde o Brasil conquistou, pela segunda vez, de forma consecutiva, em tempos de um endiabrado Garrincha, o bi-campeonato mundial de futebol. O encontro de Amarildo, o ‘Possesso’ -assim denominado por Nelson Rodrigues pela impetuosidade incomum- com seus fãs mais saudosos (fiz questão de lá prestigiar meu ídolo de adolescência) além dos novas gerações, se deu no Bar da Eva, no bairro do Grajaú, no Rio.
Ali, o craque, emocionado com o carinho com que foi homenageado, pode assistir, pela primeira vez segundo ele, o video-tape completo do jogo contra a Espanha, uma verdadeira batalha campal -os brasileiros à época acompanharam apenas pelas ondas do rádio- em que os espanhóis dominaram parte do jogo e onde nossa seleção venceu por 2X1, com dois gols de Amarildo, em bolas centradas na área por Zagallo e Mané Garrincha.
Era a estreia de Amarildo na Copa. Nessa inesquecível partida, considerado o jogo mais difícil do Brasil no caminho do bi-campeonato, que se pode constatar agora pelas imagens da televisão preto e branco, salta aos olhos a raça, o amor à camisa e o determinismo com que os nossos 11 ‘canarinhos’ se entregaram em campo, disputando a bola palmo a palmo do campo de Vinã del Mar.
Na célebre partida dois lances foram capitais para que chegássemos ao triunfo. A incomum defesa do goleiro Gilmar, quando a Espanha vencia po 1×0, já no segundo tempo, num lance de puro reflexo, quando num lance difícil, caído ao solo, conseguiu com a ponta dos dedos espalmar para escanteio um forte chute de um adversário. O outro lance capital foi a astúcia do lateral Nilton Santos -chamado de ‘Enciclopédia do Futebol’- na altura dos 15 minutos do segundo tempo (a Espanha abrira o marcador no primeiro tempo) ao dar um passo a frente, colocando-se fora da área, após ter cometido uma falta no adversário dentro da área. O penalti a favor da Espanha naquela altura poderia ter sido o fim do Brasil naquele Mundial. Felizmente para nós o árbitro, ao chegar atrasado ao local da falta, a marcou fora da área.
Amarildo, que substituiu naquela Copa, nada mais anda menos do que o Rei do Futebol, Pelé, então contundido no segundo jogo contra a Tchecoslováquia, visivelmente emocionado e grato pela homenagem recebida naquela noite, pelo considerável número de fãs presentes-a maioria dos que compareceram eram torcedores do Botafogo, onde o craque foi um de seus maiores artilheiros- tirou fotografias com todos e distribuiu inúmeros autógrafos.
No país em que ídolos e heróis são esquecidos rapidamente, o ‘Possesso’ teve uma justa e merecida homenagem. Para os craques das novas gerações fica a proposta de que quando convocados pela primeira vez para a seleção brasileira, em qualquer categoria, sejam obrigados, como fator motivacional, a assistirem, como primeiro dever de casa, ao tape do inesquecível Brasil e Espanha. Verão 11 ‘leões’ (saudades do Vavá) em campo e o amor incomensurável à camisa da seleção brasileira. A seleção, como dizia o saudoso Nelson Rodrigues, é a pátria de chuteiras. Aprenda-se.
Milton Corrêa da Costa é torcedor do Flamengo que na infância e na adolescência tinha também como ídolos craques de outros clubes
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