Amazonense, reaja ou então morra!

Enviado por Mestre Yoda

 

Ispia, maninho, purque tu sabe,

tu conhece aquela istória, caboco.

Premero eles chegaram lá na bêra

e robaram uma flô

do nosso jirau

E num falamo nada.

Aí, voltaram e já nem se isconderam mais:

os égua pisaram nas flô,

mataram as picota,

e fiquemo calado.

Até, caboco velho,

qui o mais descarnado do bando

entra em casa disarmado, botando no toco

pra frescar, rôba o lampião da genti,

i sabendo como nóis é froxo,

arranca nossa vóiz

i, de leso qui nóis somo

nem respondemo nada

quando arguém nos disse:

então morra!

Mapinguari do Manaquiri

 

            Peço desculpas aos leitores que, sendo de outros estados do Brasil, desconhecem o amazonês, pois o caso é urgente e, por isso, não será possível despender tempo e espaço no papel para traduzir certos termos, o papo é reto com o caboco amazonense e é pra já.

            Maninho, ei, maninho, ta morrendo gente pra porra! Não tá vendo não? Ainda não se mexeu porque? Ainda tá acreditando naquele conto de filho de seringueiro, caboco que nem a gente? Tu é leso, é? Ma rapá! Parece que esqueceu quem é o velho Zé Merenda. Olha, se foi pra se livrar do Cadeirudo, maninho, tu errou, mas errou feio, porque piorou, caboco, piorou foi muito.

            Tu sabe o que disse o governador antes das eleições? “Vou valorizar os profissionais da educação e a qualidade do ensino no Amazonas”. Sabe o que ele fez? Nem aquele reajuste merreca na database dos professores ele deu. Diz o povo que gastou foi todo o dinheiro do FUNDEB com a campanha eleitoral, distribuindo grana pelos interiores (é claro que o Braga também torra dinheiro adoidado com eleição).

            E sobre a segurança, que tá desse jeito, tu devia ter visto o que esse caboco fez antes das eleições, parece que é leso, como é que vota num cabra desses, mermão! O filho duma égua comprou os votos dos PMs, prometeu regalias em troca de votos. Tá pensando que é mentira, é? O TRE acusou o Melo por abuso de poder político por causa de conversas telefônicas gravadas. O Comandante-geral da PM, Eliézio Almeida, pedia apoio da polícia prometendo mundos e fundos. Ele e o sub dele foram afastados pela justiça.

            Tá pensando que é só isso, é? Acho é pouco! O Zé Merenda, segundo a revista Carta Capital (que foi quem contou o causo acima), assim que assumiu, meteu a mão em um milhão de reais do governo, por meio da assessora dele, uma tal de Nair Blair, numa compra fraudulenta para a Copa do Mundo. Meteu a mão e usou pra comprar votos. A meliante foi presa pela Polícia Federal com a bufunfa na bolsa e com os recibos falsos pra comprar eleitores.

            Tu ainda acha pouco, é? Então tá! O governador acabou com a pouca proteção que nossas florestas tinham, no Amazonas. A Secretaria de Meio Ambiente, que antes tinha 12 departamentos, ficou com quatro. E mais, passou a tesoura e deixou só 60 funcionários para cuidar de todo esse mundaréu de mata do Amazonas. Na área da Ciência e da Tecnologia, mano velho, aí foi pra acabar! A secretaria que cuida disso, a SECTI, o Zé Melo deu sumiço! Ulha já, a pasta que melhor funcionava nos últimos governos, a que ganhou fama e admiração nacional (deu até pra ficar pávulo, como amazonense, por um tempo), era um paraíso, o céu amazonense da boa destinação de recursos públicos. Apesar dessa secretaria ser pobre que nem morador de bodozal, o povo de lá, pra tu ver, era honesto, gente que não roubava dinheiro público (coisa rara na política amazonense) e que pagava, sem calotes, muitas bolsas pros conterrâneos cursarem mestrados e doutorados nas universidades brasileiras mais chibatas, uma grana boa, maior do que as bolsas de qualquer outro estado do país. Inda tem mais, davam dinheiro pra um monte de pesquisa pai d’égua sobre frutos, peixes, artesanato, educação, tecnologia, cultura, meio ambiente e um bocado de conhecimento sobre coisas de nosso estado em tudo o que é área diferente do saber. E não é que essa cabocada porreta, maninho, fazia isso na maior das transparências, com edital e tudo (ao contrário do governo, que não publica edital e some com o dinheiro). Olha, eu que sou pesquisador, fico até pávulo de dizer, mas meus colegas de trabalho eram uns cabocos de tanta confiança que não tinha quem duvidasse da maneira imparcial como esse povo avaliava nossos projetos de pesquisa. O governador, que parece que não gosta de gente honesta, mandou esse povo pegar o beco.

            É caboco, o sonho de ter, aqui na terra, outros modos de geração de renda, de praticar nossa economia com o trabalho livre e criativo de nossa gente, e não da escravidão das indústrias-chupins do “Detrito Industrial”, parece agora emborcado. Parece a lenda dos japiins, que de tanto arremedar o jeito dos outros, foi punido por Tupã. Será que vamos ficar sem voz e sem esperanças?

           E na segurança, isso tudo que você tá vendo, essa matança dos conterrâneos, assassinados por pistoleiros armados, só aumentou e ficou mais fácil de ver depois do tal facebook e das redes sociais. Só que o irmão do interior, o povo dos barrancos e beiradões, os povos da floresta, o morador da zona leste, da zona norte, oeste e, enfim, tudo o que é amazonense sabe que o governador é só mais um filhote, uma cria dos tantos coronéis, desta escola enorme de urubus do dinheiro público, aqueles que sempre botam a polícia pra amedrontar, pra bater, pra prender, pra matar, desses que faz acordo com bandido, com traficante, que bota um bocado de gente condenada pela justiça pra ser secretário de estado, assessor especial, coisa  e tal.

            O grande problema é que o amazonense precisa abrir mão (e rapidinho!) de um grande talento que mostrou ao longo dos últimos 30 anos: o de escolher, nas eleições, sempre o pior candidato pra ser governador.

            Ei, maninho, tu tica bodó, é? Tu chupa dindin de noite? Esse bando de coronéis de barranco te compra com rua de lazer, rancho, telha, dentadura, tijolo, dinheiro… Aliás, dinheiro não, esmola, porque dinheiro mesmo, fica com eles, tu fica quatro anos lascado, se vende por pouco e depois fica mendigando. Sabe porque, manozinho, sabe porque, manazinha? Porque tu só quer ser gatinh@, mas só come ovo!

Égua! Reage, man@! A coisa tá piorando! Tu duvida, é? Se parar, em frente à sua casa um carro preto ou uma moto vermelha, quero ver tu ficar parado! Não corre não pra ti ver? Acorda, parente! Ou então… Morra!


[1] Livre adaptação de “No caminho com Maiakovski”, de Eduardo Alves da Costa.

 

Redação

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