Área queimada no Pantanal é 4 vezes maior que incêndios na Califórnia

"Esses incêndios, não temos ideia para onde isso vai, quando vai parar e conforme a estação seca se intensifica, só vai piorar", disse membro da Amazon Conservation

Da CBC News

Uma enorme área úmida está queimando no Brasil, e os incêndios são muito maiores que os da Califórnia

A maior área úmida tropical do mundo não deve queimar.

E, no entanto, o Pantanal brasileiro está em chamas.

Uma densa fumaça sobe ao redor da vila de Poconé enquanto o vento a transforma em pequenos tornados. O fogo estala e corre pelo mato, saltando da floresta para o pasto e para o pântano.

As chamas destruíram cerca de 25.000 quilômetros quadrados – cerca de quatro vezes a área que ardeu na Califórnia em 2020 até agora.

Um patrimônio da UNESCO e um dos ecossistemas mais diversos do mundo – lar de dezenas de espécies ameaçadas de extinção e a mais densa concentração de onças-pintadas de qualquer lugar – está em risco. Carcaças carbonizadas de onças cobrem o solo, junto com jacarés queimados e pássaros caídos.

Os fazendeiros locais lutam para sobreviver. Tradicionalmente, eles usam o fogo para revitalizar e limpar a terra, mas não nessa escala ou sob essas condições de seca.

“Faz três meses que não chove e não sabemos se vai chover em setembro. Espero que sim”, disse Dorvalino Camargo, abanando-se com um chapéu de palha para ajudar a conter as chamas. “O gado está sofrendo. Todos nós sofremos.”

‘Eu me sinto derrotado’

Preservacionistas que trabalharam a maior parte de suas vidas para proteger a área de madeireiros e caçadores furtivos agora enfrentam uma nova ameaça muito mais mortal.

“Nunca lidamos com condições de incêndio tão grandes, tão severas”, disse Ângelo Rabelo de sua casa no Pantanal. “Não estamos preparados para enfrentá-lo.”

Rabelo é um ex-coronel da polícia que veio para a região há 37 anos para impedir a caça ilegal e ficou para fundar a organização ambientalista Instituto Homem Pantaneiro.

“Sinto-me impotente e derrotado”, disse ele. “É uma dor profunda.”

Normalmente, o Pantanal obtém umidade abundante da floresta amazônica, chuvas geradas na vasta floresta ao norte que alimentam áreas úmidas em todo o coração da América do Sul, não apenas no Brasil, mas também na Bolívia e Paraguai.

Mas a própria Amazônia está lutando contra a seca junto com o fogo que os especialistas repetidamente associam ao desmatamento e à atividade humana. Cada vez mais as áreas selvagens da Amazônia foram ocupadas por incorporadores de terras, extração ilegal de madeira e expansão da agricultura.

‘Vai piorar’

“Esses incêndios, não temos ideia para onde isso vai, quando vai parar e conforme a estação seca se intensifica, só vai piorar”, disse Matt Finer da Amazon Conservation, um grupo sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos que rastreia incêndios na floresta por meio de imagens de satélite.

Imagens preliminares de satélite da agência nacional de pesquisas espaciais do Brasil, INPE, e da NASA, sugerem que os incêndios nesta região atingiram um máximo de 10 anos em agosto.

A Conservação da Amazônia contabilizou uma média de 53 grandes incêndios por dia na primeira semana de setembro, ante 18 por dia em agosto.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, descartou o problema.

“Essa história de que a Amazônia está pegando fogo é uma mentira”, disse ele no mês passado. O presidente, eleito com a promessa de acelerar o desenvolvimento da Amazônia, demitiu no ano passado o chefe do INPE depois que o órgão divulgou dados que mostram um aumento significativo do desmatamento desde a posse de Bolsonaro. Ele culpou as ONGs por criarem problemas e denunciou governos estrangeiros que criticaram o Brasil por lidar com a emergência.

Em discurso a outros líderes sul-americanos em agosto, Bolsonaro desafiou representantes estrangeiros a sobrevoar a Amazônia, dizendo que viajando de avião das longínquas cidades de Boa Vista a Manaus, não se veria uma única chama.

Isso apesar do fato de seus próprios órgãos do governo – incluindo o INPE – terem confirmado os incêndios generalizados.

Os efeitos vão durar ‘décadas’

E as coisas só vão piorar, prevê o biólogo Philip Fearnside, por causa do desmatamento contínuo. Ele mora na Amazônia há mais de quatro décadas, trabalhando no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em Manaus.

Ele disse que viu uma área “maior do que a França” desmatada desde que está estudando as implicações.

“Muito do que o governo está fazendo é incentivar [o desmatamento]”, disse ele. “Você tem rodovias que estão sendo construídas, estradas que abrem essas novas áreas. E aí as pessoas entram. Você tem esse processo de invasão de terra.

O dano provavelmente durará muito mais que a presidência de Bolsonaro.

“É algo que dura décadas, não um problema que termina no final de uma administração presidencial”, disse Fearnside.

Nas áreas ricas em vida selvagem do Pantanal, isso continuará a tornar a sobrevivência precária.

Eduarda Fernandes é uma guia da natureza que vinha trabalhando com veterinários no resgate de animais feridos nos brejos, incluindo onças com patas “queimadas até os ossos”.

Ela diz que não há muita vida visível na área, nem “formigas ou caranguejos” – que servem de alimento para diferentes tipos de animais.

“Animais morrerão não apenas devido aos incêndios, mas também devido à desidratação e à fome”, disse ela. “É muito triste ver o que está acontecendo aqui.”

 

Redação

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