Artigo sobre a política de inclusão digital pela escola

Este artigo fez uma avaliação do Pro-UCA: programa Um Computador por Aluno. 

http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=8182&Itemid=217

Do site anpocs.org

36º Encontro Anual da Anpocs

GT29 – Políticas públicas 
 
O Programa UCA-TOTAL: desafios do modelo brasileiro de inclusão digital pela escola 
 
Autores:  
1.  Lena Lavinas ([email protected] / Doutora / Docente e Pesquisador)  
2.  Alinne Veiga ([email protected] / Doutora / Docente e Pesquisador) 

Resumo: 
 
Este artigo apresenta uma reflexão sobre o desenho institucional dos programas de inclusão digital pela escola, ora em curso no Brasil, partindo dos resultados da pesquisa de avaliação de impacto e de processo do Projeto UCA-Total (Um Computador por Aluno), realizada nos municípios contemplados com o Programa ao longo de 2010 e 2011. 

1.  Introdução 
 
Este artigo pretende desenvolver uma reflexão sobre os rumos da política pública de inclusão digital nas escolas.  

A avaliação de impacto, de caráter longitudinal, foi feita através de um survey domiciliar aplicado em duas ondas (T0  e T1), a seis meses de intervalo, junto a uma 
amostra de alunos e seus responsáveis, representativa de todo o universo (10.484 alunos). 

Já a pesquisa de processo associou distintas metodologias, notadamente qualitativas, como a realização de grupos focais com  os agentes que sofreram a intervenção (450 professores), entrevistas com os distintos atores envolvidos com a implementação, além de visitas a campo para mapeamento de transformações provocadas pela chegada do UCA-Total.

2.  Os programas de inclusão digital nas escolas

Avaliações lastreadas em  surveys  longitudinais e rigorosamente conduzidas constatam que o uso das tecnologias em sala de aula apresenta custos bastante elevados e, frequentemente, resultados pífios, anêmicos (Goodwin, 2011), notadamente em termos de desempenho. 

Muitas cidades que passaram  ao “tudo digital” na escola  –  inclusive tendo substituído as lousas por grandes telas interativas  – não registraram melhora nos rankings  nacionais, suas notas médias permanecem estagnadas, verifica-se sub-aproveitamento dos equipamentos de informática.

Aí residiria o chamado enigma da educação digital. A aquisição de habilidades no domínio das tecnologias de informação certamente permite uma nova interação entre as novas gerações ávidas por inovação e a escola, que, em todo mundo, padece do esgotamento dos métodos tradicionais, da falta de recursos públicos e do desempoderamento da figura dos mestres. 

Entretanto, a tecnologia  per se  não parece garantir sucesso no aprendizado.   

Pesquisa recente, desenvolvida em 997 escolas americanas por Greaves, Hayes, Wilson, et al. (2010), identificou nove fatores que, se presentes, contribuiriam para melhorar  o desempenho nas escolas que distribuíram  laptops  individuais  aos seus alunos.  Dentre eles, os três mais importantes são: 

1. Assegurar uniformidade no processo de integração da tecnologia em todas as salas de aula de cada escola, em uma mesma localidade; 
2. Garantir aos professores tempo de  formação e tempo para troca de experiências e colaboração com outros colegas. 
3.  Promover o uso diário da tecnologia, através de atividades online, de forma a fomentar a cooperação e um aprendizado cooperativo.   

5.  Considerações finais 
 
De forma geral, o Programa UCA-Total acabou  impactando diretamente no melhor aproveitamento da infraestrutura de informática já existente nas escolas.

A análise de impacto mostrou que onde o laptop UCA foi distribuído, os laboratórios de informática, via de regra sub-utilizados, quando não completamente ociosos, passaram a ser frequentados mais intensamente.

Entretanto, a análise de impacto demonstrou que apesar de o acesso ser universal gerando aparentemente chances iguais para todos os alunos contemplados pelo UCA, 
aqueles não-pobres são os que mais se favorecem dessa intervenção.

Verificou-se que o impacto benéfico do UCA é maior para os alunos não-pobres do que para aqueles vivendo abaixo da linha da pobreza.

Outra resultado importante é constatar que o acesso à internet segue sendo extremamente limitado e somente alguns alunos (21,7% na onda 2, contra 17,6% do T0) vivendo em famílias com poder aquisitivo mais alto conseguem usufruir de banda larga paga a domicílio.

A má qualidade do sinal de internet penaliza as crianças vivendo em lares mais pobres, que não podem pagar pelo serviço a provedores privados. O Programa Nacional de Banda Larga  –  se vier a se formatar  – poderá contribuir significativamente para atenuar tais restrições e generalizar, de fato, o uso das TICs e seu aproveitamento pleno, criando oportunidades e ampliando fronteiras.

O uso pedagógico das TICs em sala de aula é ainda tímido frente às descobertas que crianças e jovens fazem fora dos muros da escola.

Para que o UCA impacte verdadeiramente sobre a inclusão digital de crianças e jovens do ensino fundamental e médio, estes devem poder carregar o laptop UCA para casa e servir-se dele a domicílio.  

Quando o laptop UCA tem seu uso restrito à escola, permanecendo armazenado na escola, a intervenção não registra impacto.   

Outro resultado interessante foi de constatar que o laptop UCA tem impactos muito positivos logo no início do processo de alfabetização, pois aumenta a propensão a aprender a ler e escrever na faixa etária dos 6 anos.  

A pesquisa mostrou que se a auto-estima dos alunos aumentou com a aquisição do computador, muitos professores tiveram a sua auto-estima abalada, alguns se sentiram diminuídos frente a essa novidade da qual ainda não conseguem se apropriar. 

Nesse sentido, eles precisam ser alvo de  ações específicas, permanentes e de expansão das habilidades digitais progressiva, que considerem a realidade em que atuam e o papel fundamental que têm na vida de seus alunos. 

Luis Nassif

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