As esquerdas e o brasileiro existente

Havia comentado na semana passada, na Postagem do Francy Lisboa: O medo da Esquerda em se tornar café pingado – https://jornalggn.com.br/blog/francy-lisboa/o-medo-da-esquerda-em-se-tornar-cafe-pingado-por-francy-lisboa e surgiu o texto abaixo.

Depois veio esta postagem As esquerdas radicais, o PT e o brasileiro existente – deixo o link, se interessar: https://jornalggn.com.br/blog/alexandre-tambelli/as-esquerdas-radicais-o-pt-e-o-brasileiro-existente-por-alexandre-tambelli 

Coloco aqui.

Para polemizar um pouco.

As esquerdas e o brasileiro existente.

Existe um problema de fundo nas esquerdas brasileiras: não têm votos, para além do PT, capazes de vencer um pleito eleitoral majoritário.

O PT foi e é o partido que entendeu a formação sociocultural dos brasileiros, em sua grande maioria, individualista, desinformada e consumista. Ajuntado a isto uma religiosidade cristã conservadora. O Papa Francisco é novidade, antes tínhamos o Papa João Paulo II e o Papa Bento XVI dando um viés mais voltado ao espiritual e não um trabalho de união espiritual e social.

Opus Dei, Renovação Carismática Católica, Neopentecostais, Universal & Cia. certo? Estavam, ainda estão, no centro da religiosidade brasileira. A Igreja Católica está em um processo inicial de renovação, inicial, certo?

A preocupação com o social não foi nem é uma bandeira dos brasileiros. Temas como desigualdade, Justiça Social, distribuição de renda, temas culturais, temas ligados à formação de uma identidade cultural nacional, etc. “desligada está a chavinha” de nossa sociedade.

Pensemos, como exemplo, na Literatura e um Projeto Nacional de criar uma Identidade de nosso povo, de criar um conceito de Nação, de Brasil inexiste, praticamente. Falamos em Literatura Francesa, em Literatura Inglesa, em Literatura Russa, em Literatura Italiana, etc. no Brasil falamos de autores, Gonçalves Dias, José de Alencar, Machado de Assis, Aloísio de Azevedo, etc.

O Brasil não buscou sua identidade, seu Projeto de Nação. As elites nacionais sempre foram mais cosmopolitas e sonham até hoje fazer parte da Nação símbolo do “Imperialista de ocasião”. Inglaterra, França, EUA. Olhamos para fora. Pouco importou a pobreza, a ausência de uma reforma agrária, as ocupações de morros e encostas nas grandes cidades, as favelas, os moradores de rua, a fome, etc.

Somos individualistas, desinformados e conservadores.

O PT não inventou esta característica individualista, desinformada e conservadora dos brasileiros. Vem de muito antes, desde a colonização.

Não dá para dissociar o brasileiro que temos da realidade atual.

Você tira o País do Mapa da Fome mundial e a população não se vê orgulhosa deste feito. Talvez, nem se dê conta desta vitória. Incluso, aqui, boa parte das esquerdas não petistas. Muitos esquerdistas queriam estar no lugar do PT nesta vitória, se não estou procuro “pelo em ovo” para não perder a chance de ser “eu” o protagonista. Este é um exemplo para mostrar como o individualismo está acima do coletivo na sociedade brasileira.

Todo o bom esquerdista já participou das assembleias estudantis, e dos arranca-rabos para ver qual é a proposta mais plausível para uma determinada situação, qual a chapa que será vencedora do DCE, etc.

Todos se dizem “socialistas”, mas não socializam a Luta, nem a busca coletiva de um “bem maior”: o social. É a minha corrente que tem de vencer e ponto final. Meu Projeto e não a realização dele. Muitas das vezes impraticáveis.

No Brasil, se não fosse o PT jogar o jogo, nós teríamos saído do filme da direita no Poder e adentrado na possibilidade de ascensão e inclusão social de mais de 40 milhões de brasileiros, de inclusão nos estudos técnico-universitário de milhões e milhões de brasileiros e brasileiras? Antes alijados no universo estratificado da “Casa grande & Senzala”, tão marcante nos tempos pré-PT no Governo Federal?

Do que adianta um discurso purista ao extremo se na hora da Eleição por já 3 legislaturas o PSOL, por exemplo, só consegue eleger 5 deputados federais? Que mudança social se faz com 5 deputados num universo de 513 deputados?

Não devemos pensar que discurso o brasileiro gosta de ouvir? Está-se sendo possível outro discurso para além do da corrupção como indutor de nosso diálogo com a sociedade?

Como afinar um discurso com a sociedade sem que se distancie do que ela quer?

Precisa-se olhar para dentro de si mesmo e descobrir a direção que aglutina.

O PT embaralhou o jogo, este é um mérito dele. Fez a direita brasileira se tornar um amontoado de desesperados em busca de se salvar do enforcamento, o mesmo enforcamento que tentam produzir em Lula e Dilma e não se consegue (só na base da Ilegalidade Jurídica).

É muito fácil acusar, difícil é fazer a transformação seguindo o fluxo da realidade concreta e da “personalidade” dos brasileiros.

Corrupção se inventa, se aumenta, também. Ninguém está imune de ser colocado na roda da corrupção no Brasil do oligopólio midiático capitaneado pela Rede Globo, todos nós sabemos.

O puritanismo de partes das esquerdas nos legou Michel Temer.

Não houve a sonhada Revolução Social de PSTU e PPL. Ouve é o silêncio sepulcral da população média brasileira.

O brasileiro, em sua grande maioria, só sai de casa se for alimentado pela velha mídia, em especial a Rede Globo, e mesmo assim, um público restrito e concentrado nas classes média e médio-alta tradicionais. O povão quer saber de trabalhar e não muito mais que isto.

A juventude tem passado ao largo da Política institucional. Manifestações da esquerda contra o Impeachment têm como público: a intelectualidade, os formados de universidades de décadas anteriores a esta, sindicalistas e militantes dos movimentos sociais, a massa dos trabalhadores brasileiros não está nem no grupo pró-impeachment e nem contra o impeachment da Presidenta Dilma.

Iremos discutir se a inclusão social promovida pelo PT foi baseada no consumo foi correta?

Ou será que é da própria formação sociocultural dos brasileiros, por décadas: americanizada, a valorização do consumo de coisas em detrimento de valorização da Cultura e seus tentáculos ligados a um Projeto de Nação e desenvolvimento social coletivo?

Eu penso que as esquerdas não podem dissociar o “brasileiro e seu modo de Ser” da discussão de que Brasil queremos e como implementá-lo, para que não se perca a possibilidade de dialogar com a sociedade que temos, com o brasileiro que existe no mundo real e não na vontade de nós: os “revolucionários”.

Teorizar o mundo é fácil. Requer apenas ideias, quem sabe, um gravador para difundir o teorizado via voz ou teclas para difundir via textos escritos. Isto eu faço daqui do meu computador agora, todos nós fazemos.

Agora, a realidade prática vai além do computador, da sala de ar-condicionado, dos livros.

A realidade é o CPTM lotado às 6 horas da tarde, é o shopping center: a praça de alimentação e o cinema que o brasileiro adora ir no domingão e o smartphone última geração para a selfie mais divertida com os amigos.

Enfim, se as esquerdas vivenciarem o mundo da Teoria, a direita deita e rola. Ser puritano e acreditar que o brasileiro quer ser socialista, quer divisão igualitária de bens, quer ser importunado/impedido de ter o anseio de chegar ao ponto de ter um iate… Não vai trazer a solução eleitoral almejada por nós.

Sendo realista. O trabalhador se puder escolher vai querer ser “burguês”, também.

Esta é a dura realidade que precisamos encarar. 

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador