As estatísticas enganadoras sobre o coronavírus no Brasil (TV GGN)

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Quais as métricas que o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais deveriam divulgar com mais transparência, e considerar na hora de tomar decisões sobre a pandemia?

 

Jornal GGN – O Ministério da Saúde, os governos da maioria dos estados e a imprensa nacional costumam, de maneira geral, divulgar dados sobre o coronavírus que não refletem a realidade da pandemia em tempo atual por causa de atrasos.

O número de casos confirmados, por exemplo, tem o atraso de, em média, 14 dias, que diz respeito ao tempo entre o contágio, a manifestação dos sintomas, o teste e o resultado. O total de óbitos também reflete atraso do tempo de internação do paciente. E diariamente esses dados contêm ainda o atraso do próprio sistema de informação, que desacelera aos finais de semana e feriados.

Em entrevista à TV GGN, o médico epidemiologista Otávio Ranzani, pesquisador da USP e do Instituto de Saúde Global de Barcelona, apontou que uma métrica melhor para tomada de decisões, “que deveria ser obrigatória” na comunicação de todas as esferas de governo, é a “curva de sintomas”.

“Quando você olha a curva de sintomas, você tira o atraso do diagnóstico, o atraso no teste, o atraso do fim de semana, e a curva fica muito mais real.”

Gráfico desenvolvido pelo Dr. Otávio Ranzani

“O atraso de 14 dias [embutido na curva de casos confirmados] para tomar decisões é imenso”, disse Ranzani.

“A curva de sintomas é a mais próxima da transmissão. Se você olhar só a curva de casos, a que estamos vendo todos os dias, você acaba vendo os atrasos juntos. Se você olha o dado de sintoma, você vê que ela [a curva da pandemia, em alguns estados] está caindo”, avaliou.

Alguns estados, como o Ceará, têm plataformas de monitoramento que divulgam a curva de sintomas. É possível ver que em Fortaleza, inclusive, há sinais de que o lockdown fez efeito.

“O Ceará mostrou que a medida de isolamento mais intensa tem um efeito. A região metropolitana de Fortaleza adotou lockdown e a
gente vê a evidência direta de que isso está associado à queda de casos”, avaliou o médico sanitarista e comentarista da TV GGN, Daniel Dourado.

Outra métrica que deveria ser mais transparente é a taxa de reprodução do vírus (o chamado “R”). Nesta quinta (2), a cidade de São Paulo anunciou que seu “R” está em torno de 0,94. Quando esse índice está em 1 ou acima disso, a pandemia ainda é considerada fora de controle porque cresce exponencialmente.

O ideal, segundo Dourado, é que uma região fique por “pelo menos duas semanas com o ‘R’ consistentemente abaixo de 1, mas perto de
0,6, não perto do 0,9. Tem de ser abaixo de 0,6 para, se aumentar a transmissão, dar tempo de adotar outras medidas de isolamento antes de chegar no 1.”

EXCESSO DE MORTES

Ranzani também apresentou na entrevista ao canal do GGN no Youtube os gráficos que mostram o excesso de mortes em algumas capitais brasileiras, em comparação com o ano de 2019.

A pesquisa converge com o monitoramento feito pelo Financial Times, que mostrou que o excesso de mortes em Manaus, onde o sistema de saúde entrou em colapso, foi de 152%. Em São Paulo, de 35%.

Números do Financial Times divulgados pelo governo de SP

“Excesso de mortalidade é o padrão ouro para a gente ver o que está
acontecendo na pandemia. Porque ele mostra quantas pessoas estão de fato sendo impactadas por isso, pela quantidade de mortes além do esperado”, explicou Dourado.

A métrica do excesso de mortes no gráfico de Ranzani mostra nas cores mais intensas os óbitos de covid confirmados, e acima, os excessos sem causa conhecida, mas que pode ser coronavírus, direta ou indiretamente.

Gráfico do excesso de mortes desenvolvido pelo epidemiologista Otavio Ranzani

Na entrevista, Ranzani comenta ainda sobre a situação de São Paulo (regiões metropolitanas e interior) e Belo Horizonte.

A entrevista foi ao vivo, na tarde de quinta (2). Confira a íntegra no vídeo acima.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. Os profissionais sérios da saúde repetem que se o médico clínico (médico da família) ou os agentes dos postos de saúde da família, estivessem ativos no país, durante esta pandemia, estariam podendo cumprir este acompanhamento da sintomatologia da covid-19. Só que nos últimos anos com o desmonte no sistema de saúde, com um governo irresponsável que expulsou médicos do país, é esperar muito.

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