Em 2004 Mikhail Khodorkovsky, o administrador russo que estranhamente conseguiu se tornar proprietário da petrolífera Yukos após o fim da URSS, foi julgado dentro de uma gaiola. Condenado a prisão ele recorreu a ONU, mas:
“A Corte Europeia de Direitos Humanos afirmou na semana passada que, embora alguns pontos do julgamento tenham sido injustos, a condenação foi feita dentro da lei.”
https://exame.abril.com.br/mundo/quem-e-o-magnata-rival-de-putin-que-nao-se-livrou-da-prisao-2/
Nos últimos dias a internet foi inundada por notícias, fotos, vídeos e áudios referentes à nova diretriz de Donald Trump. O presidente dos EUA mandou os guardas de fronteira tratar os imigrantes de uma forma extremamente cruel: pais e filhos são mantidos presos em gaiolas distintas.
Em momentos distintos e por razões diferentes, Rússia e EUA fizeram a mesma coisa para tentar restabelecer a autoridade do Estado. Mas há uma diferença qualitativa importante.
Vladimir Putin enfrentou o homem mais rico e poderoso na Rússia durante o período econômica e politicamente conturbado que emergiu da dissolução da União Soviética. Como vários magnatas pós-soviéticos, Mikhail Khodorkovsky enriqueceu de maneira duvidosa e agia como se fosse dono do Estado russo. Ele acreditava que estava fora dos limites da Lei e foi condenado de maneira justa. O confinamento dele numa gaiola durante o julgamento pode ter sido abusivo e desnecessário.
Donald Trump mandou enjaular, sem julgamento, imigrantes pobres que tentam entrar nos EUA. Eles são vítimas colaterais inocentes do estrago que a crise neoliberal norte-americana de 2008 produziu no México e na América Central. Os banqueiros norte-americanos que estropiaram a economia mundial ficaram impunes, foram salvos pelo Tesouro dos EUA e até receberam bônus por terem falido os bancos que administravam.
O abuso cometido por Putin pode ser considerado compreensível. Mikhail Khodorkovsky era um criminoso e serviu de exemplo. O excesso de rigor empregado por Donald Trump (ilegal se levarmos em conta a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Convenção Americana de Direitos Humanos) é imperdoável e absolutamente desnecessário. Se pretende restaurar a credibilidade do Estado que comanda, o presidente dos EUA deveria meter na prisão os príncipes das finanças norte-americanos que ajudaram a produzir essa onda de imigração ilegal.
O problema é que Donald Trump não pode fazer isso. Ele foi eleito com o dinheiro dos criminosos financeiros para cuidar dos interesses das finanças. Portanto, Trump tem que fazer o que Putin não fez: criminalizar a pobreza amplificando o desespero.
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