As incertezas em relação à economia e às exportações, por Luis Nassif

Se aplicar o preço médio das exportações em abril de 2020 sobre o volume exportado em 2019, haveria uma perda de US$ 22 bilhões nas exportações, unicamente devido ao fator preço, sem contar o fator quantidade.

O cenário econômico não permite otimismo.

Há um conjunto de fatores que atrasará por muito tempo a recuperação da economia.

O descaso do governo federal com o coronavirus irá prolongar os efeitos do coronavirus por prazos muito maiores do que a maioria dos demais países. Antes de vencer o coronavirus, não haverá recuperação da economia. Pelo contrário, à medida em que os indicadores de saúde piorarem, haverá a necessidade de providências mais drásticas de combate à doença.

No front econômico, as medidas para amenizar a crise falham rotundamente. E cada atraso significa o extermínio de CNPJs, de empregos e a dificuldade maior para sair da crise no pós-pandemia.

Créditos para capital de giro ou para folha de pagamentos não chegaram ao destino. Ocorreu o óbvio. Com todas as incertezas em relação ao futuro da economia, e das empresas, os bancos não quiseram emprestar – porque o risco de crédito era deles -; e as empresas não quiseram tomar crédito para folha de pagamento, por não saber o que acontecerá daqui para frente.

Qualquer análise ligeira do problema indicaria a necessidade do Tesouro compartilhar o risco dos bancos e garantir as folhas de salários, conforme ocorreu na maioria dos países desenvolvidos.

Na fatídica reunião ministerial de Bolsonaro – que revelou o baixíssimo nível de sua equipe – a única proposta razoável foi bombardeada pelo terraplanismo econômico de Paulo Guedes: o programa Pró-Brasil, de recuperar a economia através de investimentos em infraestrutura por concessão e recursos públicos.

Guedes fulminou a proposta alegando escassez de recursos do governo. Há uma riquíssima discussão mundial sobre a necessidade de governos recorrerem a emissão de moeda para recuperar a economia. Mas no Ministério de Bolsonaro não há contraditório. Guedes faz afirmações peremptórias, oferecendo pasteis de vento, e Bolsonaro aceita.

Assim, a única frente de recuperação poderia ser o mercado externo. Mas, aí, se esbarra na redução do comércio internacional, com algumas nuances.

Haverá queda nas vendas de produtos manufaturados. Mas uma boa possibilidade de aumento nas compras e nas cotações de produtos primários devido ao fator China. O acirramento da guerra fria com os Estados Unidos levará a China a providenciar estoques estratégicos especialmente de soja. Também poderá haver aumento da demanda de insumos da construção civil, devido aos programas de retomada das diversas economias desenvolvidas com base nas obras de infraestrutura e da construção civil.

Por enquanto, ainda não há sinais mais evidentes dessa recuperação.

Pelos dados da balança comercial até abril de 2020, conclui-se o seguinte:

1.     Houve expressiva queda nas cotações e nos preços médios dos principais produtos de exportação.

As maiores quedas foram de derivados de petróleo, em função da crise aberta pela Rússia e Arábia Saudita, de aumento da oferta, seguido pelas quedas provocadas pela queda global da demanda.

O único aumento expressivo foi de metais preciosos e joalheria, mas sem significado, já que não há cotações padronizadas.

2.     Se aplicar o preço médio das exportações em abril de 2020 sobre o volume exportado em 2019, haveria uma perda de US$ 22 bilhões nas exportações, unicamente devido ao fator preço, sem contar o fator quantidade.

A maior perda seria na venda de Petróleo e Derivados (- US$ 9,6 bilhões), Material de Transporte e Componente (- US$ 6,5 bilhões) e Produtos da Indústria Química (- US$ 4 bilhões).

Leve-se em conta que haverá, adicionalmente, queda no consumo, ampliando bastante as perdas nas exportações.

3.     Mesmo assim, percebe-se um suspiro de recuperação na balança comercial, se se analisa o acumulado trimestral sobre o mesmo período de 12 meses atrás. Em abril houve uma recuperação das exportações, puxada pelo aumento das vendas de soja, e uma queda nas importações, levando a um aumento do saldo.

 

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O histórico dos 4 primeiros meses do ano não é um bom indicador do que pode passar no resto do ano e nos próximos anos. O primeiro trimestre foi exatamente o momento em que a China congelou toda sua atividade econômica devido à luta contra a pandemia. A partir de abril a economia reabriu aos poucos, longe ainda dos níveis anteriores à crise, mas bem melhores do que no início do ano. Isso deve levar a um aumento gradual dos preços das commodities, inclusive o petróleo, talvez não até o patamar do final do ano passado, mas com certeza mais altos do que no primeiro trimestre.
    Com a queda das importações em função da crise gigantesca que o Brasil vai enfrentar, e a continuação do aumento das exportações para a China (se o Presidente, seus 3 filhos e seu bravo chanceler não puserem tudo a perder com declarações destrambelhadas), o cenário para o setor externo é mais positivo do que mostrado aqui.
    Se será suficiente para tirar o país do atoleiro é pouco provável, mas não será um fator adicional de contribuição à crise.

    1. Se o Brasil tivesse um mínimo de planejamento e avaliação de oportunidades com a crise, daria o máximo de prioridade a cadeia de exportação alimentar, com reflexos enormes na atividade interna, agregando valor com uma política de industrializar o máximo possível internamente.
      Qualquer concorrente levaria vários anos para ter uma infra-estrutura equivalente ao que já temos, por mais precária que seja, mas é funcional. Acho de uma burrice enorme perseguirmos a meta de sermos industrializados em áreas que temos deficiências de formação, expertise e capital, e na agropecuária, que temos um “oceano de oportunidades”, sermos um grande exportador de produtos primários.
      Somos muito pretensiosos de desejarmos industrias sofisticadas (ou nem tanto) quando não conseguimos uma industrialização mínima do que produzimos com maior eficiência, ALIMENTOS. Nem preciso comentar sobre os minérios, é pra lá de idiotice querermos produzir carros (na verdade só montamos), sendo o maior exportador de minério de ferro do mundo e não termos capacidade de produzir trilhos de ferrovia, importados da china. Quantas toneladas de minério exportamos pra poder importar uma tonelada de trilho?

  2. SE o mundo insistir em prejudicar o Brasil economicamente,vamos denunciar esta farsa global q é a pandemia nada letal e q foi programada para acontecer com um vírus artificial, não me incomoda se este posicionamento em parte converge com o do Bozo,talvez por isso mesmo ele o defende,para q ninguém questione e seja igual no posicionamento,o vírus existe,mas está SUPERHIPERDIMENSIONADO,colocando medo e pânico nas pessoas para posteriormente VENDER REMÉDIOS,é preciso q a esquerda dê o cavalo de pau pois tão detonando os empregos e é obrigação dela preservar!!!
    Obs:É,O MUNDO NÃO SERÁ MAIS O MESMO DEPOIS DO “VÍRUS LETAL”,MENOS EMPREGOS, SALÁRIO MENOR,A VERDADEIRA DESCULPA PRA ACABAR COM TUDO SEM RESISTÊNCIA NENHUMA, CHEGAMOS NA ERA DA EXPLORAÇÃO DE DOENÇAS FABRICADAS 4.0,VIVA O MUNDOOOO !!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador