Aterros oferecem potencial para iluminar cidades

O lixo depositado nos aterros sanitários tem alto potencial energético. Já existem tecnologias capazes de converter o biogás, produzido na decomposição do lixo, em combustíveis para automóveis ou em energia elétrica. O aterro sanitário localizado em Caieiras, São Paulo, por exemplo, tem capacidade – ainda não instalada – para produzir 20 megawatts, o suficiente para atender a demanda de uma cidade com aproximadamente 300.000 habitantes. A central de tratamento de resíduos é considerada a maior da América Latina, e recebe cerca de 75% do lixo da cidade de São Paulo, o equivalente a 10 mil toneladas de lixo ao dia.  

Vanessa Pecora Graciliano, pesquisadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (CENBIO), da USP, foi responsável pela implantação de um sistema de queima do biogás e produção de energia elétrica, em Caieiras. Os equipamentos utilizados no projeto foram adquiridos com recursos de R$ 700 mil, do Ministério de Minas e Energia. Ao todo, foram quatro anos de estudos, que resultaram na instalação de um sistema que hoje atende as necessidades energéticas de apenas uma maquina no aterro, com o fornecimento aproximado de 200 quilowatts.

O coordenador operacional da central de tratamento, Fernando Freitas, explica que a Essencis Soluções Ambientais, proprietária do aterro, tem interesse e aprovação de financiamentos para promover a produção sustentável de energia elétrica a partir do biogás. “Estamos em fase de licenciamento e dependemos da alteração do projeto na ONU para a inclusão da produção de créditos de carbono através da geração de energia elétrica, que na pior das hipóteses, ocorrerá em março de 2013, quando expirar o primeiro período do projeto aprovado na ONU de 7 anos dentro das regras do Tratado de Kyoto, na qual poderemos incluir essa geração através da produção de energia elétrica, para venda e comercialização de créditos de carbono pela queima do biogás.” completa.

Os principais componentes do biogás são o gás metano (CH4) e carbônico (CO2). O metano é cerca de 21 vezes mais poluente que o CO2. Mas no processo de queima do biogás, o CH4 converte-se em CO2 e água. Logo, muitos aterros realizam a queima do composto para reduzir seus impactos ambientais. A diferença de poluentes não emitidos é vendida no mercado de Kyoto como créditos de carbono, pelo chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Criado durante encontros da Convenção-Quatro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), que originaram o Protocolo de Kyoto, o MDL é um mecanismo que auxilia os países ricos na redução de gases de efeito-estufa (GEE), tendo como premissa investimentos em projetos desenvolvidos fora de seus territórios, ou seja, nas nações em desenvolvimento.

“Quando fizemos o projeto de MDL, em 2004, não cogitávamos a geração de energia devido ao seu alto custo de produção. Então a ONU aprovou o plano de queima do biogás apenas em queimadores, para reduzir a poluição do aterro, convertendo o metano em dióxido de carbono. Hoje, o cenário mudou, e a implantação de uma termoelétrica através de biogás com a venda dos créditos de carbono passou a ser viável. Se instalarmos sistemas de produção de energia, mesmo que seja até mais sustentável que a simples queima do biogás sem produção energética, teremos que mudar o projeto para manter a geração dos créditos de carbono.  E daí que entra a burocracia, porque a ONU não dispõe de metodologia para alterar um projeto”, explica Freitas.

Os créditos de carbono que a Essencis negociou, até o momento, dentro de Kyoto, foram comprados por uma empresa japonesa do ramo de energia. Considerando as conversões de potencialidade para o aquecimento global do metano, uma tonelada desse gás poluente não emitida equivale a um crédito, comercializado hoje no mercado a 12 euros.

Para gerar energia, o aterro optou pelo uso do motor Ciclo Otto. O equipamento é um dos mais utilizados para queimar o biogás, porque oferece maior rendimento elétrico e menor custo, comparado às outras tecnologias. A desvantagem é que os modelos de grande porte são importados – as potências disponíveis no mercado variam entre 5 kW e 1,6 MW. Para completar, a tecnologia não chega a aproveitar 30% do potencial energético que o biogás oferece. Motores menores custam de R$ 20 mil à R$ 700 mil. Já os maiores, que variam em potências de 925 KW a 1,6 MW, podem custar de R$ 3.400 milhões a R$ 5 milhões.

Basicamente, o biogás pode ser aproveitado de três formas: produção de energia elétrica, energia térmica e produção de combustível veicular. No “Manual para aproveitamento do biogás em aterros”, da ICLEI, consta que a produção de combustíveis para carros hoje no país é dificultada pela falta de tecnologias nacionais comprovadamente eficientes e competitivas, baixa escala de produção e elevado custo de implantação. E, ainda, que existem equipamentos desenvolvidos internacionalmente com elevada eficiência, mas nunca testados no país, isso porque esses sistemas ainda precisam ser adaptados ao biogás nacional.

A frota de veículos de aterros sanitários na Alemanha é abastecida por biogás, por exemplo. Em 1985, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), do Rio de Janeiro, chegou a utilizar uma frota de 150 veículos movidos a biogás, na época, táxis também foram abastecidos com o biocombustível. Mas o projeto durou apenas 5 anos. A Comlurb trocou o biogás pelo gás natural, em razão do melhor custo benefício.

Redação

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