Balanço do Golpe VI

Conclusão

As análises desta série procuraram reunir evidências de que o impeachment de Dilma Rousseff configurou um golpe parlamentar. O conceito implica, primeiro, que não houve base jurídica para a deposição e, principalmente, que ela ocorreu na única esfera capaz de viabilizá-la dentro dos tênues limites da constitucionalidade.

O papel da máquina de propaganda, financiamento e legitimação da agenda golpista foi enquadrar o pemedebismo fisiológico no roteiro dos conspiradores palacianos. Para além de fantasias meritórias e espontâneas, a “tempestade perfeita” que levou ao impeachment reuniu pressões, chantagens e escambos eleitoreiros tendo o Congresso como palco.

Soa incongruente que os vencedores disputem espólios nessa ruína moral e administrativa que restou da aventura, mas o que está em jogo é transformá-la num projeto duradouro de poder. Para isso torna-se necessário evitar que a impopularidade de Michel Temer escancare os vícios do rito que o empoderou, jogue para seus artífices a conta da crise generalizada e fortaleça os setores prejudicados no episódio.

A tática do Judiciário e da mídia tucana consiste em fazer da Cruzada anticorrupção o legado positivo do impeachment. Uma bandeira “republicana” que permitiria destruir a candidatura de Lula, represar a insatisfação social antes que seja canalizada pela esquerda e afastar os obstáculos para a criação de um governo transitório nos moldes de Itamar Franco, de onde surja a plataforma situacionista em 2018.

Assim compreendemos a atualidade e a relevância do embate narrativo e epistemológico em torno do golpe. Sua negação fornece as bases discursivas sobre as quais se mantém o sistema ideológico da guinada conservadora, incluindo o repúdio à democracia representativa e aos programas sociais, o antipetismo judicial e o arbítrio punitivista.

O esquecimento das circunstâncias históricas do impeachment faz parte das pretensões conciliadoras e hegemônicas do programa golpista. Enquanto a democracia brasileira se defronta com a perigosa naturalização de excepcionalidades, é importante lembrar a mais escancarada e afrontosa de todas.


A série “Balanço do golpe”:

Introdução

A base

As ruas

O papel do Judiciário

O poder da mídia


http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/2016/12/balanco-do-golpe-vi.html

Redação

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