Barroso e a retórica do coaching e da auto-ajuda no discurso público

O Ministro Luis Roberto Barroso tem fraquezas nítidas, além da supina vaidade que, em determinado momento de deslumbramento, permitiu que se comparasse a juristas-políticos notáveis, como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e San Thiago Dantas,

Montagem em cima do cartaz de um curso de coaching

Frequento um local que tem pavões circulando entre automóveis estacionados. Eles só sobem em capota de automóvel pintado de escuro, porque lá conseguem se enxergar no reflexo do carro. Abominam capotas claras, porque aí sua imagem esvanece.

Homens públicos vaidosos têm a mesma reação. Preferem o lusco-fusco de conceitos vazios, o uso recorrente de bordões, do que a discussão clara e contextualizada porque, nelas, não há como fugir das análises externas sobre seu grau de profundidade.

Homens públicos têm uma vantagem e uma desvantagem. A vantagem é que tem imagem pública, sob escrutínio, de tal maneira que os menores gestos positivos são notados. A desvantagem é que tem imagem pública, e as menores e, principalmente, as maiores fraquezas são reparadas.

O Ministro Luis Roberto Barroso tem fraquezas nítidas, além da supina vaidade que, em determinado momento de deslumbramento, permitiu que se comparasse a juristas-políticos notáveis, como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e San Thiago Dantas, pessoas que se caracterizavam pela coragem em assumir posições.

Nesses anos no Supremo, no entanto, revelou uma personalidade curiosa, que faria as delícias de um Eça de Queiroz ou um Machado de Assis.

Tem medo pânico de ataques virtuais – sua postura política, de garantista,  ruiu quando começou a ser atacado por blog de direita do Paraná, levantando dossiês sobre ele e sua família, posteriormente reproduzidos em blogs de direita da Veja. Imediatamente mudou sua atuação e aderiu de ego grande e alma pequena ao punitivismo da Lava Jato. No primeiro momento, não foi de caso pensado, foi de paura mesmo, como diriam os italianos. No segundo momento é que percebeu que era bom negócio junto ao público empresarial.

Não entra em dividida – ele se abriga na imensa bolha estereotipada da chamada mídia de opinião e só externa ideias que sejam consenso em sua tribo. E ainda se pretende comparar com San Tiago.

Que diz sou, não é – precisa reafirmar, a todo momento, que é homem bom, que só faz o bem e o correto.

É um profissional do coaching – usa recorrentemente palavras-chaves, bordões pessoais, não contextualizadas, porque aí exigiria aprofundamento e qualquer forma de aprofundamento abre espaço para questionamentos. É o caso do “iluminismo”, que ele usa como conceito genérico, sem definir o que vem a ser na prática brasileira. Ou então, como nos melhores manuais de auto-ajuda, mostra caminhos que não vão além de bordões, palavras-chaves. Tipo, minha fórmula de salvação para o Brasil é “educação, inovação, idoneidade, reforma política”, etc e tal. Não lhe peça para desenvolver um desenho complexo de país, como faziam seus antecessores Nabuco, Rui e San Tiago.

Em um momento em que o país pega fogo, em que as milícias virtuais atacam reputações, é interessante analisar sua notável capacidade de tirar o corpo, na entrevista de hoje a O Globo. É o manual do Perfeito Isentão Latino-Americano.

Lição 1 – nunca individualize as culpas. Generalize os defeitos com um plural majestático, para diluir responsabilidades

Sobre a crise política

Tem uma dimensão política, que é uma certa dificuldade de coordenação entre o governo federal e os governos estaduais. No momento que nós precisávamos de liderança e coordenação, nós temos uma dificuldade de falarem todos em uma só voz.

(…) Acho que nós estamos com um déficit de coordenação, de uniformização de discursos e de construção de consensos, certamente.

Lição 2 – apresente propostas genéricas, de preferência através de bordões que se tornaram sua marca pessoal

Aqui, ele recorre aos ensinamentos do sábio Cristovam Buarque, e repete o bordão mágico, com pitadas ao estilo dos manuais de auto-ajuda:

O mundo precisa e o Brasil precisa de um choque de Iluminismo, um choque de inteligência emocional e de maturidade política. Iluminismo para valorizar a razão e a ciência; inteligência emocional para escapar de reações passionais e não construtivas; e maturidade política para sermos capazes de construir consensos e evitar confrontos.

Lição 3 – fuja das avaliações individuais, ainda que seja do próprio presidente da República.

Aqui fica nítida o supino receio de enfrentar as milícias digitais:

Não cabe a mim julgar nem o governo federal, nem os estaduais, nem os municipais.

(…) Manifestantes, cidadãos privados, podem criticar duramente o Congresso e o Supremo e até pedir o fechamento. Eu não concordo, mas está dentro da liberdade de expressão. Já o presidente, eu penso que não. Mas também não ouvi o presidente fazer esse tipo de manifestação.

Lição 4 – minimize as ameaças à democracia, para não ter que se posicionar

Sobre a ida de Bolsonaro ao Supremo

Eu não interpreto como pressão. Aliás, eu não interpreto nada como pressão, porque pressão só produz efeito se você aceitar. Se você não aceitar como pressão, ela não existe. O presidente fez um movimento político que a ele pareceu bem, e não me cabe julgar movimentos políticos.

Lição 5 – fuja de qualquer dividida

Sobre isolamento x relaxamento:

Essa pergunta seria melhor direcionada para as autoridades de saúde.

O GGN PREPARA UMA SÉRIE DE REPORTAGENS E VÍDEO SOBRE A TRAJETÓRIA DE SERGIO MORO, CONTADA SEM OS RETOQUES DA GRANDE MÍDIA. SAIBA MAIS SOBRE O PROJETO AQUI.

 

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. FATO – Estamos numa encalacrada com um presidente que não ajuda, e só atrapalha.
    A verdade é que deveríamos ter feito um isolamento completo por talvez um mês, como fez a NOVA ZELÂNDIA ..mas por falta de experiência, conhecimento, coragem ou ingenuidade, agora é tarde.
    Essa política gradual de fazer o “mal” aos pouquinhos mostra resultados parciais e insuficientes pra conter a pandemia ..dum lado não satisfaz os desprotegidos, e doutro insufla ainda mais a matilha.
    PROBLEMA é que GRANDE PARTE da sociedade queimou o pouco da paciência e gordura que ainda tinha e hoje, tirando a classe A e B, os aposentados e pensionistas, um ou outro assistido, os BUROCRATAS e funcionários civis e MILITARES do Estado, o resto de “miCos”, pequenos e médios empresários, ou os precarizados (dezenas e milhões), não sabem mais pra onde correr ..e essa turma é palha, gasolina e fósforo na mão dos oportunistas e fascistas.

    em tempo . pra relembrarmos um pouco do passado do Príncipe das PLATITUDES (aos 3:40 seg)
    https://www.youtube.com/watch?v=oBaoNX6E4RI

  2. Sobre o dilema de ISOLAR ou relaxar
    FATO – Estamos numa encalacrada com um presidente que não ajuda, e só atrapalha.
    A verdade é que deveríamos ter feito um isolamento completo por talvez um mês, como fez a NOVA ZELÂNDIA ..mas por falta de experiência, conhecimento, coragem ou ingenuidade, agora é tarde.
    Essa política gradual de fazer o “mal” aos pouquinhos mostra resultados parciais e insuficientes pra conter a pandemia ..dum lado não satisfaz os desprotegidos, e doutro insufla ainda mais a matilha.
    PROBLEMA é que GRANDE PARTE da sociedade queimou o pouco da paciência e gordura que ainda tinha e hoje, tirando a classe A e B, os aposentados e pensionistas, um ou outro assistido, os BUROCRATAS e funcionários civis e MILITARES do Estado, o resto de “miCos”, pequenos e médios empresários, ou os precarizados (dezenas e milhões), não sabem mais pra onde correr ..e essa turma é palha, gasolina e fósforo na mão dos oportunistas e fascistas.

    em tempo . pra relembrarmos um pouco do passado do Príncipe das PLATITUDES (aos 3:40 seg)
    https://www.youtube.com/watch?v=oBaoNX6E4RI

  3. A história (tenebrosa) por trás do Churrasco da Morte

    1. A jornalista Bia Abramo publicou ontem no Facebook: “Cada vez que eu olho a palavra churrasco desde ontem eu tenho vontade de gritar.”

    2. O jornalista Luiz Antonio Magalhães, de Brasília, faz o seguinte comentário:

    Agora vem uma história terrível.
    Coisa difícil mesmo. Se segurem.
    *
    Ontem uma sócia aqui do playground escreveu contando a verdadeira razão do churrasco de amanhã. Em respeito aos envolvidos, fiquei com o horror para mim. Mas, como agora a história vazou, conto.
    *
    Quando JB mencionou no chiqueirinho que faria uma festinha no sábado, amanhã, citou como razão o aniversário de 13 anos “do filho do Wagner”. Acrescentou, “se o menino olhar para Laura [a fraquejada] o bicho vai pegar”
    *
    Agora é que vem:
    Wagner é o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU). A esposa dele suicidou-se no último domingo.
    Foi o filho aniversariante~ quem encontrou o corpo da mãe
    *
    Com o convite público para o churrasco, Bolsonaro constrangeu o viúvo, funcionário na Controladoria desde 2009, a comparecer ao evento. Pior, a que leve consigo uma criança sob traumático luto.
    *
    Não coloco em questão que o presidente tenha tido ótima intenção ao fazer o convite. Mas o ponto é justo esse: que espécie de pessoa não percebe a inadequação de forçar pai e filho, em luto tão recente quanto súbito, a participar de uma festa?
    *
    O “e daí?” jogado aos mortos do país não foi um lapso, um descuido verbal de ocasião. Foi uma confissão. Bolsonaro não se importa.
    Há qualquer coisa de perdida, rompida, inexistente nos afetos desse homem. É preciso encarar esse fato que, no limite, expõe o Brasil a todo risco e a cada um de nós, à morte.

    *************
    Muito já se escreveu sobre a relação do presidente com a morte. Se ainda havia dúvidas, aí está.

  4. Traduzindo: um covarde que, se Bolsonaro continuar na ofensiva, vai continuar na cadeira. Sim, porque esta comendo capim gordura junto com o gado bolsonarista. Ele, o tabareu Toffoli, a Carmen das farmacêuticas e todos os covardes do STF. Vão sobrar o Gilmar, o Lewandovski e o Moraes. Mas a conferir. Quanto ao decano: quero ver sua coragem ao julgar a suspeição do Moro no caso Lula? Eu tambem concordo sobre o choque do iluminismo. Depois do iluminismo veio a revolução francesa que cortou a cabeça dos privilegiados como os juizes brasileiros.

  5. Barroso é a regra no Brasil. Se mostrar como acima dos brasileiros pobres mortais com sua erudição de fachada. Isso não é exclusividade dele. O que está no post se aplica aos ‘filósofos’ Cortella, Karnal e Pondé. Karnal é o isentão, fala sobre tudo mas você não arranca dele um nome pra analisar individualmente. Cortella é a arte do supra sumo de falar e escrever em doses cavalares e dali você não extrair nada. Pondé é a junção perfeita de um acadêmico que escreve mal e fala mal. Mas dos três, Pondé é o único que eu curto, porque ao ouvi-lo eu dou gargalhadas de seu humor involuntário. Espero que os que mandam no PT estejam já fazendo a coleção Escolha De MInistro do Supremo Para Colorir, porque vai ser incompetente no raio que o parta pra escolher ministro do STF. O único que se salva é o Lewandoviski, mas, infelizmente, tem um perfil de jogador de xadrez numa rinha de UFC. Se não fossem os ministros escolhidos por outros presidentes ( Gilmar, FHC; Celos de Mello, Sarney; Marco Aurélo, Collor; ) Lula estava até hoje na cana de Curitiba.

  6. Nassif, recentemente, o Lula, falando sobre as nomeações que lhe couberam de ministros do Supremo, disse que se baseou nos seus currículos e que, por isso, faria tudo de novo. E nem falou sobre uma sabatininhas interna ao palácio, às vezes com ajuda de alguns assessores, nada. É preciso mudar isso.

  7. Teve um comentário aqui mesmo no Nassif que, peço desculpas desde já ao opinante, faço minhas:
    “As escolhas do PT para o Supremo foram simplesmente uma merda”!!

    1. No banco quando da decisão do investimento um prospecto róseo dos últimos 12 ou 24 é apresentado, mas com alerta que não existem garantias do mesmo para o amanhã.
      A expertise do oráculo Braga e outros tantos neste tom deveria ser canalizada para palestras, se bem que a concorrência dos dalagnois é insuperável.

  8. Interpretando o iluminista:
    1- Primeiramente o Barroso é superficial tanto em aparência quanto em essência. Nisso você tem razão, porém a imagem que ele faz de si mesmo reside no sucesso que alcançou.
    Se a pessoa mediana segue uma diretriz na vida sem enfrentar desafios e alcança o sucesso almejado, especialmente se desejar algo grandioso, não se encontrará lá na ponta um vencedor e sim uma pessoa que fez tudo direitinho e no fim do ano o papai noel lhe trouxe o presente prometido.
    2- Barroso tem uma qualidade: se expressa bem tanto no idioma pátrio quanto no comercial universal – fala bem o inglês, logo ele se sente “o cara”.
    3- Da sua formação em “auto-ajuda” o que não é demérito, pode-se deduzir que a necessidade de se sentir útil e inspirador o fez buscar um modo de isentar-se de culpas e indagações interiores, dividindo o seu sucesso. Muitos juizes “bonzinhos” vêm fazendo isso pela internet, o que parece curioso. É um misto de falta do que fazer com “missão humanitária” grandemente lucrativas, que explicam-se por si mesmas: ambição e insatisfação. Eles ganham muito, não têm onde enfiar dinheiro, e ainda querem mais dinheiro.
    DAS CULPAS
    1- “(…) Acho que nós estamos com um déficit de coordenação, de uniformização de discursos e de construção de consensos, certamente.”
    Ora, se os economistas são profícuos em dizer que enfrentaremos um “crescimento negativo”,
    por que o ínclito julgador não poderá explicar-se com a mesma dubiedade. Ele foi instruído nos bancos das universidades para desdizer o óbvio e afirmar o inexistente.

    2- “O mundo precisa e o Brasil precisa de um choque de Iluminismo, um choque de inteligência emocional e de maturidade política. Iluminismo para valorizar a razão e a ciência; inteligência emocional para escapar de reações passionais e não construtivas; e maturidade política para sermos capazes de construir consensos e evitar confrontos.”

    Nessa afirmação ele apenas demonstra que aprendeu a se expressar ordenadamente sem que precise inserir conteúdo no que diz. Fala abobrinhas com elegância.

    3- “…) Manifestantes, cidadãos privados, podem criticar duramente o Congresso e o Supremo e até pedir o fechamento. Eu não concordo, mas está dentro da liberdade de expressão. Já o presidente, eu penso que não. Mas também não ouvi o presidente fazer esse tipo de manifestação.”
    Aqui, filhadaputamente, ele concorda com qualquer absurdo, desde que não o atinja, o que é diferente de se pousar de “isentão”.
    Dá-se a impressão de que se quiserem fechar o congresso e o supremo, desde que ele não perca as suas benesses, que se danem a constituição e o povo: o dele está garantido.
    E o presidente, a opinião do presidente, a presença do presidente nas manifestações sobre o golpe : “ora, o presidente é um mero detalhe”
    Na porta do estábulo sagrado do Santuário dos 3 Poderes, o ministro se porta como os três macacos sábios: tapa a boca, tapa os ouvidos e cobre os olhos.*
    *https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%AAs_Macacos_S%C3%A1bios

    4- “Eu não interpreto como pressão. Aliás, eu não interpreto nada como pressão, porque pressão só produz efeito se você aceitar. Se você não aceitar como pressão, ela não existe. O presidente fez um movimento político que a ele pareceu bem, e não me cabe julgar movimentos políticos.”

    Com essa afirmação, o ministro prova que tem muita fé. Mais que medo, mais que prudência o ministro tem fé. Ele acredita que fechando os olhos com força o presidente desaparece, a pressão desaparece, o movimento político desaparece.
    Bom chegar a essa idade com esse espírito infantil, é o que se pode deduzir do ministro.

    5- “Essa pergunta seria melhor direcionada para as autoridades de saúde.”

    O ministro estaria sendo esquivo, insensível ou apenas livrando-se de um interlocutor inconveniente?
    Ele apenas, gentil e educadamente quis dizer: “não encham o meu saco com essas coisas que não me dizem respeito”

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