Bolsonaro e os evangélicos

Bolsonaro e os evangélicos

 

Por Jeferson Romao

 

Não foi somente a preocupação moral que levou parte dos evangélicos a votar em Bolsonaro (quando digo “parte”, estou, tacitamente, me excluindo dela), muito menos o amplo sentimento anti-esquerda.

 

O principal fator considerado para essa escolha não foi o receio com relação ao tal “kit gay”, ao aborto e a liberação de drogas.

 

 

Apesar de todas essas coisas também terem sido levadas em conta o que convenceu essa parte dos cristãos foi o sentimento anti-PT. O sentimento de descobrir que foi feito de trouxa, que foi roubado e enganado. Descobrir que a educação e a saúde, apesar da melhora, não alcançou a qualidade proporcional aos treze anos de governo.

 

Roberto Dutra já havia dito, em 2016, que “[…] o que realmente explica as motivações do comportamento eleitoral, não só dos evangélicos, mas de todas as classes populares […] é o eixo do bem estar social. A preocupação é muito mais prática: saúde, educação e programas sociais”.

 

O maior exemplo disso é o governo Temer. A Bancada Evangélica votou pelo Impeachment e apoiou Michel Temer, enquanto os evangélicos das camadas mais baixas, que elegeram esses deputados como seus representantes, rejeitaram o presidente, por entender que suas “reformas estruturais” retiram direitos.

 

Os ingênuos que acreditam que as fake news do “zap zap” motivaram o voto da maioria, deveriam ouvir o conselho de Mano Brown:

 

[…] tem que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta pra base e vai procurar entender”.

 

Quanto à inocência dos apoiadores do presidente eleito em achar que a pauta moral sustentará seu governo, o tempo mostrará, mais uma vez, que o fator mais importante para o brasileiro é o bolso. Se Bolsonaro der continuidade às reformas de Meirelles ou tomar quaisquer medidas que possam ser consideradas supressões de direitos, poderá ter o mesmo destino de Dilma, ou pior.

 
Redação

6 Comentários

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  1. Muito errado

    Foi a insegurança publica que motivou grande parte dos votos.

    O PT achou que bastaria incrementar a renda e educação para resolver os problemas e nunca atacou de frente a insegurança. O acordo do PCC com o governo de Alckmin em SP e a exportação do PCC (cria do PSDB) ao resto do país mais os jornalecos do sangue (estilo “Aqui e Agora” e jornal “já” que só tem mulher nua, violência e futebol a R$0,25) criaram uma sensação muito forte nas pessoas de que só um enfrentamento forte resolveria esse problema

    “Paz e amor” não funciona para essas pessoas

     

  2. Na mosca, ainda que

    Na mosca, ainda que parcialmente.

    Caso contrário, Ciro Gomes teria sido alçado ao segundo turno (oferecia o melhor plano de retomada das questões econômicas e de bem-estar social).

    Num quadro institucional extremamente confuso (fraude eleitoral do governo PT-Dilma-Levy em 2014-2015, impeachment em 2016, desmonte acelerado do Estado de Bem-Estar social desde o governo Temer), uma série de fatores concorreram para o desastre atual, inclusive os desprezados pelo autour do texto (fake news-zap, militantismo conservador cristão ou não) e outros (debilidade do PT enquanto governo desde 2003, papel da grande mídia desde as jornadas de 2013, com exceção da Folha durante as eleições). 

    A pergunta agora é: como resisitir e fazer oposição numa situação de caos? O que sobrará do país após o terremoto promovido pelo atual/futuro governo Bolsonaro?

    Obrigado ao autor pelo texto.

    Abraços

     

     

     

  3. Zap e kit gay.
    Sou católico e as mentiras no Zap e o Kit gay foram determinantes para votarem no Bolsonaro. Na boa não acredito que o eleitor evangélico seja muito diferente. Concordo que a economia será determinante para o sucesso do novo governo.

    PS: meu médico antes da eleição, “vamos tirar esses comunistas depois a gente vê o que faz”.

  4. Não sei não, mas algo me diz

    Não sei não, mas algo me diz que tirar o Bozo é “um pouco” mais dificil do que foi tirar a Dilma. Quem ainda acredita nessa história de “depois a gente tira”? Temer foi flagrado com a boca na botija e mesmo assim permaneceu até o fim. E deve ganhar uma enbaixada na Itália, dizem.

    Essa analise se esquece de que antes da estratégia “Steve Bannon” entrar em campo desvirtuando o elenão, o Coiso estava estagnado e Haddad subindo. Projeções de segundo turno davam o petista na frente. Derepente o dito cujo começou a disparar. Será que houve um surto de anti-petismo repentino na ultima semana assim do nada? 

    Além do mais, Lula tinha as mesmas intenções de voto que teve o Bozo. E o PT recuperou sua popularidade de 30% da opinião pública. Se não é aconselhável subestimar o antipetismo também não é superestimá-lo. Muito menos subestimar as novas estratégias de manipulação das massas, que desde as ” primaveras” árabes vem tendo forte impacto em países de democracias mais frágeis como a nossa

  5. Cambridge Analytica…

    Não podemos subestimar o trabalho profissional da Cambridge Analytica que, com provável ajuda ( $ ) de empresários brasileiros, conseguiu atuar no psicológico dos suscetíveis, aplacando seus medos principalmente quanto à Segurança. Trabalho esse com implacáveis fake news. E, por fim, o apoio de Edir Macedo e seu afilhado, Silas Malafaia. Não à toa, em poucos dias, conseguiram mudar as intenções de votos em Eduardo Paes, Anastasia, Dilma, Suplicy, Requião, Cesar Maia e outros. Focaram sem dúvida, os resultados do Rio, São Paulo e Minas Gerais. E assim caminha o golpe, do contrário não estaríamos vivendo essa trevas…

  6. Nenhuma análise simplista

    Nenhuma análise simplista oferece explicação aceitável. Discordo do autor pois não é tão simples assim. Há todo um conjunto de fatores que influenciaram os eleitores evangélicos e não se pode minimizar a ação de pastores, líderes ou não, que transformaram suas igreja em comitês políticos antipetistas, com pregações diuturnas martelando a mesma cois: Fora PT, fora “comunistas” e outras baboseiras nesse estilo. Não se descarta que houve corrupção explícita desses líderes. E a crença teologicamente errada vigente entre os evangélicos de que o pastor é o “ungido de Deus” (roubando uma das caracterísitcas que só cabe ao Cristo, segundo a Bíblia) e que suas palavras não podem ser contestadas.

    Outros fatores conspirararam contra o PT que, apesar de tudo, de não ter conseguido eleger o presidente, saiu da eleição com a maior bancada da Câmara Federal, um número expressivo de governadores e, certamente, a possibilidade de construção da uma frente de esquerda para enfrentar o governo de extrema direita que se anuncia.

    Os grandes perdedores nessa eleições são o PSDB, a Marina Silva, o DEM e o PDT, pelas atitudes errôneas do seu candidato a presidente.

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