BRASIL EM TRANSE: MAS TEM UM LADO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Brasília, 15 de abril de 2016**

Estamos num momento-limite da nossa história, em que a escalada golpista ameaça solapar novamente a nossa tenra democracia.

Há um muro no meio do caminho, uma cisão que, como bem sabemos, foi atiçada por um mafioso arsenal de desinformação e sustentado por uma plutocracia patrimonialista e cleptocrática, dotada de dificuldades quase que intransponíveis de adaptação e convivência com o republicanismo e com a democracia. São as velhas raposas ávidas por “tomar conta” do galinheiro. Ou como diz o Paulo Nogueira, é a plutocracia querendo sequestrar a democracia.

Nesta terra em transe, como constata o Wanderley Guilherme dos Santos, é muito difícil e “quase irresistível prova de loucura, manter a serenidade diante dos convites diários à insensatez”.

LADO DE LÁ E LADO DE CÁ: UM MURO (INTRANSPONÍVEL?) NO MEIO DO CAMINHO

Os lados estão postos, neste momento, de forma inexorável, não há para onde fugir ou fingir que não sabe e não vê: o lado de lá (dos que defendem o golpe ou o impítiman sem base legal) e o lado de cá (dos que defendem a legalidade democrática e a soberania popular). Pela descrição, se vê que me posiciono claramente do lado de cá (fácil de decidir), da defesa da democracia e da soberania popular (contra o golpe e contra o sequestro de 54 milhões de votos).

Passada a turbulência (vencido o golpe) e o risco de mergulharmos novamente no imponderável, é claro que os muros podem se tornar mais porosos e permeáveis e até mesmo ruírem ou virarem pontes para o retorno a uma coexistência possível e necessária.

Ao contrário do que alguns dizem, insinuam ou subestimam, o lado de cá é movido essencialmente pelo respeito às diferenças, pelo diálogo e pela valorização da diversidade, reunindo, por exemplo, críticos ao governo Dilma (como os atores Leticia Sabatella e Wagner Moura), defensores do governo (como os deputados Wadih Damous e Jandira Feghali) e até opositores ao governo (como os deputados Marcelo Freixo e Jean Wyllys e a senadora Lídice da Mata).

O lado de cá não tem nada de uniforme e muito menos de autoritário, intolerante e fascista como se costuma averiguar com frequência no lado de lá. A defesa escancarada de um golpe já é, per si, uma violência. Alguns o fazem conscientemente, enquanto outros muitos por brutal ignorância, é oportuno reconhecer.

O que une o lado de cá são, precisamente, questões elementares e inegociáveis: o zelo pela democracia e o respeito à soberania popular.

MOMENTO EXISTENCIAL: SENSO DE URGÊNCIA E ATITUDE PRÓ-DEMOCRACIA (ANTI-GOLPE)

Reitero, portanto, que estamos num momento existencial, derradeiro, o qual exige senso de urgência e atitude altiva em defesa da legalidade democrática.

O diálogo é sempre fundamental, é base para a democracia, pois faculta a resolução de conflitos sem violar a integridade do outro. Implica, portanto, no reconhecimento e incorporação do conflito, no âmbito da esfera pública, em busca de sua superação.

Nesta perspectiva, qualquer diálogo para se tornar confiável neste momento derradeiro da vida nacional, deve ter como insofismável precedente o mais veemente repúdio ao golpe (que é esta farsa do impeachment sem base legal, sem a existência de crime doloso da mais alta gravidade) e a mais vigorosa defesa da democracia. Daí por diante, as divergências se reestabelecem, se expressam, se legitimam e qualificam a própria democracia.

SINTONIA RARA E PODEROSA PARA UMA VIRADA DE PÁGINA NA HISTÓRIA

Para a nossa alegria e esperança, é comovente constatar e vivenciar esta ampla, histórica e vibrante mobilização contra o golpe e em defesa da democracia que toma conta do país, agudizando a discrepante existência de um consórcio de usurpadores instalados no parlamento, na vice-presidência, no cartel midiático e noutros quartéis ou espaços estratégicos da vida nacional.

Apesar das investidas repulsivas contra a institucionalidade e a estabilidade do país, urdiu-se, em meio a essas adversidades, uma tessitura espessa nas redes e ruas, a partir da pluralidade de atores e segmentos sociais, tais como artistas, juristas, periferias, movimentos sociais, intelectuais, acadêmicos, mulheres, sindicalistas, camponeses, juventudes e muitos outros, orquestrando uma sintonia fina e conformando uma rara e poderosa rede de cidadania.

Podemos forjar uma virada de página no momento histórico. Esta sintonia poderosa será também fundamental após a derrota do golpe, a fim de se estabelecer um novo patamar de pactuação na sociedade brasileira. Também será a hora de, como disse o Gilson Caroni Filho, “pensarmos uma nova esquerda dentro e fora do PT”.

Sigamos avantes com muito amor, alegrias e paz no coração!

**Publicado originalmente no Facebook, em 15/04/2016

Redação

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