os Generais jamais chegaram ao poder pelo voto. em 1964 o fizeram com as tropas e os tanques. o bloco dominante julgava que após a “limpeza” os militares voltariam aos quartéis. rigorosamente falando, desde então jamais voltaram. por que agora o fariam?
os Generais estão em êxtase com o mito Bolsonaro, pois lhes dá algo que nunca tiveram: carisma popular.
apesar de seus os Três Primeiros-Filhos, apesar do escândalo do WhatsApp, apesar do Bolsogate dos assessores, apesar dos apesares, todos os Generais do Capitão o manterão inexpugnavelmente blindado. mas o mesmo não se pode afirmar acerca de seus entornos…
temos diante de nós a arquitetura em andamento de um novo sistema de poder. como em 1964, as mudanças institucionais que a Esquerda não pode, não soube e não quis fazer, serão agora os Generais seus executores.
e a Esquerda, tal qual existia até as Eleições de 2018, tornou-se irrelevante.
mais uma vez cercados pelo eterno retorno das espirais de farsa e tragédia da História, estariam os Generais em forma, por assim dizer, para vencer a circularidade e impor a diferença?
Golpe de 1964: abre-se um novo ciclo de acumulação capitalista no Brasil baseado na concentração, internacionalização e superexploração (Programa de Ação Econômica do Governo – PAEG).
Salário Mínimo: perda real de mais de 33% entre fevereiro de 1964 e março de 1968.
Concentração de Renda: 5% mais ricos aumentaram sua participação na renda nacional de 27,4% em 1960 para 36,3% em 1970.
Carga Tributária: 16% do PIB em 1963 para 23,8% em 1968.
Inflação: 25% em 1967 e 25,4% em 1968, bem acima dos 10% planejados e muito abaixo dos 79,3% em 1963.
PIB: abaixo dos 6% projetados, cresceu 3,4% em 1964, 2,4% em 1965, 6,7% em 1966, 4,2% em 1967, contra 8,5% a 10% durante o Plano de Metas de JK, 8,6% em 1961, 6,6% em 1962 e 0,6% em 1963.
Internacionalização: revogação dos artigos da Lei de Remessa de Lucros, que fixava um limite de 10% ao ano. empréstimos externos cresceram 65% entre 1964 e 1965, e os investimentos externos diretos triplicaram. abertura da exploração mineral a capitais privados e estrangeiros, com exceção do petróleo, do carvão e dos minérios ligados à área nuclear.
{fonte: “1968: O Ano I do ‘Milagre Econômico’ da Ditadura”, José Luís Fevereiro}
o caráter recessivo da política econômica leva ao acirramento da insatisfação social, inclusive entre setores da classe dominante, com a eclosão de grande manifestações de rua e a articulação da Frente Ampla de oposição.
o contra-ataque da Ditadura vem em pinça por duas frentes: o AI-5 aprofunda o estado policial e a repressão, enquanto aumenta a ênfase no crescimento econômico.
sintomaticamente o Plano de Desenvolvimento Econômico (1968) não faz referências a metas de inflação. o PIB cresce 9,8% em 1968, iniciando-se o Milagre Brasileiro.
se o bolo cresceu sem nunca chegar a ser dividido, antes mesmo do impacto do Choque do Petróleo (1973) a solidez do “Brasil Grande” já começara a se dissolver no ar com o Crash das Bolsas no Brasil e o fim do padrão monetário Dólar-Ouro, ambos ocorridos em 1971.
de “grande” restou a hiper-inflação, uma faraônica dívida externa e o brutal aumento da desigualdade social.
além, é claro, a gigantesca e insuperável incapacidade de trazer à luz do meio-dia as infâmias ocorridas nas trevas dos porões da Ditadura Civil-Militar.
Paulo Guedes, Roberto Campos, Delfim Netto, Mário Henrique Simonsen, Reis Veloso. Maluf. Paulo Maluf, o candidato civil do General-Presidente João Figueiredo – o último Ditador.
Paulipetro. Lutfalla. Camargo Corrêa. General Electric. Capemi. Coroa-Brastel. Grupo Delfin. Itaipu. Ponte Rio-Niterói. Transamazônica. Fraude do Farelo. contrabando na PE. Kruel. Amaury Kruel e suas malas de dinheiro.
Rua Tutóia. Ultragás. Operação Condor. Fleury. Malhães. Molina. Baumgartem. Tenente Odilon. Zé do Ganho, Pejota, Mariel Mariscot. todo grupo de extermínio acaba exterminando seus próprios membros.
a tortura que jamais houve, mas sempre existiu. a corrupção que não havia, mas sempre esteve lá. um Brasil feito por nós, mas desfrutado por eles. Ditadura nunca mais, ainda que perdure.
o maior e decisivo erro dos militares sempre foi supor ser possível desenvolver um país sem acionar o seu mais valioso recurso: o Povo.
muito mais do que pelo voto anti-PT, Bolsonaro foi eleito por uma profunda e generalizada rejeição “contra tudo que está aí”. um voto eminentemente anti-sistema.
entretanto, ninguém melhor do que Bolsonaro para representar o que há de pior na classe dominante no Brasil: elitista, autoritária, machista, homofóbica, racista, discriminatória, preconceituosa, servil aos interesses externos, reacionária e de forte viés fascista.
ainda mais: quem tem sido os Generais senão o braço armado deste sistema? sempre um sistema político subordinado ao sistema econômico, do qual os Generais são a Garantia da Lei e da Ordem a serviço do grande Capital.
não importa quantos sejam os Generais do Capitão, eles já estarão de antemão derrotados caso não compreendam a especificidade de uma conjuntura completamente diferente de 1964 e de 1968, frente a qual não há viabilidade para qualquer estratégia “lenta, gradual e segura”.
as justas e urgentes demandas de uma população com pouco rendimento mas muito endividamento não lhes baterão continência, tampouco serão superadas na base do “prendo e arrebento” e “cadeia ou exílio”.
estariam os Generais dispostos a quebrar seus próprios paradigmas e implementar medidas anti-sistema?
uma impiedosa, mas sempre magnânima História lhes estende a mão. afinal o que os Generais querem? mais uma vez tristemente se apagarem?
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Podemos esperar alguma
Podemos esperar alguma surpresa de um exército que tem medo da liberdade de um metalúrgico aposentado ? Penso que a maior preocupação da cúpula das forças armadas é garantir a confiança dos bilionários.
Brasil em Transe: todos os Generais do Capitão
-> Penso que a maior preocupação da cúpula das forças armadas é garantir a confiança dos bilionários.
entre 1964 e 1968 os Generais adotaram uma política econômica recessiva. antes que a instabilidade resultante se tornasse incontrolável, Delfim fez a mágica do Milagre. ainda assim, sempre quem pagou a conta foram os trabalhadores.
se Castelo Branco foi escolhido por um Coronel dos EUA, Geisel jamais pisou naquele país e completou a industrialização pesada do Brasil, criando diversas estatais.
a Direita não é unida. este é um mito extremamente nocivo fomentado por uma Esquerda pelega.
tampouco os Generais são unidos. Castelo morre numa colisão de aviões. Costa e Silva sofre um derrame às vésperas de revogar o AI-5.
os Generais sempre seguiram espartanamente um de seus lemas prediletos: “Aos amigos, tudo. Aos indiferentes, a Lei. Aos inimigos, a tortura.”
como deveria ser óbvio, por este lema acabam sem nunca saber quem seriam os amigos. o círculo vai se estreitando, até ficarem todos asfixiados.
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