Brasil Milênio discute as novas tecnologias e os setores de produção

Publicado, originalmente, dia 9 de dezembro

JORNAL GGN – Um dos temas centrais para se discutir a reconstrução da Brasil é o impacto das novas tecnologias sobre o emprego, um cenário que tem se mostrado muito problemático, como explica Carlos Frederico Leão Rocha, Vice-Reitor e Professor do Instituto de Economia da UFRJ, ao jornalista Luis Nassif no oitavo capítulo da série Brasil Milênio: o Brasil pós-Bolsonaro.

“De uma maneira geral, o mundo seguiu uma trajetória liberalizante, que implicou em uma retirada de uma série de direitos da classe trabalhadora. Como resultado geral, a gente tem um problema de polarização”, explica Rocha. “Ela acontece no nível das empresas – tem empresas que ganham espaço e outras que perdem espaço, mas não é qualquer mudança: ela implica em um maior grau de monopolização”.

O segundo ponto é que os trabalhos que exigem médio conhecimento, e possuem nível médio de renda, são os mais afetados por essa tecnologia. “Alguns resultados que a literatura apresenta mostra que até o pessoal de nível superior e de gerência média está perdendo posto de trabalho. E esse impacto gera o seguinte: poucas pessoas com rendimentos muito elevados, e uma grande massa com rendimentos muito baixos. E de uma maneira geral, os países estão com pouca legislação para fazer frente a isso”, explica Leão Rocha, ressaltando que até mesmo economistas com viés mais liberal mostram-se preocupados com essa tendência, que vem sendo agravada por meio das novas tecnologias de automação no capitalismo moderno.

Leão Rocha explica que a adoção da tecnologia é boa para substituir processos repetitivos, mas ela também está ficando boa na capacidade de coleta de dados e de fazer previsões – embora a tomada de decisão ainda fique a cargo de um trabalhador. “Um caso, por exemplo, é o caso de advogados. Hoje, você tem programas que conseguem prever sentenças muito melhor do que os advogados. Em um sistema como o brasileiro é até um pouco mais complicado, mas em um sistema como o norte-americano, que você segue as tradições, a capacidade das tecnologias de mapear as sentenças e, a partir desse mapeamento, conseguir prever qual vai ser a sentença, é um exemplo de substituição do advogado”.

Enfraquecimento do sindicato e o que esperar do futuro

Um pretexto muito usado para dar mais efetividade às empresas – e, por consequência, acaba por aumentar o desemprego estrutural – é o enfraquecimento dos sindicatos. Para o vice-reitor da UFRJ, o papel do sindicato está diretamente relacionado com políticas de transferência e, também, com a possibilidade de negociação de igual para igual em uma mesa.

“Existe uma longa tradição na economia que entende que existe o nível de subsistência, que é o nível de salário de subsistência, que é exogenamente determinado pelas condições sociais. E essa questão é uma que vínhamos trabalhando no Brasil desde a Constituição de 88, nós vínhamos trabalhando em políticas que aumentavam o salário de subsistência – é o salário mínimo, mas o salário mínimo apenas consolida essas políticas”, explica.

“Há economistas que vão ser contrários a isso, mas essa política foi completamente exterminada a partir de 2016, e vem sendo combatida consistentemente, com uma exceção que é o auxílio emergencial que foi dado durante a pandemia, é a única exceção e é uma política emergencial que tá sendo retirada agora. Vamos voltar a salários menores”, pontua o professor, ressaltando ainda o impacto que o desmonte do Estado de Bem Estar Social pelos ataques de autoridades vai gerar sobre os trabalhadores.

Para o Brasil pós-Bolsonaro, Carlos Frederico Leão Rocha afirma que alguns pontos precisam ser trabalhados e algumas apostas a serem feitas em termos macroeconômicos, como mudança na legislação de herança, considerada muito benéfica ao capital, e um endurecimento por meio da cobrança de imposto sobre herança seria “uma boa medida para financiar programas de transferência de renda, por exemplo”.

A realização de uma reforma tributária também é defendida pelo professor da UFRJ – neste caso, ele sugere “retirar impostos sobre mercadorias para aumentar os impostos sobre a renda. Isso pode permitir algum ganho de distribuição de renda” -, assim como uma mudança nos custos indiretos do trabalho. “Mudar a forma de cobrança para reduzir os custos indiretos e reduzir, isso sim, o disparate que tem entre emprego formal e a criação dessa pejotização. reduzir o nível de pejotização”.

Confira mais sobre estes e outros temas debatidos entre Luis Nassif e Carlos Frederico Leão Rocha na íntegra da entrevista, que pode ser vista abaixo:

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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  • Olha os economistas brasileiros, sao verdadeiros barbeiros de economia. Ninguem esta focalizando nas acoes dos Hedge Funds, cujas acoes e reacoes, e maximar o retorno pros acionista e o resto que tudo va pro inferno.
    ExemploL Decembro 31 2020 - Fianncial Times
    Activist Hedge Fund advises Intel to outsource CPU manufacturing. Daniel Loeb demands strategy shake up.
    Numa carta ao Chairman do Intel Omar Ishrak, Loeb demanda que, entre outras coisas, por falta de talentos novos, pois Intel perdeu seus melhores inovadores. Os que ficaram estam desmoralizados.
    Enquanto isso nem se discute como Intel modificando suas estrategias, vai afetar o Brasil.
    Merda de economistas de merda.

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