Brasil Milênio: O planejamento pós-Bolsonaro, na TV GGN

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Luis Nassif entrevistou João Sicsú, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA

Reprodução/TV GGN

Jornal GGN – O conceito de planejamento para atingir uma conjuntura política, econômica e social desejável pós- Bolsonaro foi abordado pelo professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), João Sicsú, no episódio desta quinta-feira, 10, da série Brasil Milênio, comandada pelo jornalista Luis Nassif na TV GGN

Sicsú é um dos coordenadores do livro “Utopias para Reconstruir o Brasil”, que reúne 54 autores especialistas de diversos segmentos sociais, a fim de construir uma ideia sólida de país para combater os desmontes do estado brasileiro ocorridos nos últimos anos. 

Durante a entrevista, o professor jogou luz sobre a ideia de planejamento para alcançar este objetivo. Segundo ele, este conceito surgiu no mundo “em momentos de graves crises e diante das mais imensas dificuldades”. Com isso, o planejamento se faz necessário “para a construção de qualquer sociedade. Qualquer caminho é necessário ser planejado, organizado, estudado cientificamente e colocado à disposição dos políticos e estadistas para que eles possam decidir qual opção adotar”, explicou.

Para exemplificar o êxito da implementação do planejamento, o professor citou o New Deal (Novo Acordo, em português), que foi uma série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do presidente Franklin Delano Roosevelt.  “Não existe planejamento com apenas um segmento da sociedade, é preciso unir todos os segmentos. O New Deal, envolvia todos trabalhadores, artistas, empresários, latinos, negros e judeus. Precisamos de um pacto com todos os segmentos sociais pra levar um planejamento a frente, aprofundando a democracia em todos os níveis. Só assim se consegue algo sistêmico e legítimo”, pontuou.

Para Sicsú, ainda é necessário um outro avanço: “para nós sabermos dar os passos do dias de hoje até a sociedade ideal, temos que fazer um bom diagnóstico da sociedade que nós vivemos, para saber quais são os detalhes da nossa caminhada”, disse. “Não adianta dar o passo a passo – se não vira política de varejo – sem saber aonde temos que chegar e sem articular a indústria com a agricultura e a área de serviço, o setor privado com o setor público, o estado e a sociedade”. 

No entanto, o professor afirmou que todo este processo tem a liderança política como pilar. “São muitas articulações necessárias e quem faz essas articulações é a liderança política, o planejamento não é obra exclusiva de cientistas, técnicos e profissionais especializados. A decisão, articulação e a comunicação com a sociedade quem faz e quem fez foram as lideranças politicas”, disse.

“Temos que radicalizar a democracia, ter participação permanente, participação diária da sociedade em todos os seus segmentos, porque o planejamento se constrói de cima pra baixo, mas também de baixo pra cima. Temos que levar essa ideia para sociedade e obter o retorno da mesma”, disparou.

O planejamento do governo Lula

Diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA, durante o segundo governo Lula, Sicsú narrou sua experiência e explicou como o planejamento nacional era abordado na época. “O IPEA tinha prestígio e atividade dentro do governo, porque era ligado a secretaria de assuntos estratégicos da Presidência da República. Existia uma grande articulação interna visando o longo prazo”, contou.

“ O governo Lula foi muito bem sucedido em termos de resultado, os números são incontestáveis, comparando para frente e para trás, esse governo destoa da história brasileira. Os números sobre distribuição de renda, industrialização e investimento público, muita coisa que aconteceu em um período curto”, disse.  

Mas, segundo o especialista, “faltou no governo como um todo, embora houvesse essa ideia de articulação por parte do Lula, a consolidação da ideia de planejamento”.

O empobrecimento brutal do pensamento econômico brasileiro contemporâneo

Sicsú também fez uma explanação sobre a falência da economia atual, fenômeno que, de acordo com ele, começou “no exterior e dominou o Brasil”, com a “predominância do rentismo curto prazista sobre as indústrias e a atividade produtiva”.  

O Brasil está atrasado até em termos de ideias conservadores. O Brasil está onde a Europa estava entre  2011 e 2012, no período em que a crise da Grécia se alastrou pela região, aquele momento de austeridade e que era chamado de consolidação fiscal. O Brasil está oito anos atrasado do pensamento convencional, não estamos falando de um pensamento alternativo e progressista de geração de desenvolvimento”, lamentou. 

“Quando falamos dessa elite econômica, essa elite sempre foi, com exceções, voltadas exclusivamente para os ganhos monetários os lucros imediatos. Eu gostaria que nossos grandes empresários, pensassem em construir grandes empresas dentro de um grande país, mas eles só estão interessados em grandes empresas e grandes lucros”, apontou. 

Ainda, para o professor, esses “tentáculos do sistema financeiro penaram nas universidades”, com exceção das unidades públicas brasileiras de ensino superior. “As universidades públicas têm mais garantia de liberdade de pensamento e temos tido liberdade de produção. As universidades públicas aqui no Brasil garantem a diversidade de ideias, aprofundamento e criatividade”.

A industrialização como ativo contra a pobreza

Ao discutir a importância da produtividade na redução da pobreza, o professor destacou que “os empregos industriais são os de maior ganho, de maiores salários, porque geram maior produtividade. Então um país que não industrializa terá muita dificuldade em combater a pobreza”, explicou. 

“Quais são os nossos empregos hoje, a uberização. Isso, na verdade, não irá aumentar os ganhos com o passar do tempo. Agora em uma indústria, conseguimos ter espaço para o ganho de produtividade. Precisamos ter um país industrializado e eue gere empregos para combater a pobreza”, disse. 

Valorização da ciência e tecnologia

Ao falar sobre inovação, a partir da valorização da ciência e tecnologia, Sicsú apontou que o fortalecimento e aumento de orçamento para essas áreas é um dos caminhos para o planejamento. “Temos que fortalecer o que estão querendo destruir: as instituições de pesquisa e as universidades públicas, onde se faz a pesquisa básica que irá gerar inovação industrial. Temos que traçar nosso ideal de país e depois vamos traçar o nosso planejamento. Precisamos saber se vamos entrar na rota dos inovadores ou se vamos continuar produzindo matéria-prima para os inovadores do mundo’, completou.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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