Brasil tem maior número de aves ameaçadas

Estudo mapeia áreas importantes de conservação de aves ameaçadas no país. Das 1.882 espécies que o Brasil abriga em território, 122 têm risco de extinção, ou 20% das 9.000 mil variedades registradas pelo mundo, sendo 1.212 delas ameaçadas.

O trabalho foi desenvolvido pela ONG Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), representante nacional da organização BirdLife International. O país é o terceiro em diversidade de aves, atrás da Colômbia e Peru, respectivamente. Ao mesmo tempo, é o primeiro em número de espécies ameaçadas, sendo duas já extintas na natureza: o mutum-do-nordeste, Mitu mitu e a ararinha azul, Cyanopsitta spixii.

Os resultados dos levantamentos foram divididos em dois livros. O primeiro, publicado em 2006, avaliou os biomas Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e parte do Cerrado. Na época, a SAVE Brasil havia identificado 163 Áreas Importantes para Conservação de Aves (IBAs, na sigla em inglês). Já no segundo, publicado este ano, e realizado nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, foram apontadas mais 74 áreas que devem ser conservadas.

Portanto, o número total de IBAs brasileiros é 237, ou 94 milhões de hectares, e 11% do território nacional com necessidades de proteção. O Acre tem a maior área importante para conservação de aves no Brasil e no mundo, com 3 espaços que merecem atenção e que, juntos, representam quase 6 milhões de hectares, ou 37% do território acreano.

No segundo levantamento – Amazônia, Cerrado e Pantanal –, das 74 áreas IBAs, 12 ( ou 21%) estão totalmente protegidas em Unidades de Conservação, 30 ( ou 39%) parcialmente protegidas, enquanto que 32 (40%) não contam com nenhum tipo de programa de conservação.

“O que o estudo mostra é a fragilidade do sistema brasileiro. Porque dos 94 milhões de hectares em áreas IBAs, só 27 milhões hectares estão em Unidades de Conservação, ou seja, quase 70 milhões de hectares estão desprotegidos”, destaca o diretor de Conservação da SAVE Brasil, Pedro Develey.

O porta-voz da organização considera o estudo relevante às decisões de políticas públicas, podendo ajudar na ampliação de Unidades de Conservação já existentes, ou implantação de novas áreas de proteção.

“Apesar dessas áreas serem baseadas apenas em aves, devemos lembrar que esses animais são indicadores biológicos”, completa. Normalmente, locais ricos em aves são também importantes centros de preservação de outras espécies da flora e fauna, e apresentam ar, água e solo saudáveis.

Participaram do estudo 60 cientistas (entre ornitólogos e biólogos) que analisaram 450 áreas e 700 espécies. Do total de variedades, 30 são consideradas como globalmente ameaçadas de extinção, 37 quase ameaçadas e outras 240 são espécies endêmicas (restritas aos biomas pesquisados). Também foram consideradas 11 espécies congregantes (aquáticas e migratórias).

A necessidade de interligar UCs

“Obviamente áreas protegidas ajudam espécies ameaçadas, mas quanto maior o tamanho, maiores são as chances de perpetuação daquela variedade de ave”, explica o professor aposentado da Universidade Estadual Paulista (UNESP), e consultor do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), Edwin Willis.

Entretanto, o pesquisador enfatiza que a ligação de Unidades de Conservação contribui sensivelmente para a manutenção de espécies. O biólogo, que realiza estudos diretos há 20 anos nos biomas das cidades Rio Claro e Campinas, afirma que é visível o desaparecimento de animais mesmo em matas protegidas e de extensão considerável.

“Quando você delimita uma área de preservação, pode até ser que contribua para que uma espécie sobreviva por anos. Por outro lado, essa população também estará mais suscetível ao desaparecimento”, completa. Quando as regiões florestadas são interligadas o transito de espécies é facilitado, assim como o aumento da área de reprodução, melhorando as chances da variedade sobreviver em caso de desastres ambientais ou biológicos em uma reserva.

“Temos notado em várias áreas, especialmente do Cerrado protegido, o desaparecimento de aves. O pico foi em 2007 após um prolongado período de secas. É importante destacar também que o excesso de chuvas impacta negativamente na população de alguns animais”, conta. Portanto, as mudanças climáticas, assim como a diminuição de áreas desflorestadas, são ameaças.

Um caso atípico de espécie que nos últimos anos voltou a aparecer com freqüência é o tucano. O motivo, segundo o biólogo, é porque a variedade é capaz de voar grandes distâncias, passando por cidades até chegar na borda das reservas florestadas e, assim, sobrevive migrando entre as pequenas matas atrás de árvores frutíferas.

Redação

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