Brigadistas voltam a combater incêndios florestais depois de confusão do governo

Dois dias depois de mandar de volta para suas bases os brigadistas que combatem incêndios florestais, Ibama volta atrás. Governo finalmente liberou verba depois de muita confusão e informações desencontradas

O Greenpeace capturou fotos e vídeos de incêndios durante um voo sobre o estado de Mato Grosso. Foto: Christian Braga / Greenpeace
da Central Única dos Trabalhadores

A incompetência da equipe do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) atingiu mais uma vez o combate aos incêndios florestais que dispararam na atual gestão, especialmente no Pantanal, Cerrado e região Amazônica. Depois de dois meses do pedido dos estados atingidos pelos incêndios que o governo federal liberou em junho deste ano, a contratação de cerca de 1.500 brigadistas florestais, dentre tantas confusões.

Para agravar a situação que já era caóticao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na última quarta-feira (21) mandou que os brigadistas que combatem os incêndios voltassem, num prazo de cinco horas, às suas bases de origem porque não tinha mais recursos para mantê-los nos locais em que o fogo vem consumindo as florestas brasileiras. Nesta sexta-feira (23), o Ibama voltou atrás e os brigadistas puderam dar continuidade ao combate dos incêndios florestais.

Dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que neste ano  foram registrados 89.136 focos de incêndio na Amazônia (+ 25%) em relação a 2019, que já havia registrado um aumento de 32%. No caso do Pantanal, foi registrado um aumento de 217% em 2020 e no ano anterior foi contabilizado aumento de 338%.

Toda a confusão sobre os brigadistas teve início depois da veiculação da nota do Ibama, assinada pelo diretor Olímpio Ferreira Magalhães, em que o órgão afirmou que  em virtude do remanejamento de 16 milhões de reais em recursos do próprio Ministério do Meio Ambiente, devidamente autorizado pela Economia e da perspectiva de liberação de mais 60 milhões de reais em recursos por parte do Ministério da Economia, determinou o retorno imediato dos brigadistas que atuam no Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo). O órgão disse ainda ter R$ 19 milhões em pendências.

Diante da repercussão negativa de mais um desastre, quem meteu a colher na briga foi o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que acumula o cargo de presidente do Conselho da Amazônia Legal, prometendo a liberação de R$ 134 milhões.

Segundo Hamilton Mourão, os R$ 60 milhões do Ibama e ICMBio,  não serão mais bloqueados no dia 31 deste mês, como está previsto pelo governo.

O vice-presidente afirmou que o bloqueio ocorreu porque os recursos passaram pelo ministério do Meio Ambiente antes de serem entregues aos Estados e esbarraram na regra do teto de gastos, que congelou os investimentos públicos por 20 anos.

A liberação dos recursos do Ibama só se resolveu, segundo o jornal O Estado de São Paulo, depois que o ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, se reuniu a portas fechadas com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, e o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues. Foram quase duas horas de conversa sobre o assunto.

Entidades repudiaram fim do combate aos incêndios florestais

Em nota, a Associação Nacional dos Servidores do Meio Ambiente (Ascema) Nacional , criticou o corte de verbas de combate aos incêndios, afirmando que  “se o governo não repassa recursos, os servidores e os brigadistas não podem estar em campo, arriscando suas vidas sem o mínimo de suporte e garantias nem condições apropriadas de trabalho. É mais um absurdo deste governo que não prioriza recursos para prevenção e combate às queimadas, fiscalização ambiental, ciência e tecnologia, saúde, vacinação da Covid-19 e etc. Um governo que rasga dinheiro com o fim do Fundo Amazônia e agora diz que não tem recursos”.

O Observatório do Clima também criticou a justificativa do governo que classificou de “ ridícula”. O secretário-executivo da entidade, Marcio Astrini, disse ao Congresso em Foco, que a  justificativa utilizada pelo governo é o ponto que mais chama atenção.

“Neste momento, o governo tem mais de R$1,5 bilhão parados no Fundo Amazônia e está sendo processado no Supremo por omissão, pela não utilização deste dinheiro, e diz estar retirando os fiscais por falta de recursos. Se o Ibama dissesse que está retirando os fiscais porque os incêndios estão controlados, a situação está resolvida, porque não temos mais problemas daqui para frente, portanto, não é mais necessária a ação desses fiscais, é uma coisa. A gente poderia verificar e discordar ou não da avaliação. Agora, ele não está retirando os fiscais por conta desta avaliação. Ele está usando uma desculpa que não tem cabimento na realidade”, argumentou Astrini.

A não utilização do Fundo Amazônia já é alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, movida por partidos políticos progressistas, que apontam também para omissão da União ao não realizar repasses deste dinheiro.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador