Capítulo 15 do livro de Janot, a comprovação da partidarização da Lava Jato, por Luis Nassif

Na reunião teria havido o bate-boca. Janot teria se recusado a atender o pedido e Dallagnol o acusou de estar interferindo no trabalho da Lava Jato.

Até a delação da JBS, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot era coadjuvante na Lava Jato, permanentemente sujeito às pressões do grupo de Curitiba, ameaçando com o tacape da mídia. Com a delação da JBS, Rodrigo Janot ganhou protagonismo e munição para cooptar a cobertura.

Esse preâmbulo explica o episódio a seguir, narrado no Capítulo 15, e que expõe definitivamente o viés político da operação.

Em setembro de 2016, um grupo de Curitiba foi visitar Janot. Era composto por Deltan Darlagnol, Januário Paludo, Roberto Pozzobon, Antônio Carlos Welter e Júlio Carlos Motta Noronha.

Queriam que ele invertesse a pauta e apresentasse a denúncia contra Lula por organização criminosa no caso do triplex – julgamento central para tirar Lula da disputa presidencial.

Janot tinha quatro denúncias para apresentar, duas contra o PMDB, uma contra o PT e outra contra o PP. O critério era simples: as denúncias seriam apresentadas de acordo com o estágio em que se encontravam. As mais adiantadas eram contra o PP e o PMDB da Câmara. Depois viriam as do PT e do PMDB no Senado.

Dallagnol pediu para que a ordem das denúncias fosse invertida, para que a do PT entrasse primeiro. Janot teria indagado qual o motivo para inverter a ordem. Paludo explicou que, sem a denúncia, as denúncias da Lava Jato contra Lula, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ficaria a descoberto. Por lei, a acusação por lavagem de dinheiro exige a apresentação do chamado crime antecedente. No caso, seria a acusação de organização criminosa. Teria que acusar Lula e outros membros do PT, com foro no Supremo, para dar lastro à acusação de Moro.

Ora, o inquérito sobre organização criminosa corria no Supremo. Na fase inicial das investigações, o Ministro Teori Zavascki permitira à Lava Jato de Curitiba compartilhar documentos do inquérito, mas não poderiam tratar de organização criminosa, para não se sobrepor à do Supremo. Dallagnol atropelou a decisão e, na famosa apresentação do Power Point,  acusou Lula de ser o “grande general”, o “comandante máximo da organização criminosa”. Agora, precisavam do endosso da denúncia junto ao Supremo, para poder avançar nas suas próprias denúncias.

Na reunião teria havido o bate-boca. Janot teria se recusado a atender o pedido e Dallagnol o acusou de estar interferindo no trabalho da Lava Jato.

A reunião terminou sem que Janot tivesse cedido. Segundo ele, “fiz as denúncias conforme os critérios estabelecidos inicialmente”. A denúncia de organização criminosa foi feita um ano depois.

O capítulo demonstra, de forma definitiva, o caráter político da Lava Jato de Curitiba. Somam-se outros episódios barrados no livro, como a estratégia de analisar “horizontalmente” as delações de Paulo Roberto Costa e Jorge Zelada, evitando se aprofundar nos casos, para não dispersar energia do objetivo final: a denúncia contra Lula e a participação direta no jogo político.

 

 

 

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Quantas vezes vai ser necessário “expor definitivamente o viés politico”? Quantas máscaras terão de cair? Pouco importa…

    Tirando a fascistada – e uma parte da trouxinhada que foi envolvida, seduzida e vestiu a camisa do fascismo – as facções judiciárias seguem seus posicionamentos com clareza. Ninguém no supremo ignora o que aconteceu. Sabem ali que “a esquerrrda” não confia mesmo nesse teatrinho jurídico. Ou seja, um terço já os despreza (alguns membros do supremo nem ligam: “danem-se” devem dizer); outro terço só aceita o antipetismo (tem até um general lá como bedel da corte); o terceiro terço ainda prefere acreditar que se trata de combate aa corrupção, como uma maneira de parecer inteligente diante do assunto. Enfim, o mais provável é que os doutores fiquem com os bolsominions, sigam em frente com o teatrinho do combate aa corrupção e obedeçam ao bedel que foi plantado lá. Assim não perdem mais do que já foi perdido na tentativa de ganhar o que não dá mais pra ser ganho…

    O Direito?! Ah, pega na prateleira uma “doutrina”, uma “jurisprudência” qualquer… Lá na frente, se for o caso, pega outra…E la nave va…

  2. Na verdade, o Janot é um mentiroso contumaz. Ele que acabou sendo o responsável pelo impeachment da Dilma ao acusar quase todos os políticos da base aliada da Dilma e isentar o governo federal de responsabilidade Isso causou uma explosão. Quem é do Rio de Janeiro, deve saber que o Eduardo Cunha estava apoiando a aliança Cabral e Dilma. Depois que o Janot acusou PP e PMDB, ele resolveu aceitar o pedido de impeachment. Depois que apareceu a gravação do Delcídio, aí ele não teve mais como deixar de envolver o governo federal. Não foi essa historinha de subalterno de Curitiba ameaçar o poderoso PGR.

  3. Causa-me espanto algumas opiniões aqui publicadas. Essas opiniões são ricas em conhecimentos políticos, filosófico, sociológicos e, pq não dizer, psiquiátricos. Entretanto,o maucaratismo e as jogadas da extrema direita, da elite política, da elite econômica, da grande mídia, do judiciário, do ministério público e de um bando crápulas é de um profissionalismo tão respeitável (pra não dizer outra coisa)que, mesmo concordando com as honrosas opiniões, me pergunto: já que sabemos onde está a podridão que assola o país, pq não fazemos alguma coisa concreta para impedir que tais golpes aconteçam? somos ingênuos? somos fracos? somos coniventes? conhecer as bestas e não combater as bestas é estar do lado delas.

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