CARA A CARA

Encaremos os fatos por aquilo que são e representam. A condenação monocrática de Lula por Sérgio Moro e a aprovação das novas leis trabalhistas pelo Senado Federal são e representam a maior derrota que os trabalhadores brasileiros e seus líderes sofreram nos últimos anos. Como dimensão simbólica ela é até maior que o impedimento da presidenta Dilma. Aquele foi um golpe de Estado institucional e não era um ponto de chegada mas sim a base de lançamento de um novo projeto de poder. Nesse clube, os trabalhadores e seus representantes não passam nem de longe pela porta de entrada.

A tendência reacionária de reinstalar no poder uma nova autocracia burguesa no país prossegue, não nos enganemos. Esta elite tem planos, esta elite tem meios, esta elite tem apoios externos e internos. Ela tem usado de todo aparato legal que possui (executivo, legislativo, penal, mediático e repressivo) e não titubeia, em meio à procela, de jogar em alto mar alguns containeres preciosos, sejam eles empresários, dirigentes, empresas, políticos e partidos. Se for preciso, inclusive juízes e procuradores que têm-se mostrado tão colaborativos. Ela tem mostrado consistência, ela tem agido com frieza e cortado na própria carne. Esta elite tem objetivo: quer chegar a 2018 preparada e com a casa arrumada. A base de recuperação do bolo econômico financeiro, monopolista, agroexportador vem sendo preparada e está já levitando. E dará resultados, não nos enganemos. Resultados para essa autocracia, of course.

Mas, sobretudo, esta elite têm caçado seus inimigos atirando à vista. Nos últimos dias alvos importantes foram atingidos. Com escárnio, apagaram-se as luzes, Lula foi condenado, Geddel voltou para casa e, tudo indica, queTemer com sua quadrilha não será abandonado ao seu destino. Por enquanto. Esta elite não tem escrúpulos. Se o plano A(que era Aécio ou Alckmin e seus tucanos) melou e outro atendível ainda não se delineou completamente, o plano B (Bolsanaro) anda solto e raivoso pelas ruas e redes sociais. Joga-se com a instabilidade até que não se possa haver um firmeza consolidada. Mas se necessário seus cães, se chamados, não fugirão à luta.

Do lado de cá, dos trabalhadores, dos movimentos sociais, dos sindicatos e estudantes combativos, da população desarmada e atacada das comunidades em periferia, dos desempregados, dos índios e das comunidades tradicionais e quilombolas, dos sem-tetos e dos sem-terras, fadiga-se a encontrar rumos claros e consistentes, soluções independentes, único caminho para uma constituição plena de um poder constituinte alternativo à essa tendência reacionária. Com certeza, os últimos anos do PT, suas alianças, seus compromissos firmados com as forças do lado de lá, principalmente com a atuação de uma política econômica e de investimentos públicos, que no ultimo período, penalizou gravemente os mesmos setores e classes que hoje se quer mobilizados, são uma herança difícil.

Do grupo dirigente do PT não se vê proposta clara de uma política independente e que envolva em modo paritário outras forças socialistas. Falta uma coordenação de atos e iniciativas. Um gesto eloquente e corajoso como a ocupação da mesa pelas quatro senadoras (presente a presidente do PT, Glesi Hoffmann) não teve coordenação planejada com ações fora do Senado, com outras mulheres e com as redes sociais, por exemplo. Perdeu-se uma ótima oportunidade de ampliar a indignação.

Luta-se, mas contra esse tipo de inimigos – e o poder de fogo da sua artilharia tem sido mano a mano oleada – todos os recursos constituintes devem ser organizados e todas as criatividades estimuladas e envolvidas. O plano deve ir além de um projeto eleitoral. Um plano que diga claramente que se defenderá e que se estará ao lado daqueles que hoje são espoliados dos direitos duramente conquistados nos anos 80 e 90, dos que lutam por terra, lutam contra a violência policial cotidiana, lutam contra o desemprego e uma educação pública, que lutam contra a volta da fome e da miséria. Um plano, que sobretudo, organize de forma localizada e extensa o dia a dia do poder constituinte. Se a candidatura Lula era uma base de lançamento de uma resistência, não nos enganemos: ontem ela foi torpedeada e todos nós sabíamos que o ataque seria efetivado.

Redação

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