Carlos Guilherme Motta, o historiador na tocaia

No Estadão de hoje, o padrão de análise do historiador Carlos Guilherme Motta gerou um pterodátilo analítico do qual ele se tornou especialista. Trata-se do artigo “O país da tocaia” (http://migre.me/m7FXW).

Diz ele: “Vivemos numa nação esfrangalhada e de precária cultura política, em que a difamação substitui a informação no debate público”. Seu artigo é um pastiche dos trezentos artigos similares produzidos anualmente por articulistas como Arnaldo Jabor.

Em um momento em que o país regurgita o novo, em que as novas manifestações explodem nas redes sociais, em que há uma discussão intelectual pesada sobre modelos de desenvolvimento, de democracia social, formas de participação, em que a sociedade civil nunca foi tão pujante, o bravo historiador berra que “assistimos ao naufrágio da Nação no horizonte do marketing”. Exercita o marketing midiático mais primário – aquele que aponta para a chegada do reino das trevas -, competindo em falta de visão histórica com os pitbulls da ultradireita

Intelectuais sérios vão prospectar nas origens do regime democrático conceitos que permitam readaptar e construir a nova democracia. Outros, debruçam-se sobre as implicações políticas, sociais e econômicas das novas redes sociais.

Motta limita-se a ver semelhanças do momento atual com … a República Velha, “quando os líderes da oligarquia urbana e rural alugavam os músculos dos tristemente famosos “capoeiras”, para darem sovas e atacarem em tocaias os adversários na calada da noite”.

Sobre tocaia e capoeiras, ele sabe do que fala.

Em 2010, prestou-se a esse papel. Valeu-se das disputas entre blogs e mídia para se vingar de uma crítica que fiz à pouca profundidade acadêmica de seus estudos e, ao mesmo tempo, dar a contrapartida exigida para o espaço que conseguiu.

Cometeu um artigo tão baixo, apontando a “invasão” das massas ignaras na política (justo ele, um historiador), que os comentaristas habituais foram substituídos por acadêmicos indignados com as impropriedades do artigo.

Como não se liga na contemporaneidade, Motta  julgava que, me atacando, estaria executando um soldado ferido no campo de batalha, porque rompido com os grandes veículos de mídia. A resposta veio no artigo  “O pequeno Carlos Guilherme Motta” (http://migre.me/m7Hc8) .

Teste de laboratório

Motta interessa apenas como exemplo de um certo tipo de intelectual que cresceu e ganhou visibilidade exclusivamente atendendo à demanda de marketing da própria mídia. Oferece o que a mídia deseja em troca do espaço que lhe é ofertado.

Quando o “must” era o esquerdismo da USP, ofereceu algumas obras-primas da militância intelectual ridícula, como a tentativa de desconstruir o maior intelectual brasileiro, Gilberto Freyre, pelo fato de ser de direita. Para dar mais força às suas bobagens tentou contrapor a Freyre a unanimidade uspiana Antônio Cândido de Mello e Souza – para vergonha de Antônio Cândido, conforme o mestre me contou certa vez.

Sua segunda tentativa iconoclasta foi contra o maior historiador brasileiro, Sérgio Buarque de Hollanda. por ter sido preterido por ele na coordenação de um projeto de história geral do Brasil.  Tentou repetir o atrevimento com Darcy Ribeiro e meteu-se em uma polêmica em que a exuberância de Ribeiro desmoralizou-o.

Com atos dessa natureza, conseguiu se popularizar junto ao público leigo e gradativamente perder o respeito que tinha entre seus pares, firmando a imagem do invejoso intelectual.

Soçobrou intelectualmente na incapacidade de entender o novo. Desde então, periodicamente ganha espaço nos jornais valendo-se da chamada carteirada acadêmica – algumas citações históricas, sem nenhuma análise de contexto, para comprovar que nada mudou, que o país regrediu para a República Velha, que o futuro acabou.

Incapaz de intuir o novo, volta-se para o reflexo do seu espelho. Lá provavelmente enxerga  a imagem de um intelectual da Velha República, moldado nas teorias racialistas e no pavor de encarar o novo.

Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Deixa o cara falando sozinho.

    Deixa o cara falando sozinho. Ele não merece atenção. Não merecia antes, agora então…..Seus “trabalhos” sempre foram past-ups.

  2. Glauber critica Motta.

    Quando foi publicada a única obra importante de Motta, Ideologia da cultura brasileira, Glauber o criticou, em entrevista ao Estadão: “Ideologia da cultura brasileira é um livro sectário. O autor não conhece a cultura brasileira. Não fala de Guimarães Rosa, de Calazans Neto, de Vitalino, de Ariano Suassuna, do Darcy Ribeiro, malha Gilberto Freyre – meu novo líder – e ignora o Cinema Novo”.

     

  3. motta parece mis com

    motta parece mis com ovillmesmo.

    quando essa gente fala parece que não se enxerg.

    e quando se enxerga é no próprio espelho r

    etrovisor não da verdade histórica mas

    de suas próprias ideologias retrógradas.

  4. A votação estrondoso de Paulo

    A votação estrondoso de Paulo Rocha para senador no Pará, assim como pelo povo o Arruda já estava eleito, mostra que estamos ante uma nova civilização que entende que qualquer um em qualquer cargo público está sujeito a qualquer hora cair numa fraqueza, pois dinheiro é mais forte do que qualquer natureza humana, seja de que partido seja

  5. Ah, o Motta…

    … aquele que saiu da Biblioteca Brasiliana lá da USP e cometeu um manifesto contra a greve?

    Convenhamos: para que fazer pesquisa na USP se, no fim, vc acaba dando, além disso, fama a estas excrescências?

    Estamos chegando à situação em que pesquisa séria se faz fora da USP.

  6. carlos guilherme motta

    Nassif, sua síntese foi brilhante. O historiador emérito da usp sempre tentou a glória atacando os grandes intérpretes do Brasil, tudo isso está publicado no livro infame cujo título é a ideologia da cultura brasileira. tal livro é uma apologia dos professores uspianos e uma crítica infundada dos intelectuais de outras universidades ou de intelectuais públicos.  Aldredo Bosi, prefaciador do livro, já indicava o caráter infame da obra: se a usp não tem mãos sujas, quem sabe ela não tem mãos vazias. Ocorre que cgm tem a proteção dos pares. Percebiissso quando tentei escrever um artigo sobre o livro supracitado quando fiz meu doutorado e fui impedido.

     

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