Carnaval sem Fernando Pamplona

Enviado por alfeu

 

Nos últimos anos Fernando Pamplona já não passava mais o Carnaval no Rio de Janeiro, subia a serra e fazia um retiro em Itaipava. Apesar da sua vida estar ligada a esse evento, ele na verdade era um grande estudioso e defensor das manifestações culturais; foi professor e diretor da Escola de Belas Artes da UFRJ, onde hoje a oficina da escola é denominado carinhosamente de “Pamplonão”; e assim consegue fazer a união da academia com as festas populares e o folclore.

Na história dos desfiles das escolas de samba, Fernando Pamplona não ficou marcado apenas pelo enredo do Salgueiro campeão de 1960 “Quilombo dos Palmares”, em parceria com Arlindo Rodrigues, mas também na formação de grandes nomes como Joãosinho Trinta, Rosa Magalhães, Max Lopes, Licia Lacerda e Renato Lage.

Max Lopes, Rosa Magalhães, Fernando Pamplona, Maria Augusta e Laíla

 

Salgueiro 1960 – “Quilombo dos Palmares”

 

 

QUILOMBO DOS PALMARES  : Anescar do Salgueiro, Noel Rosa de Oliveira e Walter Moreira

 

No tempo em que o Brasil ainda era
Um simples país colonial,
Pernambuco foi o palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiam da opressão
E do jugo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô…

Surgiu nessa história um protetor.
Zumbi, o divino imperador,
Resistiu com seus guerreiros em sua troia,
Muitos anos, ao furor dos opressores,
Ao qual os negros refugiados
Rendiam respeito e louvor.
Quarenta e oito anos depois
De luta e glória,
Terminou o conflito dos Palmares,
E lá no alto da serra,
Contemplando a sua terra,
Viu em chamas a sua Tróia,
E num lance impressionante
Zumbi no seu orgulho se precipitou
Lá do alto da Serra do Gigante.

Meu maracatu
É da coroa imperial
É de Pernambuco,
Ele é da casa real

Redação

16 Comentários

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  1. Brilhante.! Bravo!
    So quem conhece e bem, muito confortavel, lembraria desta grandes figura Pamplona, diríamos assim: Carnaval antes e depois de Pamplona. Soh quem foi no Salgueiro eh que viu.Ele merece sempre ser lembrado nos futuros carnavais e temos que colocar varios textox e crónicas sobre seus carnaval. O carnaval e seus participantes nunca esqueceram.

  2. ‘pai de todos’ os carnavalescos

    Morre Fernando Pamplona, o ‘pai de todos’ os carnavalescos

    ·         Carnavalesco formou profissionais como Rosa Magalhães, Maria Augusta, Lícia Lacerda, Renato Lage e, mais do que qualquer outro, Joãosinho Trinta

    ·         Mestre jamais trabalhou para outra escola, além do Salgueiro do seu coração

    ·         Sepultamento ocorreu ao som do samba ‘Festa para um rei negro’

     

    AYDANO ANDRÉ MOTTA (EMAIL)

    Publicado:29/09/13 – 10p2

    Atualizado:30/09/13 – 10p4

    
Fernando Pamplona, ‘o pai de todos’, em foto de 17/12/2012 /
Foto: Thiago Lontra / Agência O Globo

    Fernando Pamplona, ‘o pai de todos’, em foto de 17/12/2012 / Thiago Lontra / Agência O Globo

    RIO – A caminho de se consolidar como a grande manifestação cultural do nosso povo, o carnaval estava enredado num paradoxo brasileiro. De matriz africana, nascido do ritmo trazido pelos escravos, viu-se obrigado pela lei dos brancos a celebrar a história oficial, de princesas e imperadores europeus, generais filhos da elite, efemérides estatais e afins. Até que um artista de origem e formação diferente foi se juntar aos empíricos inventores da folia para redesenhar a festa — e fundar os alicerces do que, no futuro, seria o mais incrível dos espetáculos. O mundo deve tal formulação a um carioca irresistível chamado Fernando Pamplona.

    O permanente estado de espírito, que conjugava ironia, inteligência e simpatia em doses perfeitas, foi cevado num Rio antológico, balneário ainda pacato, pré-história da megalópole do século XXI. Nele, a boêmia passeava na ingenuidade da carona no estribo do ônibus até Copacabana e em bares como o Vermelhinho, no Centro, endereço de encontros com Drummond e Portinari.

    Inspiração, como se vê, jamais faltou.Artista plástico, cenógrafo e professor (da Escola de Belas Artes), daqueles que transformam alunos em discípulos, Pamplona inaugurou uma era de enredos no desfile, levando diversidade aonde antes havia a mesmice. No bojo, revolucionou a estética de alegorias e fantasias, revelando um grupo de talentosos seguidores — entre eles, o maior carnavalesco de todos, Joãosinho Trinta.

    Todas as novidades foram temperadas pelo mais ardente dos sentimentos: a paixão que move os melhores sambistas. Pamplona recusou-se, a vida inteira, a receber um tostão pelo trabalho, desenvolvido numa única escola, o Salgueiro do seu coração.

    — Jamais ganhei com o carnaval. Ao contrário, botei muito do meu — confirmou, em entrevista em janeiro.

    Ao fazer da vermelho e branco um laboratório de preciosidades, ganhou cinco carnavais, começando por 1960, o do enredo “Quilombo dos Palmares”. Nunca uma escola tivera a ousadia de ir além das fronteiras da história oficial até o Salgueiro passar pela Rio Branco com sua versão do lendário refúgio dos escravos na Capitania de Pernambuco.

    Incentivo perfeito ao trabalho de jovens prodígios como Rosa Magalhães, Maria Augusta e Lícia Lacerda, todos da Belas Artes. Além deles, Pamplona tinha um braço direito brilhante, Arlindo Rodrigues, responsável por importar Joãosinho Trinta do Teatro Municipal. (Anos mais tarde, o mestre recrutou, para o trabalho na folia, um cenógrafo da TVE chamado Renato Lage.)

    Relação de amor e ódio

    A dedicação e as vitórias garantiram o prestígio com sambistas como Laíla, o mítico diretor de harmonia, hoje na Beija-Flor. Nascido na classe média, branco, Pamplona virou um deles, apóstolo da mistura mais carioca. E seguiu pela vida ligado ao carnaval, numa relação de amor e ódio — visceral, como convém. Apos deixar o Salgueiro, em 1978, reinventou-se como comentarista nas transmissões da finada TV Manchete.

    Foi o tempo de um observador aguçado, excessivamente crítico, quase desgostoso, com novidades como a Passarela do Samba. O tom encarnado não afetou o amor pelas escolas, expresso no comentário extasiado no Desfile das Campeãs de 1989, do mítico enredo do lixo, da Beija-Flor de Joãosinho. Quando os componentes começaram a arrancar o plástico que cobria o Cristo mendigo por determinação judicial (o que poderia levar Joãosinho à cadeia), o mestre berrou, gutural, no microfone: “Eu vou preso com você, João! Eu e o público do samba, que está assistindo ao maior desfile da História!”

    Amor maior, só por Zeni, a bailarina que conhecera numa viagem adolescente a Ouro Preto e foi sua mulher por quase 70 anos. Eles tiveram três filhas e construíram uma relação de intensa cumplicidade, vivida, nos últimos anos, num confortável apartamento em Copacabana e na casa de Itaipava, endereço do exílio a que Pamplona se obrigava no carnaval (sem tirar o olho da Sapucaí).

    Nos últimos anos, os dois saborearam juntos as muitas homenagens a ele. Numa delas, pouco antes do desfile de 2013, no evento “Carnaval histórico”, promovido pelo jornal “Extra”, criticou os sambas acelerados de hoje e desafiou a plateia: cantaria uma composição antiga, mas que, no ritmo certo, todo mundo conhecia. À capela, com sua voz grave, entoou “Vem chegando a madrugada” (de Zuzuca e Noel Rosa de Oliveira), e o coro surgiu espontâneo, para dar razão ao mestre.

    Lamento de amigos

    Fernando Pamplona morreu neste domingo, um dia após completar 87 anos, vítima de um câncer raro no fígado. Segundo Zeni, o diagnóstico veio há um mês. Pamplona teve alta do Hospital São Lucas e morreu em casa, com a família.

    — Não havia mais o que fazer — disse a viúva, muito emocionada.

    Amigos e artistas que conviveram com Pamplona, enterrado neste domingo no Cemitério de São João Batista, lamentaram a sua morte. A carnavalesca Maria Augusta ressaltou sua influência:

    — Foi esse professor quem me levou para o carnaval, foi ele quem me deu a direção.

    Os ensinamentos do mestre também foram lembrados por Rosa Magalhães:

    — Foi meu professor… Tinha uma paixão muito grande pelo carnaval.

    Laíla lamentou a perda de um amigo:

    — Trabalhei muitas vezes com ele. Foi uma pessoa que contribuiu para esse espetáculo que virou o carnaval do Rio.

     

  3. Pamplona

    Sabinadas: “Fernando Pamplona, 1926-2013″

    Nesta sexta feira a coluna do jornalista Fred Sabino nos fala do carnavalesco Fernando Pamplona (foto), que nos deixou no último domingo.

    Fernando Pamplona, 1926-2013

    No último domingo, o Carnaval brasileiro perdeu um de seus nomes mais importantes, com o falecimento de Fernando Augusto da Silveira Pamplona, aos 87 anos, no Rio de Janeiro.

    Pamplona deu uma enorme contribuição para os desfiles das escolas de samba se transformarem num dos maiores espetáculos da Terra. Formado na Escola de Belas Artes, ele chegou ao Carnaval em 1959, vejam só, como jurado!

    Naquele desfile, apenas o Acadêmicos do Salgueiro chamou realmente a atenção de Pamplona, com um enredo sobre Debret. Para o ano seguinte, ele foi convidado para realizar o desfile salgueirense. Ele aceitou, com uma condição: que o enredo fosse sobre Zumbi dos Palmares. Era a temática negra, enfim, chegando ao Carnaval.

    Era também o primeiro personagem não-oficial da história brasileira a ser retratado NE um desfile. Saíram as roupas luxuosas e entraram os figurinos que remetiam à cultura africana. No fim, o Salgueiro ficou em terceiro, atrás de Portela e Mangueira, mas uma punição às duas agremiações rendeu uma confusão, pancadaria generalizada e quíntuplo empate. Assim, o Salgueiro era campeão.

    Nos anos seguintes, a nova estética e os temas tipicamente brasileiros solidificaram o Salgueiro como uma das grandes agremiações do Carnaval, lançando tendência nos desfiles. Naquela época, seu grande parceiro na concepção dos carnavais salgueirenses era o extraordinário Arlindo Rodrigues.

    Entre os vários enredos que marcaram época, além de Quilombo dos Palmares, estiveram Chica da Silva, Chico-Rei, Festa para um Rei Negro, Dona Beija – Feiticeira de Araxá e Bahia de Todos os Deuses. Foram quatro títulos e três vices, sempre pelo Salgueiro, escola única de Pamplona como carnavalesco.

    Mesmo sendo salgueirense de quatro costados, Pamplona foi o primeiro a promover uma homenagem a uma escola de samba concorrente… Em 1972, o Salgueiro entrou na avenida com o enredo Minha madrinha, Mangueira querida. Na época, a ideia não foi tão bem aceita assim pela comunidade, mas ainda assim ficou marcada na história.

    Marcada na história também foi uma frase dita por alguém que trabalhava de graça no Salgueiro e não dispunha dos enormes recursos que as agremiações têm hoje: “Tem de se tirar da cabeça aquilo que não se tem do bolso”. Mais Pamplona, impossível.

    Outra faceta de Pamplona foi a de ser um contribuinte de peso para o Império Serrano, com ideias para enredos como ‘Bum bum Paticumbum Prugurundum’, ‘Mãe, Baiana Mãe’, ‘Foi Malandro, é’ e ‘Com a boca no mundo, quem não se comunica se trumbica’, todos desenvolvidos por seus aprendizes.

    Sim, aprendizes. Nomes que começaram a trajetória no Carnaval também no Salgueiro e depois desfilaram o talento em outras escolas. Para citar alguns: Maria Augusta, Max Lopes, Rosa Magalhães, Renato Lage e seu discípulo preferido: Joãozinho Trinta.

    Pamplona também deu sua contribuição como comentarista de televisão nos desfiles durante as décadas de 80 e 90, na TVE, e, principalmente, na Manchete.

    Quando comecei a acompanhar o Carnaval, achava um barato quando o Pamplona criticava com veemência a descaracterização dos sambas-enredos, que se transformavam em “marchinhas sem-vergonha” como ele dizia.

    É claro que na época eu não entendia muita coisa. Mas aos poucos fui passando a compreender como funcionava aquilo tudo e posso dizer que Pamplona, com seus comentários diretos, didáticos e, porque não dizer, ácidos, me ajudou a gostar de Carnaval.

    Pamplona deixa um enorme legado. Não só o de ter revolucionado a concepção dos desfiles. Mas de ter defendido até o fim que, apesar da importância da estética em um desfile, acima de tudo trata-se de um desfile de escola de SAMBA, em caixa alta mesmo.

    Também em caixa alta, deixo em meu nome e do Migão o agradecimento de todos os que amam o Carnaval.

    OBRIGADO, PAMPLONA!

     

  4. ENTREVISTA

    ENTREVISTA

    Pamplona: o revolucionário tradicional

    Aos 81 anos, em entrevista histórica, Fernando Pamplona ataca – e elogia – Paulo Barros, critica as transmissões pela TV e relembra antigos carnavais 

    Bruno Filippo – Jornalista, sociólogo, professor do Instituto do Carnaval

    Fernando Pamplona representa o moderno e o tradicional no carnaval. Cenógrafo por formação, artista do Theatro Municipal, professor da Escola de Belas Artes, Pamplona formatou a estética atual das escolas de samba, ao misturar arte erudita e arte popular. Isso foi no início dos anos 60, no Salgueiro, onde formou, com Arlindo Rodrigues, uma geração basilar de carnavalescos. 

    Hoje, Pamplona é ex-carnavalesco há trinta anos. E afina, com diapasão, o coro dos descontentes. Para as novas gerações, ele é o comentarista ranzinza das transmissões TV, o crítico severo da degenerescência das escolas de samba, o saudosista que não compreende a evolução do carnaval. As críticas que profere atualmente são as mesmas que recebia quando estava no salgueiro. Era acusado de corromper a autêntica cultura popular. 

    Aos 81 anos, Pamplona diz que se cansou do carnaval. Mas bate palmas para sua mais recente estrela: Paulo Barros. Admira-o pela criatividade e pelo talento, mas o lado ranzinza não se furta a alfinetá-lo: “Ele não liga para a escola, aproveita-se dela para se promover.” As semelhanças entre eles não são somente de estilo. Ambos são tachados de revolucionários; ambos, em épocas distintas, foram acusados de conspurcar o carnaval. 

    Nesta entrevista, concedida dentro de um táxi que o levava de Copacabana, bairro em que mora, até o Méier, onde seria entrevistado por estudantes universitários, Pamplona relembrou os antigos carnavais, criticou ferozmente as emissoras de televisão, atacou os enredos patrocinados e os sambas acelerados. Por fim, desabafou: “As minhas referências de carnaval não existem mais”. 

    Fernando Pamplona é uma referência. 

    O que o srº acha de Paulo Barros?

    Fernando Pamplona – Acho um grande artista. Ele deveria expor suas criações na Bienal de São Paulo, certamente seria premiado. Mas ele não liga para a escola, aproveita-se dela para se promover. Se eu fosse presidente de escola de samba, ele não seria meu carnavalesco. 

    Mas, do ponto de vista estético, Paulo Barros não é uma grande novidade?

    Fernando Pamplona – Sim. Depois do Fernando Pinto, do Joãosinho Trinta, da Rosa Magalhães, do Max Lopes e do Renato Lage, o Paulo Barros foi a grande inovação do carnaval do rio, a única coisa boa que apareceu nos últimos tempos. Ele se renova constantemente. Mas repito: ele não serve à escola. Se a escola vier bem ou se vier mal, tanto faz, o que importa é que ele venha bem. Agora, ele não é original. Antes dele, outro carnavalesco fazia isso.

    Quem?

    Fernando Pamplona – Um artista extraordinário que faleceu muito cedo: Oswaldo Jardim. Na Unidos da Tijuca – não me lembro em que ano – ele começou a usar figuras humanas como elementos estéticos da alegoria. Uma vez eu o vi terminando um carro na armação, na Presidente Vargas, com galhos de árvores que ele arrancava na hora. Não lhe deram, em vida, o devido reconhecimento.

    O estilo Paulo Barros se tornará um padrão?

    Fernando Pamplona – Acho que não. É um estilo que morrerá com ele, e não contribui para uma escola de samba ser mais escola de samba. Ou seja: é uma marca pessoal.

    Paulo Barros sofre severas críticas de alguns setores. No entanto, antes dele, reclamava-se muito de que o desfile estava-se tornando uma mesmice, clamava-se por novidades. 

    Fernando Pamplona – Esse negócio de novidade é muito relativo. Por que tem de haver novidades? Quando estava no Salgueiro, momentos antes de a escola desfilar na Presidente Vargas, um batalhão de repórteres começou a me perguntar qual seria a grande novidade que eu apresentaria naquele ano. Eu disse: “Nenhuma! O Salgueiro não vem com nenhuma novidade, desfilará do mesmo jeito que nos anos anteriores.” Para inovar, o artista tem de fazer bonito, ser original, como o Paulo Barros, ou então repetir, de maneira bela e bem-feita, o que já existe. 

    Por muito tempo o srº trabalhou como comentarista de carnaval em transmissão de TV. Primeiramente na TVE, depois na Manchete. A transmissão atual sofre severas críticas. O srº as endossa?

    Fernando Pamplona – A qualidade da transmissão depende de quem a comanda, não é culpa necessariamente da emissora. Na Globo o diretor é o Aluísio Legey. Quer saber o que eu acho dele? Uma m…! Não há linearidade, mostra-se o início do desfile, depois o fim, aí volta-se para o meio. Existe, também, o padrão da emissora, que mostra gente bonita, artista, entrevista nos camarotes. Lembro-me de que a Glória Maria foi para a concentração com uma relação de pessoas famosas que ela tinha de entrevistar.

    Mas isso acontecia também na Manchete.

    Fernando Pamplona – Na Manchete também tive esse problema. Eu estava analisando uma alegoria e a imagem mostrava bundas, peitos, coxas. Aí eu esculhambei no ar o Maurício Sherman (diretor de TV), meu amigo de infância, que era o diretor da transmissão. Falei: “Estou analisando o desfile e o diretor folgado está mostrando mulher pelada! Estamos aqui à toa.” Foi um Deus nos acuda (risos). Uma vez, eu estava reunido com o Adolpho Bloch, (falecido empresário de comunicações, proprietário da “TV Manchete” e da “Bloch Editores”) e com o Jaquito (Pedro Jack Kapeller, sobrinho de Adolpho e vice-presidente do Bloch Editores) para acertar a transmissão do carnaval. Disse-lhes que eu queria repetir a experiência do início dos anos 80 na TVE, quando fizemos uma transmissão mostrando o povo, não os artistas. Aí o Jaquito disse que a Manchete só mostrava coisa bonita, não mostrava negro feio. Respondi dizendo que, se eu fizesse um documentário sobre sinagogas, eu pediria para não mostrar judeus (risos). (Adolfo Bloch era judeu, assim como Jaquito) Então o Adolfo Bloc disse, em tom irônico: “Jaquito, você poderia dormir sem essa, seu burro!” (gargalhadas). Jaquito era uma grande figura. 

    O srº tem saudades do carnaval antigo?

    Fernando Pamplona – Comecei a assistir a desfile de escola de samba nos anos 50. Foi um tipo de desfile que me marcou, que me fez me envolver com o carnaval. Mas, naquela época, já não era o tipo de desfile que o Ismael Silva presenciara, por exemplo. Então, o Ismael talvez achasse ruim o desfile dos anos 50, da mesma forma que um jovem hoje deve achar muito ruim o carnaval de 30 anos atrás. Não é que eu tenha saudades. É que o meu tempo foi outro, o meu modelo, as minhas referências de carnaval não existem mais 

    Então, falando de coisas modernas: o que acha dos enredos patrocinados?

    Fernando Pamplona – Terríveis, uma das coisas piores que aconteceram nas escolas de samba. É uma interferência nociva no trabalho do artista. Quem se salva, porque é muito inteligente e criativa, é a Rosa Magalhães, que dá um jeito de mascarar o patrocínio. Muita gente não se lembra, mas quem começou com isso foi Joãosinho Trinta em 86, com o enredo sobre a história do futebol. O carro abre-alas era uma bola da Adidas, com o desenho da Adidas, só não havia o nome da empresa.

    E dos sambas-enredos?

    Fernando Pamplona – Um gênero decadente. Os sambas estão muito acelerados, mais acelerados do que o frevo. Acabaram com o compasso do samba.

    Mas o srº ajudou a consolidar esse tipo de samba acelerado, ao escolher, no Salgueiro em 71, o samba do Zuzuca, que ficou conhecido como Pega no Ganzê, pega no ganzá.

    Fernando Pamplona – Isso nem samba é! Quem escolheu foi o povo, que cantava esse samba nas ruas antes de ele ser escolhido. Não era o meu preferido. Gostava mais do samba do Bala, que era cantado pelo Laíla. Mas a comissão – formada por mim, pelo Arlindo Rodrigues e pelo Haroldo Costa – não teve como não aclamar o samba do Zuzuca.

    O srº arrepende-se da escolha?

    Fernando Pamplona – Arrependo-me. Se pudesse voltar no tempo, teria escolhido o samba do Bala. Era lindíssimo. 

    CRÉDITOS: O DIA NA FOLIA

    BEIJOS… E UMA BOA TARDE!!!

  5. As escolas de samba sob vigilância e censura na … – Hist

    As escolas de samba sob vigilância e censura na … – História – UFF

    http://www.historia.uff.br/stricto/td/1421.pdf‎ de TPDOSS CRUZ – ‎Artigos relacionados

    de fazer parte desta banca, a Fernando Pamplona e Newton de Oliveira por compartilharem ….. como as memórias e entrevistas coletadas por Sérgio Cabral.

    http://www.historia.uff.br/stricto/td/1421.pdf

     

     

  6. Entrevista com Fernando Pamplona

    From: “Fernando Toledo” <[EMAIL PROTECTED]>
    To: “Paulo Eduardo Neves” <[EMAIL PROTECTED]>,”Tribuna Livre” <[EMAIL PROTECTED]>
    Subject: Re: [S-C] Entrevista com Fernando Pamplona
    Date: Thu, 22 Apr 2004 15:50:28 -0300

    O Pamplona é meu amigo, um grande cara, grande copo, grande papo. No último
    ano-novo viramos na casa do Fausto Wolff, sob sua contagem regressiva. Mas
    acho que ele não ia gostar desse comentário:
    “Pamplona é um abundante”.
    Puxa, isso é adjetivo que se coloque em alguém? Pior do que esse, só dizendo
    que o cara é “caudaloso”:-). Ou que alguma coisa é “perfunctória” (a palavra
    mais feia da língua portuguesa, só advogado para gostar de um termo desses).
    Um abraço,
    Fernando Toledo

  7. “Pai de Todos”

    29/09/2013 12p3

    Luto: Carnaval carioca perde Fernando Pamplona, aos 87 anos
    Redação SRZD

     

     

    Fernando Pamplona e Maria Augusta. Foto: Ricardo Almeida

    O domingo no Rio amanheceu cinza e chuvoso. E mais triste, e mais órfão também. O Carnaval carioca perdeu, nesta manhã, seu “Pai de Todos”, formador de talentos como Rosa Magalhães, Maria Augusta, Renato Lage, Joãosinho Trinta e Lícia Lacerda. O carnavalesco eternamente apaixonado pelo Salgueiro, Fernando Pamplona, morreu em casa um dia após completar 87 anos, vítima de um câncer devastador.

    Pamplona viveu casado por 60 anos com Zeni, para quem hoje o dia é motivo de choro e saudade. No fundo, ela já sabia que o companheiro de mais de meio século estava muito mal e recebera alta há poucos dias do Hospital São Lucas para se despedir da vida e da família em casa.

    Familiares, amigos, companheiros de estrada e admiradores da vida de Pamplona vão prestar sua última homenagem ao mestre, como era considerado por todos ao seu redor, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, onde o corpo será velado.

    Ao longo de sua história no Carnaval, Fernando Pamplona deixou na Avenida do samba rastros de produções de qualidade inquestionável e inesquecíveis. Ele foi contemplado com quatro campeonatos: “Quilombo dos Palmares”, em 1960; “Xica da Silva”, em 1963; “Bahia de Todos os Deuses”, em 1969; “Festa para um rei negro”, em 1971. A parceria com Arlindo Rodrigues foi importante para todos os títulos.

    Pamplona afirmava que nunca quis receber dinheiro pelo Carnaval. Aliás, muitas vezes chegou a empregar do próprio bolso para ver o resultado esperado. Nos últimos tempos, ele já se sentia desanimado com o jogo de dinheiro e interesses em que o maior espetáculo do mundo vinha se tornando.

    Em janeiro, Pamplona lançou sua autobiografia, intitulada

    Em entrevista ao SRZD em 2008, o mestre destacou que sempre fez Carnaval por amor e sem a intenção de ganhar um tostão. “Nunca recebi nada do Salgueiro. Os carnavalescos quase morriam nos barracões. Não trabalhei pelo reconhecimento, quem quer ser reconhecido é político”, disse ele, na época.

    Na ocasião, o ex-carnavalesco criticou o fato de os enredos terem, na avaliação dele, se transformado em tema. Em relação ao próprio enredo da Academia do Samba para o ano seguinte, Pamplona não gosto e lamentou que o Carnaval tenha se transformado em apenas uma festa.

    “O ‘Tambor’, do Salgueiro, é um tema, não é enredo. O Renato Lage (carnavalesco da escola) é meu amigo, mas tenho que falar. Para fugir da cronologia da história, as escolas estão criando temas. Hoje, o Carnaval é somente uma festa. A Vila fez um belo espetáculo, mas por ter dado para o mundo um Martinho da Vila, já merece parabéns. A Estácio já fez enredo sobre o Theatro Municipal (enredo da Vila Isabel para 2009), mas isso não quer dizer nada, pois a Bahia já apareceu várias vezes na Avenida”, acrescentou.

    O fato é que o Carnaval dos tempos áureos da carreira de Pamplona era uma forma de nostalgia, a ponto de ele, em 2008, já não assistir a nenhum desfile da Marquês de Sapucaí. “Eu prefiro viajar. O Carnaval do jeito que gosto não existe mais, ele acabou faz algum tempo. Hoje, eu até poderia voltar para uma escola, mas teria que ter total liberdade para criar”.

    Em janeiro, Pamplona lançou sua autobiografia, intitulada “O encarnado e o branco”, rodeado de amigos na Lapa. Veja aqui.

    Foto: Ricardo Almeida

    Leia também:

    – Há 50 anos, o Salgueiro descobria Zumbi e o Quilombo dos Palmares

  8. Pamplona e o Carnaval, Questoes!

    – Sempre me reservo o direito de saber, como seria o carnaval no rio se fosse ainda uma arte reservada e cultuada pelo popular e onde chegaremos com estes shows de carnaval!

    O Roda Viva entrevista esta noite José Ramos Tinhorão, jornalista, ex-crítico de música e hoje historiador da cultura brasileira.O Roda Viva entrevista esta noite José Ramos Tinhorão, jornalista, ex-crítico de música e hoje historiador da cultura brasileira.3/4/2000

    http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/257/entrevistados/jose_ramos_tinhorao_2000.htm

    Lázaro de Oliveira: Em 1961, Fernando Pamplona [grande carnavalesco que definiu, quando atuava na escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, o formato atual dessas escolas], que é egresso da Escola Carioca de Belas Artes, ele vai ao Salgueiro. Você acha que, quando a classe média vai à escola de samba, a escola de samba começa a morrer? Por exemplo, nos anos 1970, o Elifas [Vicente, ex-carnavalesco da escola de samba paulistana Camisa Verde e Branca] e um monte de amigos dele da classe média vão a escola de samba Camisa Verde e fazem temas como Semana de 22 [1978], a chanchada no cinema [1976] e tudo isso. Você acha que isso, que esses dois movimentos influenciaram para acabar com o carnaval?

    Walter Garcia: Deixa eu juntar uma. Eu não sei a sua resposta, mas eu imagino qual seja, então eu gostaria que você desse uma receita para um “classe média” interessado em lidar com cultura popular, o que ele faz para não passar nem pelo purgatório, ou pelo menos para passar pelo purgatório, antes de chegar no céu?

    Lázaro de Oliveira: Ou, para não estragar essa coisa popular.

    José Ramos Tinhorão: Eu recomendo a ele que leia alguns autores do século XIX. Leia um sujeito chamado Carlos, que tinha por sobrenome Marx, um outro chamado Frederico, que tinha por sobrenome Engels [risos]. [Karx Marx e Friedrich Engels, fundadores do marxismo] Se ele lê esses dois autores, ele já começa…

    Paulo Markun: Não chega nem no [Antonio] Gramsci [(1891-1937), cientista político italiano], não precisa nem o Gramsci?

    José Ramos Tinhorão: Ah, mas o Gramsci já é…

    Paulo Markun: E o [Georg] Lukács? [(1885-1971), filósofo húngaro]

    José Ramos Tinhorão: Pois é, Gramsci, Lukács, isso já é a perfumaria do marxismo. Aquele negócio de “Escola Alemã”, não precisa nada disso.

    Lázaro de Oliveira: Acabou ou não acabou o carnaval com a entrada deles?

    José Ramos Tinhorão: Não precisa de nada disso. Basta você ler os dois principais, que lá… “Ah, eles estão ultrapassados, eles eram homens do século XIX. Ele falou quando predominava o liberalismo em economia.” Tudo bem, tudo bem. Só que ali está o básico para você entender, estudar o processo. Não é para repetir,ele dá uma chave para você.

    Lázaro de Oliveira: Mas, enfim, o carnaval acaba com a entrada da classe média? E como a classe média deve se envolver hoje?

    José Ramos Tinhorão: Ela passa a dominar, quer dizer, a notícia que você tem do carnaval é a das revistas, é o que você vê na televisão, mas não é todo o carnaval. É só o que aparece na televisão.

    Lázaro de Oliveira: Você acha que essa entrada do Fernando Pamplona no Rio e do Elifas aqui em São Paulo contribuiu para o final do carnaval?

    José Ramos Tinhorão: Contribuiu, mas isso já era. Tal como lá na época do José de Alencar, que eu falei, em 1856 – ele pediu ao chefe de polícia para limpar a rua, tirar o entrudo de pelo menos onde passasse o trajeto da coisa -, é a mesma coisa. Eles entraram… Como a classe média… no Brasil, por exemplo… na Europa, a classe média já tem uma certa – ela começa a se formar, a moderna classe média, a partir do século XVIII, com a diversificação trazida pela Revolução Industrial, diversificação das atividades e tal. No Brasil ela é muito mais nova. Isso aqui, até ontem, era negócio de… não tinha trabalhador, era escravo. Então, como ela não tem – e isso é uma das coisas também que eu já escrevi – como a classe média brasileira não tem um modelo historicamente seu, ela não tem antecedentes, ela se contempla no seu equivalente na Europa e nos Estados Unidos.

  9. Não era incêndio

    A Globo precisa se inteirar melhor do carnaval, no momento o reporter amedontra o telespectador: Olha a fumaça na avenida! Tem carro pegando fogo! Era fumaça cenográfica, fazia parte do espetáculo. A Globo não sabia o que ia ser apresentado. É só barrigada

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