Carta aberta a Marina Silva

Marina,… você se pintou?

Maurício Abdalla

Professor de filosofia da UFES-Universidade Federal do Espírito Santo, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), Mundo e Sujeito, O principio da Cooperação,e Uma Janela para a Filosofia (Paulus Editora)


“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas
é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher,
militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra
e o grito dos pobres”, como diz Leonardo (Boff).

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o
que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças
surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira
pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar.
Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo
fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não
interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios
de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra
Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram
as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só
decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O
Estadão dixit(disse): Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM
estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua
preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se
revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das
trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um
ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o
segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde,
foi pintada de azul. “Azul tucano”.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul.
“Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua
luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais
alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao
seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a
ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos
inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia
não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente
de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a
sua luta e contra quem ela se dirige.

“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de
azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus
eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do
que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que
pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que
você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os
500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive
na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que
gosta e é só dele”.

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de
nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não
precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de
comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador