Caso Dreyfus, Émile Zola e o processo do Mensalão.

Esta e a história do mundialmente conhecido Caso Dreyfus. Oficial francês Alfred Dreyfus (1859-1935) acusado de alta traição e condenado a prisão perpétua. Pena cumprida na ilha do Diabo, Guiana francesa, América do Sul.

Ano de 1894. Uma empregada da embaixada alemã encontrou no cesto de lixo da sala de coronel Schwarzkoppen uma carta que considerou suspeita. Prontamente entregou-a ao serviço secreto francês.

Após analisarem o conteúdo concluiram que só podia haver uma pessoa capaz de escrevê-la: Dreyfus. Por quê? O oficial era o único judeu e na França no fim do século XIX havia uma onda de xenofobia, nacionalismo e antissemitismo. Logo… só podia ser ele.

Baseado no memorandum do serviço secreto eles o condenaram. No entanto seu irmão Mathieu Dreyfus descobriu que o verdadeiro traidor era Esterhazy, também oficial francês de origem nobre. Houve então segundo julgamento. No entanto foi mantido o resultado do primeiro: o judeu era o culpado, continuando preso na ilha.

Esse resultado causou a fúria e a indignação de Émile Zola (1840-1902), escritor francês. Em carta aberta ele acusou o governo francês de antissemitismo.

Carta publicada no jornal L’Aurore em 13 de janeiro de 1898. Eis alguns trechos:

EU ACUSO !

CARTA A M. FÉLIX FAURE,

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

“O senhor livrou-se, são e salvo, das maiores calúnias, tendo conquistado os corações; saiu apoteótica e radiosamente desta festa patriótica que foi para a França a aliança com a Rússia, e prepara-se para presidir ao triunfo solene da nossa Exposição Universal, que coroará nosso grande século cheio de trabalho, verdade e liberdade. Mas é enorme a mancha sob o seu nome – eu iria dizer sob seu governo – que é esse abominável caso Dreyfus! Uma corte marcial acaba, por ter recebido ordens nesse sentido, de ousar absolver o tal Esterhazy, supremo golpe em qualquer verdade, em qualquer justiça. E está feito: a vergonha está estampada no rosto da França, e a história registrará que foi sob a sua presidência que tamanho crime social foi cometido”.

Zola foi profético: esse julgamento tornou-se uma vergonha para França.

“Um homem nefasto, responsável por tudo, autor de tudo, é o comandante du Paty de Clam, naquele momento um simples oficial. Ele é a personificação do caso Dreyfus; nada será esclarecido até que uma investigação imparcial tenha estabelecido claramente seus atos e sua responsabilidade.”

“Depois de algum tempo o documento (memorandun) foi parar nas mãos do coronel Sandherr, diretor do serviço de inteligência, que morreu de paralisia geral. Então, as coisas começaram a “desaparecer”, papéis sumiram, até hoje estão sumidos; e foram atrás de saber quem era o autor do documento, e um pré-requisito foi pouco a pouco se construindo: o culpado teria de ser um oficial do Estado-Maior e da artilharia: duplo erro manifesto, que mostra a superficialidade com que o processo foi tratado, pois um exame cuidadoso demonstra que o culpado necessariamente precisa ser um oficial de tropa”.

Alfre Dreyfus ficou preso na solitária “ clamando inocência. E a instrução foi feita dessa forma, como se fosse uma crônica do século XV, misteriosa, com expedientes cruéis e todo baseado exclusivamente em uma evidência infantil, esse documento imbecil, que não passa de uma traição vulgar, a patifaria mais grosseira, pois os maiores segredos transmitidos se revelaram todos sem nenhum valor. Eu insisto porque é aqui que está a semente de onde surgirá o verdadeiro crime, a espantosa recusa de justiça que torna a França um lugar doente. Eu gostaria de entender como esse erro judicial pôde ser possível, como ele surgiu das maquinações do comandante du Paty de Clam;”.

Criticando a manipulação ocorrida com a nação e o desejo de humilhação ao acusado, escreve : “A nação treme de espanto, um diz-que-diz de ocorrências terríveis, dessas traições monstruosas que indignam a História; e naturalmente o país se dobra. Não há punição que chegue, ele apoiará a degradação pública, desejará que o culpado se enterre em um solo imutável de infâmia, devorado pelo remorso. “.

Sobre as provas, diz: “ E as platitudes de redação, as assertivas formais do vazio! Falou-se em 14 itens de acusação: no final das contas, não encontramos mais do que um, o tal documento; e já sabemos que nem com relação a ele os especialistas estão de acordo; e que um deles, o Sr. Gobert, foi militarmente constrangido porque ousou chegar a uma conclusão diversa daquela que se desejava.”.

A respeito dos julgadores afirma: “E é um crime ainda terem se apoiado na impressa imunda, terem se deixado defender por toda a canalha de Paris, de modo que é essa canalha que triunfa insolentemente, diante da derrota do direito e da simples probidade. É um crime terem acusado de perturbar a França aqueles que a querem generosa, na vanguarda das nações livres e justas, quando tramaram eles próprios a impudente conspiração para impor o erro ao mundo inteiro. É um crime confundir a opinião pública, utilizar para uma sentença fatal essa opinião pública que foi corrompida até o delírio. É um crime envenenar os pequenos e humildes, exasperar as paixões de reação e de intolerância, abrigando-se atrás de um odioso anti-semitismo, de que a grande França liberal dos direitos do homem sucumbirá, se não for curada. É um crime explorar o patriotismo para as obras do ódio; é um crime, por fim, fazer do sabre o deus moderno, quando toda a ciência humana está a serviço da obra iminente da verdade e da justiça.

“Proclamaram uma sentença iníqua, que pesará para sempre sobre os nossos conselhos de guerra e que manchará a suspeita daqui em diante todas as decisões.”

Émile Zola morreu em 1902, por inalação monóxido de carbono devido a uma lareira defeituosa; alguns estudiosos não descartam a hipótese de homicídio.

Bem, se trocarmos alguns nomes de personagens e instituições da carta de Zola por STF, Joaquim Barbosa, mídia, Roberto Gurgel e PF notaremos grande semelhança com o caso mensalão. E a injustiça. Por exemplo: Dreyfus poderia ser o conjunto dos condenados no processo 470 sem provas cabais. França, por Brasil. Antissemitismo, por antipetismo. E assim vai.

Dreyfus foi declarado inocente, vítima de erro, depois de cinco anos preso.

Redação

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