Castração química é a ideia de que o estupro está no pênis, e não na cultura, por Helena Vitorino

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Helena Vitorino
 
No blog A Gata e o Diabo
 
Sempre que um machista te apresentar a ideia de “Castração Química” para o combate ao estupro, pergunte se ele conhece a história do “Maníaco do Parque”. Isso mesmo, sabe o Maníaco do Parque, o cara que estuprou e matou várias mulheres em São Paulo, usando como arma maior o seu pênis, conhecido na cultura popular como o mais perigoso serial killer da criminologia brasileira? Pergunte se ele conhece essa história.
 
 
Pergunte se ele sabe que Francisco de Assis Pereira, o homem que assassinou pelo menos seis mulheres e tentou matar outras noves, era um completo impotente sexual. Pergunte se ele sabia que, mesmo sendo incapaz de manter uma ereção e ejacular normalmente, em relações sexuais naturais, Francisco foi capaz de subjugar, sequestrar e assassinar a sangue frio várias mulheres que seduzia no metro. A impotência não o impediu de ser um maníaco em série, considerado o pior caso deste país. A impotência sexual não o impediu de estuprar.
 
Por fim, pergunte se ele sabe que castrar um homem e deixá-lo incapaz de manter ereções não impedirá, jamais, que ele subjugue uma mulher, que a estupre, que ele a mate (ele, no mínimo, ficará pensando). Porque os machistas acreditam que o problema social do estupro está no pênis, no órgão sexual, e não na cultura. Eles não associam que o estupro começa no domínio, no poder e na subjugação, no ato de submeter o outro a seus comandos, associando o ato sexual forçoso como forma de inferiorização. Como se o estuprador não pudesse usar um objeto, um artefato, ou até mesmo as próprias mãos pra estuprar alguém. Para os defensores da castração química, a mágica está na anulação do pênis como único responsável pelo crime.
 
 
Aqui reside o problema da cultura do estupro. O debate não vai além dos órgãos genitais, não perpassa pela sociedade, sequer aborda os ambientes em que eles mais ocorrem (dentro de casa, perto dos familiares, pelos próprios familiares). Dentro do terreno mais raso que possa existir, a discussão emplacada pela candidata à Presidência Manuela D’Ávila é de que não podemos castrar incessantemente achando que isso resolverá o problema do Brasil. Não se trata apenas de punir, mas de educar para que uma estrutura social, cultural e complexa possa se regenerar.
 
Tá na hora de achar que um pinto age sozinho, e em vez de castrar órgãos e mentes, façamos diferente.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. Este artigo deveria ser mais desenvolvido, pois é ……..

    Este artigo deveria ser mais desenvolvido, pois é uma discussão séria que deveria ser levada não só ideologicamente, mas como também cientificamente.

    Qualquer pessoa mais ou menos informada, sabe que a castração química é uma verdadeira inutilidade para prevenir ações de estupro e abuso de menores.

    Já procurei há algum tempo em artigos técnicos e em artigos de revistas sérias internacionais e como alguém que é um leigo no assunto. Coloco aqui um artigo da revista francesa L’Express “La castration chimique en question”, que mostra claramente para um leigo qualquer, que a castração química é totalmente ineficaz para evitar a reincidência de pessoas que executaram crimes do tipo. A reincidência já constatada de pessoas que estão sobre castração química é de 30% a 22% de acordo com as pesquisas. Isto levando em conta que além desta castração é necessário um acompanhamento psicológico permanente.

    A mera apresentação destes dados deveria por um ponto final na discussão desta forma de repressão de criminosos sexuais, mas aí abre-se a discussão política e ideológica que o autor da matéria começou a escrever e deveria ter se alongado mais no assunto, pois propostas sobre castração química vão mais longe do que foi apresentado brevemente no texto.

    A castração química é uma solução daqueles que talvez por seus próprios problemas mentais, como se denota em figuras políticas adeptas deste tipo de solução, que estes tem uma distorção comportamental séria proveniente da cultura do estupro. Ou seja, estes políticos, colocam como fato gerador dos estupros, talvez fruto de suas próprias demências como algo inato e da natureza dos violadores um outro tipo de estupro que devemos separar de psicopatias, mas sim de comportamentos simplesmente ignorado pelos adeptos da violência, o que chamaria o estupro socialmente tolerável.

    Parece incrível a última denominação, porém há sociedades em que a cultura do estupro é inclusive incentivada por pessoas que inclusive se dizem contra os estupradores, pois qualificando uma mulher como merecendo ou não estupro pelo seu grau de beleza, estão simplesmente criando a imagem do estupro socialmente tolerável.

    No Brasil, praticamente não há estudos técnicos sobre o assunto de violência sexual, não só contra mulheres ou homens adultos, mas contra crianças, e quando se depara com um dos estudos científicos levados por uma prefeitura brasileira que tinha um setor técnico capaz de estudar o problema, se chegou a outro dado que ninguém discute em público, que mais de 40% das crianças que sofrem abusos, estes são feitos por pessoas da família, desde pais (pai e mãe), padrastos (as), irmãos e enteados e até avôs!

     

  2. Tabus em “violência sexual”

    Pois é, o que acho que precisa ser notado em “violência sexual” não é o “sexual” mas o “violência”. “Sexual” é só uma das formas de expressão da violência. Uma pessoa que tenha ímpetos de violência, se não os realizar através do sexo os relizará através de outros meios.

    Claro que há o componente cultural, o jeito como nossa cultura encara o sexo. Não sei se estaria completamente errado dizer que o sexo é tratado pela nossa cultura como forma de exercer poder interpessoal e aqui não faz muita diferença o gênero. Mulheres também usam de recursos relacionados ao sexo para buscar não a satisfação sexual em si mas o poder sobre o outro (ou a outra). Comumente outras formas de violência. Talvez imaginar solução para encontros menos orientados para busca desse poder… que tal?

    Estudar a violência, em suas múltiplas formas de manifestação, no exercício de poder talvez levasse a questionamentos mais eficientes…

  3. Prisões

    Somos prisioneiros de convicções que estabelecemos ou recebemos ao longo da existência. E eu me pergunto: De onde tiramos essa convicção que a nossa proposta é a melhor? Ou mais fácil de ser implementada? Ou menos custosa? Ou até mais honesta, participativa, legítima? Quando lidamos com a múltiplos interessses devemos ser mais pragmáticos e menos românticos. Todos os esforços devem ser utilizados para resolver a questão e atender a necessidade. Como alguém pode dizer no século XXI, à luz da ciência, que algo não vai funcionar sem ao menos testar? Sejam racionais!

  4. Quer saber? Não dou a mínima.

    Quer saber? Não dou a mínima. A esquerda tem coisa MUITO MAIS IMPORTANTE para lidar do que o a potência sexual de estupradores.

    A esquerda tem essa mania de ficar dando atenção para questões insignificantes. Perdeu tempo com os LGBTs (que agora são apolíticos, veja só) e vai perder tempo com qualquer micro-nicho social que quer seus direitos respeitados. Enquanto isso, o Capital devora a Terra.

    E esquerda tem que se concentrar com a emancipação do proletariado. Após conseguirmos isso, a vida de todas as minorias vai melhorar consequentemente.

    1. Claro, a esquerda é

      Claro, a esquerda é justamente um meio de dar muita importância à coisas menos importantes, pra distrair e dividir o povo, enquanto o comunismo come pelas beiradas pra se estabelecer. 

  5. Ah sim, melhor não fazer nada, deixa como está. Porque se isso não ajuda em, absolutamente nada, qual a solução maravilhosa e perfeita pra ser aplicada no lugar? Nenhuma, né. Que novidade! Ou vai me dizer que acreditam na utopia de mudar a cultura como solução. Pra isso, a começar o país teria primeiro de deixar de ser extremamente religioso (berço do machismo, homofobia, racismo e distúrbios sexuais) cair na realidade de que deus sequer existe pra depois disso desconstruir toda cultura machista em torno da mulher. Os homens desse país precisam é de tratamento hormonal SIM, e psiquiátrico também. Agora, justificar o não uso da castração química por causa de UM homem em específico é no mínimo ridículo, pois ignora todo o resto, da mesma forma que a razão do estupro não está no pinto do retardado, também não é tão somente cultural sua causa. O principal fator é a impunidade! É a esquerda ama defender criminosos y não apresentar nenhuma solução melhor e viável.

  6. Matéria desprovida de conhecimento cientifico generalizado, aborda somente pontos importantes de exclusividade restrita ao que “o redator quis publicar”, ou seja, só o ponto ruim que lhe interessou, no qual ele descreve explicitamente sua posição política encruada de ódio e indiferença pelo próximo que exibe outra preferência senão a sua, o classificando como machista.
    Vejamos a frase inicial: “Sempre que um machista te apresentar a ideia de “Castração Química”.
    É vergonhoso expor uma frase dessa, total falta de senso e capacidade das faculdades mentais.

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