Celso Amorim fala sobre atuação da comunidade internacional no Haiti

Jornal GGN – O ex-ministro da Defesa e das Relações Exteriores, Celso Amorim, está à frente da missão de observação da Organização dos Estados Americanos para as eleições no Haiti. Para ele, a comunidade internacional errou ao querer “se livrar do problema muito depressa”.

“Não é que a comunidade internacional estivesse querendo favorecer o candidato do governo, mas havia o desejo de acabar logo”, afirmou. O diplomata acredita que as missões da OEA e da União Europeia não perceberam problemas que levariam a um impasse político e inviabilizariam o segundo turno.

Da Folha de S. Paulo

‘Erramos em querer nos livrar do problema no Haiti’, diz Celso Amorim

Por Isabel Fleck

O ex-chanceler e ex-ministro da Defesa brasileiro Celso Amorim, que está à frente da missão de observação da OEA (Organização dos Estados Americanos) para as eleições no Haiti, afirma que a comunidade internacional presente no país durante o primeiro turno do pleito presidencial errou ao querer “se livrar do problema muito depressa”.

“Acho que nós todos, a chamada comunidade internacional, erramos em querer nos livrar do problema muito depressa”, disse Amorim à Folha, aludindo ao fato de a OEA e de outras missões enviadas ao país, como a da União Europeia, não terem percebido problemas que levariam a um impasse político que inviabilizaria o segundo turno.

“Não é que a comunidade internacional estivesse querendo favorecer o candidato do governo, mas havia o desejo de acabar logo”, afirma.

O candidato governista, Jovenel Moise, ficou 7,6 pontos percentuais à frente do opositor Jude Célestin (32,8% a 25,2%) no primeiro turno, realizado em outubro. Célestin, contudo, diz ter havido fraude e ameaçou boicotar o segundo turno.

Diante do impasse e dos violentos protestos vistos nas ruas em janeiro, o governo decidiu adiar, pela segunda vez, o segundo turno, previsto para o último dia 24.

Amorim diz confiar na avaliação dos técnicos da OEA, que chegaram a conclusão “muito parecida” com o resultado oficial de outubro.

“Na minha opinião, não houve fraudes maciças entre a votação e o resultado –o que não quer dizer que não haja irregularidade”, disse, destacando o fato de ter 52 fotos de candidatos a presidente na cédula eleitoral e de grande parte da população adulta do país (51,3%, segundo a ONU) ser analfabeta ou semianalfabeta.

“Ter uma assinatura a mais ou a menos nas atas [eleitorais] é provável que ocorra.”

Para ele, o fato de a votação de outubro ter tido mais comparecimento e menos violência do que o registrado meses antes, no primeiro turno das eleições legislativas –além da perspectiva de que houvesse um segundo turno competitivo– fez com que os observadores internacionais logo considerassem válidos os resultados.

“São padrões que talvez não fossem aceitos em outros países, mas que lá, como a coisa é tão complicada [foram].”

Em nota no último dia 19, a missão chefiada por Amorim expressou sua preocupação com o impasse político ante a realização do segundo turno. A votação seria adiada três dias depois, e ainda não tem data definida.

“Talvez tenhamos levado tempo demais para reconhecer que havia um impasse. Apesar disso, fomos os primeiros a fazê-lo”, disse Amorim, para quem o segundo turno “teria trazido um banho de sangue imediato”.

Neste domingo (7), termina o mandato do presidente Michel Martelly, e ele anunciou que deixará o poder, apesar de não haver definição ainda sobre quem assumirá o seu lugar.

A ideia que parece ter mais consenso agora é a formação de um gabinete de transição, que tentaria concluir o processo eleitoral. Ainda há, contudo, divergências entre governistas e opositores sobre quem estaria à frente da transição.

Especula-se que o atual premiê, Evans Paul, possa ficar à frente de um gabinete de transição, mas opositores pedem que seja um juiz da Suprema Corte.

Além disso, Paul, nome indicado por Martelly, não teve aprovação do Parlamento –que havia sido dissolvido após o término do mandato da então legislatura e sem a previsão de novas eleições, em janeiro de 2015. 

Redação

3 Comentários

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  1. pena que não foi abordada a

    pena que não foi abordada a presença das forças armadas

    bnrasileiras lá no  haiti….

    esse asunto saiu de pauta, até parece que as forças armadas

    brasileiras sairam de lá e só eu não soube…

    carente de informações…

  2. haiti

    Nassif,

    A série de equívocos começou pelo número de candidatos à presidência do Haiti, 54 candidatos, algo do qual eu nunca ouvi falar.

    O Haiti tem uma sociedade que já sofria de um abandono sem paralelo, cujo principal produto de exportação era o plasma sanguíneo. De uma hora prá outra, após um terremoto esquisito, a Minustah chegou com tudo para “estabilizar” aquele país, perfeito. Nesta missão é que se encontra o patropi, com representação diplomática até aqui permanente em Porto Príncipe, capital do país sob escombros há anos.

    Agora, o outro lado- O país tem um Congresso daqueles, haja vista os tais 54 candidatos, a Minustah mantém a população em condições subumanas, não tendo reconstruído as moradias que sofreram danos no terremoto. não oferecem água potável, energia elétrica, mantém o sistema de ensino em estado trágico, não oferece alternativas para oportunidades de trabalho, ou seja, a Minustah faz daquele país uma espécie de prisão a céu aberto.

    Se a intenção é evitar a ocupação daquele país por um inimigo, USA deveria dar condições mínimas de subsistência à população haitiana, mas prefere mantê-la na extrema necessidade. E os pulíticos ainda querem que uma população que vive como de olhos vendados tenha maturidade política para participar de uma eleição, devem estar bêbados.

    O país é uma zorra, a Minustah é uma zorra, tudo é uma zorra – Isto é que Celso Amorim deveria ter dito a respeito do país do qual acaba de retornar.

    E a representação brasileira naquele país, por qual motivo não é notícia ?

     

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