Cinco meses depois, IPCA caminha dentro da meta

Sugestão de Roberto São Paulo/sp-2010

Do Portal iG

Nova trajetória da inflação enterra discurso alarmista da ‘turma do tomate’

Cinco meses após a polêmica alta do preço do hortifruti, IPCA caminha em direção ao centro da meta de 2013 definida pelo Banco Central e põe fim ao descontrole inflacionário
Bárbara Ladeia – iG São Paulo 

Em março deste ano, o Brasil ganhou uma nova paixão nacional: o tomate. No noticiário, na televisão, nas redes sociais e em todo lugar lá estava o fruto vermelho apontado como uma espécie de mártir da economia nacional . O mal-estar com alta dos preços tomou conta da economia brasileira e houve quem apostasse que o governo se veria obrigado a tomar medidas drásticas para forçar a inflação, ao menos, em direção à meta de 2013, fixada em 4,5% pelo Banco Central.

O polêmico fruto liderou a alta dos preços nos alimentos, com um reajuste médio de 60%, e virou também o bode espiatório de uma inflação supostamente fora do controle. Em artigo publicado na imprensa em abril, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luiz Carlos Mendonça de Barros, chegou a cobrar uma solução capaz de dar jeito na “situação limite e perigosa” da inflação abril – ainda que tenha destacado como “rudimentar” o debate proposto “pelos dois lados do espectro ideológico que domina o debate econômico”.

Na televisão, Ana Maria Braga em seu programa Mais Você apareceu fantasiada com um colar de tomates , que seriam “jóias”, dado o alto preço do produto. Na internet pipocaram centenas de campanhas bem humoradas que trouxeram a tona o debate. Enfim, o País inteiro estava discutindo economia – e, em sua maioria, discutindo preços supostamente “descontrolados”.

Na manhã da última sexta-feira (6), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o caminho que está sendo desenhado pode ser bem diferente da catástrofe anunciada no primeiro trimestre. Mesmo com a leve aceleração de 0,24% nos preços , os números do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostram mais uma âncora sob o índice de inflação oficial. No acumulado dos 12 meses, o índice formou alta de 6,09% nos preços – inferior aos 6,27% acumulados em julho e aos 6,7% apontados em junho.

Com análises baseadas no retrospecto de 12 meses, a distância entre a leitura do mercado e os reais números de inflação acaba ficando maior. O economista João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que as metas definidas pelo Banco Central valem para o período que compreende entre janeiro dezembro – e não os últimos 12 meses. O traço de tendência acaba desconsiderado, dando espaço para uma análise mais retrospectiva que de fato projetiva. “A meta só é estourada ou cumprida em 31 de dezembro. Até lá, o que se tem é especulação”, diz. “Não há motivo para alarmismo.”

Luiz Gonzaga Belluzo, economista da Unicamp, explica que todo esse pânico tem a ver com uma leitura quase metonímica do índice: com a disparada nos preços de uma parte, no caso os alimentos, entendeu-se que o todo estava ameaçado. “O coeficiente de erro das previsões econômicas é sempre elevadíssimo”, comenta Belluzo.

Na contramão dos números oficiais registrados nos últimos dois meses, as instituições financeiras revisaram para cima suas perspectivas para a inflação ao final do ano. Segundo o Boletim Focus , divulgado na manhã da última segunda-feira (2), o Brasil fecha 2013 com inflação de 5,83% – ainda abaixo do teto, mas longe do centro da meta, de 4,5%.

A despeito das declarações recentes do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, de que nada mudaria neste ano, o mercado ainda espera um reajuste no preço dos combustíveis (resultado da valorização do dólar) – o que poderá forçar novamente os preços para cima. Belluzo ressalta, no entanto, que esse ajuste já está “atrasado”. “Perdemos o timing de repassar essa alta: gasolina mais cara com mais desvalorização do real não costuma ser uma boa combinação.”

Inflação não é uma grande questão
Na última quarta-feira (4), André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, revisou suas expectativas para o IPCA de agosto, de 0,25% para 0,21%, ligeiramente menos que o número entregue pelo IBGE. “Minha projeção para o ano está indo para 5,4% se não houver nenhuma grande novidade”, diz Perfeito, que não nega a “persistência” da inflação nacional. “O mercado está mudando de perspectiva a todo momento, não tem motivo para pânico.”

O economista explica que o elemento psicológico, nesse caso, é forte: por ter passado por uma recente “revolução monetária”, patrocinada por uma queda abrupta nos juros, a economia busca um novo ponto de equilíbrio. Naturalmente, analistas de mercado observam o cenário com muitas ressalvas, já que a inflação é, historicamente, uma das principais questões nacionais. “Hoje a inflação não é uma grande celeuma”, completa.

Misturando os canais
Para João Sicsú, o componente político é ainda maior que o psicológico. “Inflação é sempre um motivo de preocupação, mas não existe nem existiu descontrole inflacionário, nem mesmo em março, com a história do tomate”, diz.

O debate chegou tão claramente à questão política que uma paráfrase da campanha de Dilma Rousseff passou a ser utilizada pelo possível candidato da oposição, Aécio Neves (PSDB-MG). O “País rico é País sem pobreza” virou “País rico é país sem inflação”. Em propagandas eleitorais televisionadas, Neves usou o tema como principal mote, afirmando que a “alta de preços voltou a bater na porta dos brasileiros”.

Depois de meses de apreensão no Palácio do Planalto sobre o comportamento da inflação, na noite de sexta-feira (5), Dilma pôde retomar o assunto de forma favorável. Disse a presidente em pronunciamento em cadeia de rádio e TV: “Falharam mais uma vez os que apostavam em aumento do desemprego, inflação alta e crescimento negativo. Nosso tripé de sustentação continua sendo a garantia do emprego, a inflação contida e a retomada gradual do crescimento”.

Dilma frisou que a inflação não deve ser tratada como uma ameaça à população. “A inflação está em queda. Os índices de julho e agosto foram baixos e a cesta básica ficou mais barata em todas as 18 capitais pesquisadas. Vamos fechar 2013 com uma inflação, mais uma vez, dentro da meta, o décimo ano consecutivo em que isso ocorre”, destacou no pronunciamento.
Sicsú vê que a análise dos dados econômicos tem sido constantemente submetida aos impasses político-partidários, o que torna a leitura dos dados enviesada e descolada dos fatos. “Esse debate da inflação foi contaminado pelo fogo político. Esse discurso tem a ver com qualquer outra coisa que não é economia”, afirma…..

… O encontro entre política e economia
Há quem veja motivo para seguir em alerta. O ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, faz coro ao grupo dos alarmados. Na última sexta-feira (6), o economista afirmou à Agência Estado que o IPCA divulgado pelo IBGE “parece mais um acidente do que uma característica permanente”. Para ele, nem a alta recente dos juros para 9,75% ao ano vai controlar a inflação. “Está longe de ser suficiente para mudar a dinâmica da inflação, mas há limites que o Banco Central não parece disposto a transgredir.”

Com o debate fora do âmbito econômico, Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências, lembra que o exercício da política não está entre as prioridades do Banco Central. “A função do Banco Central é zelar pela estabilidade monetária do País”, comenta. “Em outros momentos, o BC já sucumbiu às pressões políticas e o resultado é invariavelmente ruim.”

Para Alessandra, essa inflação menos “descontrolada” que o esperado é fruto dos estímulos do governo para manter a economia aquecida. A desoneração da cesta básica e prorrogação da isenção do IPI teriam mantido os números sob pressão. “Essas políticas derrubam os preços, mas não alteram a dinâmica da economia”, afirma.

Essa dinâmica não traz a melhor das perspectivas, para a economista, que já vê efeitos negativos da alta dos preços sobre a economia. “O governo Dilma erra ao criar o pior dos mundos: juntou a inflação alta a um crescimento muito mais tímido”, diz.
 

URL:

http://economia.ig.com.br/2013-09-07/nova-trajetoria-da-inflacao-enterra…

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Essa questão das metas

    Essa questão das metas inflacionárias parece um jogo de cabo de força. Enquanto o governo puxa para um lado para fazer valer com correção os seus prognósticos, o outro lado puxa em sentido contrário tentando a estratégia oposicionista do quanto pior melhor, desejando um país em frangalhos. Mas o governo está vencendo e logo lançará os oposionistas no barro que está no centro entre uma ponta e outra. Eles sairão barreados, sem dúvida.

  2. Inflacao e globo

    A global Ana Maria Braga fez o que pediram os patrões: alimentar a boataria sobre inflacao. Afinal, sabemos que o fator psicologico é importante nesses casos. E agora, ela deveria pendurar, como castigo, uma penca de tomates no pescoço em todos seus programas. Ou pode ainda escrever na testa : VAZIO. 

  3. SELIC vs. Inflação

    A inflação caminha para o centro da meta, mas a SELIC caminha para patamares cada vez maiores, fazendo com que todo o esforço do ano passado para queda dos juros tenha sido reduzido a nada. Se não for possível ter o melhor de dois mundos, eu prefiro inflação com SELIC baixa.

  4. Lista de coisas que Ana Maria Braga deveria colocar no pescoço

    Afinal, se o tomate baixou violentamente, o pescoço da dita dondoca deve ter algum poder mágico, certo?

     

    1) Barril de Petróleo;

    2) Título corrigido pela SELIC;

    3) Filet Mignon;

    4) Automóvel;

    6) Celulares, Smartphones, Phablets e Tablets;

    7) Consoles e jogos de videogame, tvs de alta definição, assinatura de internet e TV a cabo;

    8) Livros;

    9) Cartuchos e toners de impressão originais;

    10) Peças e acessórios de informática;

    E a lista continua…

  5. Documentos do WikiLeaks

    Documentos do WikiLeaks revelam que países subestimaram crise de 2008

    Emergentes. Nos diversos documentos, fica claro que tanto europeus como americanos estavam preocupados com a posição que os países emergentes tomariam diante da crise. A estratégia foi a de buscar uma forma de convencer os emergentes a apoiar as propostas que surgiam nos países ricos, cedendo em alguns pontos justamente para não criar um racha na comunidade internacional.

    Em um dos telegramas emitidos depois da primeira reunião de cúpula do G-20, no dia 19 de novembro de 2008, a diplomacia americana relata como os europeus saíram aliviados diante do fato de os governos emergentes terem “comprado” o receituário proposto durante o evento. Dias depois, o governo da França insistia aos americanos que a estratégia para lidar com a crise teria de contemplar um plano para envolver os emergentes e não gerar “uma divisão Norte-Sul” no mundo.

    O temor tinha fundamentos. Pelos documentos, fica evidente a preocupação dos americanos diante da insistência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em apontar os países ricos como culpados pela crise. Num documento de 31 de outubro de 2008, os americanos diziam como Lula “colocava a culpa” em “atores dentro dos EUA”.

    A constatação da diplomacia americana foi de que Brasília também usava a crise para obter uma maior voz no cenário internacional. “O Brasil dificilmente vai apoiar maiores poderes ao FMI sem reformas e sem um maior papel do próprio Brasil dentro do FMI”, alertava telegrama de 31 de outubro.

    http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-internacional,documentos-do-wikileaks-revelam-que-paises-subestimaram-crise-de-2008,164091,0.htm

  6. Inflação

    Nassif cantou esta pedra aqui no blog, como outros tantos blogueiros, o que está em jogo sempre è a taxa selic e os bilhoões de juros que são pagos pros banqueiros toda vez que há um aumento da mesma, os jornalões e a TV globo apenas servem de porta-vozes destes banqueiros.

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