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Lourdes Nassif
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  1. O Brasil não cabe em mentes pequenas

    Tijolaço

    O Brasil não cabe em mentes pequenas

    mentespequenas

    Passado o Natal – como disse, dia de agradecer – vem a percepção de que estamos na soleira de um novo ano, marca inevitável de um momento em que mesmo os mais pragmáticos tiram os olhos do presente e os põem no futuro.

    Cada um de nós tem os seus planos, seus desejos, mas todos eles se perderão se presos apenas às nossas pequenas vidas.

    Como disse o Tom Jobim, “é impossível ser feliz sozinho”.

    Não é preciso falar da tristeza em ver nossos país estiolado, em ver as ruas se enchendo – de novo – de pedintes, e mergulhado no ódio e na perversidade, onde as “grandes conquistas da sociedade” são prender, condenar, enjaular, como nos exemplifica a entrevista de Sérgio Moro chamando de “retrocesso” a garantia civilizada de que alguém só seja preso se não estiver tendo recursos julgados ou se oferecer risco imediato à sociedade.

    Melhor falar do que temos pela frente.

    Não é apenas se Lula poderá disputar as eleições e quem as vencerá.

    Significa mais, a nossa capacidade coletiva de enfrentarmos o destino de mediocridade que o pensamento colonial – devidamente reproduzido na corte das elites distante dos territórios do povão, como a marcar que, aqui dentro, também há metrópole e as lonjuras da colônia.

    A classe dominante brasileira não tem um projeto de nação e, por não o ter, só tem como discurso a “gestão” e como bandeira a sua hipócrita “moralidade” . Tudo do que tentam convencer – e aos tolos, convencem – é de que precisamos de um gerente “eficiente” e “honesto”.

    Um gerente que nos faça trabalhar mais, ganhar menos, aposentar-se mais tarde (ou nunca), que não desperdice com saúde, nem com educação além do mínimo e que, diante do mundo, espalhe-se em salamaleques e arregace nossa economia ao capital estrangeiro, este benemérito produtor de um progresso sempre prometido e nunca por ele entregue.

    Para que possamos aceitar o que, dito assim, figura-se inaceitável, é preciso criar diversionismos. E estes não falta: os culpados pela nossa vida medíocre são os “bandidos”, os corruptos, os devassos, os malandros, os nordestinos, etc…

    Missão em que é ajudada pela incrível capacidade de parte de nossa intelectualidade de derivar para a discussão de bobagens, a intromissão na vida privada alheia e a aceitação de uma pauta medíocre de temas que, francamente, só a velha UDN seja capaz de imaginar.  A “moral” – ainda que pelo seu inverso, espelhado, o patrulhismo – ocupa o lugar do real.

    Tudo é pequeno no universo desta gente…

    Nenhum deles coloca onde deve estar um fato objetivo: o Brasil é um gigante e não pode ser pensado com ideias miúdas.

    Na sua visão dos míopes – que só veem de muito perto –  potencial não vale nada, importam os livros-caixa – agora vertidos em planilhas informatizadas – com suas colunas de azul e de vermelho.

    As contas públicas, na visão deles, são algo como contar a féria do botequim: mede-se o que se vendeu e o que se pagou e o lápis à orelha emoldura a felicidade ou a tristeza conforme o resultado. Claro, sempre achando que o cearense que atende ao balcão está ganhando muito.

    O Brasil só avançou quando se deu conta de que não é uma espelunca que tem de ser administrada como quem vive da mão para a boca.

    Que um pais deste tamanho não vive, nem sobrevive sem sonhos, mesmo que a realidade seja cheia de insuficiências, limitações e defeitos.

    Como, aliás, cada um de nós é, o que não impede que sejamos felizes, tenhamos autoestima e progridamos com nossos esforços.

    Nossas dificuldades, nossas limitações materiais jamais nos impediram de dar o melhor possível para as pessoas que amamos, as nossas diferenças jamais foram obstáculos a que amássemos e aceitássemos os outros (claro que com as correspondentes brigas e incompreensões momentâneas), mossas dores não se transformaram em rancor.

    Eles gostam de comparar um país com uma família, dizendo que o fundamental “é gastar menos do que se ganha”. Aceito a comparação, mas não o conceito: o essencial é que nunca falte o básico para ninguém, dentro desta casa.

    Que preparemos 2018 assim, falando às pessoas sem ódio, sem verdades absolutas, com tolerância. Sabendo que não somos um rebanho de ovelhas, todas imaculadamente brancas. E que isto é o melhor da vida.
    Não é um problema, é uma solução para nossas incompletudes.

    http://www.tijolaco.com.br/blog/o-brasil-nao-cabe-em-mentes-pequenas/

  2. Xadrez de como a história de repete (parte 8.723)

    Como Voltaire se aproveitou de falha nas regras da 1ª loteria da França para ganhar uma fortuna

     VoltaireDireito de imagemGETTY IMAGESImage captionA fortuna de Voltaire teve mais a ver com sua perspicácia do que com sorte

    O pensador francês Voltaire – ou François-Marie Arouet – é lembrado por seu talento como escritor, por seus ataques à Igreja Católica e pela defesa da liberdade de crença e expressão.

    Escreveu obras de teatro, poemas, romances, ensaios, livros científicos e históricos. Mas provavelmente não teria feito tanto se não fosse a loteria da época.

    Afinal, como diria a escritora britânica Virginia Woolf dois séculos mais tarde, para poder escrever é preciso ter dinheiro e casa própria.

    Voltaire era consciente disso. Em suas Memórias (1759), diz ter conhecido tantos escritores “sem dinheiro e desprezados” quando jovem que decidiu que não faria parte desse grupo.

    Ele não nasceu pobre, mas gastava mal o que tinha e se tornou amante dos jogos de azar ainda na juventude. Em 1722, contou a uma amante que perdera bastante dinheiro jogando cartas, cumprindo o costume “de ficar sem um centavo uma vez por ano”.

    Nesse mesmo ano morreu seu pai, que no testamento determinou que Voltaire, o filho caçula, só deveria receber sua parte da herança ao completar 35 anos.

    Quando esse dia chegou, porém, ele já havia ganhado na loteria, conta Roger Pearson, autor de Voltaire Todo-poderoso: Uma Vida em Busca da Liberdade, na revista Lapham’s Quarterly.

    Mas não tratou-se meramente de um golpe de sorte.

    Charles-Marie de La CondamineImage captionTer um amigo matemático pode vir a calhar

    Letras miúdas

    Se você quisesse fazer uma fortuna na França, observou Voltaire mais tarde, bastaria ler as letras miúdas.

    Em 1719, o país sofreu uma crise financeira que, de certa forma, lembra as enfrentadas no nosso século 21. Primeiro, os bancos inventaram instrumentos financeiros que deram uma falsa impressão de abundância. Com isso, gerou-se uma bolha que, obviamente, acabou explodindo, deixando a França à beira da bancarrota.

    Diante disso, o governo buscou formas de reduzir sua dívida, o que o levou a pegar empréstimos indiretos.

    Uma das soluções para encher os cofres foi criar uma loteria, assim como o Parlamento inglês havia feito em 1694. Lá, o objetivo de arrecadar um milhão de libras tinha sido alcançado com sucesso, inspirando iniciativas similares por toda a Europa.

    Na França, foram então emitidos títulos das dívidas da Prefeitura de Paris, e só os donos dessas cotas poderiam participar da loteria.

    Voltaire era um deles – e voltou sua atenção para as regras. Durante um jantar, conversou sobre elas com um amigo, o pensador e matemático Charles-Marie de La Condamine.

    O que os intrigava era que os bilhetes custavam um milésimo do valor da cota da dívida. Ou seja, se você era dono de uma cota pequena, era possível comprá-los por preços muito baixos – se ela valia mil francos, por exemplo, cada bilhete iria lhe custar apenas um franco. No entanto, tinha as mesmas chances de alguém que tivesse um título cem vezes mais caro, mas pagando muito menos por isso.

    Eles então se perguntaram o que ocorreria se eles comprassem todos ou a maioria dos bilhetes assim que fossem lançados, por apenas um franco cada. Para isso, precisariam de todas a cotas de pouco valor existentes, o que demandaria se juntar a outras pessoas.

    O grupo comprou todos os bilhetes. Resultado: levou um milhão de francos.

    O próprio Voltaire falou sobre o feito, em terceira pessoa, no autobiográfico Comentário Histórico sobre as Obras do Autor de ‘Henriada’, publicado em 1976:

    “As autoridades emitiram bilhetes em troca dos títulos do Hotel de Ville (prefeitura), e os ganhadores foram pagos em dinheiro, de tal maneira que o grupo de pessoas que comprou todos os bilhetes ganhou um milhão de francos. Voltaire se associou a inúmeras pessoas e teve sorte.”

    VoltaireImage captionVoltaire se tornaria um dos principais representantes do Iluminismo | Foto: Science Photo Library

    Nasce um esquema

    A loteria foi sorteada no oitavo dia de cada mês a partir de janeiro de 1729. Todos os registros dos concursos realizados até fevereiro de 1730 ainda existem, lembra o escritor Roger Pearson.

    No primeiro sorteio, diz ele, os prêmios foram pagos de maneira pulverizada, como devia ser. Mas já no segundo isso começa a mudar: há um grande aumento no número de ganhadores com bilhetes comprados pelo menor valor requerido, e vários deles registrados sob o mesmo nome.

    Condamine, por exemplo, ganhou 13 mil francos com 13 bilhetes que haviam lhe custado um franco cada um.

    Em outubro, afirma Pearson, o prêmio de mais de 1 milhão de francos foi dividido entre 13 ganhadores, todos velhos conhecidos – já haviam levado boladas antes.

    Quando as autoridades notaram a brecha, mudaram as regras. Mas estima-se que a essa altura Voltaire já havia acumulado cerca de meio milhão de francos.

    Em algum momento, o então controlador-geral de Finanças, Michel Robert Le Peletier des Forts, denunciou o grupo sob a acusação de agir ilegalmente, mas o conselho real declarou que as pessoas não haviam violado nenhuma regra: a loteria é que havia sido mal concebida.

    Émilie du ChâteletDireito de imagemSCIENCE PHOTO LIBRARYImage captionÉmilie du Châtelet foi uma das paixões de Voltaire

    Um homem de negócios

    Depois de juntar a fortuna, Voltaire quis mais.

    No Estado semi-independente de Lorraine, aproveitou-se de que as autoridades buscavam arrecadar recursos por meio de títulos de dívidas em condições vantajosas para os compradores. Ele arrematou 50 cotas e as revendeu pelo triplo do preço.

    Em Paris, investiu grandes quantias de dinheiro em negócios de suprimentos para o Exército.

    “Nosso grande poeta sempre manteve um pé no Monte Parnaso e outro na rua Quincampoix”, disse certa vez o marquês D’Argenson, um de seus amigos (a Quincampoix era a Wall Street da Paris do século 18).

    Com o dinheiro, Voltaire comprou sua independência e a liberdade de escrever o que queria no conforto do lar que ia construindo em outro lugar sempre que suas palavras não eram bem recebidas pelos locais.

    Em Champagne, viveu em reclusão idílica com sua então amante, a brilhante cientista Émilie du Châtelet. Depois mudou-se para a então cidade-estado de Genebra, na atual Suíça. Quando os calvinistas rejeitaram suas obras de teatro, voltou para a França, se instalando no castelo de Ferney.

    Morreu em 1778, tendo passado à história como um dos grandes heróis do Iluminismo e defensor dos direitos humanos.

    Castelo de FerneyImage captionCastelo de Ferney foi uma das casas luxuosas que Voltaire pôde ter

    (http://www.bbc.com/portuguese/geral-42481081)

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