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Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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As matérias para serem lidas e comentadas.

17As matérias para serem lidas e comentadas.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

19 Comentários

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  1. O Presidente da CCJ na Câmara dos Deputados, Francischini (PSL), tem bens bloqueados por suspeita de uso irregular de verba de gabinete

    “O que se argumenta é que os deputados só teriam direito a pedir ressarcimento de suas despesas com alimentação quando estiverem em viagem. Francischini, portanto, que durante o mandato de deputado estadual morava em Curitiba, não teria direito ao ressarcimento de despesas com alimentação realizadas na capital do estado.”

    Resumindo:Bloqueiam os bens do cidadão, por suspeita de “almoço fraudulento”……..no tempo que era deputado estadual……a galera da justiça/MPF, despirocou “de vez”……..salve-se quem puder……

    https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/joao-frey/2019/04/16/felipe-francischini-tem-bens-bloqueados-por-suspeita-de-uso-irregular-de-verba-de-gabinete/

  2. Aliados(Moraes??) de Toffoli acham que procuradores da Lava Jato tentaram armar para cima dele(conhecendo os métodos lavajato, acho a suspeita completamente plausível)

    “Para aliados do presidente do Supremo, Marcelo Odebrecht foi pressionado para citar Toffoli como o “amigo do amigo do meu pai” — informação que foi parar na reportagem censurada pelo STF.”

    https://www.buzzfeed.com/br/severinomotta/toffoli-lava-jato-curitiba-stf-briga-judiciario

  3. Postado pela Maria Luisa, ontem em frances , no clipping:”Nous, qui au Brésil voyons la démocratie mourir… ” Márcia Tiburi e Rubens Casara

    https://www.liberation.fr/debats/2019/04/14/nous-qui-au-bresil-voyons-la-democratie-mourir_1721295?fbclid=IwAR2o8M-BEvYbgbLQ4ZeOu2UtQTjH2_QGGharg_Ujo1ncjMR8-ly-xvlGwLw

    Ascensão de regime ultra-autoritário no Brasil deve servir de lição à França, afirma coluna no Libération

    http://br.rfi.fr/brasil/20190415-ascensao-de-regime-ultra-autoritario-no-brasil-deve-servir-de-licao-franca-afirma-co

  4. ZORRA TOTAL ENTRE OS PODRES PODERES DA REPÚBLICA

    General alvo de ação diz que não ameaçou STF com tribunal de exceção, mas ‘alertou’
    :
    General da reserva Paulo Chagas, que foi alvo busca e apreensão determinada pelo STF, afirmou que não ameaçou a Suprema Corte ao defender a criação de um tribunal de exceção para julgar ministros; “Quem sou eu para ameaçá-los? Eu concluí que, se continuar essa esculhambação no Brasil, eles correm o risco que, de repente, seja criado um tribunal de exceção”, afirmou; para Chagas, a escolha dos membros da Corte se dá por “compadrio”

    RESPOSTA: se a escolha dos membros da corte se dá por compadrio, o que os compadres indicados por Lula/Dilma fizeram até agora foi lascar o PT, a própria Dilma e manterem Lula preso.

    O general fala também em esculhambação. Esculhambação, General, é a reforma da previdência diferenciada para os militares e o fato dos militares serem a única categoria de funcionários públicos a ter reajuste nos salários em 2020.

    É muto bom ter um emprego no governo Bolsonaro depois de reformado, não é minha gente? Não precisa nem ter competência, é só usar a suástica.

  5. Bolsonaro diz que não se mete em aumento da Pedrobras. Diesel subirá 5,7%?
    POR FERNANDO BRITO · 16/04/2019

    O porta-voz da Presidência declarou que Jair Bolsonaro “não quer” e “não pode” intervir na política de preços dos combustíveis adotadas pela Petrobras, informa o G1.

    Aguarda-se, portanto, que a Petrobras revalide o reajuste de 5,7% no preço do óleo diesel, anunciado e “desanunciado” na quinta-feira.

    Como não vai ocorrer, como afirmou a empresa, noticiando que os preços não serão reajustados, o nome disso é mentira.

    E se nós, duros e bobos, percebemos, muito mais o percebe a “turma da bufunfa” que especula com ações da Petrobras.

    Talvez mais do que os caminhoneiros que vão pagar o preço do diesel e enfrentar um mercado de fretes em decadência pelo esfriamento da economia.

    A conversa de investir R$ 2 bi em obras em rodovias e emprestar R$ 30 mil para o caminhoneiro trocar peças, pintar o “possante” ou trocar os pneus do “bruto” – dando o quê como garantia, o caminhão? – é pra boi dormir.

    Escolha você a alternativa: o preço vai subir na bomba e Bolsonaro dira que “não tem nada com isso, talquei?’ ou o governo “não quer” e não pode intervir no preço”, mas vai?

    O problema das farsas é que elas são perecíveis.

    http://www.tijolaco.net/blog/bolsonaro-diz-que-nao-se-mete-em-aumento-da-pedrobras-diesel-subira-57/

    OBS: O próximo reajuste será no preço da gasolina. Se você tem carro, mais um motivo para aderir à greve dos caminhoneiros. Vamos parar esse “lixo” (é assim que Bolsonaro se refere ao Brasil) até a merda virar boné.

  6. Espero que essa turma de malucos no poder, não meta o Brasil numa “confusão” na Venezuela……..Essa historia de governo em perda de credibilidade, arrumar uma guerrinha em algum lugar numa solução de “fuga para a frente”, é velha como o mundo….

    Reunião sobre “saída militar” para Venezuela nos EUA conta com presença brasileira

    https://www.brasildefato.com.br/2019/04/16/reuniao-sobre-saida-militar-para-venezuela-nos-eua-conta-com-presenca-brasileira/

    https://thegrayzone.com/2019/04/16/trump-csis-reunion-washington-ataque-militar-contra-venezuela/#more-6768

  7. O bombardeio aos juízes do STF no Whatsapp está acirrado! Estão incluindo os grupos da grande mídia, citando fatos e valores pagos! Nunca recebi tantas mensagens! Está havendo uma guerra com consequências imprevisíveis, pois sabemos (sabemos?) de qual lado a PF está! Insubordinação à vista! O Blog precisa levantar informações disto.

  8. OLHA A GREVE GERAL SE APROXIMANDO

    https://www.conversaafiada.com.br/economia/se-diesel-subir-ministro-vamos-parar

    Caminhoneiro manda o Guedes enfiar o pacote… (termina, Olavo de Carvalho)

    “Se diesel subir, ministro, vamos parar!”

    Tá no Conversa Afiada : https://www.conversaafiada.com.br/economia/se-diesel-subir-ministro-vamos-parar

    ‘Se subir o diesel, ministro, nós vamos parar’, diz caminhoneiro a Onyx

    O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, trocou mensagens pelo WhatsApp com o caminhoneiro Wanderlei Alves, o Dedéco, ao longo desta terça-feira (16), dia no qual foram anunciadas medidas que beneficiam a categoria.

    Alves, que é de Curitiba, participou da paralisação de maio de 2018 e afirma fazer parte de um grupo formado por várias lideranças de caminhoneiros. (…) Desde o fim de março, a gestão Bolsonaro tem feito promessas para agradar a categoria e evitar uma nova paralisação.

    “Nós, governo, tomamos atitudes em cima da pauta que dezenas de líderes de caminhoneiros de todo o Brasil nos apresentaram. Inclusive tu, Dedéco”, afirma Onyx, em áudio obtido pela Folha. (…)

    Na troca de áudios pelo WhatsApp, Alves respondeu que não enviou nenhuma pauta ao governo, que não fosse o cumprimento da tabela e a redução do óleo diesel. (…) O caminhoneiro também fala sobre a possibilidade de uma nova greve. “Se subir o óleo diesel, ministro, nós vamos parar e ponto final.”

    (…) Após troca de áudios, o caminhoneiro diz que o ministro o bloqueou no WhatsApp.
    Também na Fel-lha:

    Caminhoneiros dizem que crédito ‘é esmola’ e não descartam nova paralisação

    (…) A Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) afirmou que não irá se pronunciar sobre as medidas anunciadas pelo governo.

    Em nota, a CNTA afirma reconhecer “o esforço do governo e se mantém positiva com a postura aberta ao diálogo desta gestão”.

    A entidade também cobra a fixação de um preço mínimo para os fretes e fiscalização. (…)

  9. Marcha indígena faz governo pedir Força Nacional em Brasília; Moro autoriza

    “O ministro da Justiça, Sergio Moro, autorizou o uso da Força Nacional de Segurança na praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, por 33 dias, que contam a partir de hoje. A medida foi solicitada pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), comandado pelo general Augusto Heleno. A reportagem entrou em contato com o Ministério da Justiça, mas ainda não obteve retorno sobre o motivo do pedido. O GSI também não se manifestou até o momento….”

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/04/17/moro-forca-nacional-tres-poderes-um-mes.htm?cmpid=copiaecola

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/04/17/moro-forca-nacional-tres-poderes-um-mes.htm

  10. https://www.brasil247.com/pt/247/economia/390472/Bolsonaro-e-Guedes-vender%C3%A3o-metade-das-refinarias-da-Petrobr%C3%A1s.htm

    BOLSONARO E GUEDES VENDERÃO METADE DAS REFINARIAS DA PETROBRÁS
    Alan Santos/PR | Reuters

    O governo Jair Bolsonaro vai aumentar a liquidação no Brasil com sua política entreguista que beneficia estrangeiros; a Petrobrás decidiu vender a partir de junho deste ano metade das refinarias de petróleo; os 13 empreendimentos refinarias da Petrobras nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste tinham capacidade de refinar 2,2 milhões de barris por dia em 2018; a estatal quer vender a capacidade de refino de 1,1 milhão de barris por dia; a decisão se baseia na ideia de que reduzir a capacidade de investimentos do Estado brasileiro vai retomar o crescimento, o que tem se mostrado um fracasso desde que a agenda entreguista voltou a todo vapor no brasil em 2016, quando Dilma Rousseff sofreu um golpe

    https://www.brasil247.com/pt/247/economia/390472/Bolsonaro-e-Guedes-vender%C3%A3o-metade-das-refinarias-da-Petrobr%C3%A1s.htm

    ADVINHA quem ditará o preço dos combustíveis depois da venda? Os novos donos, of course!

  11. Do “Le monde diplomatique”………Atenção……enorme “textão”……..; )

    La cosmocratie, nouvelle classe planétaire

    https://www.monde-diplomatique.fr/1997/08/DUCLOS/4879#partage

    tradução:https://www.deepl.com/

    A cosmocracia, uma nova classe planetária

    Pode ser que a imagem mais exata de nossa “modernidade” nos refira à queda do Império Romano. Por um lado, exércitos de proletários desesperados, assediados por regimentos policiais. Por outro lado, fortunas gigantescas, cujos proprietários se protegeram em vilas barricadas. Estes dois mundos já não se cruzavam mais…

    “Os imperadores do século IV nunca se perguntaram qual era o objetivo de salvar o Império Romano se ele fosse fazer dele uma grande prisão para milhões e milhões de homens (1). »

    Como se controlar os outros curasse as nossas frustrações, nenhum regime está livre do desejo de oprimir, especialmente quando não há nada que o impeça. A este respeito, o liberalismo está longe das potências desaparecidas que tentaram tomar a humanidade em seus sonhos? Se nada for feito para criar um regime de composição universal, ele se transformará em tirania. Se nada for feito para forçá-lo a ser civilizado, ele se tornará uma máquina de esmagamento, como sempre aconteceu.

    Uma metamorfose do liberalismo em autoritarismo está em curso desde 1989. Um sistema de restrição e priorização está emergindo, semelhante ao dos antigos impérios. Estamos a entrar num reino que visa, como no passado, completar a sua hegemonia, exaltando as fantasias dos poderosos, diminuindo os cidadãos livres e esmagando os pobres.

    Quando o poder parece ter sido adquirido, surgem três tendências: primeiro, as elites já não hesitam em influenciar aqueles que asseguram a sua riqueza. Eles marcam a distância, e retiram-se dos seus contemporâneos deixados à opressão. Finalmente, sacrificam a acumulação à magia especulativa – que, segundo eles, daria acesso ao paraíso dos valores virtuais. Assim, em nome da razão, redirecionam o grande barco das sociedades para a tripla armadilha do sofrimento, do narcisismo e da loucura.

    Estes três traços, já característicos da antiguidade tardia, encontramos hoje ressonâncias estranhas (2).

    Forçar subordinados

    “As classes altas das cidades fizeram o máximo para salvaguardar os restos das suas fortunas e oprimiram as classes mais baixas. Além disso, foram oprimidos e roubados por todos. “(M.R., p. 349.)

    Primeiro, pistas fracas. Tal como o gerente de uma empresa pública cobiçada pelos investidores, que especula sobre os lucros a serem feitos por “famílias cativas” para despejar em industriais. A expressão é inocente, mas será que a servidão está muito longe quando a alegria brota do pensamento de dispor das multidões humanas como se quer?

    “Nós os empregos, vocês a protecção social”, disse John Major, antigo Primeiro-Ministro britânico, aos europeus, com o entusiasmo do vencedor, confiante de que iria finalmente manobrar a seu bel-prazer. No entanto, o seu país, orgulhoso por ter saído dos erros do Estado, é um país onde 2,3 milhões de pobres em combustível já não se aquecem, onde 19% das famílias não têm conta bancária e onde 30% das famílias vivem principalmente da assistência social, que é cada vez mais medida de forma mais ligeira. A liberdade de depreciar a força de trabalho parece estar bem associada a uma aposta na pobreza forçada.

    Uma ligação directa da economia global à escravatura faz parte desta “libertação”. Dos 120 milhões de crianças com menos de 14 anos de idade empregadas a tempo inteiro em todo o mundo, muitas estão afectas ao trabalho gratuito, o que torna a rentabilidade dos subcontratantes e dos comerciantes de trabalho com os quais os ramos dos gigantes globais se comprometem. Se a Heineken e a Carlsberg na Birmânia ou a Reebook na Índia rescindiram contratos sob a ameaça de boicote é marginal. Sem a economia subterrânea, o Sul perderia o seu apelo ao “retorno do investimento”.

    É certo que os accionistas dos fundos de pensões aliviam a sua consciência ao imporem cláusulas sociais às suas empresas.

    Mas eles não podiam exigir salários de 12% e monitorar as relações com os comerciantes de escravos que levam mulheres e crianças aos portões das fábricas. Quem não viu as multidões passarem entre as torres de vigilância das zonas industriais indianas, sul-americanas ou asiáticas dificilmente pode imaginar o quanto o monte de escória inglês do século passado (ou a prisão mineira da antiguidade) permanece relevante hoje em dia.

    Quanto à miríade de oficinas que empregam (de Paris a Banguecoque, de Nova Iorque ao Haiti) imigrantes adultos empenhados em máquinas de costura internacionais, elas mostram que o antigo sistema de oficinas se tornou universal. Os chineses, paquistaneses ou turcos em nossos pavilhões suburbanos que estão ocupados reembolsando suas viagens e pagando por seu canto da terra são semelhantes aos que contrabandeiam através da fronteira americana (300.000 entradas por ano). E em todo o lado as “próprias” marcas (Kookaï, Morgan, Burton, Monoprix, La Redoute, Camp ;A, etc.) estão a beneficiar, por detrás da proliferação de empresas de fachada.

    A renovação da domesticidade privada também tende à escravidão stricto sensu. O abuso de empregados cingaleses ou filipinos nos reinos do Golfo não deve esconder o uso generalizado de empregados estrangeiros, parcialmente pagos “em espécie”, pelas novas burguesias do mundo, a começar pelos americanos, russos ou franceses.

    Uma espiral descendente

    “No Ocidente, a partir do século V, a riqueza estava nas mãos de algumas famílias privilegiadas. ” (P. B., p. 45.)

    “A característica definidora da vida econômica do Império Romano Tardio foi um empobrecimento gradual. Quanto mais pobre se tornava a população, mais primitiva se tornava a vida econômica do Império. “(M.R., p. 388.)

    “Tornar-me-ei um mendigo? “Será que vou fugir? “A minha fuga vai acabar? “Receberei o meu salário? “(3), perguntou ao oráculo um cidadão egípcio de estilo românico tardio. Estes gritos de angústia lembram-nos aqueles que, nos Estados Unidos, e em breve numa Europa “finalmente desbloqueada”, estão a ser empurrados à medida que se aproxima a falência pessoal. Nossos novos pobres, como outrora essa categoria endêmica que os romanos chamavam de “peregrinos” – entre escravos e homens livres – podem sempre se tornar “novos nômades”. Depois de ouvir o Presidente francês, Jacques Chirac, apelar à mobilidade dos jovens, basta olhar para França a partir dos parques de campismo escondidos para ver discretamente formada uma massa de trabalhadores temporários móveis. Na gíria das profissões nucleares, já chamamos “ciganos” aos trabalhadores de limpeza industrial, quer estejam ou não ligados à mão-de-obra.

    Mas, diga-se de passagem, são situações limítrofes, níveis mínimos, que a teoria liberal sustenta que devem subir com a espiral virtuosa dos mercados. Infelizmente, esta presunção pressupõe que a economia mundial está a aumentar a média universal dos custos do trabalho. No entanto, se baixarmos o preço do trabalho para nos juntarmos aos dos “dragões” ou do Terceiro Mundo, o que os impede de reduzir os seus salários?

    Apesar das advertências da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que inclui os principais países desenvolvidos do mundo, a recente tentativa coreana de violar os direitos sindicais (4 ) mostra que a média tende a descer. Os mesmos especialistas da OCDE não dizem que, na Europa, devemos “reconsiderar o papel do salário mínimo” e “reduzir a generosidade dos sistemas de prestações sociais” (5)? Mas ao tornar os salários e o consumo mais flexíveis aqui, desencorajamos os sindicalistas coreanos ou chineses de esperar por melhores padrões de vida e dissuadimos os russos, marroquinos ou haitianos de abandonarem as catacumbas da economia subterrânea.

    Apesar dos elementos de aumento da produtividade, o mundo está a entrar numa espiral involutiva. Os ideais de “crescimento compartilhado” estão menos próximos da realidade do que o quadro descrito pelo historiador do século III:

    “O trabalho estava desorganizado e a produtividade estava a diminuir (…). A indústria não podia prosperar porque os mercados de produtos industriais estavam encolhendo e o poder de compra da população estava diminuindo. “(M.R., p. 373.)

    Marcação da distância social em todas as suas formas

    De Petrónio Probus, um “milionário” do século IV, um contemporâneo escreve: “As suas propriedades estendem-se por todo o Império – adquiridas honestamente ou não, não me cabe a mim julgar. ” (P. B., p. 32.)

    Quem pode buscar o empobrecimento, esse objetivo sem sentido? O desejo de diferença, o desejo de poder, não procuremos mais. Assim que o capitalismo tardio se sentiu isento de qualquer contestação séria, passou a partilhar a riqueza a seu favor. É o caso desta grande empresa de vestuário francesa, cujos accionistas viram o seu rendimento aumentar 140% em 1996, enquanto que os distribuídos por salários e operações diminuíram 14%.

    Glossámos as somas astronómicas de dinheiro que os dirigentes das multinacionais estavam a dar a si próprios, ligando-os aos papéis quase militares e policiais a que estes marechais de impérios industriais agora se dedicam contra os trabalhadores, para satisfazer os seus accionistas: como o Sr. Thomas Labrecque, que recebeu 9 milhões de dólares do Banco Chase Manhattan para eliminar dez mil postos de trabalho. Tem sido menos lembrado que, mais do que tesouros pagos a condottieri, essas práticas vinculam a remuneração pessoal à natureza capitalista da propriedade corporativa: assim, dos 5 bilhões de francos recebidos pelo Sr. Roberto Goizeta, CEO da Coca-Cola, o grosso é composto por stock options, remuneração diferida, baixa ou isenta de impostos (6).

    A reconquista do poder pelo possuidor na fase triunfal é, portanto, duplamente simbólica: pela gigantesca brecha de renda, ele está se reconectando com as aristocracias do Antigo Regime, cujo gasto cerimonial manteve um mundo servil em detrimento das produções voltadas para o consumo médio. Mas, ao escolher investimentos, inscritos no funcionamento capitalista, faz prevalecer o lucro sobre o salário, ou seja, a transcendência da propriedade monetária sobre o trabalho ou mesmo sobre o gozo dos valores de uso.

    Como disse um famoso patrão “esfolador” de empresas para tornar lucrativo: “A empresa pertence àqueles que investem nela, não aos funcionários, não aos fornecedores, e não à comunidade onde está localizada (7). “Este homem, responsável pela demissão de dezenas de milhares de pessoas, recordou a verdadeira hierarquia, e de fato designou o proprietário como o único verdadeiro cidadão livre.

    “Como em muitas aristocracias cosmopolitas, os homens da mesma classe e cultura sentem-se muito mais próximos uns dos outros do que da grande maioria dos seus vizinhos. ” (P. B., p. 17.)

    Será a abundância de cartazes e bandeiras a flutuar nas nossas paisagens, com os braços de multinacionais ou de gigantes da distribuição, sinal de uma consciência cívica das fortunas, ou melhor, do prazer de uma vitória imposta? Em todo o caso, contrasta com a evidência da derrota: as quintas e casas de aldeia em ruínas que simbolizam a velha sociedade local, agora integrada na “comunicação”, ou… as árvores sugadas pela hera e pelo azevinho, cortadas para a invasão de enormes camiões. Testemunhas de uma civilidade rebaixada, os centros das cidades, rebaptizados de “centros históricos”, vão-se esvaziando lentamente das suas classes cultivadas. Como não ouvir o distante eco do “deslocamento” (anacoreia) fora das cidades de uma população imperial esmagada pela dívida?

    Longe de ser redesenvolvido por uma civilidade burguesa, todo o espaço contribui para o teatro da divergência social: enquanto as famílias modestas vivem a horas do seu local de trabalho, os ricos se escondem no Périgord ou no Tarn. A classe média e os pobres, que uma vez se cruzaram numa encruzilhada, ou por vezes nos desembarques dos mesmos edifícios, colocaram centenas de quilómetros entre si. Mesmo os assentos das aeronaves de primeira classe são abandonados à classe média, com as elites a utilizarem voos privados de longo curso. Fugindo dos laços que forjaram a pequena aristocracia inglesa para o terceiro estado, forçando-se mutuamente à democracia, a nova nobreza mundial retirou-se para terras virgens, para finalmente desfrutar das fantasias que uma imensa riqueza lhe permite. Só pode prosseguir este sonho afastando-se da responsabilidade pública, um desvio cujas perigosas consequências já foram observadas há mil e seiscentos anos.

    “A partir do século IV, já não eram as enormes despesas que ele fazia a favor da sua própria cidade que distinguiam um homem. A construção de grandes edifícios públicos financiados por fundos privados tende assim a diminuir (…). O esplendor se refugia nos palácios e vilas rurais que se tornam mundos em si mesmos. ” (P. B., p. 42.)
    “Alguns dos indivíduos mais ricos tendo sido excluídos, proprietários de terras e donos de lojas, a maioria deles membros da classe média, tiveram que assumir as liturgias sozinhos (8). ” (M. R. R., p. 298.)

    Uma deriva semelhante está a ocorrer hoje em dia no que diz respeito às despesas de solidariedade. A pressão para substituir investimentos pela Previdência Social é apenas uma tentativa moderna de “isenção”, uma forma de adiar a incerteza de amanhã (risco capitalista socializado) sobre ativos modestos. Apesar dos espelhos (para voltar a um sistema que já havia arruinado milhões de poupadores antes da guerra), a privatização das pensões coloca os aposentados à mercê de uma desaceleração da economia. Tão vulnerável quanto a solidariedade social ao declínio dos trabalhadores contribuintes, o fundo de pensão produz uma dívida (a Corporação Garantia de Benefício de Pensões, que garante os fundos americanos, está endividada em US$ 4 bilhões), destinada à simples evaporação se o Estado não intervir. Nesta perspectiva plausível, a maravilhosa “colocação na velhice” é apenas uma variante da escolha russa de não pagar mais as pensões do regime soviético. Esta é outra forma de dizer que, em caso de crise, preferimos deixar que os idosos fiquem mais pobres ou até morram (a esperança de vida na Rússia liberal, reduzida a 59 anos para os homens, não é alheia a este desprezo).

    Não se trata de uma questão de economia, mas da relação entre poderes e cidadãos: uma sociedade que decide entregar os seus membros idosos aos choques mais difíceis é provavelmente menos coesa do que uma que se organiza em torno do respeito pela experiência.
    A miragem da virtualidade monetária

    “A terra pertencia a cidadãos que a viam como um investimento. “(M.R., p. 247.)

    “Esta foi uma nova burguesia, mesquinha e servil, que empregou vários subterfúgios >… para evitar as obrigações impostas pelo Estado, uma burguesia que baseou sua prosperidade na exploração e especulação, que não impediu seu declínio constante. “(Século III – R. M., p. 340.)

    O que pode uma classe livre de restrições coletivas gastar uma vez que a mais louca de suas fantasias privadas tenha sido realizada? Talvez… nada! O capitalismo alimenta-se do virtual. O desejo de poder que nos move se esgota no incessante retorno do dinheiro, que, sendo capaz de pagar todos os objetos, oferece poucos que valha a pena parar por mais de um momento. Tudo o que se desviar dela é automaticamente chamado de denigração: recusamo-nos a reconhecer o patrimônio construído pelas gerações passadas (saúde, transporte público, eletricidade, etc.) para sermos obcecados por uma febre de dividendos abstratos.

    O poder, emancipado dos deveres para com os empregados, da solidariedade intergeracional ou da contribuição pública, é disperso no jogo pelo jogo: assim, as empresas francesas, cujos ativos financeiros são agora mais importantes que as propriedades físicas, “jogaram” na bolsa 133 bilhões em 1994, em vez de contratar ou investir (9), e jogam mais a cada ano. Apesar da sua aparência, a empresa já não é essencialmente um centro de produção. Seu gerente financeiro gerencia fluxos para os quais as fábricas e as pessoas são sacrificadas, assim como o café já foi queimado em locomotivas.

    Embora a especulação geral seja uma loucura, não há argumento para parar o inevitável, porque o jogo se tornou uma restrição mútua. Assim, em 1996, as famílias americanas compraram 222 mil milhões de acções, enquanto que “dois terços [destas aquisições] utilizam agora crédito. Estes activos são, por conseguinte, particularmente vulneráveis a qualquer declínio prolongado dos títulos adquiridos a crédito. Especialmente porque a dívida bruta das famílias atinge quase um ano de rendimento disponível, o seu nível mais elevado desde os anos 60 (10)”.

    Conformidade hierárquica

    “Em 200, os imperadores viram o mundo romano como uma vasta rede de estradas, marcada por relés para os quais cada pequena comunidade tinha de reunir quantidades cada vez maiores de alimentos, roupas, animais e trabalho para satisfazer as necessidades da corte e do exército. ” (P. B., p. 15.)

    No século III, “o preço da integração no Império era uma conformidade ilimitada”. (P. B., p. 16.)

    Entre outras coisas, a hegemonia política “imperial” tem uma função crucial: estabelece um funcionamento homogéneo, em todo o lado reconhecível, no qual um conjunto de autoridades contribui, todas trabalhando para dissolver ou absorver as ordens locais residuais. Se necessário, sanciona desvios do modelo comum. Se no mundo antigo a homogeneidade foi adquirida pelo exército internacional e pela aristocracia administrativa que se impôs sobre as burguesias urbanas, o atual trabalho do poder busca ir além das cidadanias nacionais por organismos mundiais independentes, mas atuando na mesma direção, apesar da variedade de suas declarações: organizações internacionais, multinacionais, até mesmo organizações não governamentais (ONGs), são convidadas a compartilhar o espaço público global sem mediação cívica. Gostem ou não, exercem uma partilha de influências que deixam pouco espaço para o mero “secularismo”, assumindo um quadro constitucional. Normas opressivas emergem dessa falta de “normatividade comum” (11), já que as instituições globais tendem a se unir às unidades de assalto que são empresas para forçar as frágeis membranas de proteção dos equilíbrios locais.

    A posição da organização global é tão esmagadora que pode desencadear mudanças no topo de uma sociedade “resistente”, mesmo uma tão respeitável em tamanho como a Índia. Assim, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) incentiva o governo de Nova Deli a quebrar as proteções legais da pequena propriedade da terra, introduz o fermento de um grande desastre sociopolítico no subcontinente: a maioria camponesa, bastante democrática, pode ser levada ao êxodo rural, até então evitado por um milagre histórico, e aumentar as fileiras do sub-proletariado urbano de Calcutá ou Bombaim, reduzido, como nos megapólos latino-americanos, ao crime de sobrevivência.

    Os ideais democráticos foram então substituídos pelo gangsterismo político-militar e pelo fascismo, o tráfico de armas aumentou entre todos os grupos e a guerrilha civil latente tornou-se uma forma normal de relacionamento entre comunidades. Forçados a termos de troca degradados, os agricultores são forçados a concordar em comprar de volta à multinacional Cargill, pelo alto preço, as sementes que um governo estipulado os obrigou a fornecer a preços irrisórios.

    À medida que os dias de fome se aproximam novamente, os restaurantes Kentucky Fried Chicken abrem-se aqui e ali, num país vegetariano com práticas culinárias milenares. Algumas instituições foram rápidas em queimar, mas por quanto tempo será possível a revolta camponesa contra uma “ordem” absurda, dado o aperto do punho da chantagem global sobre a dependência? Como nos Estados Unidos nos anos 1900, vemos industriais assinando “contratos” agrupados para assassinar líderes sindicais, trabalhadores ou camponeses.

    Além disso, esta bela residência guardada por milícias, em que país está localizada? No Brasil? Nos Estados Unidos? Na Índia? As regiões “liberadas” pelo sistema parecem clonar os estilos de vida de suas classes ricas, bem como seus precipícios sociais.

    Como diz o ensaísta americano Lester Thurow, esta é realmente uma onda global, cujo impacto não se limita às partes mais pobres do planeta. É também um enfraquecimento das autonomias, coordenado por “um sistema de alianças entre elites à escala global (12)”.

    A empresa, um centro de poder político

    No século III, “desapareceram as petições dirigidas diretamente à corte imperial pelos camponeses: qualquer tentativa de proteger-se e lutar contra a injustiça tinha que ser feita através de um homem importante, um patrono que exerceu sua influência na corte. ” (P. B., p. 21.)

    O autoritarismo liberal não deve ser reduzido à hegemonia americana. É um estilo de poder que é experimentado e instalado em todos os lugares, do chão ao chão e em cada nível, entre iguais. Esta “nova” ordem deve o seu poder imaginário à escravidão cibernética: cada agente, ligado aos outros pela comunicação universal do mercado, deve ser responsável perante esta totalidade, promovida ao posto das melhores máquinas sociais. A unidade da humanidade exigiria essa “filiação” e, como a liberdade igualitária dos sujeitos políticos não está funcionando bem, o tom de “vida em conjunto” seria dado por atores organizados. A empresa seria responsável por adaptar as pessoas às exigências contraditórias da socialidade pós-moderna: restrições de mobilidade e qualidade, disciplina e iniciativa, responsabilidade e intercambiabilidade, disponibilidade e intensidade do trabalho, rigor salarial e falta de garantias, etc.

    Aumentar a sua influência sobre os consumidores, os trabalhadores e os desempregados, os grupos financeiros e industriais deixaria de ser “entidades económicas”, mas sim centros de poder. Promovidos ao posto de unidades básicas da sociedade, em substituição à cidadania ultrapassada, eles estão em condições de desafiar a democracia.

    A disciplina vertical das relações humanas contradiz a suposta igualdade dos sujeitos da comunidade política, mas esta reorientação do governo masculino é apresentada como um ajustamento “técnico”, num contexto de guerra económica aberta. Dedicados ao credo que lisonjeia a sua propensão para o poder, os líderes encorajam-se mutuamente a serem brutais. Em todo o lado, nos círculos de comando, falamos de “passar em força”, “impor mudança”. Quantos comportamentos duros foram permitidos por uma crença sincera na inexorabilidade da mudança social do final do século!

    O fascínio pelo poder se espalha de cima para baixo

    Entre os subordinados, muitos internalizam os constrangimentos, primeiro por medo, depois por fascínio pela guerra social que a espiral especulativa induz. Os americanos, apesar da onda de “desengorduramento” (que afetou 57% dos empregados de serviços), não culpam o mundo dos negócios, mas… os próprios empregados (13), enquanto todos os estudos mostram que Wall Street tem tido um interesse direto em despedimentos em massa como um instrumento de política financeira de curto prazo (14). Metade da população activa está disposta a abster-se de desafiar a autoridade do empregador se isso ajudar a manter os seus empregos. Aqueles que sofreram o trauma da demissão são ainda mais maleáveis: 80% deles estão dispostos a reduzir suas licenças, 69% a aceitar a redução dos benefícios, 44% a conceder um corte salarial.

    “Os accionistas disseram-nos que agora querem um retorno de 10%”, diz um empregado do banco. Alguns de nós cedemos. Os outros trabalham mais. Costumo voltar para casa às 8 ou 9 da noite. “Nunca evoca a menor crítica ao princípio sagrado da “confiança do investidor”.

    É como se os comentários sobre “o esforço comum” para restabelecer o crescimento – de que Pierre Bourdieu (15) criticou o discurso de Hans Tietmayer, Presidente do Banco Central Alemão – surpreendessem aqueles que sabem que são traduzidos para eles em horários nocturnos e de fim-de-semana, maior stress, incerteza para o futuro próximo, disciplina cada vez mais rigorosa, enquanto esperam, talvez, pelo próximo movimento social.

    Porquê? Porquê? Provavelmente porque três tipos de satisfação mórbida são oferecidos em troca de infortúnio: a possibilidade de infligi-la a pessoas mais fracas do que a si mesmas; o lazer de participar das alegrias coletivas de repressão contra combatentes isolados da resistência; a fantasia de participar da loucura do jogo, na esperança de ganho ou sobrevivência, mesmo além do colapso prometido à maioria.

    Não acreditemos que estamos livres de tais tentações, somos “trabalhadores modestos e virtuosos”.

    O ideal de dominação espalha-se facilmente de cima para baixo, e é fácil repelir o desprezo sobre o estagiário, o contrato a termo certo (CDD), o auxiliar, o trabalhador temporário, o novo. Enquanto, para a socióloga Danièle Linhart, “a atual organização do trabalho, mais do que nunca Taylorian, generaliza o sofrimento no trabalho”, o psicólogo ocupacional Christophe Dejours observa em todos os ambientes um aumento na desconfiança entre colegas e o ressurgimento de comportamentos perversos, como a “praxe” sádica.

    A surpreendente reacção do CEO da Renault, Louis Schweitzer, ao clamor causado pela brutalidade do encerramento de fábricas da Renault na Europa em nome de uma menor rentabilidade (os mercados reagiram imediatamente com um aumento de 12% nas acções da Renault) é indicativa da auto-intoxicação dos círculos de gestão. Considerando que é indiscutível, “racional e real”, uma corrida à desregulamentação que vai mais longe que nos Estados Unidos, os grandes patrões estão fechados num muro de consciência pura e conseguem (por quanto tempo?) compartilhar sua convicção com os de seus subordinados que estão menos em perigo de demissão ou precariedade.

    Aqui, o interesse se mistura com a quimera do “crescimento renovado”, uma quimera que ignora resolutamente a negação dos fatos. Assim como, há alguns séculos, a perversão das guerras religiosas se escondia sob uma deslumbrante afirmação da verdade, não um alto funcionário, não um diretor destruindo os frágeis equilíbrios da história social, que não acredita, de boa fé, que o faz pelo “bem” de todos e pelo da França. “Sofro de reformas dolorosas. Mas se não nos adaptarmos, amanhã desapareceremos, e o emprego desaparecerá com ele”, diz este diretor de recursos humanos, que já não dorme na noite dos casos de consciência colocados por uma política desengordurante “necessária”.

    “As pessoas estão a sofrer, eu sei disso. Mas, sem uma redução da massa salarial, como é que vamos investir no mundo, para não sermos destruídos quando outros vierem ter connosco? “pergunta este executivo de uma grande empresa, ainda “nacional”. “É horrível separarmo-nos de colegas que conhecemos há 30 anos. Mas e se quiseres contratar jovens? “diz, com o coração na mão, o chefe de uma PME em processo de “globalização”. Estes argumentos são comoventemente sinceros, mesmo que se saiba que a primeira empresa fez um lucro recorde este ano, que a massa salarial representa apenas 17% do orçamento da segunda empresa, e que a terceira vai se desfazer de uma extraordinária memória coletiva, que pode estar faltando no primeiro retorno da situação econômica (temos visto gestores procurando por técnicos licenciados, os únicos capazes de operar máquinas).

    Auto-servidão no “bom” social

    O sadismo colectivo, oferecido como recompensa pela maior frustração, baseia-se paradoxalmente numa neurose de auto-servidão. Os sociólogos têm demonstrado como a hiper-higienia torna possível superar as reivindicações do taylorismo (que deixa a mente ir, uma vez que o corpo está cansado), confiando em um ideal de pertencimento sócio-técnico: “O isolamento bacteriológico do produto gera o isolamento social e psicológico das pessoas empurradas (…) a se perceberem como contaminantes. A construção social de uma nova forma de alienação no trabalho é o preço a pagar pela construção social da qualidade (16). »

    Já o hábito de embrulhar tudo em celofane e usar luvas de plástico, que se espalhou das plantas de embalagem aos supermercados e dos supermercados aos doces de rua, generaliza o simbolismo da pureza, cujo antagonista seria o contato com o miasmo, o sangue, e que exigiria obediência escrupulosa a uma ordem moral, agora uma ordem técnica.

    No século II, “o médico era a figura intelectual dominante na sociedade romana. A hipocondria é um sintoma curioso e perturbador (….). As gerações seguintes tenderão a negar a doença como óbvia: a luta contra os demónios preocupa-os mais do que as desordens dos seus corpos. (P. B., p. 55.)

    Em contraponto à escravidão dos outros, existe assim uma utopia organizacional legítima, a engenharia social, o tratamento eficaz de disfunções como os micróbios, uma cidade celeste capaz de integrar os seres humanos, acalmar a sua angústia (“stress” ou “depressão” fama), prevenir os seus desvios ou, pelo menos, torná-los inofensivos ou indolores.

    No entanto, como indicam os signatários de uma petição dos psiquiatras contra a obrigação de cuidar dos “criminosos sexuais”: “Uma sociedade que constrói os seus ideais através do uso de seres perfeitos só pode ser uma sociedade ameaçada de se tornar monstruosa se abrir mais ou menos insidiosamente as portas de triagem e eliminar algumas das suas próprias” (17). »

    “As pressões imperiais sobre a burguesia municipal aumentaram progressivamente (….), o uso da coerção tornou-se frequente. Os homens livres e os cidadãos romanos (…) são privados de alguns dos seus direitos essenciais. “(M.R., p. 385.)

    A elite política, longe de se opor a esta fascinação pelo poder (sobre os outros ou sobre si mesma), encoraja-a, solicita-a através da obsessão pela “segurança”. Disse que, no calvário, esperamos solidariedade dos homens de ordem: denunciar um colega com um comportamento pouco higiénico, entregar um vizinho suspeito de orientações sexuais “não sociais”, transmitir aos tribunais o processo médico de um doente que se recusa a submeter-se a uma ordem de assistência, notificar a polícia da chegada e partida de um amigo estrangeiro, tudo isto vai na mesma direcção: envolver todos na grande regulação sócio-técnica, concebida para o bem de todos e, especialmente, para o gozo daqueles que têm um terreno em controlo sobre os outros.

    O estilo social que nos é proposto desta forma é o do servilismo, justificado pelo facto de a emergência do novo mundo ideal ser acompanhada de turbulência, de o sofrimento ser inevitável e de a repressão da resistência ser, portanto, essencial.

    Assim, baixar o cidadão significa ultrapassar as barreiras da privacidade, em nome da necessidade, da urgência e da luta preventiva contra o crime. Estas são as escutas telefónicas dos telefones dos líderes das associações que se opõem ao TGV, o aparecimento de uma lista de inquilinos faltosos que podem ser consultados no Minitel, a ameaça de rusgas por agentes fiscais em casa para controlar o pagamento da taxa de televisão, o recrutamento de médicos para um tratamento de saúde considerado como uma penalidade. Trata-se da pulseira electrónica em casa para “aliviar o congestionamento das prisões” (votada pelo Senado em 22 de Outubro de 1996 e adoptada pela Comissão de Direito da Assembleia Nacional em 5 de Março de 1997).

    Quer em França, o projecto Debré que o obriga a declarar a chegada e a partida dos seus anfitriões, quer nos Estados Unidos, o projecto de lei que encoraja os professores e os médicos a denunciar os imigrantes ilegais às autoridades, os poderes públicos estão gradualmente a entrar numa situação de “intrusão na vida privada de todos, subitamente chamados à responsabilidade” (18).

    Desafiando o dever de “resistência à opressão” estipulado pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, o liberalismo autoritário tende a limitar a cidadania à pura execução das leis. No entanto, qualquer civilidade implica “uma parte irredutível da subjectividade (…) que não pode ser deduzida das regras pré-existentes (19)”.

    Uma explosão de ódio mútuo

    No século III, “o ódio e a inveja reinavam em toda a parte: os camponeses odiavam os proprietários de terras e os administradores do Estado, o proletariado urbano odiava a burguesia urbana, o exército era odiado por todos, mesmo pelos camponeses. “(M.R., p. 373.)

    A caporalização encorajada não traz, na realidade, muita ordem: convida os cidadãos à agressividade, ao peremptório. Transforma o estado de paz em guerra, a civilidade em confronto. Substitui a severidade histérica pela tolerância e transforma a multidão pacífica dos habitantes da cidade em uma massa inquieta, buscando provocação, desfrutando de assassinatos na mídia (Roma, novamente!). Multiplica as oportunidades de traição. Encoraja o relegamento das competências, a desfocagem das memórias, a destruição das construções colectivas pacientes, a expulsão de líderes que preferem a solidariedade ao “desengorduramento”. Pelo contrário, organiza a promoção de “skinners”, promotores públicos. Ele supera pesquisadores, médicos, engenheiros, trabalhadores, jornalistas, para organizar a ascensão de gerentes do padrão, cortadores de próstata, fabricantes de produtos “científicos” adulterados, comunicadores perversos designando os homens a serem baleados. Logo deu origem a partidos que, a cada ano, ofereciam um pouco mais de gozo para cuspir no exterior, e ministros que ousavam ameaçar processar aqueles que “criticavam a polícia” (esse dever fundamental do cidadão).

    “O Império estava cheio de sem-abrigo, perseguido e assediado pelos polícias do Imperador (…). Estes vagabundos desesperados formaram bandos de bandidos que devastaram o país. “(M.R., p. 299.)

    À beira do colapso, resumindo a situação, alguns lutam contra o terror e a miséria, precipitando o seu próprio povo. No filme La Promesse, Luc e Jean-Pierre Dardenne mostram a Roger o motorista escravo, que se tornou um “bastardo comum” para sobreviver (20). Outros, também humanos, revoltam-se. A exclusão não é econômica – é uma humilhação, cheia de planos Vigipirate indefinidamente renovados. Khaled Kelkal disse: “O que os jovens procuram é trabalho (21)”, até que algumas pessoas vêem o insulto na privação de trabalho. Depois tornam-se caciques da droga, oficiais do declínio dos seus entes queridos, ou… pegam em armas.

    Será que o homem poderoso que desfila em Davos esquece que, ao libertar o apetite pelo poder de cima para baixo da sociedade, está a acumular nas suas luxuosas salas de conferências a energia de uma avalanche que um dia será capaz de o levar como um feto?

    Recordemos que a partir do século III, os humilhadores, que se tornaram pilares do exército, destruiriam os honestos (burgueses das cidades) que os tinham pressionado tanto. O soldado, o último salvador, depois da grande crise econômica da época, liquidou as elites haitianas… levando ao colapso de sua própria empresa.

    Denis Duclos
    Sociólogo, Director de Estudos do Centre national de la recherche scientifique (CNRS), Paris.

    (1) M. R. R., p. 393 (As citações em destaque são retiradas das obras de dois grandes historiadores da antiguidade tardia: Michel Ivanovic Rostovtzeff, Histoire économique de l’Empire romain, Laffont, Paris, 1988[indicada M. R.], e Peter Brown, La Tiare et la Mitre, le monde de l’Antiquité tardive, Thames amp ; Hudson, Paris, 1995[nota P. B.].

    (2) Agradeço à Hélène Y. Meynaud pelas conversas informadas que prepararam este artigo.

    (3) Perguntas a um oráculo egípcio (papiro P. Oxyr, 1477; 3o século AD).

    (4) Ler Laurent Carroué, “Les travailleurs coréens à l’assaut du dragon”, Le Monde diplomatique, Fevereiro de 1997.

    (5) Estudo do Secretariado da OCDE, Le Monde, quinta-feira, 13 de Fevereiro de 1997.

    (6) Também em França, as opções sobre acções, inspiradas no modelo americano, permitem aos quadros superiores comprar acções das suas próprias empresas a 80% do seu valor de mercado e revendê-las, com uma taxa de tributação de apenas 18,5%.

    (7) Albert J. Dunlap, com Bob Andelman, How I Save Bad Companies and Made Good Companies Great, Times Books, Nova Iorque, 1996, pp. 199-200.

    (8) As liturgias são as tarefas públicas obrigatórias e não remuneradas que se multiplicaram no último império, especialmente à custa de cidadãos modestos (humilhantes).

    (9) Alternatives économiques, No 132, Dezembro de 1995.

    (10) Citado por Eric Leser, Le Monde, 15 de Fevereiro de 1997, p. 17.

    (11) As Yves Bonny, in Pierre Merle and Françoise Vatin, La Citoyenneté aujourd’hui, extension ou régression, Presses universitaires de Rennes, 1995.

    (12) Edgar Morin e Sami Naïr, Une Politique de civilisation, Arléa, Paris, 1996.

    (13) The New York Times, The Downsizing of America, Times Books, Nova Iorque, 1996.

    (14) James Petras, John Cavaluzzi, “Wall Street faz guerra aos salários”, in “Le nouveau modèle américain”, Manière de voir, no 41, Agosto – Setembro de 1996, pp. 61-64.
    15) Ver Pierre Bourdieu, Libération, 25 de Outubro de 1996.

    (16) Sami Dassa e Dominique Maillard, “Exigences de qualité et nouvelles formes d’aliénation”, Actes de la Recherche en sciences sociales, Paris, Dezembro de 1996, pp. 28-37.

    (17) “Práticas de loucura”, recurso de 19 de Março de 1997.

    (18) François Bonnet, “Le gouvernement face à une mobilisation inédite”, Le Monde, 14 de Fevereiro de 1997.

    (19) Etienne Balibar, “Etat d’urgence démocratique”, Le Monde, 17 de Fevereiro de 1997.

    (20) Libération, 7 de Fevereiro de 1997.

    (21) “Moi, Khaled Kelkal”, Le Monde, 7 de Outubro de 1995.

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