Clipping do dia

As matérias para serem lidas e comentadas.

Redação

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. PM e censura

     

    Reportagem do Diário de Sorocaba:

    Carlos Latuff vem à Cidade para ato em favor da liberdade de expressãoO cartunista teve uma de suas charges utilizada em trabalho escolar que causou polêmica em Sorocaba

    Publicada em 29/09/2015 às 02:09IMPRIMIRCOMENTAR
     Foto: Fernando RezendeConhecido em todo o mundo por suas charges polêmicas, o cartunista Carlos Latuff esteve, nesta segunda-feira (28), em Sorocaba, para participar de um ato de repúdio, organizado pela Apeoesp Sorocaba em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, contra a intervenção da Polícia Militar em um trabalho da Escola Estadual “Professor Aggêo Pereira do Amaral”. Antes de participar do ato, que começou por volta das 19 horas, Latuff esteve na escola, onde visitou os alunos que desenvolveram o trabalho “Violência Policial”, baseado no livro “Vigiar e Punir”, do filósofo francês, Michel Foucault, e utilizaram uma de suas charges, que fala sobre o tema.  O professor de Filosofia responsável pelo trabalho, Valdir Volpato, afirmou que não esperava tamanha repercussão e afirmou ter recebido ameaças e ter tido o seu telefone celular grampeado. “Eu recebi bastante ameaça, bastante ofensa, tive meu facebook violado, meu computador, meu celular foi grampeado.” Segundo o professor, o objetivo da atividade foi falar da obra de Foucault e não tratar mal o trabalho da polícia. Para Volpato, o fato de os alunos terem se manifestado em favor do trabalho mostra que ele fez uma boa atividade. “Significa que eu sou um bom professor e consegui cumprir o meu objetivo, que foi dar o conteúdo. Eles sabiam do que se tratava e não foram revolucionários de facebook.” Na visão do educador, a falta de conhecimento sobre a obra levou a polícia a julgamentos precipitados. Em conversa com jornalistas, na tarde de ontem, Latuff condenou a atitude dos policiais e defendeu o trabalho desenvolvido pelo professor. Segundo o cartunista, a atitude da PM não foi surpresa, já que ele se diz ter uma “trajetória longa” de tentativas de censura por conta de charges relativas à polícia. “Vendo o meu trabalho sendo utilizado dentro desse contexto estudantil, me dá alegria, uma satisfação muito grande, porque a charge tem um papel editorial, ilustrar uma matéria, o jornal. Quando ela é utilizada por estudantes ou por professores, ela tem um papel vivo, torna-se uma imagem viva, então, a questão é: se a polícia está incomodada com essa imagem, é porque alguma coisa nessa imagem está certa. Porque, se é só uma charge, só um desenho, não precisava se importar”, afirma o cartunista. Latuff também criticou o tabu com determinados temas, elogiou o ato e o trabalho desenvolvido e se mostrou indignado com a interferência da polícia no ensino. “A gente não pode baixar a cabeça, não pode ter temas que a gente não pode abordar. Eu acho que isso aqui é, acima de tudo, um ato de defesa do professor, dos alunos, dessa escola, mas também de um princípio; o princípio dos direitos humanos, o princípio da liberdade de expressão. Não é a polícia que vai dizer o que o professor deve ou não deve ensinar, ou questionar o conteúdo do ensino. Pelo amor de Deus, não tem condições um negócio desses!” A charge utilizada pelos alunos foi criada por Latuff em 2013, após a Câmara Municipal de São Paulo resolver homenagear as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar. A imagem mostra uma caveira vestida de policial segurando uma caixa com um cadáver e os dizeres: “pelos relevantes serviços prestados”. A PM não gostou da referência feita no trabalho dos estudantes e, por meio de nota, afirmou que não queria acreditar que, em pleno século XXI, profissionais da área de ensino posicionem-se de maneira discriminatória “propagando e incutindo o discurso de ódio em desfavor de profissionais da segurança, estimulando seus alunos a agirem sem embasamento e os direcionando de acordo com ideologias anacrônicas, que em nada contribuem para a melhoria da sociedade”. INQUÉRITO POLICIAL – Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Hugo Batalha, foi aberto um inquérito policial ontem para apurar o caso. Segundo ele, a atitude da PM, em divulgar o nome completo das duas alunas que fizeram o trabalho, viola o Estatuto da Criança e do Adolescente. “É proibido, não se pode expor o adolescente a situações de riscos dessa forma, isso é algo que a delegacia civil vai apurar.” Para a coordenadora da subsede de Sorocaba da Apeoesp, Magda Souza, a escola tem liberdade para trabalhar os conteúdos historicamente acumulados e relacionar esse conteúdo com a realidade. “Portanto, o que se constatou no trabalho é uma realidade e, dentro da escola, tem de ter a liberdade de pensar e refletir sobre a realidade.” Segundo ela, o ato foi em defesa da democracia, da liberdade de cátedra e contra a intervenção da polícia nas instituições de ensino.  PROTESTO – Na noite desta segunda-feira, a Apeoesp Sorocaba, em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, promoveu um ato em repúdio à intervenção da Polícia Militar na EE “Professor Aggêo Pereira do Amaral”. O protesto contou com a presença do chargista e ativista político Carlos Latuff, e, também, de outras entidades ligadas aos Direitos Humanos.  

  2. Moro, Cardozo e PF agora boicotam CPI da Petrobras

    Do Tijolaço

    Moro, Cardozo e PF agora boicotam CPI da Petrobras

     

    luizsergio

     

    Estranha inversão de papéis: criada para ser um centro de desgaste do Governo, a CPI da Petrobras na Câmara passou a ser boicotada pelos “adversários” informais de Dilma Roussef: o juiz Sérgio Moro, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e a Polícia Federal.

    Hoje, segundo nota publicada no site do PT, o relator da Comissão, o deputado petista Luiz Sérgio, reclamou publicamente dos três.

    Cardozo não enviou à Comissão, como solicitado, o resultado da sindicância que apura os responsáveis pelo grampo colocado na cela do doleiro Alberto Youssef sem autorização judicial.

    Moro recusou-se a enviar os dados do inquérito que corre em Curitiba, dizendo que estes “não vem ao caso”:  “Como bem registrado pelo Ministério Público Federal, os fatos objetos de investigação neste inquérito policial diferem daqueles que estão sendo apurados pela CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados”, escreveu o juiz a quem Gilmar Mendes, um dia, chamou de  “juiz absolutista, acima da própria Justiça”.

    E a Polícia Federal “justificou” o não comparecimento do delegado Renato Herrera e da agente Maria Inês Slussarek  da seguinte e pitoresca maneira descrita pelo deputado: “A polícia informou que soube informalmente que eles vão entrar com licença médica. Eu nunca vi um órgão público justificar a outro órgão público que soube, informalmente, que o funcionário vai apresentar licença médica.”

    Que beleza!

    Alguém precisa avisar à Câmara dos Deputados que ela só serve para “impichar” a Dilma e que o Juiz Moro e a Polícia Federal devem cooperação a uma investigação que, embora tenha surgido por vontade política, é legal, constitucional e tem poderes inclusive de conduzir testemunhas.

    Luiz Sérgio chamou de “brincadeira” o que está acontecendo.

    Eu prefiro chamar de deboche.

    Não apenas dos deputados ou da instituição Câmara dos Deputados.  Deboche feito à apuração da verdade, que não é propriedade de Moro, de Cardozo ou dos delegados de polícia.

    http://tijolaco.com.br/blog/moro-cardozo-e-pf-agora-boicotam-cpi-da-petrobras/

     

  3. Processar ou não processar Bicudo? Por Paulo Nogueira

    Do DCM

    Processar ou não processar Bicudo? Por Paulo Nogueira

     

    Postado em 29 set 2015  por :     Final de vida patético

    Final de vida patético

    De repente o Brasil foi tomado por absurdos.

    ADVERTISEMENT

    Marta Suplicy, por exemplo, entra no PMDB para combater a corrupção.

     

    Alckmin ganha um prêmio por gestão hídrica e diz que, modéstia à parte, mereceu.

    O STF proíbe financiamento privado de campanha e, mesmo assim, Cunha e Renan tramam para derrubar a proibição.

    E então chegamos a Helio Bicudo, um absurdo em si.

    O que fazer com um homem de 93 anos que se comporta como um adolescente irresponsável?

    Imagino que Lula, o alvo maior de Bicudo, esteja se fazendo a pergunta acima.

    Acertamente, ainda que com atraso, Lula passou a buscar justiça quando se sentiu injustiçado, e já é respeitável o número de processos que ele pôs na praça.

    Pelas barbaridades que vem falando, Bicudo tinha que ser acionado. Mas ele já se aproxima dos 100 anos.

    Como processar um velhinho centenário sem parecer um monstro?

    Suspeito, apenas suspeito, que ele saiba que a idade lhe dá liberdade de dizer o que quer sem consequências.

    Não vejo outra explicação.

    No Roda Viva, ele disse que conheceu Lula quando este morava numa casa de 40 metros quadrados.

    E daí?

    Isso pertence a um passado ancestral.

    Como era a casa de Bicudo quando ele se iniciou na vida? A não ser que fosse rico, não devia ter muito mais de 40 metros quadrados.

    Lula ascendeu. Foi duas vezes presidente. Saiu e se transformou num dos palestrantes mais bem pagos do mundo, coisa na casa de 100 mil dólares a hora, ou mais.

    Ou Bicudo acha que Lula permaneceu com a mesma renda que tinha quando, há décadas, se conheceram?

    Bicudo é um embaraço nacional, a esta altura da vida.

    Ele conseguiu promover desunião até em sua família.

    Os leitores do DCM se lembram do depoimento constrangido que um de seus filhos deu, há poucos dias, sobre as peripécias golpistas do pai.  O retrato que emergiu do filho foi o de um homem frívolo, vaidoso, rancoroso — além de um pai daqueles que, francamente, ninguém quer ter.

    Pois hoje, este mesmo filho deve ter dormido mal depois do Roda Viva com o pai. Ele curtiu um texto sobre o programa, escrito por Kiko Nogueira, que foi postado em nossa página no Facebook às 5 da manhã.

    Volto a Lula: como agir com um ancião que calunia você?

    Não sei, francamente.

    Se ele tem lucidez para despejar injúrias, deveria estar preparado para enfrentar a Justiça.

    Mas não é uma decisão fácil. Bicudo provavelmente entraria no Guiness como o processado mais velho do mundo.

    Suspeito que Lula não o processará, embora ele merecesse.

    E encerro com uma reflexão.

    Para chegar aos 93 como Bicudo prefiro ir antes.

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/processar-ou-nao-processar-bicudo-por-paulo-nogueira/

  4. O Roda Viva de Hélio Bicudo prestou um serviço contra o impeachm

    Do DCM

    O Roda Viva de Hélio Bicudo prestou um serviço contra o impeachment. Por Kiko Nogueira

     

    Postado em 29 set 2015  por :

     

    [video:https://youtu.be/LsDB9fCqGaQ%5D

     

     Se o Roda Viva já não podia ser levado muito a sério como programa estritamente jornalístico há algum tempo, um novo recorde de indigência foi batido na entrevista com Hélio Bicudo e a professora da USP Janaína Paschoal (quem?).

    Não apenas os dois entrevistados passearam sua ira numa boa diante de uma bancada camarada como, no final, todos se juntaram numa salva de palmas, como se estivessem numa festa de aniversário de um parente esquisito.

    Perdeu-se completamente a noção do ridículo. Não há mais a necessidade sequer de manter as aparências. O Roda Viva eliminou qualquer sinal de jornalismo. É o mais perto do que George Orwell chamou de “Ministério da Verdade” em “1984”.

    A certa altura, Bicudo apontou que faltava um empurrão da imprensa para o impeachment. Diego Escosteguy, redator-chefe da Época, estranhou: “A imprensa, doutor…??” Faltou completar: “Mais do que estamos fazendo, parça”?

    “O Lula se corrompeu e corrompe a sociedade brasileira como ela é hoje através da sua atuação como presidente da República”, falou Bicudo.

    “O que mais me impressionou foi o enriquecimento ilícito do Lula. Ninguém fala nisso, mas eu conheci o Lula numa casa de 40 metros quadrados. Hoje, o Lula é uma das grandes fortunas do país. Ele e os seus filhos”.

    O entrevistado não apresentou um mísero documento para sustentar suas acusações. Não foi preciso, já que ninguém pediu.

    É como se HB tivesse dito a coisa mais natural do mundo, um boa noite, e não feito uma denúncia gravíssima. Como estão todos numa só trincheira, não houve uma simples indagação se o homem tinha qualquer coisa remotamente parecida com uma prova.

    Ao lado de Bicudo, Janaína, com uma voz metálica, repetia clichês sobre a ditadura bolivariana dignas de uma revoltada on line. Numa manobra clássica, se definiu como “nem de extrema direita, nem de extrema esquerda”. Babava de ódio. É de se lamentar o destino de seus alunos.

    Paradoxalmente, com a tomada de partido de forma tão canhestra, o programa deixou transparente a fragilidade do que procurou defender. Mais do mesmo, num show de horrores.

    Não que tenha sido algum dia uma grande maravilha, mas o resto de decoro do Roda Viva desapareceu de vez na segunda feira e nem o impeachment de Augusto Nunes será capaz de salvar o negócio.

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-roda-viva-de-helio-bicudo-prestou-um-servico-contra-o-impeachment-por-kiko-nogueira/

  5. Dilma veta financiamento empresarial de campanhas eleitorais

    Paulo Victor Chagas – Repórter da Agência Brasil—9/09/2015 22p6—Brasília

    A presidenta Dilma sancionou com vetos a lei da minirreforma eleitoral. A nova legislação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União, na noite desta terça-feira (29).
    Dentre os vetos, está o inciso que permite a doação de empresas para campanhas eleitorais de candidatos, repassadas por meio de partidos políticos ou comitês financeiros das coligações.

    Também foi vetado o dispositivo que determinava a impressão dos votos dos eleitores pela urna eletrônica.

    Dilma Rousseff decidiu vetar o financiamento empresarial de campanhas devido à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) do último dia 17 de setembro. Nas justificativas dos vetos, a presidenta alega que ouviu o Ministério da Justiça e a Advocacia-Geral da União (AGU), segundo os quais esse tipo de contribuições financeiras confrontariam a “a igualdade política e os princípios republicano e democrático”.

    De acordo com mensagem presidencial encaminhada ao Congresso, com as razões do veto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estimou em R$ 1,8 bilhão os custos com o registro impresso dos votos dos eleitores.
    Por conta desses “altos custos” da implementação da medida, o dois artigos sobre o tema foram vetados pela presidenta.

    O projeto de lei 5735/2013 foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado no início do mês. Com a decisão de Dilma, os parlamentares devem se reunir em sessão solene do Congresso Nacional para analisar os vetos, podendo derrubá-los ou não.
    Edição: Maria Cláudia

    URL:
    http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2015-09/dilma-veta-financiamento-empresarial-de-campanhas-eleitorais

  6. O pau vai quebrar?

    Dilma veta, Renan recua e dinheiro de empresas nas campanhas fica mais longe

     

    veto

     

    Não apenas houve o esperado veto de Dilma Rousseff ao financiamento privado de partidos e de campanhas eleitorais como, para desgraça de Eduardo Cunha, ficaram mais distantes as suas possibilidades de manipular o desejo da maioria dos deputados  pelo restabelecimento da possibilidade de receberem doações de empresas.

     

    Com a negativa de Renan Calheiros de colocar em votação o veto presidencial na mesma sessão prevista para amanhã, Cunha perde a possibilidade de ter uma sessão “cheia” para a tentativa de, pelo menos, marcar posição com uma possível maioria pela derrubada do veto, mesmo que isto não prevalecesse, ante a falta de maioria no Senado, o que é indispensável para a derrogação da manifestação da Presidenta.

     

    Agora, Cunha anuncia que tentará obstruir a própria sessão do Congresso, convocando seguidamente  sessões da Câmara, amanhã, para inviabilizar a realização da sessão do Congresso que, regimentalmente, tem de se dar no plenário da Câmara, após o encerramento da sua sessão.

     

    Parece brincadeira de meninos, não é? Mas Cunha agora é quem terá de sustentar “casa cheia” para levar adiante seu plano de boicote à votação dos vetos. Porque, iniciada a “ordem do dia” – e Cunha não pode postergar isso indefinidamente – será possível pedir verificação de quórum e derrubar a sessão.

     

    Amanhã cada lado começa a mostrar o tamanho de suas forças e preparar a batalha do impeachment.

     

    Vai ser um dia de “guerra”, a menos que Cunha recue, por incerteza do resultado, que a gente vai tentar acompanhar aqui.

     

    E, enquanto a briga prossegue por lá, claro, o mercado vai fazendo a sua parte para manter o clima de desconfiança, com mais um dia de altas e quedas de bolsa e dólar.

     

    E o povo, nessa, vai dicando atônito, olhando o “vossa excelência para cá, o vossa excelência pra lá”, sem que ninguém lhe diga o que está em jogo.

     

     

  7. Em São Paulo a Opus Dei interfere de tudo

    Aberto inquérito para apurar denúncia: PM de Alckmin dá uma de DOPS, tenta censurar trabalho escolar e expõe professor e menores a agressões nas redes sociais

    publicado em 29 de setembro de 2015 às 20:33 no Vi o Mundo

    Polícia Política - Sorocaba, SP

    por Luiz Carlos Azenha, Caio Castor e Paola Carmello (clique na foto acima para ver o álbum no Flickr)

    É como se duas jovens adolescentes, de apenas 14 anos de idade, “cumprissem pena” no interior de São Paulo. Elas não cometeram qualquer crime. São estudantes da Escola Estadual Professor Aggêo Pereira do Amaral, em Sorocaba, que fica a 100 quilômetros daquela que deveria ser a mais progressista metrópole da América Latina.

    A pena a que as jovens foram condenadas, nas redes sociais, é por suposto “comportamento indócil”. Irônica — e tristemente — as adolescentes são exemplos vivos das teorias que o filósofo francês Michel Foucault desenvolveu em seu brilhante “Vigiar e Punir” [aqui, em PDF], publicado em 1975.

    Foucault, num resumo brevíssimo: “Historicamente, o processo pelo qual a burguesia se tornou no decorrer do século XVIII a classe politicamente dominante, abrigou-se atrás da instalação de um quadro jurídico explícito, codificado, formalmente igualitário, e através da organização de um regime de tipo parlamentar representativo. Mas o desenvolvimento e a generalização dos dispositivos disciplinares constituíram a outra vertente, obscura, desse processo. A forma jurídica geral que garantia um sistema de direitos em princípio igualitários era sustentada por esses mecanismos miúdos, cotidianos e físicos, por todos esses sistemas de micropoder essencialmente inigualitários e assimétricos que constituem as disciplinas”.

    Ou seja: em vez do enforcamento e da guilhotina comuns nas monarquias, quando os crimes eram contra o rei, “dispositivos disciplinares” supostamente neutros e “igualitários”. Hospitais psiquiátricos, prisões e escolas cujas regras produzem o que Foucault chamou de “corpos dóceis”, submissos, indesejados pelo capital ou reprodutores da injustiça e da desigualdade.

    A punição informal às adolescentes de Sorocaba, condenadas ao medo — e, por extensão, aos parentes delas, que estão muito nervosos com a situação — deveu-se justamente a um trabalho escolar sobre a obra de Foucault, que faz parte do currículo escolar oficial no Estado de São Paulo.

    E, mais uma vez de forma irônica — e perversa — foi resultado da ação de uma corporação estatal — a Polícia Militar — cuja missão anunciada é a de “servir e proteger”. A quem, não pretendemos discutir neste texto.

    Captura de Tela 2015-09-29 às 21.10.03

     

    [Os repórteres do Viomundo foram a Sorocaba graças ao financiamento de nossos assinantes, a quem agradecemos. A sobrevivência deste blog na UTI depende de você]

    O caso, segundo descrito por professores da escola — que também preferem não se identificar, por temerem represálias –, começou quando alguém fez uma foto de um dos muitos trabalhos sobre Foucault que estavam em exposição na escola e reproduziu em seu grupo no WhatsApp.

    Logo o assunto se espalhou pelas redes sociais e foi parar em páginas do Facebook de apoiadores da Polícia Militar – segundo o site G1, dentre eles o Admiradores da Rota e o Sargento Alexandre. A PM paulista tem mais de 100 mil homens e uma estratégia de comunicação que enfatiza os salvamentos aéreos, os partos realizados por policiais e crianças fardadas.

    [A Rota — Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar — foi brilhantemente descrita pelo repórter Caco Barcellos em livro]

    A desmilitarização das polícias é um tema candente. As PMs no Brasil surgiram para combater o “inimigo interno” durante a ditadura militar e ainda são tropas subordinadas ao Exército. Hoje, “combatem” basicamente na periferia e matam um número desproporcional de pretos, jovens e pobres.

    No caso específico do qual tratamos, o que surpreendeu a direção, os professores e alunos da Escola Estadual Professor Aggêo Pereira do Amaral foi o comportamento oficial da corporação.

    Uma tenente da PM de Sorocaba, acompanhada de dois cabos, foi à escola exigir a remoção do cartaz. “Aqui tem uma apologia ao PCC”, teria dito ela, sempre segundo a descrição dos professores.

    É um papel de fazer inveja ao antigo Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS, a polícia política extinta com o “fim” da ditadura militar, em 1985. Isso eu, Azenha, testemunhei pessoalmente como criança: policiais do DOPS, sem mandado judicial, invadindo minha casa para remover livros “subversivos”, inclusive romances encapados de vermelho!

    PCC é o Primeiro Comando da Capital, que controla as penitenciárias de São Paulo e de vários outros estados brasileiros. Em 2006, depois de uma onda de ataques promovidos pela facção, o governador paulista Geraldo Alckmin, ao qual a PM é supostamente subordinada, teria feito um acordo com o PCC, segundo declaração recente de um delegado feita em depoimento judicial.

    O professor de filosofia Valdir Volpato tentou explicar aos policiais que se tratava de um trabalho escolar mais complexo que aquela imagem isolada, que o tema é parte do currículo oficial e denunciou a intervenção da PM como tentativa de “censura”. A tenente, na descrição de uma colega de Volpato, disse que ao lado daquele cartaz deveria estar outro, louvando o trabalho da Polícia Militar.

    O mais surpreendente viria nas horas seguintes. Diante da negativa dos professores e dirigentes da escola de retirar o cartaz, a Polícia Militar de São Paulo publicou nota oficial em seu site no Facebook. Do conteúdo é possível inferir a intenção da corporação de definir o que pode ou não ser dito nas escolas:

    ESCLARECIMENTO E REPÚDIO

    Cabe à Diretoria de Ensino, Região de Sorocaba, pronunciar-se sobre a veracidade do material e sobre a real qualidade de professor do senhor VALDIR VOLPATO.

    Não queremos acreditar que, em pleno século XXI, profissionais da área de ensino posicionem-se de maneira discriminatória, propagando e incutindo o discurso de ódio em desfavor de profissionais da segurança, estimulando seus alunos a agirem sem embasamento e direcionando-os de acordo com ideologias anacrônicas, que em nada contribuem para a melhoria da sociedade.

    A Polícia Militar de São Paulo e seus policiais, retratados numa infeliz charge, sempre difundida por determinados e conhecidos grupos, sempre foi e será grande defensora dos Direitos Humanos e dos deveres morais, éticos e legais da sociedade.

    Estimular trabalhos apenas com pesquisas em Internet, matérias jornalísticas e material de criação confeccionados por pessoas parciais, está longe de ser uma metodologia aceitável. É preciso ter responsabilidade no processo de ensino.

    A Polícia Militar está, como sempre esteve, de portas abertas a quem quiser conhecê-la e repudia a postura do infeliz professor, caso efetivamente tenha ocorrido esse erro lastimável.

    CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PMESP

    Em primeiro lugar, a PM se coloca num papel que constitucionalmente não é o seu, o de arbitrar o que é ou não metodologia de ensino aceitável.

    Em segundo lugar, denuncia nominalmente o professor, que define como “infeliz”, antes mesmo de conhecer os fatos, o que admite ao dizer “caso efetivamente tenha ocorrido esse erro lastimável”. Apenas corrobora, no setor de comunicação, práticas das quais é acusada no dia-a dia: atira primeiro e esclarece depois.

    Em terceiro lugar, usa um linguajar que remete à ditadura militar, quando fala em “ideologias anacrônicas” sem dizer quais ela pretende permitir e quais condena — como se fosse seu papel fazê-lo.

    Em quarto lugar, ao reproduzir o cartaz que pretendia remover da escola, a corporação não teve o cuidado de proteger a identidade das duas menores de idade, que passaram a ser achincalhadas nas redes sociais. Uma irresponsabilidade inaceitável para quem publica fotos de bebês de farda.

    Como se vê abaixo, o portal G1, das Organizações Globo, teve o cuidado que faltou à PM paulista:

    Captura de Tela 2015-09-29 às 19.25.58

    Embora temendo pela própria vida, as menores redigiram uma nota curta (veja o vídeo) que foi lida por um colega durante a sessão de desagravo que aconteceu nesta segunda-feira 28, em Sorocaba. O cartunista Latuff, autor do desenho que gerou a controvérsia, veio de Porto Alegre prestar solidariedade.

    Gostem ou não dos desenhos do Latuff, o inciso nono do artigo V da Constituição de 1988, vigente no Brasil, diz:

    IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

    A Polícia Militar paulista, ao que se saiba, não está acima da Constituição. Ou, pelo menos, ainda não!

    O deputado Raul Marcelo (PSOL-SP) protocolou requerimento junto ao secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes (veja trechos abaixo). Ele contém dez perguntas. Segundo o parlamentar, “as instituições públicas devem sempre observar o limite de suas atribuições constitucionais, sob pena de exorbitar os limites que o constituinte lhes concedeu”.

    Captura de Tela 2015-09-29 às 19.38.32Captura de Tela 2015-09-29 às 19.47.44

    A seccional da OAB de Sorocaba pediu abertura de inquérito policial para apurar abuso de autoridade e violação do Estatuto do Menor e do Adolescente (ECA), devido à exposição indevida dos nomes das menores de idade pela Polícia Militar. A tomada de depoimentos estava prevista para ter início hoje.

    Dois dirigentes do grêmio estudantil da ETEC Rubens de Faria e Souza, da mesma cidade, compareceram ao evento se dispondo a promover a mesma exposição também naquela escola.

    “Putinhas e bandidos, é o que dizem da gente por aí”, afirmou uma estudante ao chegar recentemente às aulas, segundo o relato de uma professora.

    Embora temendo individualmente a possibilidade de represálias, inclusive de violência física, os estudantes do professor Volpato lançaram nas redes sociais a campanha #SomosTodosAggêo.

    Ainda que involuntariamente, a PM paulista prestou neste caso um serviço: provou que no Brasil Foucault está mais atual do que nunca.

    Abaixo, as falas no evento do advogado Hugo Batalha, da Comissão de Direitos Humanos da OAB – Sorocaba, e do cartunista Latuff (nosso obrigado à Carolina Keppler):

    OBS: infelizmente não tive como postar as falas no evento do advogado Hugo Batalha aqui no Blog. Mas segue o link da matéria completa:

    http://www.viomundo.com.br/denuncias/aberto-inquerito-para-apurar-denuncia-pm-de-alckmin-da-uma-de-policia-politica-tenta-censurar-trabalho-escolar-e-expoe-professor-e-menores-a-agressoes-nas-redes.html

  8. A crise dos EUA
    Pelo jeito crise mesmo é a dos EUA: desde 2009 não havia tantas empresas em default nos EUA; estima-se que existam 2,5 trilhões de dólares em títulos podres nos EUA. Tem mais. Escuta o que disse Nicholas Colas, estrategista de mercado de Wall Street: “A questão não é mais apenas relacionada ao dólar e ao petróleo, começamos a nos preocupar com o estado da economia dos EUA”. Com vocês a reportagem de ontem do Financial Times.

    US junk bonds cracking after debt binge

    Eric Platt and Nicole Bullock in New York

    After the debt binge comes the bill, and that is the grim message for investors looking at the present performance of the US corporate bond market.

    As the third quarter draws to a close, slowing global economic activity threatens the earnings power of many US companies, which have amassed $7.8tn in debt. Years of easy monetary policy that kept borrowing costs low, a wave of mergers and acquisitions and the spectre of shareholder activism have all contributed to an erosion of balance sheet quality.

    Most vulnerable are junk-rated companies, which account for $2.5tn of the recent US corporate debt binge, with bonds worth roughly $1.5tn set to mature over the next five years, according to S&P. Refinancing that amount may prove a hurdle for corporate executives and chief financial officers if earnings come under more pressure.

    Michael Contopoulos, a strategist with Bank of America Merrill Lynch, said: “Finally investors are starting to wake up. They are starting to trade on earnings and they’re starting to trade on downgrades.”

    For the first time since the financial crisis, total returns from speculative grade US debt — generally riskier bonds issued by companies rated BB+ or lower by Standard & Poor’s or Ba1 by Moody’s — are set to decline. The Barclays US high yield index is down 2.3 per cent for 2015.

    As borrowing costs rise and defaults have accelerated, investors have withdrawn more than $14bn from junk bond funds since the middle of April. The yield on the BofA Merrill Lynch high yield index has climbed to 7.98 per cent from 6.52 per cent a year ago.

    “We are in the late stages of the credit cycle,” said Edwin Tai, a distressed debt portfolio manager at Newfleet Asset Management. “Cycles last five to seven years and we’re in the seventh year. It’s when the US economy slows that you have defaults across the board.”

    Already in 2015, more US companies have defaulted than at any time since 2009, according to S&P. The list of 47 filings includes RadioShack, Patriot Coal and Quiksilver, the surfwear retailer.

    S&P analysts expect the default rate to nearly double to 2.9 per cent by June 2016 from June 2014, warning that “the current crop of US speculative-grade issuers appears weak to us and particularly susceptible to any sudden or unanticipated shocks”.

    Lists of the companies that occupy the lowest rating rungs compiled by both Moody’s and S&P have swelled and include well-known groups such as Sears, Getty Images, Advanced Micro Devices, California Pizza Kitchen, Caesars Entertainment and Goodrich Petroleum.

    What began as weakness in the coal sector 18 months ago has swept across the energy sector following sharply falling oil prices, say strategists with BofA Merrill Lynch. But that fragility has also spread across the retail, food, semiconductor and telecoms industries.

    Investors are demanding a greater premium from junk-rated companies seeking to secure funding.

    Last week Altice, the French cable giant, was forced to lower the size of a bond offering to finance its takeover of Cablevision.

    Weakening equity and bond prices reflect falling profits at US junk-rated companies, which face the dual challenges of sliding commodity prices and slowing international growth.

    Earnings before interest, taxes, depreciation and amortisation tumbled 39.3 per cent in the second quarter from a year earlier — the greatest decline since at least the turn of this century, according to Bank of America Merrill Lynch.

    Nicholas Colas, chief market strategist at Convergex, said: “It is not just the dollar, it is not just oil any more, it is beginning to be worries about the state of the US economy.”

    Excluding the energy sector, ebitda has slipped by nearly a tenth at companies in the BofA Merrill Lynch high-yield index, which encompasses roughly 60 per cent of the US junk bond market.

    The slide in earnings has also elevated leverage to its highest level in almost 15 years. The debt burden of high-yield companies climbed to 4.82 times trailing 12-month earnings at the end of the second quarter, according to BofA Merrill Lynch.

    Mr Contopoulos characterised the rise in leverage as “unsustainable”, as companies increasingly earmarked debt offerings for shareholder returns — including buybacks and dividends — and mergers and acquisitions.

    DoubleLine Capital, the bond fund manager, has lowered its allocation in its core fixed income fund away from junk bonds, portfolio manager Kapil Singh notes.

    “The US economy feels like it is continuing to muddle along,” Mr Singh said. “It’s clear to see over the past year . . . that growth is slowing in sales and ebitda.”

  9. Um brasileiro e a logística dos campos de refugiados da ONU

    Quero sugerir que vcs entrevistem o brasileiro que concedeu essa entrevista fenomenal (Ele é mineiro de BH, engenheiro químico e especialista em gerenciamento de projetos. Atualmente, é Diretor de Projetos da UNOPS/ONU em Copenhagen. Já foi diretor mundial do PMI:

     

    http://m.zerohora.com.br/284/noticias/4856661/como-nascem-as-cidades-de-refugiados-espalhadas-pelo-mundo

    Como nascem as “cidades” de refugiados espalhadas pelo mundo – Zero Hora

    Neste momento em que o drama humanitário de pessoas desesperançadas comove o mundo e impõe um dilema à Europa, há campos de refugiados que já chegam a 150 mil habitantes. São algo como cidades que têm comércio, hospitais, escolas e até ruas com denominação própria. Tudo é transitório, mas vai se consolidando com jeito de permanente, em um paradoxo cujo maior símbolo é o de crianças que nascem e crescem em lugares assim.

    O brasileiro Ricardo Vargas, especialista em gerenciamento de projetos, é um dos responsáveis  das Nações Unidas por criar as condições para que esses campos de refugiados recebam infraestrutura e gestão adequadas.

    – Fazemos a ponte entre a ideia e o resultado real – diz Vargas.

    Ao comentar a foto do menino sírio Aylan Kurdi, morto às margens do Mar Egeu, na Turquia,  no dia 2 de setembro, Vargas faz uma ponderação e um pedido. A ponderação: a tragédia dos refugiados não aumentou. Apenas se tornou mais visível. O pedido: que se tenha “compaixão”.

    São 8 mil pessoas envolvidas na administração de centenas de campos. O brasileiro as coordena. As obras são arrojadas. Dois meses atrás, foi colocado um sistema de iluminação com painéis em 34 campos no Curdistão, na área curda do Iraque.

    – Foi um projeto maravilhoso. São painéis que captam a luz do sol e carregam uma lâmpada como se fosse uma tocha. Isso devolveu vida àquele campo. Aumentou extremamente a segurança de crianças e mulheres – conta Vargas.

    E há o dilema: esses profissionais sabem que suas funções existem apenas em razão dos conflitos. Preferiam que não existissem.

    ENTREVISTA

    “Aylan foi a face visível de um problema terrível”, diz engenheiro da ONU

    O engenheiro químico Ricardo Vargas, 43 anos, é especialista em gerenciamento de projetos. Uma de suas missões como integrante do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (Unops) é possibilitar que os campos de refugiados tenham a estrutura adequada para receber os migrantes que se veem obrigados a deixar seus países de origem. Autor de 11 livros, o mineiro com domicílio em Copenhague, na Dinamarca, esteve em Porto Alegre para participar do 12º Seminário de Gerenciamento de Projetos, promovido pelo Project Management Institute (PMI). A seguir, a entrevista que ele concedeu a Zero Hora:

    Como manter os refugiados em condições mínimas de vida, que inclusive impeçam a saída arriscada para outros países?
    A estrutura do campo é humanitária. Ou seja, você tem o refúgio. E a maior parte das pessoas tem dificuldade de entender: os refugiados estão extremamente fragilizados, estão fugindo da guerra, da morte. Não estamos falando num processo migratório normal. Estamos falando num processo de conflito. A estrutura dos campos serve para tentar, de um ponto de vista provisório, dar algum tipo de suporte para essas pessoas. Você cria o campo não só para dar uma habitação, mas para dar uma condição digna de vida.

    Que condições dignas de vida seriam essas?
    Os campos para os quais a gente dá suporte têm até escolas, porque uma das nossas metas é tentar traduzir a normalidade. Estamos falando em pequenas ou até grandes cidades. Muitas vezes, são locais de difícil acesso, de logística complexa. O Escritório de Serviços de Projetos da ONU viabiliza toda essa parte de aquisição logística, de infraestrutura e de gestão. Uma coisa é você ter o caso do vírus ebola e o governo brasileiro falar que vai doar contêineres com roupas protetivas. Na maioria das vezes, esse material vai chegar num porto, em algum lugar. Quem é que vai transformar isso que chegou no porto em uma veste protetiva no interior de Serra Leoa? Muitas vezes, nem estrada você tem. Fazemos a ponte entre a ideia e o resultado real. Temos pessoal especializado em engenharia e gestão para fazer as coisas acontecerem.

    O que tem nesses campos?
    Depende do tamanho. O campo de Zaatari, na Jordânia, é o que atende a maior parte dos refugiados provenientes da Síria. São algo como 150 mil pessoas, é uma cidade, com escolas, força policial, posto de saúde, padaria comunitária, supermercado comunitário, área de convívio, área esportiva.

    Há casos de refugiados que conseguem exercer sua profissão nesses campos?
    Dentro da governança do campo, o primeiro objetivo é o de garantir os mecanismos básicos de sobrevivência. Essas pessoas não chegam em situação normal. São pessoas que caminharam por dias, estão famintas. A primeira coisa a ser feita é assegurar se estão com a saúde correta. Depois, é o atendimento psicológico. Ainda depois, a reintegração e o estabelecimento de uma mínima normalidade para essas pessoas. Esse é o objetivo, o que inclui ver a habilidade que o refugiado tem que lhe permita contribuir de alguma forma. Poxa, você padeiro? Pô, você pode fazer pão para sua comunidade. Nós doamos a farinha, e você começa. Lógico que temos campos muito básicos e outros maiores. Pensa-se que os campos são só barracas. Não são. É comida, energia elétrica.

    Quem são os “prefeitos” dessas “cidades”?
    Todo campo tem um prefeito do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur). Há um líder, que é o gestor do campo. Tecnicamente, poderíamos chamar de prefeito. Na maioria das vezes, as melhorias num campo são feitas a pedido dessa pessoa.

    E se tem crime dentro do campo? Tem polícia?
    Tem polícia, sim. O Judiciário também, dentro do sistema jurídico do país onde está o campo. Já construímos detenções dentro dos campos de refugiados. Não administramos, mas construímos as instalações.

    Foto de menino afogado na Turquia gera comoção na Europa

    Garoto sírio se torna o rosto do drama dos refugiados

    Faz três anos que o senhor está trabalhando nisso. O maior desafio é o de agora, com essa onda de refugiados que chegam à Europa?
    O momento é crítico, mas o que ocorre de diferente é que ele está muito visível na mídia. Mas há muitos desafios ocorrendo em muitas partes do mundo, que infelizmente não estão tendo o mesmo registro. Na verdade, está acontecendo muito. A morte do menino sírio Aylan Kurdi na Turquia foi muito visível, muito próxima, virou uma mensagem. É uma imagem muito impactante.

    O menino se tornou mártir?
    Sim. Mas, infelizmente, existem desafios assim em inúmeras partes do mundo, todos os dias, e que não estão saindo na TV. Aylan foi um símbolo, foi a face visível de um problema terrível.

    David Coimbra: o menino sírio

    Luiz Antônio Araujo: Ver, registrar e lembrar

    De todos os conflitos decorrentes da Primavera Árabe, a guerra na Síria é o que aindanão terminou. Os sírios aceitam ficar tanto tempo em campos de refugiados?
    O que tem ocorrido é que quanto mais rápido se resolve a crise, mais sólido é o restabelecimento. Com guerras que duram tanto tempo, os campos de refugiados viram cidades. As pessoas se estabelecem, casam-se, têm vida, têm filhos. Criam vínculo. E o campo é conceito temporário. E em alguns casos o temporário vira permanente. Tem campo, como o de Zaatari, que é de 2011.

    Os países europeus, em especial os governos de direita, alegam que, entre os refugiados, pode haver terrorista infiltrado. Como se faz esse controle?
    Isso é com cada país, com seus serviços de inteligência. A ONU tem trabalho humanitário. O que podemos dizer é que esses refugiados que estão se deslocando não são oportunistas. Estamos falando na maioria esmagadora. Pessoas que perderam tudo, que tiveram de fugir para sobreviver. É preciso ter compaixão.

    Se esse temor tiver fundamento, seria minoria ínfima?
    É claro que existe um desequilíbrio natural quando há esse influxo de pessoas, isso ocorre em qualquer lugar. Se da noite para o dia aparecem 200 mil pessoas em Porto Alegre, é claro que se cria um desequilíbrio na sociedade. Mas, ao mesmo tempo, se você não receber esse influxo, você está condenando à morte essas 200 mil pessoas. É um dilema. E nós temos a função de dar um mínimo de dignidade a essas pessoas até que as decisões sejam tomadas e essas pessoas possam se restabelecer em uma vida normal. É tudo o que a gente quer. A gente só existe porque existem esses conflitos. O ideal seria não precisarmos existir.

    Qual, fundamentalmente, a sua função?
    Todo o trabalho de construção da paz é muito difícil, e o meu, especificamente, é ter uma engenharia e um processo adequados para gerar o maior resultado possível com a menor despesa possível. É criar as condições para que as coisas aconteçam.

    E essas condições existem?
    Tenho muita alegria de dizer que temos uma equipe brilhante, nos aspectos técnico e humano. Quando você desloca um gestor, um engenheiro, para um país com pouca estrutura, em conflito ou com doenças, não é só a técnica que você precisa. Você precisa ter uma pessoa com vocação e motivação para aquele tipo de trabalho. Não é um trabalho normal. São pessoas que vivem em situações extremas. Os desafios são infinitos.

    EUA receberão 85 mil refugiados em 2016 e 100 mil em 2017

    Quando uma criança nasce no campo, a nacionalidade dela é a do país onde está o campo?
    Depende de onde o campo está situado e qual o acordo que existe dentro daquele campo. Há várias discussões. Muitas vezes, as pessoas não estão mudando de país. São o que chamamos de deslocados.

    Se o senhor estivesse como refugiado há três anos, continuaria no campo ou iria para a Europa?
    Todas essas situações são terríveis. Não consigo me colocar no lugar para saber o que é melhor. Vai muito da história e da cabeça dessas pessoas. Muitos querem voltar para a vida que tinham. Num mesmo campo, cada um pode ter uma decisão diferente. Acho que tem o componente da demora. As pessoas têm condições de ficar nos campos, mas eles existem para ser transitórios, e muitos têm prazo para as pessoas ficarem.

    A estrutura não é de cidade?
    Sim, porque precisamos normalizar ao máximo a vida dessas pessoas. As escolas, por exemplo, são incríveis. Podem ser escolas excelentes. Há todo um ecossistema de apoio. Mas o fundamento é a transitoriedade. E as soluções são integradas e multidisciplinares. Colocam-se luzes, ambulatórios e outros elementos de uma infraestrutura que dê condições para as pessoas viverem.

    Há um paradoxo, de algo que tem estrutura permanente para ser transitório.
    Sim, mas esses campos também podem ser levantados rapidamente. Temos a grande questão: qual é a solução para essas pessoas. Criamos estruturas temporárias para elas viverem com dignidade em uma situação emergencial.

    A história de quatro refugiados sírios que escolheram viver no RS

    Não é desconfortável, mesmo com toda a estrutura, o refugiado saber que os campos são transitórios?
    Claro. Todos querem voltar para suas vidas. Imagine que sua casa foi destruída, você perdeu gente que ama, teve de sair correndo, deixando seu carro, sua roupa, sua mala. Aí, vai para uma cidade a 300 quilômetros de Porto Alegre. No caminho, você tem um ente querido que é morto ou adoeceu. Alguém oferece um abrigo transitório, oferece a melhor condição possível. Mas como é que você está? Pô, eu tinha a minha vida.

    O conceito de refugiado foi criado em 1951. Antes disso, eram todos imigrantes. Qual a diferença?
    Hoje, o conceito de imigrante é o de quem decide mudar de país em busca de uma situação melhor. Isso não é refugiado. Refúgio é quando existe uma perseguição, uma ameaça que impeça você de ficar na atual condição e que alguém precisa lhe dar abrigo, dar um refúgio para você. O refugiado é aquele que não pode ficar no lugar onde vive. Ninguém quer ficar em um campo de refugiados, ninguém entra em um campo de refugiados para construir uma nova vida.

    Esse seu trabalho lhe dá que tipo de sentimento?
    Me dá gratificação, mas também certa depressão. Preferia não precisar fazer o que faço.

    http://m.zerohora.com.br/284/noticias/4856661/como-nascem-as-cidades-de-refugiados-espalhadas-pelo-mundo

  10. odebrecht, Lula e OGlobo

    Lula fez lobby para a Odebrecht, diz ministro em e-mail

    Conjunto de mensagens mostra influência de Marcelo Odebrecht junto ao Planalto em gestões petistas

    Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/lula-fez-lobby-para-odebrecht-diz-ministro-em-mail-17641734#ixzz3nFDtPPbW 
    © 1996 – 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

     

    Mais detalhes em

    http://oglobo.globo.com/brasil/lula-fez-lobby-para-odebrecht-diz-ministro-em-mail-17641734

  11. Essa daqui foi de doer

    http://fatoonline.com.br/conteudo/9754/dilma-decide-vetar-voto-impresso-e-financiamento-privado-de-campanha

     

    A presidente Dilma Rousseff vetou o financiamento empresarial de campanha e o voto impresso aprovados pela Câmara dos Deputados. O decreto em que a petista rejeita as mudanças na lei foi publicado em uma edição extra do Diário Oficial da União no início da noite desta terça-feira (29).

     

    A presidente também resolveu manter a janela para troca-troca partidário. A informação já havia sido antecipada pelos ministros das Comunicações, Ricardo Berzoini, novo responsável pela articulação política do governo, e da Aviação Civil, Eliseu Padilha, em reunião com líderes partidários.

    LEIA TAMBÉMCâmara repõe financiamento privado a partidos e libera troca-troca partidárioCâmara aprova voto impresso para auditoria nas eleições

    Ao vetar o financiamento privado, Dilma argumentou que a proposta enviada pelo Congresso confronta com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que considerou que o trecho da nova lei é inconstitucional. Pelo texto enviado pelos deputados, ficavam estabelecidos os limites que cada pessoa física poderia contribuir para partidos políticos. Ficou definido o limite de 20% do faturamento no total de campanhas. Dilma rejeitou o trecho.

    Já a impressão de votos foi vetada pelos custos que a esta operação geraria ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). De acordo com o tribunal, a implantação do sistema de conferência dos votos impressos custaria R$ 1,8 bilhão para as próximas eleições.  

    Janela partidária

    Dilma manteve a janela para troca-troca partidário. Com a nova norma, todos os ocupantes de cargos proporcionais (vereadores, deputados estaduais, distritais e federais) poderão trocar de partido entre o sétimo e sexto meses anteriores à eleição. Assim, de 1º a 31 de março, será possível trocar de legendas sem o receio de perder o mandato.

     

    O tema atualmente é regulamentado por uma resolução do TSE de 2007, que estabelece quatro possibilidades para trocar de partido sem ter o mandato cassado. São consideradas como justa causa para a mudança de legenda a incorporação ou fusão doe siglas, a criação de uma agremiação partidária, a mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário e grave discriminação pessoal.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador