Clipping do dia

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Redação

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  1. Ilimar Franco: como os tucanos saíram depenados do impeachment

    Tijolaço

    Ilimar Franco: como os tucanos saíram depenados do impeachment

     

    depena

    Ilimar Franco, um dos raros colunistas de política que não pratica a vaidade como componente principal de seu trabalho é, por isso, um dos mais competentes e equilibrados analistas do cenário político, até porque se desobriga de, como outros, ter um script determinado e dar atenção a este detalhe tão fora de moda chamado fato.

    E é com fatos que ele traduz uma situação que precisa ser compreendida para que tanto o Governo quanto a oposição definam suas ações: o “impeachment” de Dilma, ao menos no curto prazo, está descartado como perspectiva política e não é mais bandeira senão para grupos isolados, sem representatividade que, aliás, acabarão engendrando uma candidatura e uma organização de extrema-direita, de características de classe média urbana. coisa que não se pôde, até agora, dizer de seus histriônicos representantes eleitorais.

    A política real, de disputa pela representação se dará em torno de outras questões, não mais em torno do golpismo.

    A questão urgente – e mais que isso, decisiva em 2018 – é a de como e  quem pode se apresentar à população como capaz de resgatar o crescimento econômico, não o discurso moralista mais histérico.

    A maré da histeria passou e os tucanos se viram na praia, ao lado de Eduardo Cunha. Recuaram, como caranguejos.

    E Ilimar Franco lhes narra, com precisão, o seu atabalhoado recuo.

    O PSDB perdeu a batalha do impeachment

    Ilimar Franco, em O Globo

    Passaram-se 11 meses desde a posse da presidente reeleita, Dilma Rousseff. A crise econômica entrou o ano de 2015 galopando. O PSDB, que perdeu as eleições com 48% dos votos, pegou carona nesse galope. Desde o segundo dia de mandato adotou, como sua principal proposta programática para o país, o impeachment da presidente Dilma.

    Estamos no fim de 2015. Por isso, o núcleo estratégico do PSDB debate uma reviravolta na sua linha de ação. Avalia-se que agora se deveria dar prioridade à crise econômica. Em busca de um projeto alternativo, o vice-presidente da Executiva, Alberto Goldman, está coordenando um grupo de trabalho. Na falta dessa linha programática, alguns tucanos constatam, com desconforto, que até o PMDB já tem uma proposta para o Brasil.

    — Não podemos adotar a mesma agenda em 2016. Devemos dar prioridade à crise. O PMDB tem uma proposta para o país. O PSDB não tem um projeto definido — alerta o secretário-geral do PSDB, deputado Sílvio Torres (SP).

    Sobre as razões pelas quais a destituição da presidente Dilma não saiu, ele analisa:

    — Não saiu por dois motivos. Primeiro: o governo se recompôs. Não temos os votos necessários para recorrer de uma decisão do presidente da Câmara e muito menos os 342 para aprovar o impeachment.

    A situação enfrentada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que recebeu o apoio dos tucanos até a última terça-feira, é o segundo fundamento que explica por que fracassou a campanha pelo impeachment.

    — O Eduardo Cunha foi se enfraquecendo muito. A saída de Eduardo Cunha é uma exigência. Como ele pode decidir o encaminhamento da votação dos projetos mais importantes para a economia do país? — completa Torres.

    Dito isso, não é o caso de debater quem tem razão. Ou do que cada um merece. Se as decisões do TCU ou do TSE são suficientes ou não. Se é necessário, ou não, uma ligação direta da presidente Dilma com a Lava-Jato. Ou se ela sabia ou não do que acontecia na Petrobras. Nem se a derrota da luta pelo impeachment é definitiva ou temporária. Mas cabe analisar friamente o retrato do momento e por que a palavra de ordem da oposição não foi adiante.

    1. O PSDB não tem apoio social suficiente para empunhar essa bandeira sozinho. Especialistas dizem que o partido tem o respaldo (direto) entre 15% a 20% dos eleitores nacionais. Sendo assim, o restante de seus votos (como o de qualquer outro partido) é de quem é “anti” alguma coisa.

    2. Para o PSDB levar adiante o impeachment, é preciso muito mais que as ruas. O partido deveria estar unido internamente em torno dessa bandeira. Até hoje não está. A legenda deveria reconhecer suas limitações e buscar o apoio de outras forças políticas. Não foi o que os tucanos fizeram. Aliás, a história recente ensina que a unidade das forças foi decisiva no impeachment do ex-presidente Fernando Collor.

    3. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, apostou na divisão. Adotou como sua palavra de ordem “Eleições Já”. Seria o caso de perguntar: ela contribuiu para unir ou dividir as forças políticas? Vamos nos ater ao PMDB. O partido que elegeu o vice-presidente da República.

    Um experiente consultor político faz as seguintes perguntas: “Será que o PMDB toparia novas eleições e ser excluído do poder? O partido tem o vice-presidente. Será que ele se conformaria em mendigar a vice na chapa dos tucanos? O partido tem sete ministérios. Será que ele derrubaria a presidente Dilma para depois implorar ao PSDB para que tenha seus sete ministérios?

    Enfim, ao defender novas eleições, o PSDB mandou o recado que também queria a cabeça do vice Michel Temer.

    4. O alvo do impeachment, a presidente Dilma, não pode ser comparada ao ex-presidente Fernando Collor, que era um outsider. Collor recebeu aquele voto de quem é contra tudo que está aí. Serviu para ganhar, mas não para governar. Por isso, venceu as eleições sem ter base social ou partidária. Mais uma vez, não se trata de debater quem tem ou não razão. O fato é que o PRN não é o PT. Collor e o PRN não tinham no seu entorno um cinturão de políticos e partidos aliados. Ele também não tinha apoio na sociedade, devido às suas medidas econômicas iniciais. Nem mesmo tinha ao seu lado organizações, por mais débeis que sejam, que saíriam em sua defesa, como a CUT, o MST, a UNE, a Contag, a UBES, a CTB etc

    5. Por fim, a presidente Dilma e seu governo, têm na retaguarda um líder político como Lula. Por mais quebrada que esteja sua asa, ele não pode ser desprezado. Para muitos, trata-se da maior liderança popular do país desde Getúlio Vargas. Não cabe discutir se é ou não é. As pesquisas públicas mais recentes, neste momento de maré baixa, dão ao ex-presidente a liderança, com 23%, nas pesquisas espontâneas de intenções de voto.

    Um dos políticos mais antigos, em atividade, adverte que não se deve subestimar, com o aprofundamento da crise econômica, uma personalidade política que encarna um período de bem-estar. Ele pergunta: “Será que os eleitores não verão em Lula a encarnação de quem seria capaz de trazer de volta a bonança e a prosperidade?”. Se essa imagem se criará, ou não, ninguém sabe.

    http://tijolaco.com.br/blog/ilimar-franco-como-os-tucanos-sairam-depenados-do-impeachment/

     

  2. Nasser: O Estado Islâmico é muito mais perigoso que a Al-Qaeda

    Sobre a falsa oposição Ocidente x Oriente: Não existe lado certo nessa história. Existem muitas vítimas e “meia dúzia” de responsáveis – de ambos os lados.

    Muito boa a entrevista com Reginaldo Nasser para a revista Forum.

    ***

    Professor de Relações Internacionais da PUC-SP analisa atentados terroristas em Paris e afirma que ataques militares contra o Estado Islâmico não surtirão efeito: “Fica difícil imaginar que se a França mandar alguns aviões, fizer alguns bombardeios e soltar um míssil vai acabar com o EI”

    Por Anna Beatriz Anjos

    Na última sexta-feira (13), atentados terroristas deixaram 129 mortos e 352 feridos em Paris. Segundo autoridades da França, os ataques foram executados por três grupos coordenados, que agiram em seis locais durante a noite. No sábado (14), o Estado Islâmico assumiu a autoria dos ataques, o que gerou reação imediata do governo francês: o presidente François Hollande prometeu travar “combate implacável contra o terrorismo” e o primeiro-ministro Manuel Valls assegurou que a ofensiva militar conduzida pelo país na Síria não cessará.

    Para Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), uma resposta militarizada da França no território dominado pelo EI apenas alimentará a espiral de violência, que atinge sobretudo civis de ambos os lados. “Para acabar com esse conflito é preciso secar o EI de recursos. Precisamos saber quem vende armas paras eles, de onde arrecadam dinheiro, para quem vendem petróleo – se você cortar isso, acabou a organização. Ela não vai morrer de um dia para o outro com a bomba salvadora, mas vai definhar”, argumenta. “Fica difícil imaginar que se a França mandar alguns aviões, fizer alguns bombardeios e soltar um míssil vai acabar com o Estado Islâmico – não vai. E, infelizmente, como o EI vai reagir ? Matando inocentes.”

    Confira a íntegra da entrevista que Nasser concedeu à Fórum:

    Fórum – Quais as diferenças entre o atentado à redação do Charlie Hebdo e o desta sexta-feira, em termos operacionais?

    Reginaldo Nasser – Foram vários ataques concomitantes, e quando acontece isso a gente já sabe: é planejado, organizado, porque fazer três, quatro ataques simultâneos não é fácil. Envolve uma organização muito grande, é diferente do Charlie Hebdo. Na época, falamos isso: [o ataque] era típico dos lobos solitários; é alguém que, se dizendo do Estado Islâmico, se sentiu estimulado a fazer algo. Mas esse não. Olhemos o contexto: houve um atentado no Líbano um dia antes. Teve também o ataque ao avião russo no Egito. Isso tudo revela que eles [EI] têm poder de fogo. Não é a Al-Qaeda – é muito pior.

    Fórum – É a segunda vez que atentados terroristas ocorrem na França apenas neste ano. Por que o país tem sido alvo desse tipo de ação?

    Nasser – Hoje, o Hollande decretou guerra ao Estado Islâmico, mas isso não é de hoje. Inclusive, há um artigo meu na Fórum do ano passado fazendo uma observação sobre isso: a França está declarando guerra ao Estado Islâmico faz tempo, e está atacando. Quando acontece um atentado, temos que diferenciar as motivações dos indivíduos que fizeram esse atentado e as motivações da organização que está por trás. Os indivíduos geralmente têm idade entre 20 e 25 anos, chegando até a 30; são muito exacerbados, recebem uma lavagem cerebral da organização – são realmente suicidas. Agora, a organização age de forma racional. Quando digo isso, não é no sentido de valorizar – pelo contrário, o que aconteceu foi uma carnificina que vitimou jovens. Mas eles [EI] escolhem o alvo, porque aceitaram o fato de que a França está em guerra. Nesse artigo que citei, escrevi que, quando você declara guerra a uma organização terrorista, você a está valorizando e a reconhecendo enquanto um ator importante que deve ser combatido. Em outras palavras, legitima a organização e mostra que é forte. E eles [EI] querem demonstrar exatamente isso: força.

    Fórum – O que, na sua avaliação, motivou a escolha dos locais onde ocorreram os ataques?

    Nasser – Esse terrorismo escolhe lugares de aglomeração e que dão visibilidade. Se fizessem ataques na periferia de Paris, não teria tanta repercussão. Eles miraram jovens de locais de classe média, classe média alta. E também um estádio de futebol onde estava o presidente do país, o que chama muita atenção. Depois do 11 de setembro, houve muitos atentados em casas de show, por exemplo. Eles escolhem esses lugares e esse público. Isso é o que o terrorismo faz: as vítimas são uma mensagem. A mensagem é para o Estado francês, e ela é dupla: para dizer que estão em guerra, que estão respondendo às ações da França no Estado Islâmico; e para mostrar também o seguinte: “olha, esse Estado é fraco, não protege seus cidadãos. Nós fomos ao centro de Paris, nos lugares frequentados pela classe média, classe média alta, e conseguimos matar todo esse pessoal.”

    Fórum – Em entrevista à Fórum, o jornalista irlandês Patrick Cockburn, autor do livro A origem do Estado Islâmico – O fracasso da “guerra ao terror” e a ascensão jihadista, disse que as estratégias de combate ao EI não têm sido eficazes.  

    Nasser – Quando nos perguntamos como combatê-lo, a resposta é fácil e ao mesmo tempo difícil. Fácil porque é preciso cortar o fornecimento de armas e recursos que chegam até o Estado Islâmico. Por que não se faz isso, então? De onde vêm as armas que eles usam? De onde vêm os recursos? Eles vendem petróleo, e hoje administram um território do tamanho da Jordânia. O Estado Islâmico é muito mais perigoso que a Al-Qaeda, porque, além de promover ações como as que ocorreram em Paris, domina um território com 5, 6 milhões de pessoas e age como se fosse um Estado – a estimativa é que tenha de 30 a 35 mil combatentes. Opera como se fosse guerrilha e atua como terrorista. É muito diferente da Al-Qaeda, muito mais perigoso. Lembremos que fez os atentados contra o avião russo e no Líbano e está agindo em várias frentes, porque está sendo atacado também. Está tentando mostrar reação. Se quiser combater, tem que reconhecer que é um grupo poderoso e importante. Não adianta fazer escárnio e achar que é um bando de loucos. É um grupo muito perigoso, muito bem estruturado e tem um poder de atração: três mil europeus aderiram ao EI no ano passado. Nos EUA, em 2014, foram 125 [pessoas que aderiram ao EI], e em 2015, 250. Um dos autores é francês. Então, não adianta vir com essas história de que os terroristas vêm de fora [como refugiados]. Alguns podem ter vindo, mas há também cidadãos europeus – o que é mais perigoso ainda.

    Fórum – Quais serão as consequências desses atentados para os refugiados árabes que tentam acessar os países europeus? 

    Nasser – Espero que nenhuma, porque os refugiados são tão vítimas quanto esses jovens que morreram. Estão fugindo de dois atores que praticam terrorismo, basicamente: o Estado Islâmico e outras organizações como ele, e o Estado sírio, pois o terrorismo também é exercido pelo Estado. Essas pessoas são vítimas de todos os lados, estão correndo e não têm para onde ir. A confusão que alguns tentam fazer é deliberada, porque é muito nítido: não há relação nenhuma. Se houvesse, eles[refugiados] estariam alinhados ao Estado Islâmico, mas estão correndo dele. São milhões de pessoas deslocadas dentro da Síria e tentando deixar o país por conta da guerra. Você citou o livro do Patrick Cockburn, e ele coloca entre aspas uma declaração do vice-presidente dos EUA [Joe Biden] dizendo que quem deu armas para o EI foram Arábia Saudita, França, Inglaterra etc. Entre aspas, uma declaração do vice-presidente dos EUA! Esses conflitos foram alimentados por grandes potências com aliados da região, e os refugiados são vítimas.

    Fórum – A extrema-direita francesa, representada sobretudo pelo partido Frente Nacional, pode aproveitar os atentados para se fortalecer ainda mais – assim como fez em relação ao episódio envolvendo a redação do Charlie Hebdo?

    Nasser – Sem dúvidas. A França tem 4 milhões de islâmicos, e se 1% aderisse ao Estado Islâmico, seria o caos. Não tem relação entre uma coisa e outra. Ninguém fala nada sobre o ataque terrorista no Líbano que matou basicamente muçulmanos. Segundo números oficiais dos EUA, 85% dos mortos no mundo em decorrência de ataques terroristas são islâmicos. Eles são vítimas do terrorismo. Mas sabemos que há gente que, por outras razões, quer barrar a imigração, e utiliza desses artifícios desonestos e irresponsáveis para fortalecer suas pautas. 

    Fórum – O presidente francês François Hollande prometeu “combate implacável” ao terrorismo, o que evidentemente envolverá ofensivas militares. Essa reação não alimentaria ainda mais a espiral de violência? O que de fato pode ser feito para minar o poderio do Estado Islâmico?

    Nasser – Mesmo antes do ataque ao Charlie Hebdo, a França foi o país europeu que mais insistiu em participar da guerra civil na Síria. O Hollande vem a todo momento tentando obter autorização do Congresso e apoio dos europeus para agir na Síria – até os EUA ficaram com um pá atrás. Repito: não é casual. A França tem se mostrado à frente dos outros nessa questão. Os atentados de ontem revelam que não é esse o caminho, porque vai haver isso [represálias]. Os ataques empreendidos na Síria e no Iraque não estão adiantando absolutamente nada. Nem os ataques do Putin – um mês de ofensiva da Rússia, que todo mundo diz que é muito precisa militarmente, não atingiu em nada o Estado Islâmico. Para acabar com esse conflito é preciso secar o EI de recursos. Precisamos saber quem vende armas paras eles, de onde arrecadam dinheiro, para quem vendem petróleo – se você cortar isso, acabou a organização. Ela não vai morrer de um dia para o outro com a bomba salvadora, mas vai definhar. Porém, pelo visto, ninguém tem feito absolutamente nada a respeito. Fica difícil imaginar que se a França mandar alguns aviões, fizer alguns bombardeios e soltar um míssil vai acabar com o Estado Islâmico – não vai. E, infelizmente, como o EI vai reagir ? Matando inocentes, porque é modelo de ação terrorista o que fez ontem na França, é algo abominável. As cenas são horrorosas, mas vão voltar a acontecer, porque eles[EI] não se importam. É uma luta desigual, porque o governo [francês] faz seus bombardeios e mata civis lá – o que a gente não vê, porque não repercute –, e aí as organizações terroristas vêm para a França e matam civis. É uma espiral de violência, mas com civis, esse é o problema. Os atores armados são os que menos são atingidos. O chamado efeito colateral é muito maior do que o efeito militar. Civis inocentes morrem de todos os lados. 

    Fórum – Muitas pessoas têm dito que os ataques à França significam um ataque à civilização e ao Ocidente. O que pensa sobre isso?

    Nasser – Temos que tomar cuidado ao falar que a Europa e a civilização ocidental estão sob ataque. Quem está sob ataque são um país e um governo que têm exercitado seus músculos ultimamente; a França, nos últimos dez anos, tem gostado disso. Não é casual que ela tenha entrado na mira do terror. Esse espírito imperialista de querer intervir, resolver os problemas dos outros, buscar aliados e depois mudar de lado… esse jogo da França, que também é dos EUA, da Rússia, da Arábia Saudita é um jogo irresponsável. Esses governos são tão ou mais responsáveis do que o Estado Islâmico ou outras organizações do Oriente Médio. O resultado são essas consequências lamentáveis para a juventude, para o lado democrático da Europa. A vida de Paris é dinâmica e pujante, e isso não pode parar. Vejo até gente que se coloca como crítica e diz que é preciso entender a luta do Oriente com o Ocidente, mas não tem luta! Tem luta de quem apoia ação bélica e terrorista, seja de organizações não estatais como estatais, contra aqueles que se opõem a isso, que não querem ação militarista. Não tem luta de Oriente contra Ocidente, isso é uma bobagem. Estamos tratando de extermínios e assassinatos, e todo mundo é contra isso, tanto no Oriente como no Ocidente. A grande maioria da população repudia terrorismo. O terrorismo está esperando uma reação forte da França, eles querem isso. Tomara que a França não o faça.

    Temos que tomar cuidado também com o próprio Brasil. Estamos aí com a discussão do Projeto de Lei Antiterrorista, que é draconiano e totalitário. Não entendo como a presidenta Dilma Rousseff pode aprovar um projeto desse, não tem sentido nenhum. Se esse projeto passar a vigorar, ameaçará a democracia, porque não existirá dinâmica na sociedade civil. O que eu queria acrescentar é que, por vezes, a ação contra o terrorismo é do mesmo nível da ação terrorista, e uma alimenta a outra, não pode ser assim. O terrorismo gosta de ditadura e de guerra, não gosta de democracia. Quanto mais democracia, pior; quanto mais tensão e guerra, melhor. Veja, não havia ação terrorista na Síria e no Iraque, e agora são os locais onde mais há no mundo. Não é por acaso, esses países estão em guerra. 

    http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/11/nasser-o-estado-islamico-e-muito-mais-perigoso-que-a-al-qaeda/

  3. Uma empresa é só dos seus donos? Ou tem sentido para a sociedade

    Tijolaço

    Uma empresa é só dos seus donos? Ou tem sentido para a sociedade?

     

    fazdiferença

    Alguém imaginaria as autoridades do governo dos Estados Unidos trabalhando para destruir uma empresa daquele país por eventuais atos de desonestidade de seus diretores ou acionistas?

    Ainda mais se esta empresa operasse em 21 países e empregasse 165 mil pessoas? Mais ainda: se isso significasse desnacionalizar um dos (lá muitos, aqui raros) produtores de equipamento militar do país.

    A resposta é um evidente “não”. Ao contrário, quando uma gigante como a GM estava à beira de quebrar, o governo americano comprou suas ações e aguentou o tranco.

    Aqui, a elite brasileira parece ter um prazer todo especial em ver destruir-se uma empresa que não é só dos seus donos, mas pertence ao país, porque pertence à sua economia.

    A “onda moralista”, com sua sanha de vingança política, parece se comprazer com o desmonte da Odebrecht, como se uma empresa deste porte pertencesse apenas ao seu maior acionista e não à economia brasileira como um conjunto sinérgico.

    A reportagem de David Friedlander e Renata Agostini, na Folha de hoje, retrata – para o prazer da classe média idiotizada pela mídia – as dificuldades da empresa que a farão entregar pedaços, certamente a preço de banana, o único possível nesta quadra de recessão.

    A eles, lamento informar, mas muito antes de falir-se e atirar-se à miséria do homem comum um megaempresário, fele-se e se lança à miséria milhares de trabalhadores, direta ou indiretamente ligados a ela.

    E, ainda que se mate a empresa, quem virá no lugar dela? A honestíssima Halliburton, que paga mercenários “patriotas” no Iraque?

    É como um genocídio econômico do qual, é quase certo, seu dono  – a pretexto de quem se ordena a matança – escapará ainda muito rico, com direito a vida à tripa forra por gerações.

    A elite brasileira não é apenas indiferente ao país. É suicida, no seu fanatismo politico fundamentalista.

    Tão burra que depende de gente de esquerda, absolutamente avessa a grandes conglomerados, que deles não tira um tostão, para é quem tem de apontar a insânia de jogar fora a criança junto com a água do banho.

    É como se os fuzis da moralidade entrassem numa empresa e matem ali tudo o que se mova, independente de quem é.

    http://tijolaco.com.br/blog/uma-empresa-e-so-dos-seus-donos-ou-tem-sentido-para-a-sociedade/

     

  4. Cheiro podre e visão

    Cheiro podre e visão fantasmagórica tomam conta de Bento Rodrigues

    Comunidade devastada pelos dejetos vazados das barragens não espelham mais a alegria de desvendar a história de Minas e a emoção de visitar monumentos dos tempos coloniais

    Juarez Rodriguez/EM/D.A.Press

    Os caminhos que levam a Bento Rodrigues não espelham mais a alegria de desvendar a história de Minas, a emoção de visitar monumentos dos tempos coloniais e o prazer de saborear iguarias com os sabores da terra.

    Tudo agora é passado – com o cheiro podre da lama, a visão fantasmagórica dos prédios destruídos e o lamento de quem conheceu a comunidade devastada pelos dejetos vazados das barragens do Fundão e Santarém, da Samarco.

    O Estado de Minas percorreu as trilhas, encontrou moradores e gente que conheceu o lugar em outros tempos e hoje lastima o ocorrido na tarde da última quinta-feira. A estrada de terra unindo Camargos a Bento Rodrigues está interrompida pela lama, que desceu no sentido contrário ao Rio Gualaxo. A ponte desapareceu, ficou o vazio, um abismo colossal, que assusta muitos moradores da região.

    No lugarejo de Cachoeira, há um contraste gritante, como se as forças da natureza, abatidas, ainda mostrassem o vigor de outros tempos. No meio do lamaçal, está a queda d’água e, de longe, pode -se ver dois homens se banhando nas águas cristalinas. Logo depois do refresco, eles calçam botas e voltam à labuta, retirando o que sobrou nos escombros da propriedade rural. Galinheiro arrebentado, pocilga em ruínas, caminhão atolado, enfim, desolação.

    PIMENTA BIQUINHO Quanto mais se anda, mais se fica impressionado com o cenário de destruição. Há barrancos caídos, árvores arrancadas inteiras, raízes expostas. “A gente sai daqui, mas não abandona”, diz Maria Inez Jorge, a dona Nezinha, de 76 anos.

    “Temos muitos amigos em Bento Rodrigues. É um lugarejo dos tempos do ciclo do ouro. Estou horrorizada com esta destruição”, diz ela, ao olhar o caos ambiental instalado na região. Além dos encantos naturais, ela faz questão de destacar a produção de pimenta-biquinho,  de geleia e conserva caseira, um charme a mais na culinária e chamariz para o paladar dos turistas.

    Como o distrito de Camargos não tem escola, as crianças e jovens dali estudavam na Escola Municipal Bento Rodrigues. E é aí que o irmão de dona Nezinha, Ênio Jorge, entra nessa história. Todos os dias, antes das 16h, ele seguia para Bento Rodrigues, dirigindo sua kombi, a fim de buscar os alunos e trazê-los para casa.

    Na quinta-feira, num determinado trecho, recebeu o alerta de um motoqueiro que vinha no sentido contrário. “Ele avisou que ocorrera o rompimento das barragens e não tinha mais estrada. Fui salvo pelo gongo, aliás, por São Bento, pois poderia sido atingido”, conta Ênio. Ele lembra, aliviado, que as crianças se salvaram.

    http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/11/08/interna_gerais,705618/cheiro-podre-e-visao-fantasmagorica.shtml

  5. Chega de notícias ruins”: a sinceridade da última coluna de um a

    Do DCM

    Insatisfação de eleitores fieis fez com que PSDB mudasse com relação ao governo Dilma

    Chega de notícias ruins”: a sinceridade da última coluna de um apresentador da Globo. Por Kiko Nogueira

     Postado em 14 nov 2015  por :    

    Bad-News

     

     

    É certo que a Globo News está realizado o que se chama eufemisticamente de “reestruturação” — aka, demitindo. No mês passado, foi o apresentador Eduardo Grillo, que trabalhava no canal desde o início, em 1996.

    Agora chegou a vez de Sidney Rezende, que integrava o estafe há 18 anos. “Ao dar a notícia de que o contrato não seria renovado, Ali Kamel, diretor de jornalismo e esporte, fez questão de enaltecer para Sidney Rezende a sua qualidade profissional e o excelente desempenho dele nos muitos anos que trabalhou para a TV Globo”, diz um comunicado oficial publicado no dia 13 (sexta).

    Também é certo que a última coluna que Rezende escreveu em seu blog, datada de 12 de novembro, é intitulada “Chega de Notícias Ruins”. Poderia ser endereçada a praticamente todo o time de articulistas da Globo.

    Ei-la:

     

    Em todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou questionado: “Por que vocês da imprensa só dão ‘notícia ruim’?”

    O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão diferentes no território nacional, já deveria ser motivo de profunda reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta padrão de que “é o que temos para hoje”. Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também. Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.

    Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!

    Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a sociedade e engessando o setor produtivo.

    O “ministro” Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do Brasil, disse há poucas semanas que todos estamos tão focados em sermos “líquidos” que acabaremos “morrendo afogados”. Ele está certo.

    Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: “o que houve?”. Ele respondeu: “está cada vez mais difícil defender o governo”.

    Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção nacional que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato, perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não sobre o que pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas neuroses loucas e querem nos enlouquecer também.

    O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas, não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.

    Se pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e “soluções” que quando adotadas deram errado daria para construir um monumento maior do que as pirâmides do Egito. Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito.

    Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e digam o que pensam. Mas nem por isso devem cultivar a “má vontade” e o “ódio” como princípio do seu trabalho. Tem um grupo grande que, para ser aceito, simplesmente se inscreve na “igrejinha”, ganha carteirinha da banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.

    Certa vez, um homem público disse sobre a imprensa: “será que não tem uma noticiazinha de nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez nada de bom hoje?”. Se depender da imprensa brasileira, está muito difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.

    É hora de mudar. O povo já percebeu que esta “nossa vibe” é só nossa e das forças que ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos compromisso com o governo anterior, com este e nem com o próximo. Temos responsabilidade diante da nação.

    Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.

    Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?

     

    Taí uma boa pergunta, cuja resposta Rezende sabe.

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/chega-de-noticias-ruins-a-sinceridade-da-ultima-coluna-de-um-apresentador-da-globo-por-kiko-nogueira/

    1. Bônus
      Webster,
      esta última coluna custou, ou melhor RENDEU, ao Resende sua demissão?
      Gostava dele. Desde a ascensão da Lopreti, do surto a la AP470 da Leilane (uma pena), da editoria da Godoy (demitida meses atrás) e do afastamento do Trigueiro (tão simpático pessoalmente quanto “no ar”), não consigo assistir aos telejornais e “maratonas” da Globonews.
      O Resende era dos poucos ainda palatáveis, mesmo tendo que seguir a pauta negativa, sempre se apresentava com moderação, sem histerismos e lições de moral. Isto certamente pesou na decisão … Alinhamento frouxo com o tom catastrófico, tipo Waak (no que se transformou este cara!).
      Não lamento. Tomara ele se recoloque rapidamente.
      Abc.

  6. ‘A desigualdade é mais grave
    ‘A desigualdade é mais grave que a corrupção’,  Jessé de Sousa,  presidente do Ipea.

    http://m.oglobo.globo.com/economia/a-desigualdade-mais-grave-que-corrupcao-18054916#

    Em novo livro, sociólogo e presidente do Ipea critica cientistas e classe média tradicional

    POR NICE DE PAULA
    15/11/15 – 06h00 | Atualizado: 15/11/15 – 06h00

    Jessé de Souza, presidente do Ipea, lança “A tolice da inteligência brasileira” – Adriana Lorete

    RIO – Depois de dizer que os 40 milhões de brasileiros que ingressaram no mercado de consumo nos últimos anos não formavam uma classe média – como então alardeava o governo -, Jessé Souza, que assumiu a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em abril, promete mais polêmica com o livro “A tolice da inteligência brasileira”, que chega às lojas nos próximos dias. Nele, o sociólogo afirma que o Brasil não tem uma classe alta, mas sim uma “classe de endinheirados”.

    E argumenta que a classe média tradicional, além de conservadora, é tola e assume o papel de guardiã da moralidade para compensar seu medo da ascensão dos mais pobres, seu ressentimento com o sucesso dos mais ricos e ficar com a consciência tranquila diante da exploração que ela mesma pratica diariamente. “A classe média explora os mais pobres – e no Brasil essa exploração é uma espoliação absurda – mas finge que é boazinha, afinal de contas, a empregada doméstica é quase da família”, diz o presidente do Ipea, órgão que é subordinado ao Ministério do Planejamento.

    O GLOBO: O título do seu livro é bastante provocativo. Quem é a inteligência brasileira e onde está sua tolice?

    SOUZA: No fundo é uma crítica aos grandes sociólogos do país e à forma como foi montada a Ciência Social no Brasil, mostrando como desde o início houve menos compromisso com cientificidade e mais com a política. É muito problemático quando há uma colonização do interesse da política, como ocorre aqui, um culturalismo conservador que idealiza os Estados Unidos e cria uma imagem negativa do Brasil. É a tolice da inteligência, dos nossos grandes pensadores, dos especialistas, que estão engolindo uma concepção de inferioridade do brasileiro, supondo que existem sociedades perfeitas, onde não há corrupção. Esses autores todos criaram uma ideia, que é assumida por todos nós, do brasileiro definido pela sua desonestidade e corrupção. E uma visão do Estado se opondo ao mercado, sendo ineficiente, enquanto o mercado é o reino de todas as virtudes. A noção de corrupção foi construída paulatinamente no Brasil e sempre pode ser despertada. Ela pode estar adormecida e ser acordada, porque faz parte do patrimônio cultural do Brasil.

    Essa leitura está errada? O Estado, no Brasil, não é corrupto?

    A questão não é o Estado ser ou não corrupto. Claro que é bom que não seja, é importante que seja transparente e não seja corrupto. Mas essa é a meia verdade, porque nem de longe é a questão principal. Todos os Estados do mundo são aprisionados por interesses privados. Nos EUA, o Estado é extremamente privatizado, segue os interesses das grandes empresas, o Exército americano mata muita gente no mundo para proteger interesses de empresas. O Estado é sempre privatizado. A questão é: por quem? Ou ele é privatizado por uma minoria ou é posto a serviço da maioria. Quase nunca no Brasil o Estado foi posto a serviço da maioria. Eu me lembro de dois momentos históricos, no governo de Getúlio Vargas e no período Lula-Dilma, quando os recursos foram usados também para promover a ascensão das classes populares.

    No momento, o senhor acha que o Estado está a serviço da maioria?

    Está numa encruzilhada, porque o Estado não tem uma vontade. A sociedade manda no Estado. Se a sociedade brasileira der uma guinada conservadora, o Estado vai ter que acompanhar. E, em grande medida, quem confere argumento para essa guinada conservadora é a leitura dessa pseudociência. Ela monta um jogo de oposição entre mercado e Estado, que não é verdadeiro, porque não se trata de uma luta, os dois vão juntos, um depende do outro. Mas essa oposição é dramatizada, e a questão é: isso serve a quem?

    E por que de repente esse “drama” veio à tona com força?

    Veio agora porque antes tinha um cenário muito favorável, todos ganhavam. Num contexto, onde começa a ter escassez, é aquela história: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Então todos os setores que sabem que não têm como dar benefícios para todos querem voltar ao velho esquema do Estado privatizado pelo interesse de uma minoria. E conseguem isso demonizando o Estado. Foi assim na época de Getúlio Vargas, na época de João Goulart e na época de Lula e Dilma. Isso é fato.

    O senhor está traçando o cenário atual como de um pré-golpe?

    Tem uma tentativa óbvia de golpe que articula os mesmos elementos de todos os golpes anteriores. Esse nível de corrupção só pode ser mostrado agora, porque antes todas as investigações eram engavetadas e agora as coisas são levadas até o fim. Mas isso está sendo usado, numa dramatização, para o enfraquecimento do Estado, porque, numa sociedade conservadora como a nossa, qualquer ajuda efetiva para as classes populares é vista como um crime pela elite. E nossa classe média tem uma parte que é extremamente conservadora e não gostou da ascensão da classe popular, não gostou de o pessoal estar andando de avião, da meninada da periferia ir ao shopping. Isso não é racional, tem a ver com afeto, com o medo de que as pessoas que estão ascendendo tomem seu lugar, seus cargos, medo que seus privilégios sejam tocados. Quantas pessoas reclamam porque a empregada doméstica tem alguns poucos direitos e não podem mais usá-la como escrava?

    A classe média teme a redução da pobreza e da desigualdade?

    A classe média tradicional teme a ascensão dos que estão embaixo e tem ressentimento contra quem está em cima. Vai sempre dizer que a pessoa fez alguma coisa errada para chegar lá em cima, quase sempre com a ajuda do Estado. Ela é uma santa a vida toda, até porque nunca esteve em cargo de poder onde sua honestidade vai ser testada. Ela se põe como a guardiã da moralidade. A classe média exporta o mal, o mal está sempre fora. E explora os mais pobres – e no Brasil essa exploração é uma espoliação absurda – mas finge que é boazinha, afinal de contas, a empregada doméstica é quase da família. E, assim, exime-se da responsabilidade, como se o mundo fosse assim mesmo e você não tivesse nada a ver com essa exploração de classe que pratica diariamente. E como essa exploração é escondida, porque a ciência não tematiza, nem a empresa, nem a escola, nem a universidade, você fica cego em relação a sua parte na perversidade, na maldade, na exploração dos mais pobres e no abandono dos mais frágeis. E aí adquire a coisa que todos os seres humanos querem tanto quanto um prato de comida, que é a boa consciência, a capacidade de legitimar a vida que você tem, dizer que está ali por merecimento. Ela tem essa necessidade afetiva que vai ser satisfeita por um discurso que se torna dominante, mas permite que ela seja manipulada quando a época histórica convém.

    Como foi a reação da classe alta?

    Há um incômodo da elite também porque ela não percebe o mundo de modo diferente da classe média. No Brasil, não temos uma classe alta no sentido europeu do termo, temos a classe dos endinheirados. Pense no Eike Batista botando a Mercedes dele na sala. Jamais alguém de classe alta da França ou na Alemanha faria isso. Essa classe dos endinheirados também ficou incomodada. Apesar de isso ter sido bom para todo mundo, todo mundo ganhou, fortaleceu o mercado interno, a mudança social que aconteceu no Brasil gerou uma série de ressentimentos. A gente tem que ter a coragem de apontar isso. A desigualdade brasileira foi sempre cuidadosamente escondida, a ciência que a gente estava criando nunca pôs a desigualdade no centro das preocupações. Ao contrário, invisibiliza a desigualdade, torna invisíveis as causas e faz parecer que é por burrice ou preguiça que se é pobre.

    A desigualdade é mais grave do que a corrupção?

    Sem dúvida alguma, a desigualdade é mais grave que a corrupção, é de longe a questão mais importante. Obviamente o combate à corrupção, a transparência nos negócios públicos são virtudes republicanas fundamentais a qualquer democracia. O problema é a corrupção ser manipulada politicamente para legitimar interesses que não podem ser expressos de modo direto. A corrupção tem que ser combatida como um fato cotidiano. Quando isso acontece nos outros países, não leva ao drama político, a esse carnaval todo. É o jogo de estar cuidando do interesse da maioria, de limpar o país, enquanto as pessoas continuam sofrendo.

    Como avalia o resultado da Pnad, que foi divulgada sexta-feira?

    Os dados recentes frustram os que achavam que o Brasil passaria por um retrocesso social inevitável com a crise econômica. Os números mostram, por exemplo, que a desigualdade continua caindo e a renda real do trabalho continua subindo. Também o analfabetismo continua caindo, e tudo indica que continua a haver uma melhora nas condições estruturais de vida da nova classe trabalhadora que ascendeu nos últimos anos, ou seja, do segmento que já havíamos estudado empiricamente e denominamos de “batalhadores brasileiros”. O problema se dá nos aspectos conjunturais, especialmente no mercado de trabalho, onde o desemprego aumentou. Tudo combinado mostra que o modelo de desenvolvimento com ascensão social dos mais pobres não está liquidado. Mostra, inclusive, extraordinária capacidade de resistência

    O que o senhor vê para o futuro?

    A gente está numa encruzilhada onde há oportunidades e desvios. A gente pode fazer a mesma coisa que fez a História do Brasil no século XX, ceder ao golpismo, à possibilidade de as pessoas poderem mandar sem o voto. Ou a gente repete isso e os endinheirados e poderosos voltam a mandar sem terem sido eleitos, ou faz um processo de aprendizado, de mudar essa história. As duas hipóteses são possíveis.

  7. Tucanos (PSDB) nunca mais; vade retro, satanás.

    Ilimar Franco: como os tucanos saíram depenados do impeachment

     

    depena

    Ilimar Franco, um dos raros colunistas de política que não pratica a vaidade como componente principal de seu trabalho é, por isso, um dos mais competentes e equilibrados analistas do cenário político, até porque se desobriga de, como outros, ter um script determinado e dar atenção a este detalhe tão fora de moda chamado fato.

    E é com fatos que ele traduz uma situação que precisa ser compreendida para que tanto o Governo quanto a oposição definam suas ações: o “impeachment” de Dilma, ao menos no curto prazo, está descartado como perspectiva política e não é mais bandeira senão para grupos isolados, sem representatividade que, aliás, acabarão engendrando uma candidatura e uma organização de extrema-direita, de características de classe média urbana. coisa que não se pôde, até agora, dizer de seus histriônicos representantes eleitorais.

    A política real, de disputa pela representação se dará em torno de outras questões, não mais em torno do golpismo.

    A questão urgente – e mais que isso, decisiva em 2018 – é a de como e  quem pode se apresentar à população como capaz de resgatar o crescimento econômico, não o discurso moralista mais histérico.

    A maré da histeria passou e os tucanos se viram na praia, ao lado de Eduardo Cunha. Recuaram, como caranguejos.

    E Ilimar Franco lhes narra, com precisão, o seu atabalhoado recuo.

    O PSDB perdeu a batalha do impeachment

    Ilimar Franco, em O Globo

    Passaram-se 11 meses desde a posse da presidente reeleita, Dilma Rousseff. A crise econômica entrou o ano de 2015 galopando. O PSDB, que perdeu as eleições com 48% dos votos, pegou carona nesse galope. Desde o segundo dia de mandato adotou, como sua principal proposta programática para o país, o impeachment da presidente Dilma.

    Estamos no fim de 2015. Por isso, o núcleo estratégico do PSDB debate uma reviravolta na sua linha de ação. Avalia-se que agora se deveria dar prioridade à crise econômica. Em busca de um projeto alternativo, o vice-presidente da Executiva, Alberto Goldman, está coordenando um grupo de trabalho. Na falta dessa linha programática, alguns tucanos constatam, com desconforto, que até o PMDB já tem uma proposta para o Brasil.

    — Não podemos adotar a mesma agenda em 2016. Devemos dar prioridade à crise. O PMDB tem uma proposta para o país. O PSDB não tem um projeto definido — alerta o secretário-geral do PSDB, deputado Sílvio Torres (SP).

    Sobre as razões pelas quais a destituição da presidente Dilma não saiu, ele analisa:

    — Não saiu por dois motivos. Primeiro: o governo se recompôs. Não temos os votos necessários para recorrer de uma decisão do presidente da Câmara e muito menos os 342 para aprovar o impeachment.

    A situação enfrentada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que recebeu o apoio dos tucanos até a última terça-feira, é o segundo fundamento que explica por que fracassou a campanha pelo impeachment.

    — O Eduardo Cunha foi se enfraquecendo muito. A saída de Eduardo Cunha é uma exigência. Como ele pode decidir o encaminhamento da votação dos projetos mais importantes para a economia do país? — completa Torres.

    Dito isso, não é o caso de debater quem tem razão. Ou do que cada um merece. Se as decisões do TCU ou do TSE são suficientes ou não. Se é necessário, ou não, uma ligação direta da presidente Dilma com a Lava-Jato. Ou se ela sabia ou não do que acontecia na Petrobras. Nem se a derrota da luta pelo impeachment é definitiva ou temporária. Mas cabe analisar friamente o retrato do momento e por que a palavra de ordem da oposição não foi adiante.

    1. O PSDB não tem apoio social suficiente para empunhar essa bandeira sozinho. Especialistas dizem que o partido tem o respaldo (direto) entre 15% a 20% dos eleitores nacionais. Sendo assim, o restante de seus votos (como o de qualquer outro partido) é de quem é “anti” alguma coisa.

    2. Para o PSDB levar adiante o impeachment, é preciso muito mais que as ruas. O partido deveria estar unido internamente em torno dessa bandeira. Até hoje não está. A legenda deveria reconhecer suas limitações e buscar o apoio de outras forças políticas. Não foi o que os tucanos fizeram. Aliás, a história recente ensina que a unidade das forças foi decisiva no impeachment do ex-presidente Fernando Collor.

    3. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, apostou na divisão. Adotou como sua palavra de ordem “Eleições Já”. Seria o caso de perguntar: ela contribuiu para unir ou dividir as forças políticas? Vamos nos ater ao PMDB. O partido que elegeu o vice-presidente da República.

    Um experiente consultor político faz as seguintes perguntas: “Será que o PMDB toparia novas eleições e ser excluído do poder? O partido tem o vice-presidente. Será que ele se conformaria em mendigar a vice na chapa dos tucanos? O partido tem sete ministérios. Será que ele derrubaria a presidente Dilma para depois implorar ao PSDB para que tenha seus sete ministérios?

    Enfim, ao defender novas eleições, o PSDB mandou o recado que também queria a cabeça do vice Michel Temer.

    4. O alvo do impeachment, a presidente Dilma, não pode ser comparada ao ex-presidente Fernando Collor, que era um outsider. Collor recebeu aquele voto de quem é contra tudo que está aí. Serviu para ganhar, mas não para governar. Por isso, venceu as eleições sem ter base social ou partidária. Mais uma vez, não se trata de debater quem tem ou não razão. O fato é que o PRN não é o PT. Collor e o PRN não tinham no seu entorno um cinturão de políticos e partidos aliados. Ele também não tinha apoio na sociedade, devido às suas medidas econômicas iniciais. Nem mesmo tinha ao seu lado organizações, por mais débeis que sejam, que saíriam em sua defesa, como a CUT, o MST, a UNE, a Contag, a UBES, a CTB etc

    5. Por fim, a presidente Dilma e seu governo, têm na retaguarda um líder político como Lula. Por mais quebrada que esteja sua asa, ele não pode ser desprezado. Para muitos, trata-se da maior liderança popular do país desde Getúlio Vargas. Não cabe discutir se é ou não é. As pesquisas públicas mais recentes, neste momento de maré baixa, dão ao ex-presidente a liderança, com 23%, nas pesquisas espontâneas de intenções de voto.

    Um dos políticos mais antigos, em atividade, adverte que não se deve subestimar, com o aprofundamento da crise econômica, uma personalidade política que encarna um período de bem-estar. Ele pergunta: “Será que os eleitores não verão em Lula a encarnação de quem seria capaz de trazer de volta a bonança e a prosperidade?”. Se essa imagem se criará, ou não, ninguém sabe.

     

  8. Eles estão putos porque o trabalhador está comento um pão a mais

    Era FHC e Era Lula: não bastou o capital ganhar, o salário crescer é imperdoável

    fnc

    Outro dia ainda mostrou-se aqui a elevação da renda dos mais pobres no Brasil. Praticamente dobrou desde o início da chamada “Era Lula”.

    Mas não foi só a deles, foi toda a renda do trabalho.

    Não que tivesse caído ou deixado de crescer, em ritmo até maior, a renda do capital, garantida pelos juros sempre elevados do Banco Central, embora menor, claro, que no período FHC.

    Continuaram ganhando muito. Apenas um pouco – bem pouco – menos que antes

    É bom para que se entenda o que torna os governos de inspiração trabalhista tão odiosos a esta gente. Eles não querem muito, somente. Querem tudo.

    Os gráficos e o texto abaixo são do blog do Professor Fernando Nogueira da Costa, da Unicamp:

    Renda do Capital versus Renda 
    do Trabalho: 2003-2014 X 1995-2002

    Fernando Nogueira da Costa (trecho)

    No período 1995-2002, o juro nominal elevou-se 24,6%, em média anual, face a uma taxa de inflação média de 9,1%, resultando em uma elevação média anual do juro real de 15,1%. O rendimento médio real dos trabalhadores teve uma queda anual média de -1,05% ao ano. A renda do capital financeiro multiplicou seu poder aquisitivo real em 3,2 vezes. Enquanto isso, a renda do trabalho perdeu 16,6% do seu poder aquisitivo.

    Entre 2003 e junho de 2015, o crescimento médio anual do juro nominal foi mais do que o dobro do IPCA: 13,2% ao ano. contra 6,1%. Desde 2005 até 2014, a taxa de inflação ficou dentro do teto da meta de 6,5%. Mesmo assim, em todo o período considerado, com o ano corrente projetado (2003-2015), a política de juro concedeu um juro real médio anual de 6,6% aos investidores. Em contrapartida, as variações do salário real restringiram-se à média anual de 1,1%. Então, foi 6 vezes maior o crescimento real da renda do capital do que o da renda do trabalho.

    Portanto, constata-se na história recente brasileira, a posteriori, um exagero do juro ex-post, isto é, deflacionado pelo IPCA. Evidentemente, ele tem um impacto distinto do juro real ex-ante (esperado) que influencia as decisões na época de sua fixação. Na Era Neoliberal, foi 2,7 vezes maior do que a taxa de inflação média. Na Era Socialdesenvolvimentista, foi 2,2 vezes maior. A queda do salário real na Era do Livre-Mercado (sic), foi de -16,6%, ou seja, percentual igual e contrário ao da sua elevação de +16,3% na Era da Hegemonia Trabalhista.

     

  9. O que está por trás da fuga em massa de menores da Fundação Casa

    O que está por trás da fuga em massa de menores da Fundação Casa. Por Mauro Donato

     Postado em 15 nov 2015por :  

    fuga crianças

     

    Desde que mudou o nome de Febem (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor) para Fundação Casa, nunca tantos menores escaparam de lá.

    Na última sexta-feira, internos da unidade de Pirituba, na zona norte de São Paulo, rebelaram-se. Subiram nos telhados, fizeram funcionários reféns, tocaram fogo em colchões. Uma das hipóteses para a rebelião é que a fuga tenha fracassado. Seria mais uma.

    Só este ano, 528 internos escaparam até 25 de outubro, data do último levantamento. É o maior número de fugitivos nos últimos dez anos. Apenas 128 foram recapturados.

    O que explica isso?

    O governo de Geraldo Alckmin vem contratando empresas de segurança para essas instituições de forma irresponsável. Pela política do menor preço, fecha negócio com empresas aventureiras e de pouca estrutura, que em poucos meses deixam de prestar o serviço adequado quando não fecham as portas mesmo.

    “O Estado contrata mal. Fazer pregão público é ótimo para comprar pneu, detergente, enfim, produtos. Para serviço de mão-de-obra continuada e especializada não se pode levar em conta apenas o preço porque senão depois a empresa não honra o contrato, quebra, deixa seus funcionários descobertos de assistência e larga essas intituições como a Fundação Casa desprovidas de pessoal o que propicia o aumento do número de fugas”, afirmou João Palhuca, presidente do SESVESP (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo).

    Em maio a empresa Anviseg Segurança e Vigilância, uma das empresas de segurança que prestava serviços na Fundação Casa, faliu. O resultado é que nas 150 unidades do estado houve um aumento de 38% no total de fugas em relação ao ano passado, segundo levantamento da própria instituição.

    A economia porca traz ainda um outro efeito colateral. Esse tipo de contratação impacta negativamente também na segurança dos fóruns criminais do estado. Nesses locais, armas apreendidas de processos ficam confiscadas ali sem um local adequado para resguardá-las. Como consequência os fóruns são frequentemente assaltados. Desde 2012 mais de 200 armas desapareceram do fórum da Barra Funda, na capital. Essas armas roubadas retornam para a criminalidade.

    Para tentar contornar a situação, o governo Alckmin autorizou o “bico oficial” de policiais de São Paulo na Fundação Casa e nos fóruns de São Paulo. Diante do fracasso de sua política de segurança, o governador resolveu matar dois problemas com um tiro só. Suprir a necessidade da maior vigilância e proporcionar uma graninha extra aos PMs.

    Boa ideia, certo? Negativo.

    Antes de mais nada, isto é proibido. O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em sua Seção II que trata da transgressão disciplinar enquadra como falta grave “exercer ou administrar a função de segurança particular ou qualquer atividade estranha à Instituição Policial-Militar com prejuízo do serviço ou com emprego de meios do Estado”, está no artigo 26. Ainda assim a Secretaria de Segurança Pública autorizou que Policiais Militares façam jornadas de até oito horas por escala na segurança externa das unidades.

    Em vez de melhorar os baixos salários dos policiais militares com um aumento real, o governador concede gentilmente a oportunidade de seus oficiais trabalharem um extra de até 8 horas por dia com ganhos de R$ 170 a R$ 204. Captou?

    O SESVESP e demais associações de trabalhadores em segurança e vigilância privada encaminharam um ofício ao governador e ao Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo José Renato Nalini. As entidades discordam e questionam a política instaurada pelo Estado para a segurança de órgãos públicos. Para o sindicato e entidades, além de acarretar na perda de empregos e infringir a lei, a prática não garante nem mesmo a economia que foi propagandeada pelo governo estadual.

    “Não há dúvidas que essa nova relação entre o Estado e os policiais, estes trabalhando fora do expediente, como cidadãos comuns, será considerada relação de trabalho. Haverá juízes que condenarão o erário a responder pelos descansos intrajornada, periculosidade, horas extras com adicionais noturnos, FGTS, 13º, férias, vales alimentação e transporte e etc. A ilegalidade administrativa ainda renderá inúmeros processos trabalhistas, que levarão o Estado a pagar indenizações vultosas no longo prazo”, diz o ofício.

    “Quando o governador delibera que a PM faça esses bicos ele está infringindo a lei que obriga que sejam efetuados por empresa de seguranca privada. E depois, se um setor pode usufruir então o banco, o hotel, o restaurante também irão reivindicar. Mas isso é proibido por lei”, complementou João Palhuca.

    Em resumo, os ‘bicos oficiais’ prejudicam a todos: sociedade, segurança privada, os órgãos atendidos e os policiais que ficarão ainda mais estressados ao ter que dobrar seus expedientes para conseguir um salário digno.

    “E tudo porque o Estado não sabe escolher uma das centenas de empresas de segurança confiáveis para lhe prestar trabalho. Para economizar alguns trocados, perde milhões e ainda deturpa a finalidade da instituição policial. Simples assim”, declarou Percival Maricato, advogado do SESVESP.

    Enquanto isso, menores escapam e o discurso a favor da redução da maioridade penal e do “direito” a andar armado ganha força.

     

  10. Relator dá parecer favorável a processo contra Cunha

    Relator dá parecer favorável a processo contra Cunha

    Postado em 16 de novembro de 2015 às 12:00 pmDo Congresso em Foco:

     

    Relator no Conselho de Ética da representação que pode levar à cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) protocolou nesta segunda-feira (16) parecer pela admissibilidade da denúncia. Segundo ele, a representação encabeçada pelo Psol e pela Rede tem “indícios de autoria e legitimidade” suficientes para a continuidade do processo. O parlamentar antecipou em três dias a apresentação de seu relatório, alegando interesse em dar celeridade à análise do caso.

    “Cheguei à minha conclusão convicto, com a consciência tranquila, muito feliz por ter feito um trabalho sério e correto. O processo contra o presidente Eduardo Cunha deve ter seguimento por preencher todos os requisitos de admissibilidade”, disse ele em coletiva concedida à imprensa nesta manhã.

    Pinato explicou que sua decisão não diz respeito ao mérito da representação, isto é, ele ainda não está apto a julgar se Cunha deve ou não ser cassado. No entanto, segundo ele, a representação expõe informações que indicam, “em tese”, que Cunha cometeu os crimes  pelos quais é acusado de quebra de decoro parlamentar.

    Para embasar seu parecer, o deputado reuniu documentos apresentados na denúncia contra Cunha pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que compreende o depoimento de delação premiado do lobista Júlio Camargo, e a transcrição das falas do peemedebista à CPI da Petrobras, em que ele nega possuir contas na Suíça. “Só isso já atendeu ao exame da admissibilidade da denúncia”, defendeu Pinato.

    Pelo Código de Ética da Câmara, quebra o decoro o parlamentar que receber vantagens indevidas “a qualquer título, em provimento próprio ou de outrem”, e que omita intencionalmente dados relevantes ou preste informações falsas nas declarações de bens.

     

  11. Que pretende o MPF ?

    http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/205397/MPF-compra-de-Pasadena-pode-ser-cancelada.htm

     

    MPF: COMPRA DE PASADENA PODE SER CANCELADA

    :

     

    Investigadores da operação Lava Jato encontraram provas que indicam o recebimento de propina por parte de ex-funcionários da Petrobras em relação à compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, o que pode resultar no cancelamento do negócio, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, do Ministério Público Federal, nesta segunda-feira; “É importante este caso porque, quem sabe, com estas provas, nós consigamos, talvez, ou anular a compra, ou quem sabe talvez ressarcir o patrimônio público brasileiro”, declarou

     

    16 DE NOVEMBRO DE 2015 ÀS 14:14

     

     

    Por Sérgio Spagnuolo

    CURITIBA (Reuters) – Os investigadores da operação Lava Jato encontraram provas que indicam o recebimento de propina por parte de ex-funcionários da Petrobras em relação à compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, o que pode resultar no cancelamento do negócio, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, do Ministério Público Federal, nesta segunda-feira.

    “Pudemos aprofundar as investigações e nós já temos nomes de funcionários e colaborações que indicam o recebimento de propinas”, disse o procurador em entrevista coletiva em Curitiba, onde estão concentradas as investigações da Lava Jato.

    “É importante este caso porque, quem sabe, com estas provas, nós consigamos, talvez, ou anular a compra, ou quem sabe talvez ressarcir o patrimônio público brasileiro”, acrescentou.

    A controversa aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006, é investigada por vários órgãos. A Controladoria-Geral da União (CGU) apontou em dezembro do ano passado perdas de 659,4 milhões de dólares da Petrobras na compra da refinaria.

    Ao final do processo de aquisição, a estatal pagou 1,25 bilhão de dólares por Pasadena e ainda teve de fazer investimentos de 685 milhões de dólares em melhorias operacionais e manutenção.

    A compra da “ruivinha” –chamada assim por causa da ferrugem na refinaria, segundo Lima– foi um “péssimo negócio” em que muitos se beneficiaram, disse o procurador.

    Houve pagamento de propina por parte da Astra Oil, empresa que vendeu a refinaria à estatal, a então funcionários da Petrobras, afirmou Lima.

    A compra da refinaria de Pasadena é um dos alvos da nova etapa da operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda, assim como a construção da Rnest, refinaria também conhecida como Abreu e Lima.

    Na nova etapa da Lava Jato, que recebeu o nome “Corrosão”, foram expedidos 18 mandados judiciais tendo como alvo ex-funcionário da estatal suspeitos de recebimento de propina em contratos relacionados às duas refinarias.

    Em uma outra frente da nova fase, a PF investiga atuação de um novo operador financeiro no esquema identificado como facilitador de movimentação de recursos indevidos pagos a membros da diretoria de Abastecimento da Petrobras, à qual estão vinculadas as refinarias brasileiras.

    “Os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro dentre outros crimes em apuração”, disse a PF no comunicado.

    Um dos primeiros presos da Lava Jato foi o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, que ficou no cargo entre 2003 e 2008, intervalo em que a Petrobras realizou a compra da refinaria de Pasadena.

    A Lava Jato prendeu ainda os ex-diretores de Serviços e de Abastecimento, Renato Duque e Paulo Roberto Costa, respectivamente, e Jorge Zelada, que sucedeu Cerveró na área internacional.

     

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