Planejamento Estratégico e Participativo nas Escolas

Partindo-se do princípio de que planejar é fazer planos, uma maneira de organizar ideias, estabelecer metas em função de um objetivo; constatamos que de acordo com as evidências expressas no livro A Arte da Guerra, a arte de planejar não é uma coisa nova, mas uma atividade que vem desde a era antes de Cristo tendo sua centralidade na arte da guerra com destaque para Sun Tzu, general comandante dos Reinos Combatentes. Por volta de 400 a 320 anos a. C. enfatizava-se que “a guerra é a empresa do essencial do estado, base da vida e da morte, o caminho para a sobrevivência ou a extinção, e por isso deve ser profundamente ponderada e analisada”. Dizia ainda: “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”.

Isso significa que planejar, de inicio, exige ponderação e se pensa em estratégias para conseguir os objetivos. Na escola, o objetivo derradeiro é a formação qualitativa dos alunos, que eles possam ser preparados para a complexidade da vida, adquirindo os conhecimentos necessários para enfrentar as futuras etapas, seja para o mundo do trabalho ou no prosseguimento de estudo, além dos valores morais e éticos, indispensáveis à boa convivência.

Planejamento exige diagnóstico prévio, isso significa identificar as raízes dos problemas. É bastante comum, educadores apresentarem propostas pautadas apenas em suas manifestações subjetivas sem a devida clareza de suas origens, seria o mesmo que um médico receitasse um remédio sem o diagnóstico da doença. O Planejamento Estratégico Participativo, atualmente, é visto com relativa popularidade nas comunidades acadêmicas e empresariais no Brasil e no mundo. Esse modelo de planejamento é válido para qualquer modelo de organização, independente do tamanho ou área, sendo indicado, também, evidentemente para as escolas públicas.

Recentemente, a Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo, através da Escola de Formação de Professores Paulo Renato Costa Souza, ofereceu um curso: Programa de Liderança de Gestores de Escolas Públicas. O programa é uma parceria entre o Conselho Britânico, o Instituto Crescer e a Secretaria de Educação e tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento profissional de Supervisores de Ensino e Gestores de Escolas na construção do planejamento estratégico e na observação de sala de aula, visando à aprendizagem dos alunos.

O Programa adota como referência a concepção de que o planejamento deve levar em conta que as estratégias representam uma equação entre as capacidades internas e as possibilidades externas. Se preocupa, digamos assim, com os pontos fortes e fracos da instituição, levando, por decorrência, a quatro estágios: o estágio de sobrevivência, de manutenção, de crescimento e de desenvolvimento que poderão ser identificados na matriz de SWOT, cuja sigla se origina de quatro palavras inglesas: Strength (Força), Weakness (Fraqueza), Oportunities (Oportunidades) e Thearts (Ameaças), trazidas para a Língua Portuguesa como FOFA, ou seja, Fortaleza, Oportunidade, Fraquezas e Ameaças.

O planejamento estratégico parte de um diagnóstico apurado através da analise FOFA, envolvendo todos os segmentos da escola, da comunidade, do entorno, evidenciando, por exemplo, a gestão pedagógica, administrativa, financeira, infraestrutura, da comunidade, de relações interpessoais, resultados, relacionamentos com a rede, além de gestão de tempo, etc. O objetivo é que empiricamente todos os atores envolvidos reflitam e contribuam para a identificação das fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças com o objetivo de planejar.

Nicolau Maquiavel (1469-1527), florentino, reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna; seus principais livros foram: “O discurso sobre a primeira década de Tito Lívio”, “O Príncipe” e a “A arte da guerra”. Preocupado com uma Itália politicamente fragmentada, dividida em vários principiados; além dos Estados do papa, elabora uma teoria política empirista, ou seja, traça um planejamento estratégico, através do método indutivo, elaborando conselhos práticos, sem utopias para que um príncipe adquira a estabilidade no poder e seja capaz unificar a Itália, tornando-a forte e independente.

Maquiavel não separou a teoria da prática, de certa forma, o grande diferencial de Maquiavel foi identificar as fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças no modelo de política vigente no seu tempo e traçou um planejamento político estratégico. Foi ousado, rompe com a tradição medieval teológica e com a prática comum durante o Renascimento de propor modelos de políticas imaginários, idealizados e perfeitos, os quais os príncipes deveriam ter sempre em mente. Inverte-se a tradição, pensa a política a partir de fatos reais, leva em consideração os vários fatores culturais, sociais da época.

A história da civilização é feita de mudanças contínuas. O que torna o mundo de hoje inteiramente diferente não é o fenômeno da mudança em si, mas o ritmo, a velocidade. Hoje, quem não se adapta está condenado ao fracasso. Não é mais possível, atualmente, prever futuras linhas de ação com base apenas no conhecimento do passado e do presente. As mudanças são rápidas e exigem inovações rápidas para que uma instituição possa ter condições de avançar. Tais aspectos aumentam a importância do planejamento no ciclo administrativo de qualquer instituição.

Agir sempre do mesmo modo e esperar  que se tenha resultados diferentes é tolice. Na escola, o que está em jogo em algo muito precioso, é o futuro de cada criança e adolescente, em extensão, o futuro da sociedade. É preciso coragem, estar aberto às mudanças galopantes do nosso tempo. Coragem, não é ausência de medo. Coragem é a capacidade de enfrentar o medo, não ter medo de nada não significa que é corajoso, é inconsequência, como dizia Aristóteles.

O que levou Aquiles (o grande semideus da mitologia Grega) a morte foi achar que ele era invulnerável. A melhor maneira de ficar vulnerável é achar que é invulnerável. O óbvio é um perigo, mergulhar na rotina cotidiana da instituição e fazer sempre do mesmo jeito em nada muda, não avança, não melhora. Os indicadores das avaliações educacionais indicam a necessidade de melhorar qualitativamente para que tenhamos um país em condições de suportar a concorrência do mundo capitalista globalizado, além de outras condições que compõe a dimensão humana da boa convivência.

Mário Sergio Cortella em uma de suas palestras disse que Zeca Pagodinho tem uma musica deliciosa para lazer, mas um perigo para área de gestão – “deixa a vida me levar, vida leva eu”, agir conforme indica a música faz com que percamos a capacidade e a competência. Gestor tem que ter iniciativa, ler muito, atualizar-se, ser criativo, ter visão do futuro, tentar diferente, liderança. Estar aberto ao conhecimento como dizia Sócrates na sua máxima “só sei que nada sei”, o conhecimento nunca está pronto, acabado, está sempre em construção. É preciso cuidado para não envelhecer as ideias e as práticas num mundo que tem como marca a mudança.

O planejamento estratégico a partir de um diagnóstico prévio pode ser a ferramenta que falta para avançarmos com a educação institucional, além disso, respeitar a pluralidade na identificação da análise FOFA. Em um sentido ideológico, corresponde à atitude de aceitação de uma pluralidade de opiniões, atitudes e posições diferentes e até mesmo divergentes, que, no entanto se respeitam mutuamente.

Profissionalismo é fazer o possível e o melhor. Ainda parafraseando Cortella:  “Fazer o possível não é fazer o melhor do mundo, mas fazer o teu melhor nas condições que você tem enquanto não tem condições de fazer melhor ainda”. O óbvio é um perigo num planejamento, na gestão e na liderança, ele pode fazer com que o planejamento seja tão enfadonho que os atores envolvidos o consideram apenas um cumprimento de um dever imposto. Além disso, planejamento tem seus desdobramentos: diagnosticar, elaborar, vivenciar, acompanhar, avaliar, replanejar, essa é sua dinâmica. 

Luis Nassif

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