Colunista do “The New York Times” Pede Guerra Total Contra a Rússia

Armar a Ucrânia ou se render.

por BEN JUDAH   31/08/ 2014

MOSCOU – A Rússia e a Ucrânia estão em guerra. Pelo menos 2.200 pessoas já morreram no conflito; outros milhares mais poderão morrer ainda. As opções das potências ocidentais – América, Europa, NATO – não são boas, e não são muitas. O presidente Vladimir V. Putin nos deixou com duas opções terríveis, ambas carregadas de riscos: ou armamos a Ucrânia, ou forçamos Kiev a se render e deixamos o Sr. Putin colocar qualquer território que ele escolher em uma zona de “conflitos congelados” ocupada pelos russos.

É uma escolha difícil, e Putin não é racional. Qualquer líder racional teria balançado frente ao preço das sanções ocidentais. A economia da Rússia está sendo duramente atingida pela crise de crédito, fuga de capitais, a inflação em espiral e uma visível recessão. Isso vai prejudicar a crescente popularidade de Putin em casa. Mas, nada disso serviu para impedir seu cínico sorriso enigmático.

A Ucrânia não conseguirá ganhar esta guerra. Putin deixou claro que o exército russo aniquilará as forças ucranianas se tentarem libertar Donetsk e Luhansk. O deficiente exército da Ucrânia jamais poderá derrotar as forças especiais e batalhões de recrutas de um gigante movido a petróleo.

O Ocidente precisa ser honesto com a Ucrânia. Nós devemos falar como se este país fosse um de nós – um dia, ele vai se tornar um membro da União Europeia e da NATO. Esse é o desejo de Kiev, mas o Ocidente não está fornecendo, à Ucrânia, meios para combater nesta guerra.

A Ucrânia está sendo destruída. A sua economia está em frangalhos. Seus militares não sobreviverão a uma ofensiva russa. Os ucranianos se apegam a um nacionalismo romântico e se preparam para a guerra partidária. Os custos se avolumam – continuar a luta custará outros milhares de vidas – e os sonhos liberais da revolução estão se afogando na fúria chauvinista e na histeria da guerra.

Mais alguns meses, sem ajuda ocidental significativa, a Ucrânia terá perdido o núcleo da força de seu exército e sua paixão com o Ocidente. Esta última será substituída por um sentimento de traição, e os liberais pró-Europa da Ucrânia não sobreviverão a tal retrocesso. Os extremistas de direita serão enviados de volta pelo front, ao parlamento de Kiev, dentro de caixões. A Ucrânia se tornará numa devastada zona de conflito: a Síria Europeia, ou uma enorme e horrível Bósnia.

Não podemos deixar que isso aconteça. Se acreditamos que a Ucrânia vai um dia se tornar um membro da União Europeia e da NATO, então devemos estar prontos para armá-la. Temos que encarar o fato de que se o custo de uma expansão ilimitada da União Europeia e da OTAN significa guerra contra a Rússia, então lutemos essa guerra. Tendo reacendido os momentos mais efervescentes da Guerra Fria, temos de lidar com as consequências de incentivar a democratização da Europa Oriental.

Essa lógica exige o envio de conselheiros militares ocidentais para Kiev, e prestar aos ucranianos o apoio completo de inteligência e de satélite. Devemos enviá-los armas, tanques, aviões e kits médicos às toneladas. Devemos, mesmo, estar pronto para utilizar as tropas da OTAN, caso os tanques russos sigam em direção à Criméia, o que muitos temem que aconteça, para construir uma ponte ligando-a ao sul da Rússia.

Sem dúvida, é um caminho que envolve enormes riscos. A Rússia lançará o seu poderio militar contra a Ucrânia. As forças especiais americanas e britânicas devem ser enviadas para fincar a bandeira e proteger os aeroportos de Kiev e Odessa. Mas, Putin pode aceitar o jogo e pagar para ver nossas cartas: as forças russas poderiam – em um eco da guerra de Kosovo em 1999 – cercá-las.

Mas, se não estamos preparados para assumir tais riscos, então temos a obrigação de forçar os ucranianos a abandonarem sua mortal ilusão. Seria nossa a responsabilidade de impedir que a Rússia abatesse os recrutas ucranianos em vão.

A única maneira de conseguir isso é o Ocidente obrigar a Ucrânia a se render. A Ucrânia é completamente dependente do Fundo Monetário Internacional, que é dinheiro ocidental. Devemos dizer a Kiev que aceite como um fato consumado que a Rússia cravou uma Ossétia do Sul, no leste europeu – ou retiramos o dinheiro. Podemos até consolá-los: Ser outra Geórgia não seria a pior coisa do mundo.

Poderíamos assim salvar milhares de vidas, mas seria uma derrota esmagadora para o Ocidente. A Rússia se restabeleceria como um império – a antiga União Soviética, uma vez mais sob o julgo do Kremlin. O Ocidente admitiria, de fato, que a Rússia pode invadir e anexar qualquer desses territórios. E nestas terras, os apaziguadores floresceriam e a democracia murcharia.

Seria um triunfo da Rússia sobre a ordem mundial imposta pelo Ocidente depois que a União Soviética perdeu a Guerra Fria. Isto significaria a destruição do poder de dissuasão geopolítica americana. Os inimigos dos Estados Unidos, desde a China até o Irã, veriam isso como um convite para estabelecer suas próprias esferas de influência entre os destroços.

A Rússia não pararia por aí. Putin quer minar a OTAN, e o cheiro de fraqueza iria tentá-lo ainda mais. Seria apenas uma questão de tempo, até que Moscou utilizasse os russos dos Estados Bálticos para fabricar novos “conflitos congelados”. A Polônia se sentiria compelida a agir como se a OTAN não existisse, criando uma nova aliança militar defensiva com os países bálticos, podendo estabelecer uma zona tampão no oeste da Ucrânia.

Não há nenhuma maneira fácil de sair agora. Mas, não podemos deixar que milhares de ucranianos morram porque vacilamos. Temos que ser honestos com eles, se não estamos dispostos a lutar uma nova Guerra Fria com a Rússia pela independência ucraniana. Mas se forçarmos a Ucrânia a se render, ao invés de sacrificar vidas em uma luta para a qual não temos estômago, então temos de aceitar que será uma derrota, também, para a OTAN, para a Europa, para a democracia liberal e para a liderança global dos Estados Unidos. Essa é a escolha diante de nós.

A version of this op-ed appears in print on September 1, 2014, in The International New York Times. Order Reprints|Today’s Paper|Subscribe

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