Com US$ 18 bi a bandeiras progressistas, Soros estende adeptos de seu império liberal

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Bloomberg
 
Jornal GGN – O noticiário dos Estados Unidos estampou nesta semana que o bilionário investidor George Soros doou 18 bilhões de dólares à instituição filantrópica Open Society Foundation, que carrega a bandeira de promover a democracia e direitos humanos pelo mundo. 
 
As transferências, que equivalem a mais da metade da fortuna do empresário, foram feitas ao longo dos últimos anos, mas estavam protegidas por sigilo, sendo reveladas nesta terça-feira (17). 
 
O montante é um dos maiores repasses de riquezas de um doador privado a uma única instituição e foi responsável por transformar a Open Society na segunda maior organização filantrópica dos Estados Unidos, ficando atras apenas da Fundação do fundador da Microsoft, Bill e Melinda Gates.
 
A polêmica da doação repercutiu no mundo não somente pelas cifras. Ela ocorre porque Soros, além de ser um bilionário capitalista que fez fortuna apostando na desvalorização da libra britânica, é lembrado como um dos maiores doadores democratas, defensor de causas liberais, e apoiou a candidatura da democrata Hillary Clinton.
 
Contraditoriamente, a instituição que arrecadou os $ 18 bilhões se apresenta com pautas progressitas, como a construção de “democracias vibrantes e tolerantes”, financiando tratamentos do surto do Ebola, na África, em 2014, e intensificando a sua atenção nos EUA desde o governo Trump, com programas de proteção a gays e lésbicas e a redução de abusos pela polícia.
 
Após as eleições de 2016, quando o seu opositor, Donald Trump, ganhou a cadeira da maior potência mundial, a Open Society passou a investir em esforços contra o que chamou de “onda nacional de incidentes de ódio”. De acordo com reportagem do The New York Times, Soros dedicou $ 10 milhões apenas para previnir tais violências.
 
“Nós devemos fazer algo para recuar contra o que está acontecendo aqui”, disse o bilionário investidor, em novembro do último ano, sobre as “forças das trevas que foram despertadas” pelo governo Trump. 
 
Além dos EUA, o investidor chegou a patrocinar o Conselho pela Diplomacia Pública da Catalunha e organizações de políticos catalães apoiadores da independência da região à Espanha, revelação trazida pelo jornal espanhol La Vanguardia, no ano passado. 
 
Na criação de sua primeira entidade filantrópica, em 1984, a Open Society na Hungria [país em viveu na infância nos anos 40] já trazia a bandeira de “governança democrática, livre expressão e o respeito pelos direitos individuais”. 
 
Nos últimos anos, era de conhecimento público que suas doações anuais atingiam entre US$ 800 e 900 milhões por ano para as Open Society. Soube-se, agora, que as cifras mais recentes acumularam os US$ 18 bilhões neste ano.
 
Desde que medidas progressistas estiveram na pauta das doações diretas e por meio de suas organizações, Soros passou a ser criticado pela extrema-direita e por setores mais conservadores. A postura, contudo, vem sendo analisada por cientistas políticos e críticos como uma intencional estratégia de poder.
 
Mas em aparente contradição a tais ideais, além de potente figura dos Democratas norte-americanos, Soros sedimentou, sob a bandeira da livre democracia, manuais do sistema neoliberalista como resposta para a falência do Estado de Bem-estar Social. 
 
Ainda, de forma prática, algumas lutas progressistas atribuídas a movimentos de esquerda, como a liberdade de gênero, aborto, participação das mulheres, imigração e legalização das drogas, são caminhos para a aproximação da nova agenda global e representatividade política.
 
“Não há nenhuma fundação no mundo, incluindo a Fundação Ford, que teve maior impacto ao redor do mundo do que a as Open Society nas últimas duas décadas. Porque não existe uma parte do mundo na qual eles não estiveram presentes. Sua pegada [de Soros] é mais profunda, larga e impactante do que, inclusive, qualquer outra base de justiça social no mundo”, afirmou o presidente da Fundação Ford, Darren Walker, ao NYTimes.
 
A presença do poder da Open Society e das entidades financiadas pelo bilionário, que ultrapassa governos e países, já justifica a adoação de qualquer bandeira apoiada pelas organizações de Soros: “Desde a sua criação, a Open Society trabalhou com líderes da sociedade civil, sejam eles romanichéis na Europa Oriental ou afro-americanos em Cleveland, Ohio, que continuam sujeitos a uma forma de justiça de segunda classe”.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

24 Comentários

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  1. Bandeira progressista pra mim é redução de desigualdade

    Quanto foi que a Open Society dedicou ao tema?

    Há 30 anos joga dinheiro na política húngara para combater a esquerda e o que foi que criou?

    Um país governado por uma direita tão radical que começaram a voltar as hostilidades contra ele.

    Surpresa, não? Parece até um certo país onde o jornalismo de guerra e a guerra jurídica (lawfare) patrocinadas pelos think tanks anti-esquerdistas estão levando a um extremista de direita (Bolsonaro) a 20% dos votos à Presidente nas pesquisas.

  2. Soros é um velhaco.Ele notou

    Soros é um velhaco.

    Ele notou que o capitalismo mergulhou numa nova espécie de facismo em razão do fanatismo neoliberal.

    Agora, em razão do acirramento dos conflitos sociais nos países desenvolvidos, ele deve ter intuido que o neoliberalismo que ele mesmo incentivou e utilizou para se tornar bilionário está com os dias contados.

    A reação ao fascismo neoliberal vai destroçar o Estado Pós-Democrático e Soros quer impedir uma revolução socialista comprando partidos de esquerda.

    Chegamos assim ao supremo estágio de alienação, em que a ideologia marxista se torna mercadoria. Uma mercadoria valiosa que pode ser vendida e comprada para possibilitar a salvação do capitalismo. 

    E o pior é que alguns líderes de esquerda certamente irão se vender ao vil metal que Soros pretende distribuir como se fosse um bom moço. 

     

  3. Eca!!!

    Só um blog ingenuamente petista como o GGN é capaz de chamar o “governo das sombras” de Soros (https://capitalresearch.org/article/soros-wants-new-world-economy/) de “progressista”.

    A agenda política de patriarcas das finanças, como David Rockefeller (http://www.aepet.org.br/colunas/preview/1155/O-asqueroso-legado-de-David-Rockefeller) e George Soros, pode simplesmente ser reconhecida como ultraliberal. Dizer que o individualismo predatório encarna algum tipo de “progressismo” só pode ser rasa propaganda ideológica.

    As classificações políticas norte-americanas não são mecanicamente tradutíveis aos demais contextos. O “neoliberalismo progressista” (como o chamou Nancy Fraser: https://www.brasildefato.com.br/2017/01/27/o-fim-do-neoliberalismo-progressista/) não é “progressismo” tout court, como se entende em outras partes do mundo.

    Soros esteve por trás do financiamento de TODAS as assim chamadas “Revoluções Coloridas” na Europa Oriental (https://www.novacultura.info/single-post/2017/08/25/A-armadilha-das-revolucoes-coloridas), patrocinando as forças neonazistas da Ucrânia (https://actualidad.rt.com/actualidad/view/129418-soros-admite-responsabilidad-golpe-conflicto-ucrania). Suas ONGs construíram um intrincado lobby transnacional para promover a crise do refugiados na Europa (https://actualidad.rt.com/actualidad/244640-soros-gobierno-sombra-inmigrantes-italia), com a finalidade de derrubar os salários no continente, em especial na Alemanha.

    Não há nada de “filantrópico” nas organizações de Soros. Trata-se apenas de um negócio de poder mundial, por meio de influência e controle sobre a opinião pública e sobre as instituições. Não se trata de promoção da democracia; se trata de ingerência direta, em nome de uma agenda ultra-liberal, com o uso do poder do dinheiro para comprar e desestabilizar.

    Só cai nessa esparrela de achar que Soros é “de esquerda” quem for bestialmente trouxa.

  4. quase chorei

    Quase chorei quando li essa noticia.

    Quanto despreendimento, quanta vontade de ajudar o proximo.

    Menos. Menos.

    Não mais tenho idade para ser ingenuo.

  5. Porque respeito somente pelos direitos individuais?

    Então a Open Society só promove governança democrática, livre expressão e o respeito pelos direitos individuais?

    E os direitos sociais?

    Mas o Soros é individualista e anti-socialista.

  6. Não adianta Soros

    Não adianta Soros, o velhinho lá encima sabe das tuas sacanagens contra a democracia e as minórias em seus veículos pelo mundo. Não adianta puxar o saco dele com 2% do que arrecadas com tuas bandalheiras. Vais para o inferno, ou irias se ele existisse.

  7. Desde quando Soros é um progressista?

    É só ver o que ele fez na Ucrânia. Saiu um post no site http://www.vermelho.org.br com o seguinte título: “Patrocinador do golpe na Ucrânia é parceiro de assessor de Aécio Neves”. Este post diz que Soros reconheceu  “sua responsabilidade sobre o golpe de Estado na Ucrânia, aplicado pela ultradireita, com apoio de forças neonazistas”. 

    http://vermelho.org.br/noticia/243051-1

     

  8. O mais triste disso tudo é
    O mais triste disso tudo é que, quando se fala qualquer coisa de gente como Soros – e outros depravados do mesmo porte, como os Rockefeller e os irmãos Koch – logo aparece algum imbecil falando em teoria da conspiração.
    E a campanha mundial de idiotização do ser humano segue irrefreável, financiada por esses porcos.
    Nosso fim vai ser feio.

  9. Soros / Omidyar: pesos diferentes?

    Interessante perceber que a desconfiaça a que se tem sobre o Open Society vem de todas as colorações. De um lado, a profunda desconfiança da esquerda, ao retratar Soros como um lobo na pele de um cordeiro que, numa aparente benevolência, imiscui em assuntos internos de outros países como forma  consubstanciar o seu ideal ou os seus interesses. Já os direitistas afirmam que a única diferença entre este e Chomsky está no saldo da conta bancária.

    Se, de um lado, o fato de que tais empreendimentos, ao causem polarizações, reflitam em uma série de desconfianças do tipo “não há almoço grátis”, por outro lado, há de se questionar os críticos sobre o tipo de filantropo que eles cerram os seus dentes. Assim, se se percebe desconfiancas sobre George Soros, a mesma perspectiva de indagação não poderia ser concebida à Pierre Omidyar? Existiria “almoço gratis” nesse caso? 

  10. Táticas Predatórias e Pilantropia

    Em março de 2005, Maarten Vanheuverswyn escreveu um texto de título “Bill Gates, Saviour of the World?”, do qual consta:

    “Big business and charity

    Bill Gates has accumulated a huge personal fortune over the years. After all, that is what capitalism is all about: making profits in a dog-eat-dog economic system that rewards the most aggressive players in the game. In that sense, what Bill Gates is doing is nothing new. He is merely continuing the business tactics of his predecessors. Some of the most powerful men in American history approached business in exactly the same ruthless manner. Men like JP Morgan, John D. Rockefeller, Cornelius Vanderbilt, Andrew Carnegie were all monopolists. They are now respected historical figures whose families are amongst the richest in the world. Interestingly, all of these extremely wealthy industrialists, each of whom bought out their competitors, gave a part of their fortunes to all kinds of charities. Is there not a contradiction here?

    Consider the case of the infamous JD Rockefeller. In the course of the years, his Rockefeller & Company began to make ever-growing profits. Step by step, Standard Oil (its new name) gained control of oil production in America and in effect became the first great American trust. Whether Rockefeller felt guilty because of the accumulation of his capital does not really matter here. The fact is that by the turn of the century he was the most hated man in America. Probably that will have triggered his image change – Rockefeller was now more and more presented as the philanthropic entrepreneur as he started giving millions to charity. Like Bill Gates he could afford to give away quite huge sums of money. Just the same, it was no coincidence that he made this move after he was convicted several times in anti-trust cases. One century after Rockefeller, Bill Gates can simply afford to give away record donations because of the record profits he has made over the years.

    Health care and charity

    Leaving aside the possible motives for giving away significant amounts of your personal fortune, we should ask why it is precisely billionaires like Bill Gates who should provide essential vaccines to Africa in the first place. There is something seriously wrong when providing vaccines and other elementary health care falls on the shoulders of “entrepreneurs” who got rich by following the capitalist logic – profits first, by all means necessary! The irony is that while millions of people in the so-called Third World are dying from starvation and easily curable diseases, drugs companies operating in the area make billions of profits while hardly investing in desperately needed drugs. Just like Microsoft, pharmaceutical companies are run on the basis of profit. They are simply not interested in developing treatments to cure diseases since poor people do not have the purchasing power to buy the necessary medicines. Hence research programmes of the pharmaceutical giants are mainly devoted to products which treat typically “Western” problems like baldness, obesity and impotence.

    As in the software industry and industry in general, a process of concentration has taken place over the years. One pharmaceutical giant after another fused with another, only to accumulate ever more capital held in the hands of a few individuals. Several mergers have created massive companies like Pfizer Inc., with an annual GDP greater than many “Third World” countries. Cheaper generic alternatives of expensive drugs are continually blocked by a vicious pharmaceutical lobby that does not care about the health of people they cannot make a profit from. Combine this with the rotten regimes in the ex-colonial world who are eating out of the hands of their imperialist masters in the West (see our article One billion children in extreme poverty: a holocaust on a world-scale), and it becomes clear that Bill Gates’ donations to “good causes” are merely a patchwork of a system that cannot provide universal health care and which condemns millions to death from the moment they are born.”

    http://www.marxist.com/bill-gates-capitalism170305.htm

     

    Os Magnatas nos tomam 100″ do produto do nosso trabalho com a mão direita e nos devolvem 1% com a mão esquerda a fim de justificar o roubo de 99% do que produzimos.

  11. Soros e o Partido Novo

    Armínio Fraga foi empregado privilegiado de Soros. Com base em informação privilegiada, Armínio Fraga planejou um ataque especulativo contra a moeda da Tailândia. Para Armínio e Soros o resultado foram Bilhões de Dólares em seus patrimônios. Do outro lado, deixou milhares de cidadãos desempregados, arruinou empresas e as finanças públicas de diversos países pobres.

    Em 2014, Armínio Fraga assessorou Aécio Neves. Em 2015, fundou o Partido Novo (partido de direita, neoliberal).

    Será que Soros está investindo no Partido Novo ?

  12. Se eu fosse gay

    e muito rico, também apoiaria com grana a causa lgbt. Como não sou nem um dos dois, apenas apoio e defendo a liberdade de todos os seres humanos serem o que quiserem, desde que não matem nem deixem morrer de fome pela via opressiva dos sistemas.

  13. Xô, Satanás!

    A principal bandeira progressista, ou de esquerda, como queiram, é a redução das desigualdades, como diversos comentaristas disseram.
    Não há nada parecido com isso na Open Socity. A novidade dos U$ 18 bi de Soros é que os gringos deletaram o MBL da jogada, que estão até agora expelindo chorumes do tipo “Soros esquerdista, comunista”.

    O ideologia liberal é conflitante com a redução das desigualdades. Por isso é um câncer, um veneno. Os liberais são os dementadores da vida real, que sugam e consumem a alma dos mais fracos e dos mais pobres. Sempre deixam um rastro de destruição nos países por onde passam.

    Fraga prometeu medidas impopulares, se eleito (com o Golpe, parece que foi). Os Democratas espionaram Dilma e financiaram a Gestapo de Curitiba. A ascensão do nazifascismo na Europa e nos EUA, a eleição de Trump inclusive, é uma reação (imbecil) ao liberalismo. Ou seja: o mundo tende a ser um lugar pior com a presença de Soros.

  14. Um cara que tem 18 bi é

    Um cara que tem 18 bi é porque passou por cima de todo mundo durante sua vida. Prefiro acreditar que um tucano um dia vá ser preso do que acreditar nas boas intenções de um velhaco desses.

  15. QUE IMPÉRIO LIBERAL?

    É triste ver uma propaganda enganosa como essa publicada num jornal que se apresenta como isento e progressista.

    Todos sabem do abjeto papel desempenhado pelo financista na especulação cruel que lucra fortunas com a produção de  inúmeras crises monetárias graves, responsáveis pelo empobrecimento de diversos países em todo o mundo.

    Ademais, não há nenhum contraponto no texto para mencionar as inúmeras denúncias da influência maligna na destruição da ex-Iugoslávia, na manipulação de movimentos sociais e na promoção de revoluções coloridas que resultaram em tragédias na Síria, na Ucrânia e na Líbia. Será que o site do GGN foi hackeado?

  16. O que Soros, irmãos Kock e outros querem. . .

    O que Soros, irmãos Kock e outros querem é que os trabalhadores dos países pobres aceitem serem explorados sem rebeldia e que os próprios países periféricos aceitem serem explorados pelos Estados Unidos e outros ditos do primeiro mundo, também sem se rebelarem.

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