Cometas e factoides

Cometa

O acontecimento tecnológico destes dias, divulgado e celebrado mundo afora, e google adentro, é o êxito da missão espacial Rosetta, que consistiu no pouso de um robô, quase que com perfeição absoluta, sobre o núcleo de um cometa. Sem dúvida, um pequeno espaço para o homem, mas, para a humanidade, uma imensidão de novos territórios científicos a explorar.

De uma forma curiosa e instigante, o nome da missão remete aos grandes desafios da tradução e, portanto, do significado da palavras. E nesse caso, além disso, assoma uma dúvida ao leigo, mesmo que fã de ficção científica: afinal, qual é a diferença entre cometas e asteroides?

Ambos são tipos de corpos celestiais que orbitam nosso Sol, que às vezes se aproximam da Terra, tem mais ou menos a mesma idade bilionária, e que, fundamentalmente, se diferem dos materiais de que são feitos. Em especial, por se formarem mais distantes do Sol, os cometas retêm gelo, diferentemente dos asteroides.

Voltando ao mundo das palavras para o qual nos transportou o nome da Sonda Rosseta, asteroides não têm cauda, mas carregam este encontradiço sufixo “oide”, que quer dizer ‘semelhante a’ ou ‘aspecto ou forma de’. Eles até podem parecer, mas estrelas, de fato, não o são.

Assim é com os factoides. Eles podem ter o aspecto e as características de acontecimentos reais, deixar os observadores em dúvida, mas fatos é que não são. É provável que a principal diferença entre fatos e factoides seja análoga àquela entre cometas e asteroides: o material de que são feitos, em decorrência de onde eles se originam.

Assim como cometas e asteroides têm em comum material rochoso nas suas composições, fatos e factoides por via de regra têm bases comuns também, tais como uma investigação policial ou um processo judicial. Entretanto, de forma similar àqueles corpos siderais em relação ao sol, a distância de uma arena de luta pelo poder na qual são formados, determina se, quando comparados à uma realidade percebida e comprovada por muitos não envolvidos diretamente na disputa, eles “derretem” como o gelo dos cometas.

Nessas situações, eles se mostram apenas como a bela cauda brilhante que aqueles pequenos astros ostentam, que é pouco mais que luz, poeira e vapores. No caso dos factoides, são fofocas, boatos, meias-palavras, isto é, resquícios do que poderia se chamar “verdade” sobre o tal processo ou investigação, tomados como exemplos, mas que chamam muita atenção e deixam muita gente de boca aberta, tal como o rabo das “estrelas cadentes”.

Nesta conjuntura pós-guerra-eleitoral que o Brasil vive, na qual, aparentemente, há um lado que não aceita ter chegado tão perto – de acordo com seu próprio julgamento – da vitória e não tê-la alcançado, lado em que estão também os grandes grupos econômicos da comunicação de massa do país, veículos para factoides não faltam. Tampouco parecem faltar usuários ávidos por esses “serviços”, envolvidos e boquiabertos com a profusão de espetáculos de ecos e fogos fátuos.

Pelo jeito não deve haver público mais adequado para consumir factoides produzidos por revistoides, jornaloides e teletabloides do que aquele representado pela figura de desenho animado escolhida por refinado ‘âncora’ da televisão para simbolizá-lo sentado na poltrona de casa:  o debiloide.

 

Redação

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