Como Bolsonaro pautou a mídia com a falsa dicotomia CNPJ x CPF

Os episódios de ontem, em Brasília, mostram a enorme facilidade que tem Jair Bolsonaro de desviar o foco e levar a mídia no bico. Representantes de setores empresariais médios foram a Brasilia especificamente para reivindicar o apoio federal às empresas, que estão sim, sofrendo o apagão do CNPJ.

Todo o aumento do crédito, anunciado por Paulo Guedes, foi direcionado às grandes empresas, conforme se confere nos gráficos abaixo (do Valor). Nem ele, nem a equipe econômica, nem Bolsonaro, tem o menor interesse em atender os segmentos das médias empresas. Falam apenas para o mercado – Guedes como representante, Bolsonaro por conveniência política.

Uma breve análise dos fluxos de créditos mostra uma concentração óbvia nas grandes empresas. O Banco Central libera compulsório, mas o risco de crédito é do banco. Sem o governo compartilhando o risco, os recursos vão para as empresas de menor risco.

Os recursos do BNDES, teoricamente destinados às pequenas e médias empresas, sequer saíram do papel.

As pequenas e médias empresas não conseguem recursos. Em outros países, há injeção direta do Tesouro, a fundo perdido, para sustentação de empregos e capital de giro. São condições essenciais para a recuperação futura da economia. E os diretores de associações cumpriam seu papel, de representar as empresas de seus setores. E lhes cabia defender seus CNPJs, sim. O apagão de CNPJs não pode ser tratado como inimigo do apagão dos CPFs. Ambos são tragédias nacionais, e não temas distintos.

Os dirigentes de associações não foram para discutir isolamento, mas para reivindicar planejamento do lado do governo, cobrar competência.

O que fizeram Bolsonaro e Paulo Guedes? Montaram a pantomima de levá-los até o Supremo Tribunal Federal, em um ato de desrespeito amplo. Ao levá-los, sem avisar, ao STF, Bolsonaro desviou o assunto. A pauta não era mais a inação de Guedes, para planejar o apoio à economia, mas o isolamento, culpa do Supremo que manteve o direito de estados e municípios de definirem a matéria. E os diretores de associações ficaram inertes, sem saber como reagir àquela manipulação.

Na sequência, a mídia caiu no conto de Bolsonaro, a ponto da manchete da Folha taxar os dirigentes de “lobistas’, inimigos da vida, convalidando a malandragem de Bolsonaro-Guedes, de desviar o tema e as responsabilidades.

A presença do general Braga Neto, convalidando a farsa de Bolsonaro, é mais um capítulo na desmoralização da suposta racionalidade dos militares.

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Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Estamos vendo se repetir 2008, o tal empoçamento.
    FATO - se o ESTADO não entrar como agente ATIVO no processo, o dinheiro não chegará a quem precisa, pior ainda se de forma direta ao médio, pequeno e micro, aqui sim, impossível
    Aiias, penso, salvo melhor juízo, o mesmo poderá ocorrer com a tal emissão de moeda que, fora de provocar um pouco de economia nas contas públicas, se deixado a cargo do mercado e suas "forças e riscos", poderá não ser a salvação da lavoura como alguns já predisseram, ao contrário, podendo mesmo colaborar com um processo mais e mais concentrador de riqueza.

  • Nassif,
    Parece que o empresariado nacional passou a conversar com crianças e mais nada.
    Se naquela pantomima não tinha nenhum peso-pesado de nenhum setor, todos eles facilmente reconhecidos, então me parece óbvio que, entre os empresários, faltou uma liderança para alertá-los do engodo em que se meteram.
    Não é possível ignorar que ambientes com a presença do pra lá de nefasto empregado da banca, PGuedes, o assunto em discussão sempre terá quatro ou cinco pedras para serem tiradas do caminho. O sujeito tá inteiramente perdido já há várias semanas e não esconde isto, haja vista aquele passeio no calçadão de Ipanema, sem camisa, bermuda e boné, isto numa quarta ou quinta-feira em que a situação já estava bastante complicada. Tudo indica que ele queria pular fora do barco, então veio a ordem superior, que nunca foi do presidente também marionete do mercado, mandando ele ficar onde estava e ele teve que baixar a cabeça e obedecer.
    O estrago nas contas públicas, que já era notável antes da pandemia, atingirá níveis nunca imaginados para aqueles que viram o país cumprindo uma impressionante trajetória rumo ao quinto ou sexto posto na lista do PIB, com presença marcante no BRICS do qual nem mais participa, país que saiu de Celso Amorim para este Ernesto filho de censor, país que se tornou motivo de espanto chacota na mídia internacional graças aos dois brutamontes estúpidos e indiferentes a tudo e todos, o presidente e o chanceler.

  • Os empresários não podem reclamar.
    este é o liberalismo econômico que eles defenderam e patrocinaram nas eleições de 2018.
    Quem tiver capital e patrimônio, paguem as suas dívidas e carreguem seus estoques, quem não tiver terão suas dívidas executadas e seus estoques leiloados.

    O problema é que estamos no capitalismo, se vão as empresas, vão os empregos.
    Apesar dos empresários não merecerem precisamos salvar as empresas, e com elas os empregos.

    É fundamental que qualquer tipo de ajuda do governo tenha como contrapartidas, garantias contra as demissões.

  • É muito possível mesmo que os dirigentes das associações que estiveram com Bolsonaro tenham ido ao Planalto com a melhor das boas intenções, de defender as empresas médias e pequenas, cobrando competência e a seriedade que está e continuará faltando à equipe econômica "pinochetista". Mas eles nada têm de fraquinhos e, portanto, ao toparem participar da marcha ao STF mostraram que também lhes falta sensatez.

  • Bolsonaro vai aumentando o potencial da explosão e diminuindo o tamanho do pavio da bomba que estourará em suas mãos. Não vai ter a possibilidade e os fatos não deixarão de direcionar para ele, como um powerpoint tosco lavajatista. Sem poder conferir ao PT, aos comunistas, aos governadores e à OMS, cairá na pior desgraça. Toda e qualquer condescendência será perdida, já que foi uma cova cavada por ele mesmo.

  • Ah Nassif....como são ingenuos esses dirigentes de associações......Todos imbuídos de boa vontade. Foram buscar lógica onde só encontraram irracionalidade. Tadinhos

  • Submeter o supremo nesta canalhice para mim foi demais.Mas tem gente lá que compactuou com oque fizeram de injustiça contra o LULA e a DILMA.

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