Como manter uma colônia ou eliminar um concorrente, por Mauro Santayana

“Comece por cortar a sua possibilidade de financiamento, apoiando a criação de leis que impeçam o seu endividamento” (Foto: Agência Brasil)

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Por Mauro Santayana
 
Como manter uma colônia ou eliminar um concorrente
 
(Do blog com equipe) – Inspirados pelo livro de 1937, de Dale Carnegie, “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, e por personagens recentes de nossa história, subitamente elevados à condição de celebridades, ousamos, como no caso do Pequeno Manual do Grande Manuel, nos aventurar no atrativo mercado das obras de auto-ajuda, em 15 passos (três a mais que os alcoólatras anônimos) com o tema “Como manter uma colônia ou eliminar um concorrente”.
 
 Sem mais preâmbulos, vamos à receita:
 
 1 – Comece por cortar a sua possibilidade de financiamento, apoiando a criação de leis que impeçam o seu endividamento, mesmo que ele tenha uma das menores dívidas públicas entre as 10 maiores economias do mundo e centenas de bilhões de dólares em reservas internacionais, que você esteja devendo muito mais do que ele com relação ao PIB, e que ele seja o seu quarto maior credor individual externo.
 
 2 – Apoie, por meio de uma mídia comprada  cooptada ideologicamente e também de entrevistas de “analistas” do “mercado”, estudos e “relatórios” de “consultorias de investimento” controladas a partir de seu país e da pressão de agências de classificação de risco, às quais você não daria a menor bola, um discurso austericida, privatista e antiestatal para a economia do seu concorrente.
 
 
3 – Com isso, você poderá retirar das mãos dele empresas e negócios que possam servir de instrumento para o seu desenvolvimento econômico e social, inviabilizar o seu controle sobre o orçamento público, e eliminar a sua liberdade de investimento em ações estratégicas que possam assegurar um mínimo de independência e soberania em médio e longo prazo.
 
 
Companhias estatais são perigosas e devem ser eliminadas, adquiridas ou controladas indiretamente.
 
 
 
Elas podem ser usadas por governos nacionalistas e desenvolvimentistas (que você considera naturalmente hostis) para fortalecer seus próprios povos e países contra os seus interesses.
 
4 – Aproveite o discurso austericida do governo fantoche local para destruir o seu maior banco de fomento à exportação e ao desenvolvimento, aumentando suas taxas de juro e obrigando-o a devolver ao Tesouro, antecipadamente, centenas de bilhões em dívidas que poderiam ser pagas, como estava estabelecido antes, em 30 anos, impedindo que ele possa irrigar com crédito a sua economia e apoiar o capital nacional, com a desculpa de diminuir – simbólica e imperceptivelmente – a dívida pública.
 
5 – Estrangule a capacidade de ação internacional de seu adversário, eliminando, pela diminuição da oferta de financiamento, o corte de investimentos e a colocação sob suspeita de ações de desenvolvimento em terceiros países, qualquer veleidade de influência global ou regional.
 
Com isso, você poderá minar a força e a permanência de seu concorrente em acordos e instituições que possam ameaçar a sua própria hegemonia e posição como potência global, como o é o caso, por exemplo, da UNASUL, do Conselho de Defesa da América do Sul, do BRICS ou da Organização Mundial do Comércio.
 
 
6 – Induza, politicamente, as forças que lhe são simpáticas a paralisar, judicialmente – no lugar de exigir que se finalizem as obras, serviços e produtos em andamento – todos os projetos, ações e programas que puderem ser interrompidos e sucateados, provocando a eliminação de milhões de empregos diretos e indiretos e a quebra de milhares de acionistas, investidores, fornecedores, destruindo a engenharia, a capacidade produtiva, a pesquisa tecnológica, a infraestrutura e a defesa do país que você quer enfraquecer, gerando um prejuízo de dezenas, centenas de bilhões de dólares em navios, refinarias, oleodutos, plataformas de petróleo, sistemas de irrigação, submarinos, mísseis, tanques, aviões, rifles de assalto, cuja produção será interrompida, desacelerada ou inviabilizada, com a limitação, por lei, de recursos para investimentos, além de sucessivos bloqueios e ações e processos judiciais.
 
 
 
7- Faça a sua justiça impor, implacavelmente, indenizações a grandes empresas locais,  para compensar acionistas residentes em seu território.
 
 
Se as ações caírem, quem as comprou deve ser bilionariamente compensado, com base em estórias da carochinha montadas com a cumplicidade de “relatórios” “produzidos” por empresas de “auditoria” oriundas do seu próprio país-matriz, mesmo aquelas conhecidas por terem estado envolvidas com numerosos escândalos e irregularidades.
 
 
Afinal, no trato com suas colônias, o capitalismo de bolsa, tipicamente de risco, não pode assumir nada mais, nada menos, do que risco zero.
 
 
 
8 – Concomitantemente, faça com que a abjeta turma de sabujos – alguns oriundos de bancos particulares – que está no governo, sabote bancos públicos que não estão dando prejuízo, fechando centenas de agências e demitindo milhares de funcionários, para diminuir a qualidade e a oferta de seus serviços, tornando as empresas nativas e o próprio governo cada vez mais dependentes de instituições bancárias – que objetivam primeiramente o lucro e cobram juros mais altos – privadas e internacionais.
 
 
 
9 – Levante suspeitas, com a ajuda de parte da imprensa e da mídia locais, sobre programas e empresas relacionadas à área de defesa, como no caso do enriquecimento de urânio, da construção de submarinos, também nucleares, e do desenvolvimento conjunto com outros países – que não são o seu – de caças-bombardeios.
 
Abra no território do seu pseudo concorrente escritórios de forças “policiais” e de “justiça” do seu país, para oferecer ações conjuntas de “cooperação” com as forças policiais e judiciais locais.
 
Você pode fazer isso tranquilamente – oferecendo até mesmo financiamento de “programas” conjuntos – passando por cima do Ministério das Relações Exteriores ou do Ministério da Justiça, por exemplo, porque pelo menos parte das forças policiais e judiciais do seu concorrente não sabem como funciona o jogo geopolítico nem tem o menor respeito pelo sistema político e as instituições vigentes, que são constantemente erodidas pelo arcabouço midiático e acadêmico – no caso de universidades particulares – já cooptados, ao longo de anos, por você mesmo.
 
Seduza, “treine” e premie, com espelhinhos e miçangas – leia-se homenagens, plaquinhas, diplomas, prêmios em dinheiro e palestras pagas – trazendo para “cursos”, encontros e seminários, em seu território, com a desculpa de “juntar forças” no combate ao crime e ao “terrorismo” e defender e valorizar a “democracia”, jornalistas, juízes, procuradores, membros da Suprema Corte, “economistas”, policiais e potenciais “lideranças” do país-alvo, mesmo que a sua própria nação não seja um exemplo de democracia e esteja no momento sendo governada por um palhaço maluco, racista e protofascista com aspirações totalitárias.
 
 
10 – Arranje uma bandeira hipócrita e “moralmente” inatacável, como a de um suposto e relativo, dirigido, combate à corrupção e à impunidade, e destrua as instituições políticas, a governabilidade e as maiores empresas do seu concorrente, aplicando-lhes multas bilionárias, não para recuperar recursos supostamente desviados, mas da forma mais punitiva e miserável, com base em critérios etéreos, distorcíveis e subjetivos, como o de “danos morais coletivos”, por exemplo.
 
11 – Corte o crédito e arrebente com a credibilidade das empresas locais e o seu valor de mercado, arrastando, com a cumplicidade de uma imprensa irresponsável e apátrida, seus nomes e marcas na lama, tanto no mercado interno quanto no internacional, fazendo com que os jornais, emissoras de TV e de rádio “cubram” implacável e exaustivamente cada etapa de sua agonia, dentro e fora do país, para explorar ao máximo o potencial de destruição de sua reputação junto à opinião pública nacional e estrangeira.
 
 
12- Dificulte, pelo caos instalado nas instituições, que lutam entre si em uma demoníaca fogueira das vaidades por mais poder e visibilidade, e pela prerrogativa de fechar acordos de leniência, o retorno à operação de empresas afastadas do mercado.
 
 
Prenda seus principais técnicos e executivos  – incluídos cientistas envolvidos com programas de defesa – forçando-os a fazer delações sem provas, destruindo a sua capacidade de gestão, negociação financeira,  de competição, em suma, no âmbito empresarial público e privado.
 
 
13 – Colha o butim resultante de sua bem sucedida estratégia de destruição da economia de seu concorrente, adquirindo, com a cumplicidade do governo local – que jamais teve mandato popular para isso – fabulosas reservas de petróleo e dezenas de empresas, entre elas uma das maiores companhias de energia elétrica do mundo, ou até mesmo uma Casa da Moeda, a preço de banana e na bacia das almas.
 
 14 – Impeça a qualquer preço o retorno ao poder das forças minimamente nacionalistas e desenvolvimentistas que você conseguiu derrubar com um golpe branco, há algum tempo atrás, jogando contra elas a opinião pública, depois de sabotar seus governos por meio de simpatizantes, com pautas-bomba no Congresso e manifestações insufladas e financiadas de fora do tipo que você já utilizou com sucesso em outros lugares, em ações coordenadas de enfraquecimento e destruição da estrutura nacional local, como no caso do famigerado, quase apocalíptico, esquema da “Primavera Árabe” ou a tomada do poder na Ucrânia por governos de inspiração nazista.
 
 
15 – Finalmente, faça tudo, inclusive no plano jurídico, para que se entregue a sua colônia a um governo que seja implacável contra seus inimigos locais e dócil aos seus desejos e interesses, a ser comandado de preferência por alguém que já tenha batido continência para a sua bandeira ou gritado com entusiasmo o nome de seu país  publicamente.
Redação

9 Comentários

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  1. Irretocável, como todos os

    Irretocável, como todos os textos de Santayana. Lastimo que a desinformação praticada de modo proposital e o analfabetismo funcional da maioria da população não permitam que esse alerta chegue aos corações e mentes dos brasileiros.

  2. Prezado Mouro
    Bom dia
    Esse é

    Prezado Mouro

    Bom dia

    Esse é nosso modelo republicano de país que veio depois da derrubada de D.Pedro II, que tinha um projeto de desenvolvimento que foi abortado pela pseuda democracia!

    Abração

  3. Midia dominada

    É imprssionante como dando uma verificada nos jornais de todos os estados(não estou falando da grande mídia), todos eles sem exceção estã alinhados com o governo e com os golpistas. Não há um que se salve. A mesma coisa é com a esmagadora maioria das rádios interior do Brasil afora todas elea com propaganda massiva contra o PT e Lula. Minha pergunta é; Como pode haver democracia num país com um mídia tendenciosa dessas?

  4. PINGOS NOS IIIIIIIS

    Claro o poder da globo influenciando as mentes pequenas do nosso país, e destruindo sua cultura(poucas estrela musicais reconhecidas hoje em dia pela população como existiam nas décadas de 60, 70 e 80. Somente lixos como foram ‘é o tcham’, e as duplas sertanojos mil).

    Não suficiente, ainda trabalham para eleger politicos comprometidos por interesses que não são do nosso país. Exemplos: beto richa, cabral, eduardo cunha, temer, color.

    E agora sabemos também que não mandam só nos políticos mas também em todo o poder(?) judiciário: stf, stj, mp, polícia federal). Todos com medo de contrariar suas ordens.

    Claro também o poder da globo com suas afiliadas em todo o nosso territorio como exemplo a rpc no paraná (gazeta do povo), rbs (santa catarina, e rio grande do sul).

    E tudo isso a mando de poder do dinheiro norte americano.

     

    A pergunta que não quer calar. Como sair desta para criar um país melhor?

  5. Investimentos
     

    E para coroar, invista nas principais  comodities disponíveis nas colônias: os políticos corruptos.

    Investimento de lucro garantido e de utilidade inestimável.

    Eles vão garantir os seus interesses por bem ou por mal.

    Vão votar as leis que lhe interessam, vão  governar as colônias por você,  realizar seus lucros, e render-lhe a mais cega obediência, mesmo porque,  se não o fizerem, o próprio sistema estará aparelhado para erradicá-los quando necessário.

     

  6. Nada disso faria efeito se a

    Nada disso faria efeito se a população da colônia não fosse tão debilóide. Enfim, cada povo é explorado o tanto que merece.

  7. Para que quinze

    Para que quinze passos?

    Bastam seis passos:

    1-Coloque tal país para ser governado pelo lulista Delfim Neto, numa fase final de um regime militar.

    2- Depois coloque este páis para ser governado, por cinco anos, pelo lulista José Sarney, aquele sujeito que colocou os juros em módicos 200% ao mês; sim, ao mês.

    3- Coloque tal país para ser gerido por Collor e Itamar Franco, aquele que mandou o fusca de volta a produção.

    4- Coloque o lulista e maconheiro FHCannabis, para geir tal país por oito anos.

    5-Coloque o próprio Lula, para governar tal país, por oito anos. Cada um deles, com bilhões de dolares para Cuba e Venezuela.

    6-Por fim, coloque tal país para ser governado pelos lulistas Dilma Russef e Michel Temer.

    Em 40 anos, tal país sai de exportador maior que a China, para quatro décadas de seguidas de crise econômica e exporatdor menor que a minúscula ilha de Coréia do Sul.

    O verdadeiro problema do Brasil não é Temer. Como também não era Dilma, não era Lula, nem FHC, nem Collor, nem Sarney, nem Jango ou Jânio. O verdadeiro problema do Brasil é, o patrimonialismo. A eterna mania nossa de confundir patrimônio público, com patrimônio privado. Afora isto, estamos sempre apostando em fracassos e vergonhas. Em 1888, nós fomos o último país das Américas a acabar com a escravidão e seguimos hoje, tendo coisas abjetas, tais como o monopólio estatal do petróleo e o imposto sindical.

    O petróleo é dos árabes. E a Petrobrás é da CUT. Dei-me um país, que tenha monopólio estatal do petróleo e, eu lhe darei um país pobre e uma cleptocracia. Tudo o que a Petrobrás deu ao povo brasileiro, desde que foi criada em 1953, é uma sentença de viver num país pobre.

    Qual deveria ser o hino do PT? Aquela música que diz: “Onde está o dinheiro? O gato comeu, o gato comeu. E ninguém viu. O gato fugiu, o gato fugiu. O seu paradeiro está no estrangeiro.”

    Quem quiser, que veja a música completa neste site:  https://www.youtube.com/watch?v=92rr8EcDc90

     

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