Como o tio de Aécio foi beneficiado pela construção do aeroporto de Cláudio

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Só agora a Folha revela que o tio-avô de Aécio foi condenado a devolver R$ 250 mil aos cofres públicos por construir uma pista de pouso em sua fazenda quando era prefeito de Cláudio. Aécio, quando governador, construiu um aeródromo bem em cima da pista e, agora, o dinheiro do Estado vai pagar o prejuízo do próprio Estado

Jornal GGN – Cheia de dedos, a Folha de S. Paulo deste sábado (5) revela que o tio-avô de Aécio Neves (PSDB), o ex-prefeito Múcio Tolentino, 90, usará parte do dinheiro que receberá de indenização do Estado de Minas Gerais para pagar um processo sofrido por ter usado indevidamente recursos do Estado de Minas Gerais. O caso está relacionado à construção do aeroporto de Cláudio, episódio que veio a público somente na eleição presidencial do ano passado.

Segundo a apuração da Folha, Múcio foi condenado, em maio deste ano, a pagar R$ 250 mil aos cofres públicos pela construção de uma pista de pouso em uma de suas fazendas, no município de Cláudio, no interior do Estado. A obra foi realizada em 1983, com dinheiro da Prefeitura, capitaneada pelo próprio Múcio. Ele também pediu recursos ao seu cunhado, o então governador de Minas, Tancredo Neves, avô de Aécio.

No entendimento do Ministério Público, Múcio usou dinheiro público em benefício próprio, já que a pista ficava dentro de sua fazenda. Por isso, ele virou réu em uma ação civil pública e teve, em 2001, seus bens bloqueados pela Justiça. A área, por sua vez, foi bloqueada e Múcio ficou impedido de vendê-la.

Em 2003, Aécio assumiu seu primeiro mandato como governador de Minas. Em 2008, depois de reeleito, decidiu desapropriar o terreno onde foi feita a pista de pouso do tio-avô para construir um aeródromo em cima. Na justificativa do tucano, o local era o mais apropriado, pois a pista de terra já existente representaria economia na construção do novo equipamento que fica numa cidade povoada por 25 mil habitantes.

Com autorização de Aécio, o Estado de Minas gastou quase R$ 14 milhões com a obra, que foi entregue em 2010, mas, por causa do imbróglio com o terreno, não foi aberta para uso público. No ano passado, a imprensa revelou que a pista era de uso particular e as chaves, que deveriam ficar com o poder público, eram guardadas por familiares de Aécio.

Pela desapropriação de um terreno que estava bloqueado, o Estado de Minas teria de pagar R$ 1 milhão em indenização para o tio de Aécio. Mas ele decidiu entrar na Justiça solicitando um valor maior.

Segundo a Folha, parte desse R$ 1 milhão – dinheiro que será pago pelo Estado a Múcio – será usado para pagar a dívida de R$ 250 mil referente à condenação que Múcio sofreu pela apropriação de bem público ao construir uma pista de pouso em sua fazenda. Quem reconheceu a dívida como quitada foi o juiz Jacinto Copatto Costa.

“Se a Justiça mantiver o valor da indenização proposta pelo Estado, de R$ 1 milhão, Múcio receberá pelo menos R$ 750 mil pela área, já descontado o valor que ele foi condenado a devolver por causa da outra ação. No processo, o fazendeiro chegou a pedir R$ 9 milhões pelo terreno”, lembrou o jornal.

Procurado pela reportagem, o PSDB de Minas Gerais afirmou que Aécio não construiu o aeroporto em cima da pista antiga do tio para beneficiá-lo nesse processo. O fato foi usado por concorrentes do tucano durante a última disputa presidencial, da qual ele saiu derrotado por pequena diferença de votos em relação a Dilma Rousseff (PT).

O Ministério Público Estadual abriu, ainda em 2014, no calor da eleição,  um inquérito sobre a obra, mas em agosto deste ano arquivou o caso. Os promotores concluíram que não houve nenhuma irregularidade na escolha do terreno e na construção do aeroporto de Cláudio, observou a Folha.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. Das vantagens de ser tucano

    “Os promotores concluíram que não houve nenhuma irregularidade na escolha do terreno e na construção do aeroporto de Cláudio…”

  2. Família de ex-secretária de Aécio, Renata Vilhena, envolvida

    Donos da Embraforte têm prisão decretada por suspeita de desvio de recursos da Caixa

    Ezequiel Fagundes – Hoje em Dia

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    http://www.hojeemdia.com.br/img/hed/compartilhar.png

     

    Cristiano Couto/Hoje em Dia/Arquivo

    assalto na embraforte

    A Embraforte, hoje extinta, foi alvo de assalto milionário em setembro de 2009

     

    A Polícia Federal (PF) em São Paulo cumpriu nesta quinta (3) três mandados de prisão preventiva contra os donos da Embraforte Segurança e Transporte de Valores, com sede em Belo Horizonte e Varginha, no Sul de Minas. Eles são suspeitos de rombo milionário contra a Caixa Econômica Federal (CEF).

     

    Conforme revelou o Hoje em Dia, com exclusividade, em junho, a Justiça Federal em Belo Horizonte determinou o bloqueio de R$ 12,8 milhões da empresa e de seus sócios Marcos André Paes Vilhena e Marcos Felipe Gonçalves de Vilhena. 

     

    Nesta quinta, a Polícia Federal divulgou nota à imprensa para informar que os mandados de prisão foram expedidos contra o pai e dois filhos. Uma pessoa foi presa e outras duas são consideradas foragidas pela Justiça.

     

    Em despacho, o juiz federal Marcelo Dolzany da Costa argumentou que o bloqueio foi necessário porque a Embraforte e seus sócios estariam transferindo recursos para outras empresas. 

     

    Sumiço

     

    “O sumiço recorrente de vultosas importâncias e a falta de entrega de depósitos contrastam com a desenvoltura que seus sócios demonstram na aquisição de outras empresas do mesmo ramo”, argumentou o magistrado.

     

    De acordo com a PF, os suspeitos foram indiciados por peculato, falsidade ideológica e associação criminosa de forma continuada.

     

    A reportagem fez contato nesta quinta com os advogados em São Paulo, mas ninguém foi encontrado para comentar a ação da PF.

    http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/donos-da-embraforte-tem-pris-o-decretada-por-suspeita-de-desvio-de-recursos-da-caixa-1.344517

     

    1. São sobrinhos da

      São sobrinhos da ex-secretária do “choque de gestão” do Aéhsim. Já era pra estarem presos há muito tempo. , O Pimentel teve que assumir pra investigação ir adiante. O delegado foi trocado. Tremo só de pensar nessa gang de volta ao governo em Minas. 

  3. A pista de pouso dentro

    A pista de pouso dentro fazenda de Pablo Escobar em Nápoles não foi construída com dinheiro público. Só estou comparando.

  4. Pro Aero / SETOP / Governo de Minas

    Para maiores esclarecimentos sobre os aeroportos construídos na gestaõ A4 (Andréa+Aécio+Anastasia+Alberto) no reinado tucano em Minas Gerais, 2003 a 2014, sugiro pesquisar sobre o programa PróAero da SETOP (Secretaria Estadual de Transporte e Obras Públicas) lançado pelo Governo mineiro em 2003 e que tinha como meta construir aeroportos em todo o estado, visando atender ao programa MG Transplantes, onde segundo a propaganda oficial aecista “nenhum município mineiro ficará a mais de 80 km de um aeroporto com estrada asfaltada”….a conferir

  5. Inédito: o premio de 1 milhão saiu!

    Pelo que entendi, o Prefeito fez uma obra pública, um campo de pouso, em sua propriedade rural.

    Aí seu sobrinho, que era governador, transformou-a em um aeroporto, todo pavimentado, desapropriando, ao que parece, indiretamente, em um local que tudo indica não tem em seu bojo nenhum interesse público, pois não atende à população.

    O Prefeito foi acionado pelo MP de MG e o Prefeito acabou sendo condenado a pagar 250 mil reais.

    Agora, na ação de desapropriação o Prefeito receberá um milhão de reais, pois o Estado foi condenado, como o sonhado prêmio da megasenha, tornando o sonho do prefeito fazendeiro realidade: vai pagar suas dívidas com a ação pública – 250 mil – e ainda restará um troquinho, 750 mil reais, premiozinho, que um brasileiro que ganha o salário mínimo teria que trabalhar mais de 30 anos.

    Inédito: o prêmio, tal como todos sonham no programa da Megasenha, saiu!

    Viva o Brasil

     

  6. Aeroporco

    Um aspecto que não tem aparecido nas análises é a valorização da fazenda do titio, provocada pela existência de um aeroporto com pista asfaltada.  Suponhamos que as terras valessem 10 milhões.  Depois de receber uma benfeitoria de 14 milhões, passaram a valer muito mais. E o titio ainda pleiteava uma indenização pelos ganhos…

  7. Ela! Ela!

    Atenção, muita atenção para esta contradição: segundo a notícia, Aécio teria optado por desapropriar as terras do tio por uma questão de economicidade; “a  justificativa do tucano, o local era o mais apropriado, pois a pista de terra já existente representaria economia na construção do novo equipamento que fica numa cidade povoada por 25 mil habitantes.” Acontece que fotos aéreas da fazenda em épocas distintas demonstram que a nova pista NÃO foi construída sobre a antiga pista existente. Isto INVALIDA o argumento de Aécio. Além disso, a nova pista custou nada modestos R$ 14 milhões – valor bem maior que o de outros Aecioportos construídos. Cadê os sempre atentos Ministério Público e Imprensa Tradicional – sempre atentos contra uns e sempiternos em favor de outros?

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