Como vencer os Dráculas I ou Palpites para a Esquerda II, por Zégomes

Este texto é uma continuação de um texto anterior chamado “Palpites para a Esquerda I” onde nós dissemos que os Dráculas querem a acabar com qualquer pensamento de Esquerda e com solidariedade Social.

Foto Fernando Bezerra Jr. – EFE

Como vencer os Dráculas I ou Palpites para a Esquerda II, por Zégomes

Tem coisa mais maravilhosa que ter estabilidade no emprego? Nós servidores públicos temos. Para nós, isso elimina um dos maiores terrores do Homem: o de ficar de repente na rua da amargura. Juntando a isso um belo salário, não é o paraíso?  Minha empregada doméstica me contou que no ônibus que pega da periferia de Brasília para vir a minha casa diariamente, com frequência ouve expressões de admiração assim: “Seu patrão é servidoooor?”  O que quer dizer mais ou menos isso: “nossa, seu patrão é cheio da grana”.

Este texto é uma continuação de um texto anterior chamado “Palpites para a Esquerda I” onde nós dissemos que os Dráculas (os bilionários do mundo e seus Think Tanks liberais, o poder profundo do império americano com suas Agências CIA, NSA, etc., tendo como instrumento a mídia mundial, a Net, etc.) querem a acabar com qualquer pensamento de Esquerda e com solidariedade Social, e que estavam agindo a partir de quatro pontos:

1)      Acusar a Esquerda de ser a causa da degeneração dos costumes (Gênero, LGBT, aborto, etc.);

2)      Acusar a Esquerda de ser fonte de corrupção e de incompetência na gestão dos bens públicos;

3)      Acusar a Esquerda (Nos países pobres) de apoiar a bandidagem a partir da ação a favor dos Direitos Humanos;

4)      Acusar a Esquerda (Na Europa e Estados Unidos) de apoiar a invasão de imigrantes.

Esse texto inicial está aqui https://jornalggn.com.br/seguranca-publica/palpites-para-a-esquerda-i/.

Já escrevemos, em textos anteriores, sobre como a Esquerda brasileira deveria agir para se defender da acusação de apoiar bandidos e como a Esquerda europeia deveria agir para se defender da acusação de querer transformar a Europa num grande campo de refugiados. Ambas as acusações, gotejadas e inflamadas dia a dia pela grande mídia na cabeça do povo, geram um tremendo pânico, ódio e revolta contra a Esquerda. É coisa de profissional mesmo. Fabricadas nos laboratórios de psicologia de massas financiados pelos Dráculas.

Hoje vamos abordar a acusação número 2 acima: a de que a Esquerda é corrupta e incompetente para a gestão dos bens públicos.

Antes queria chamar a atenção para um fato curioso, que tomei conhecimento, com grande surpresa, através de minhas “fontes” (essas são meus pacientes na periferia de Brasília e os parentes da mulher de meu irmão, gente do interior, kkk): Nós, toda a Esquerda, nos debatemos contra a terceirização do trabalho. Mas, pasmem, grande parte desse povo está a favor, porque conseguiram inculcar na cabeça deles que, terceirizando, vai acabar funcionário público que ganha altos salários e vai sobrar muita vaga de emprego público com salário menor para eles, que nunca conseguiram nem conseguirão passar em concursos (muitos já tentaram passar e não conseguiram, o que gerou ressentimento e inveja).

Liga-se os pontos e podemos nos lembrar daquelas campanhas infames contra o PT: de que aparelhava tudo, era uma organização criminosa que sugava o Estado. Derrubando o PT e a Esquerda, a mamata ia acabar para todos eles. Milhares foram para as ruas para combater essa “mamata”. Combater as mamatas dos petistas como o beiju que o ministro comprou com o cartão corporativo, etc.   Claro, os laboratórios de psicologia de massas dos Dráculas identificaram bem esse ressentimento e essa inveja popular e montaram toda essa campanha. Uma campanha contra as mordomias dos “marajás”, associando-as à “corrupção da Esquerda”, à “riqueza do Lula”. Na cabeça do povo, não faz diferença se os “marajás” são concursados ou comissionados ou políticos eleitos. Os psicólogos dos Dráculas identificaram esse filão de revolta e trataram de faturar isso carimbando a culpa da “mamata” na Esquerda e a solução a terceirização, a privatização, a Direita, para extirpar toda essa “corrupção”.

A Esquerda facilitou esse carimbo? Infelizmente, todo chavão, todo preconceito começa com alguma coisa que lhe dá suporte. De uma pequena verdade os laboratórios dos Dráculas podem construir uma mentira enorme.

Vamos analisar as relações da Esquerda com o mundo corporativo do serviço público.

Os concursos são importantes. Uma evolução burocrática. Como hoje em dia gostam de dizer, “uma conquista civilizatória”. Mas também tem seus problemas, como por exemplo os concursados Moro, Dallagnol, etc. que, investidos do poder do Estado, começam a usar desse poder para a perseguição dos desafetos.

Vou contar nesse parágrafo uma experiência pessoal quase anedótica. Não faço isso para me gabar de ser bom concurseiro, mas para evidenciar um pouquinho como é a mística predominante entre os concurseiros. Me candidatei para um concurso no final de 1989 começo de 1990. Um órgão federal. Só vou dizer qual para nosso editor Nassif (o mesmo órgão em que sua irmã se aposentou, fomos colegas lá). Morava em São Paulo na época. Eram 82 vagas em São Paulo, para 28.000 candidatos. Os Uspianos e Unicampianos em peso. Para minha enorme surpresa fiquei em 2º lugar e, para efeitos práticos, terminei como 1º porque o primeiro lugar era um dono de cursinho preparatório, já servidor, que fazia concursos em série por motivo profissional. Então virei mito de um dia para o outro. A ponto de o 6º lugar, um uspiano, rapaz muito bom, que de tão inteligente parecia que tinha problema mental, se aproximou de mim e falou assim: Cara, tenho dois filhos, me preocupa demais a educação deles, a alimentação. Cê não quer me dar umas dicas? Aí eu ri muito, porque, se eu tivesse que falar alguma coisa, eu teria que dizer assim: Cara, eu nasci no Piauí e logo após meu nascimento meu pai se mudou para um lugarzinho no Maranhão, no fim do mundo. Meu maior sonho quando pequeno era conhecer pão. Lá não tinha padaria. A gente rezava “o pão nosso de cada dia nos dai hoje…”, mas eu não sabia o que era pão. Comia, porém, muito beiju e cuscuz com leite, kkk. Quanto à educação, deixa pra lá, dá pra imaginar. Mas eu respondi para ele apenas isto: Você é um rapaz muito inteligente, vai saber educar muito bem seus filhos, vai poder escolher para eles as melhores escolas da maior e mais rica cidade do país, esquenta não!

Vamos lembrar que, para que nós, os 82 aprovados estivéssemos ali, foi necessário eliminar 27.900 concorrentes, jovens também cheios de sonhos e desejos. Sem dúvidas, isso não acontece sem algum ressentimento.

A mística predominante entre os concursados infelizmente é essa.  A idolatria com quem soube marcar mais “X” acertados nas provas do concurso. Gente muito orgulhosa, que se acha merecedora de todas as benesses, “porque se matou estudando, para chegar aonde chegou”, o onipresente discurso da “meritocracia”. Nas redes sociais privadas dos órgãos públicos é incrível o número de manifestações de desprezo pelo sofrimento do povo em geral. Funcionários com ótimos salários, o magnífico direito da estabilidade, olharem com desdém para o povo que o sustenta, como se todo mundo fosse obrigado a se matar de estudar e passar em concurso, para ser considerado útil.

O Presidente Lula aumentou MUITO nosso salário. Foi uma guinada extraordinária. Em todas as camadas do setor público. Os conscritos das forças armadas, por exemplo, ganhavam metade do salário mínimo na era FHC (metade do fajuto salário mínimo do FHC). Lula passou o salário deles para 1 mínimo (e 1 mínimo da era Lula).

Mas por que parece que ninguém agradece? Por que todos tremem de ódio contra a “Esquerda”?

Brasília elege 8 deputados federais para o Congresso Nacional. Toda eleição só conseguimos eleger um deputado de esquerda (a deputada Erika Kokai é a nossa eterna eleita). Na última eleição, Érika Kokai foi reeleita pelo PT. Os outros sete deputados, todos de direita e extrema direita. E a Érika Kokai é eleita sempre com a bandeira da defesa dos servidores públicos. Conclusão: a maioria dos servidores públicos não está nem aí para a Esquerda que luta por eles.

Agora na reforma da Previdência, a Esquerda votou em peso a favor de reduzir a idade mínima de militares para 53 anos. Ora, a reforma é questionável em muitos pontos, mas quando ela quis aumentar a idade mínima dos militares ela acertou. A pobre Esquerda, entretanto, na ânsia de provocar uma derrota na reforma, votou a favor de um absurdo. Como, nas eleições, eles vão poder explicar que votaram para que militares se aposentem com 53 anos, enquanto o homem do povo só pode com 65? E isso virá à tona. As campanhas dos Dráculas vão aproveitar esse deslize.

Policiais e militares votam em peso na Direita, no fascismo, porque eles querem carta branca para matar, e isso só o fascismo promete. O que a Esquerda ganhou tomando partido dessa gente? Voto? Nenhum. E ainda deu motivo para ser acusada de corporativista no futuro.

Na Companhia de Esgoto de Brasília e na Terracap –é a imobiliária que administra os terrenos públicos do Distrito Federal- foram descobertos recentemente funcionários marajás, ganhando salários de 100 mil reais. Culpa de quem? Certamente a maior parte da culpa deve ser da Justiça, que deve ter autorizado isso, em algum processo aí no passado. Mas Brasília, nos últimos 25 anos teve dois governadores do PT, por que eles não se insurgiram contra isso, não denunciaram? Poderia até não ter funcionado, mas pegaria muito bem como marketing.

Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal pelo PT há seis anos atrás, aceitou, após greves e pressões, que os “trabalhadores da saúde”, quer dizer, médicos, enfermeiros, psicólogos, etc. reduzissem a carga horária de 30 horas semanais (já uma excelente carga horária, muito favorável para esses funcionários) para 20 horas semanais. Hoje, em plena crise da saúde, o governador atual não se cansa de falar diante de todas as câmeras de TV que a culpa da crise é do PT, da Esquerda, do Agnelo, por essa redução aberrante, corporativa, da carga horária. Argumento facílimo de vender.

Não dá assim a Esquerda bons motivo para ser difamada? Ser tachada de defensora das mordomias, de incompetente para a gestão da coisa pública? Fica fácil fabricar na cabeça do público a idéia de uma Esquerda defensora de mamatas. Por isso essa grande quantidade de gente defendendo terceirização, privatização. Odiando “esquerdopatas” que só querem mamatas.  Muitos têm um grande medo do retorno do PT, porque assim vão voltar as “mamatas”.

Não se trata de linchar os servidores públicos. Mas a Esquerda tem de ter cautela frente aos concursados. Deixar de trata-los romanticamente como “os trabalhadores”.   A maior parte deles não gosta de Esquerda, eles gostam é de “meritocracia”. Esse negócio de “ajudar pobre que não quer se esforçar” não é com eles.

Pequenos errinhos que parecem inocentes dão munição terrível para as campanhas dos Dráculas destruírem a Esquerda e a Solidariedade Social. Tomemos cuidado.

E já nos estendemos demais. Vou tratar no próximo texto de como a Esquerda pode fazer uma guinada sensacional em direção ao lado certo de onde ela deve estar na luta de classes.

Redação

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