Complexo do Alemão tem 13 UPPs e apenas uma escola

Sugerido por alfeu

Do Canal Ibase

Alemão tem apenas uma escola e 13 bases de UPP

Rogério Daflon

Na Praça do Conhecimento, no Complexo do Alemão, policiais filmavam nesta terça-feira (17/02) uma reunião em que lideranças locais e de favelas de diferentes pontos do Rio debatiam as violações de direitos humanos na cidade. Um dos objetivos era tornar público um manifesto contra procedimentos ilegais, como o próprio ato desempenhado pela polícia naquele momento.

Aquela câmera tornou o clima tenso e alguns moradores protestaram contra a postura totalitária dos agentes da Polícia Militar. Ali, se fazia ontem uma tentativa de mobilizar moradores para lutar pelos seus direitos.

Morador do Alemão, David Amen, do Instituto Raízes em Movimento, pontuou que a ação policial nas favelas, mesmo aquelas que possuem as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) tem transformado as comunidades em territórios onde vigora o regime de exceção. Na reunião, também foi discutida uma reportagem do jornal Extra, que veiculou a informação de que traficantes dariam R$ 200 para moradores opinarem contra as UPPs.

– A imprensa, ao agir assim, desrespeita o favelado – disse David.

Para a jovem artista plástica Marluci Souza, nascida na localidade de Alvorada, o maior desrespeito dessa política de segurança é o desdém em relação à educação no Complexo do Alemão. Seu raciocínio faz saltar aos ouvidos algo extremamente perverso.
– O Complexo tem 100 mil habitantes, nenhuma escola de ensino fundamental e apenas uma de ensino médio. Já as bases da UPP são 13, com um contêiner de dois andares em cada uma das cinco estações e mais oito conteineres em diferentes pontos. E há mais uma delegacia aqui, embora haja duas em bairros do entorno. Já reclamamos com o governo do estado, com as secretarias estaduais, mas a resposta é sempre a mesma: a segurança é prioritária. Isso é um equívoco enorme.

As políticas públicas equivocadas e as violações de direitos humanos geraram um manifesto contundente que marca o início de uma séria de ações das favelas do Rio, a fim de denunciar atos de repressão no cotidiano dos moradores. Abaixo, a íntegra do manifesto:

“Queremos ser felizes e andar tranquilamente na favela em que nascemos.

Durante décadas o Estado não reconheceu a favela como parte integrante da cidade, negando aos seus moradores direitos básicos. Hoje, depois de três anos de ocupação da segurança pública no Complexo do Alemão, percebemos que ainda temos um longo caminho a seguir na garantia de direitos, uma vez que, o braço do Estado que mais entra na favela é o braço armado. Sem escola não há pacificação, sem saúde não há pacificação, sem saneamento básico não há pacificação, sem lazer não há pacificação. O símbolo da paz no Rio de Janeiro não pode ser armas, a pistola, o fuzil e os blindados.

Nas ultimas semanas, as manchetes dos jornais foram tomadas por matérias sobre os conflitos que acontecem cotidianamente nas favelas com a ocupação policial – as UPP´s, sobretudo no Complexo do Alemão. Junto com as manchetes, vieram as declarações do secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, que apresentou a opção de ampliar a militarização como possível solução para os problemas. Parece que, ao seu ver, toda solução de conflito passa pela ampliação da presença da polícia e de outras forças militares no teritório.
Entendemos que essa perspectiva precisa ser mudada, uma vez que é possível perceber que só a presença da polícia nos territórios ocupados não tem trazido a paz. Existem vários casos, em favelas com UPP, de abuso de poder, arbitrariedades e desaparecidos, como é o caso do Amarildo , na Rocinha, e da morte de jovens por policiais da UPP como: André de Lima Cardoso, 19 anos, Pavão-Pavãozinho; José Carlos Lopes Júnior,19 anos, morador de São João; Thales Pereira Ribeiro D’Adrea, 15 anos, Morro do Fogueteiro; Jackson Lessa dos Santos, 20 anos, Morro do Fogueteiro; Mateus Oliveira Casé, 16 anos, Manguinhos; Paulo Henrique dos Santos, 25 anos, Cidade de Deus; Aliélson Nogueira, 21 anos, Jacarezinho; Laércio Hilário da Luz Neto, 17 anos, Morro do Alemão e Israel Meneses, 23 anos, Jacarezinho. Nesta política não podemos deixar de citar os policiais mortos na ação suicida do Estado. Não aceitamos essas mortes, nenhuma vida vale mais que a outra e é preciso que o Estado se responsabilize. Afinal, qual é a paz que queremos promover? A paz bélica ? A paz militarizada?

Nesse domingo, 16, a capa do jornal extra anunciava que os moradores de favela tinham ido às ruas se manifestar a mando do tráfico e estariam recebendo dinheiro para isso. Mais uma vez a grande imprensa tem sido uma ferramenta de criminalização dos movimentos populares e da favela. Repudiamos totalmente a forma com que os meios de comunicação têm feito a cobertura da ação da polícia no Complexo do Alemão e em outras favelas. Entendemos que o morador de favela não pode ser visto como um inimigo. O governo diz que as favelas estão pacificadas, mas então porque tanta arma ostentada pela polícia? Queremos mais diálogo entre os moradores de favela e segurança no território, queremos a liberdade de ir e vir, queremos mais escolas, saneamento básico para morador ao invés de teleférico para turista, queremos a garantia do direito de expressão onde o baile funk se insere, não queremos a violação do domicílio sem mandato. Entender as demandas do Complexo é simples, entender as demandas da favela é simples , porque o papo é reto.
As propostas de “PAZ” devem ser construídas coletivamente com toda a favela. Não se constrói uma politica de paz com o pé na porta, agredindo gratuitamente seus moradores, não se constrói paz com caveirão. No atual modelo, “independente de quem manda”, os moradores continuam sem ter sua voz ouvida. Temos a consciência de que o pobre tem seu lugar.”

Assinam:

Ocupa Alemão
Instituto Raízes em Movimento
Ibase
Alemão de Notícias
Complexo do Alemão
Educap
Jornal Voz das Comunidades
Favela não se Cala
IDDH
Rede Universidade Nômade
O Cidadão
Fórum Social de Manguinhos
Fórum Rede da Juventude
Coletivo Mariati
Favela em Foco
Norte Comum
Observatório de Conflitos Urbanos

Redação

17 Comentários

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  1. “Seu raciocínio faz saltar

    “Seu raciocínio faz saltar aos ouvidos algo extremamente perverso.
    – O Complexo tem 100 mil habitantes, nenhuma escola de ensino fundamental e apenas uma de ensino médio. Já as bases da UPP são 13, com um contêiner de dois andares em cada uma das cinco estações e mais oito conteineres em diferentes pontos. E há mais uma delegacia aqui, embora haja duas em bairros do entorno. Já reclamamos com o governo do estado, com as secretarias estaduais, mas a resposta é sempre a mesma: a segurança é prioritária. Isso é um equívoco enorme”:

    Nao eh mero equivoco.  Eh gigolagem.  Muitissimo provavelmente devido a lobby militar -quem mais tem interesse em gigolar os pobres?

    1. What?!?!?!
      “As propostas de

      What?!?!?!

      “As propostas de “PAZ” devem ser construídas coletivamente com toda a favela. Não se constrói uma politica de paz com o pé na porta, agredindo gratuitamente seus moradores, não se constrói paz com caveirão”

  2. penso que a cidade tem dois prefeitos…

    um eleito e outro paralelo………….

    zona sul e centro quem manda é o eleito, o resto da cidade que se dane, deixam para o governador Cabral brincar de tiro ao alvo

    felizmene é outro que será varrido para o lixão da história do Estado junto com quem deve estar faturando milhões com a venda de conteineres

     

    muito estranho esse lance de esconder detalhes, em nome da segurança……………..

    se bobear o fabricante deve ser um cascudão da PMRJ

     

    alguém sabe quem fabrica e equipa os conteineres?

    custo de quantos equivale a construção de uma escola?

     

    quem tiver respostas, seria interessante trazer para discussão

      1. barato, caro, negociável em concorrência???

        nada certo, porém, na falta do custo para uma escola com mesmo sistema de construção que, pelo que já em fotos, daria para funcionar muito bem

  3. vamos lá, cariocas…

    questionar, duvidar, pedir mais clareza e acesso às regras do jogo, porque o que o post traz é de um absurdo sem igual, alarmante

  4. observando de longe…

    nota-se que partes do complexo estão sendo mantidas “apagadas” durante a noite…………..confere?

    quem manda desligar? por quê? com que objetivo?

     

    fala aí, Cabral

  5. “…Seu raciocínio faz saltar

    “…Seu raciocínio faz saltar aos ouvidos algo extremamente perverso.O Complexo tem 100 mil habitantes, nenhuma escola de ensino fundamental e apenas uma de ensino médio.”

    A região é atendida pela 4ª CRE(Coordenaria Regional de Educação). Consta que nos bairros( Olaria, Bonsucesso, Ramos, Manguinhos, Penha…) há, mais ou menos, 148 escolas. A acreditar na informação da jovem, teríamos milhares de crianças na região sem escola, o que não corresponde a realidade. Lembrando que o Complexo do Alemão está incluso nesses bairros. 

    http://webapp.sme.rio.rj.gov.br/jcartela/publico/pesquisa.do?cmd=listarEscolasDaCre&idSetor=1605

    1. Você está deixando de
      Você está deixando de considerar que o complexo pega apenas uma parte desses bairros citados e as escolas estão na parte fora do complexo.

    2. Há várias escolas na quarta

      Há várias escolas na quarta CRE em pé de morro mas poucas dentro das favelas. Inclusive, é difícil conseguir levar professor pra dentro das favelas, principalmente os mais inexperientes, ainda mais com um difícil acesso de apenas R$ 160,00.

  6. Deste jeito nunca nada vai

    Deste jeito nunca nada vai dar certo. Era para já ter havido um projeto detalhado de reurbanização de todo o complexo, dividido em áreas de prioridade para implantação. Nasceriam vias e praças, obedientes a uma hierarquia viária. Nasceriam espaços para fins institucionais, comerciais e diversionais. Mas isto só seria possível se houvessem arquitetos e urbanistas na Secretaria Muncipal de Desenvolvimento Social, com carreiras de Estado, que pudessem elaborar este traballho internamente com sociólogos e economistas, e que pudessem depois coordenar a adequação e finalização deste trabalho em conjunto com a Secretaria de Urbanismo do Rio, Secretaria de Transportes, com as empresas de água e saneamento básico e energia elétrica. Toda esta estrutura necessária não existe mais depois da instalação predatória da ideologia neoliberal modelo tupiniquim. Por esta visão, o que se teria a fazer era contratar uma empresa para elaborar este serviço. Tal empresa não teria compromisso allgum com o povo do lugar, implantaria padrões estereotipados e inadequados em mero projeto de desenho com dados insuficientes, cobraria os olhos da cara e caia fora rapidinho, deixando a prefeitura com uma maçaroca de papel destinado às cestas de lixo. Não há possibilidade de avanço social maior sem a restauração do planejamento e de uma burocracia adequada na governança das cidades brasileiras.    

  7. UPP’s

    Em defesa do Secretário Beltrame, ele nunca enganou ninguem, sempre em todas as declarações ele foi enfático, ocupar mas com o estado entrando com sua parte, educação e saude.

  8. Desenvolvimento local

    A questão em toda parte no Brasil é a do desenvolvimento local. Quantos complexos desportivos de primeira linha há nesta verdadeira cidade? Quantos teatros? Quantas escolas de música? Quantas piscinas públicas? Quantos centros de convenções públicos para permitir dignamente às instituições comunitárias reunir-se? Quantos cinemas? Quantos museus? Quantas escolas de dança? Há alguma banda sinfônica? Há locais adequados apra as pessoas fazerem as suas festas e celebrações familiares? Quando o Estado brasileiro tiver respondido a estas perguntas, bem neste dia a violência será uma distante lembrança. 

    O grande problema é que quando se fala de desenvolvimento pouca gente entende que para fazer o desenvolvimento local será necesário um novo PAC, bilhões de reais de investimentos, novas ferramentas de gestão em parceria públicos/comunitárias, etc. 

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