Congresso continua uma casa de centro, por André Singer

Da Folha

Saídas à esquerda

por André Singer

Bem vistos o conjunto dos resultados eleitorais, o quadro não se apresenta de modo a tornar obrigatória uma rendição do governo ao mercado.

No Congresso, há menor presença progressista, mas não ocorreu uma virada conservadora. Baseado em levantamento dos cientistas políticos Fabiano Santos e Júlio Canello (“Carta Capital”, 5/11), pode-se dizer que, na Câmara dos Deputados, o campo da direita cresceu 11%, ao passo que o da esquerda perdeu 7%. Continua dominante o centro (embora mais fragmentado).

A representação na Câmara –proporcional– é o melhor indicador da força dos partidos. A escolha de presidente, governadores e senadores depende de coalizões heterogêneas, já o número de deputados expressa o peso relativo de cada corrente no eleitorado.

Em números absolutos, somados a direita e os “pequenos partidos de direita” (divisão dos pesquisadores) ocuparão 167 cadeiras na próxima legislatura, e a esquerda e os “pequenos partidos de esquerda” terão 138. Antes as duas correntes estavam empatadas. A mudança é coerente com o fato de que Dilma teve um mandato difícil, tanto no campo econômico como no julgamento da Ação Penal 470.

Apesar de a balança pender um pouco mais para a direita, na realidade nem uma nem outra posição polar pode ir adiante sem o apoio do centro. De acordo com Santos e Canello, o centro e os pequenos partidos de centro reunirão 208 deputados. Para exemplificar: nem a jornada de 40 horas nem a redução da maioridade penal, bandeiras caras à esquerda e à direita respectivamente, passariam sem forte coalizão com o centro. Como este não deverá se inclinar nem em uma nem em outra direção, é pouco provável que qualquer delas tenha êxito.

Em consequência, é preciso verificar o que pode ser negociado com o centro e estabelecer uma agenda de acordo com a correlação de forças real. Do ângulo da esquerda, a quem cabe a iniciativa, pois ganhou a Presidência e participa do maior bloco no Congresso, seria possível apresentar de imediato proposta que tornasse o Bolsa Família um direito constitucional. Se até o PSDB declarou apoio à medida, é difícil para o PMDB, síndico do bloco de centro, recusar os votos necessários.

Da mesma forma, deve ser viável negociar uma alocação de gastos públicos que favoreça o crescimento, como ficou claro nesta semana pela aprovação unânime, no Senado, do abatimento das dívidas de Estados e municípios.

A decisão mostra o trânsito, entre os partidos, de proposta voltada a permitir a retomada do investimento em locais estrangulados. Em suma, a correlação de forças autoriza pensar em saídas progressistas. Por que não? 

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Em que mundo vive este rapaz?

    Temos a bancada da bola, a bancada da bala,a bancada dos banqueiros e financistas, a bancada da cerveja da Ambev, a bancada do boi – o Friboi – 160 deputados se elegeram com dinheiro deste grupo econômico -, a bancada da Globo, a bancada ruralista e dos usineiros, a bancada do Eduardo Cunha, a bancada evangélica, a bancada dos homo-fóbicos.

    E  o que resta de “centro” na hora de pegar para capar sempre vota com na direita e com a direita.

     

     

  2. Essa diferença negativa das

    Essa diferença negativa das esquerdas seria altamente positiva tivessem esses partidos mantidos suas ligações umbilicais com a base e a articulação coesa e coletiva.

    Para além disso permitiram que as bases fossem fragmentadas e as corporativaram.

    Hoje elas mal conseguem se movimentar para defesas de seus direitos trabalhistas.

    Ao invés de vermos amplos movimentos de ruas pedindo melhorias democráticas, bandeiras das esquerdas,  vimos amplas mobilizações de ruas com essas mesmas bandeiras sendo ditas, ou defendidas, como plataformas da direita.

    As esquerdas permitiram a desideologização da sociedade e com isso, nada mais fácil dos que os grupos oportunistas se apropriarem das propostas que antes eram da esquerda e com isso sufocá – las  e pela retórica colocá-las sutilmente embaixo dos tapetes.

    Sobre isso Luiz Carlos Maciel já alertava:

    Hoje, as manifestações juvenis de nosso passado recente, depois de domadas, assimiladas e distorcidas pelo sistema, foram substituídas por um fetiche abstrato e bastante ridículo que é o jovem tal como é definido pelas agências de publicidade, delineado pelas pesquisas de opinião, incensado pela mídia, tomado por paradigma de eficiência empresarial (o tal do Yuppie) e, o que é pior de tudo, imposto como modelo aos ainda mais jovens, ou seja, nossas crianças. Esse “jovem” é o que, no meu tempo, chamávamos de alienado e, depois, de careta. Trata – se de uma domesticação dos instintos naturais da juventude em função dos interesses do sistema.

    http://assisprocura.blogspot.com.br/p/que-juventude-e-essa.html

  3. Na verdade, no contexto

    Na verdade, no contexto brasileiro faz mais sentido dizer que as três grandes forças político-ideológicas presentes na Câmara dos Deputados (e no Senado) são o trabalhismopopulismo, mais à esquerda; o udenismoelitismo, mais à direita; e mais ou menos equidistante entre essas o grande centro pragmático ou pessedismo. 

    A principal contradiçao político-ideológica na políitca brasileira e que polarizou com grande tensão as eleições presidenciais se dá entre o trabalhismopopulismo e o udenismoelitismo.

  4. A reforme politica tem que

    A reforme politica tem que lembrar que o mandato desses congresistas pértencem ao povo, quando eleitos muitos se esquecem disso e trabalham contra, nesse exato momento um desses quer se eleger justamente para atrapalhar o governo de um presidente recem eleito pelo povo, absurdo,não se pode deixar congresso com os vicios que ja se entranharam, por que mudam os nomes mas a legislatura continua a mesma. 

  5. transfugas da esquerda..

    a direita aumentou muito em consequencia das atitudes oportunistas de membros de alguns Partidos que se diziam de esquerda: Marina e sua Rede, PSB quase todo, parte do PDT e grande parcela do PMDB que atuou como verdadeira direita..discordando do André Singer, o próximo Congresso é o mais conservador desde 1964 como aliás atestam alguns Cientistas Políticos..Dilma vai ter muito trabalho naquele balcão de negócios..

    Reforma Política Já!!!!!

  6. espero que o snge tenha

    espero que o snge tenha razão.

    mas os da centro-esquerda tem de ter em mente

    que é preciso politizar urgentemente a discussão,

    sob pena de naufragarmos no ódio e na insensatez da

    direita e dos ditos apolíticos que a tudo querem destruir.,

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