Contendo a fuga de capitais nos países em desenvolvimento, por Joseph E. Stiglitz & Hamid Rashid

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – Os países em desenvolvimento devem se preparara para um ano de forte desaceleração. Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que o crescimento médio de tais países não passou dos 3,8% em 2015, a menor variação desde a crise financeira global em 2009 e apenas igualada, neste século, pelo recessivo ano de 2001. E a desaceleração da China, assim como as recessões de Brasil e Rússia, explicam apenas uma parte da queda generalizada.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, os economistas Joseph E. Stiglitz & Hamid Rashid dizem que a menor demanda por recursos naturais pela China (que responde por perto da metade da procura global por metais de base) tem relação com as acentuadas quedas de preços, que afetaram diversas economias em desenvolvimento na América Latina e na África. “De fato, o relatório da ONU refere 29 economias que terão probabilidade de ser grandemente afetadas pelo abrandamento da China. E o colapso dos preços do petróleo, superior a 60% desde Julho de 2014, abalou as perspectivas de crescimento dos exportadores de petróleo”.

Contudo, os economistas dizem que a verdadeira preocupação não está apenas na queda dos preços das mercadorias, mas também na saída de capital. Entre os anos de 2009 e 2014, os países em desenvolvimento receberam, em seu conjunto, US$ 2,2 trilhões em entradas líquidas de capital, em parte por conta da flexibilização quantitativa nas economias avançadas, que empurrou as suas taxas de juro quase até zero.

“A busca por maiores rendimentos levou os investidores e os especuladores até aos países em desenvolvimento, onde as entradas de capital aumentaram a alavancagem, estimularam os preços dos títulos, e em alguns casos fomentaram um aumento abrupto do preço das mercadorias”, pontuam os economistas. “A capitalização bolsista nas bolsas de Mumbai, Joanesburgo, São Paulo e Xangai, por exemplo, quase triplicou nos anos que se seguiram à crise financeira. Os mercados de títulos noutros países em desenvolvimento também testemunharam aumentos dramáticos semelhantes durante este período”.

Agora, os fluxos de capital estão se invertendo, e tornando-se negativos pela primeira vez desde 2006, com as saídas líquidas nos países em desenvolvimento em 2015 a excederem US$ 600 bilhões (mais de um quarto das entradas recebidas durante os seis anos anteriores). As maiores saídas ocorreram através dos canais bancários, com os bancos internacionais a reduzirem as suas exposições ilíquidas ao crédito a países em desenvolvimento em mais de US$ 800 bilhões em 2015. “Esta não é a primeira vez em que os países em desenvolvimento tiveram de enfrentar os desafios de gerir capital especulativo pró-cíclico, mas as magnitudes atuais são avassaladoras”, pontuam os economistas.

Por conta disso, os setores empresariais dos países em desenvolvimento encontram-se em estado vulnerável, uma vez que ampliaram sua alavancagem com as entradas de capital registradas no período pós-2008. De acordo com os articulistas, as saídas de capital terão um efeito adverso sobre os preços do seu capital, incrementando a parcela das dívidas sobre o capital, e aumentando a probabilidade de incumprimentos. “O problema é particularmente grave nas economias em desenvolvimento exportadoras de mercadorias, onde as empresas se endividaram extensivamente, prevendo que os preços das mercadorias continuassem elevados”.

Segundo Stiglitz e Rashid, “muitos governos de países em desenvolvimento não souberam aprender as lições de crises anteriores, que deveriam ter desencadeado regulamentações e impostos que restringissem e desencorajassem as exposições cambiais”, e agora devem tomar medidas rápidas para evitar as responsabilidades por tais exposições. “Procedimentos de insolvência mais expeditos e amigáveis para os devedores poderiam garantir reestruturações rápidas e constituir um enquadramento para a renegociação de dívidas”, dizem os articulistas, entre outras medidas que poderiam ser adotadas.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

6 Comentários

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  1. Globo censura dois parágrafos de artigo de Stiglitz
    Globo censura dois parágrafos de artigo de Stiglitz. Seguem os parágrafos cortados pelo Globo:

    “There are other policies that hold out the promise of restoring sustainable and inclusive growth. These begin with rewriting the rules of the market economy to ensure greater equality, more long-term thinking, and reining in the financial market with effective regulation and appropriate incentive structures.
    But large increases in public investment in infrastructure, education, and technology will also be needed. These will have to be financed, at least in part, by the imposition of environmental taxes, including carbon taxes, and taxes on the monopoly and other rents that have become pervasive in the market economy – and contribute enormously to inequality and slow growth. ” Uma tradução rasteira seria: “Existem outras políticas que poderiam restaurar um crescimento sustentável e inclusivo. Para começar, é preciso reescrever as regras da economia de mercado para assegurar maior igualdade, buscar mais planejamento de longo prazo, e colocar rédeas no mercado financeiro, com regulação efetiva e estruturas adequadas de incentivo. Mas também será necessário um grande aumento do investimento público em infra-estrutura, educação e tecnologia. Este terá de ser financiado, ao menos em parte, pela criação de impostos ambientais — inclusive sobre a emissão de carbono — e de impostos sobre o monopólio e outras rendas não ligadas à produção — que se disseminaram na economia de mercado e contribuem enormemente com a desigualdade e o crescimento fraco.” Ou seja, a censura ideológica do globo contra políticas econômicas alternativas às políticas ortodoxas de ajuste fiscal. Os parágrafos cortados falam de políticas de distribuição de renda, aumento da intervenção estatal sobre os mercados e sobre impostos sobre rendas de monopólio que se tornaram danosos para a economia de mercado. Interessante notar que Stiglitz fala em taxação de carbono. O que está paralisando a economia mundial  image     O que está paralisando a economia mundialNos EUA, o afrouxamento monetário não promoveu um salto no consumo View on oglobo.globo.comPreview by Yahoo   What’s Holding Back the World Economy?  image     What’s Holding Back the World Economy?The dominant policies pursued by developed countries during the post-crisis period – fiscal retrenchment and quantitative easing – have offered little support for h… View on http://www.project-syndica...Preview by Yahoo   

     

  2. ISSO É BOM PRA TOMAR VERGONHA NA CARA!

    Nossos empresários deveriam apoiar políticos em grupo, amarrando o apoio à atuação deles contra a corrupção. Porque se não tivéssemos nossos cofres públicos assaltados, o BNDES poderia financiar o empresariado com juros iguais aos do exterior. Mas não, eles quiseram promover a roubalheira, pra tirar uma casquinha. Afinal, se precisassem de crédito, era só correr no exterior. Agora eles viram quem manda e desmamanda no mundo, o tamanho da especulação, e o tombo que vão levar. O melhor juiz para acabar com a roubalheira é o povo, que precisa ser respeitado, e ver seus ABAIXO ASSINADOS com poder pára convocar PLEBISCITOS, REFERENDOS, e RECALLS. Confiram:

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/723362161132782/?type=3&theater

     

  3. “De acordo com os

    “De acordo com os articulistas, as saídas de capital terão um efeito adverso sobre os preços do seu capital, incrementando a parcela das dívidas sobre o capital, e aumentando a probabilidade de incumprimentos. “O problema é particularmente grave nas economias em desenvolvimento exportadoras de mercadorias, onde as empresas se endividaram extensivamente, prevendo que os preços das mercadorias continuassem elevados”.”

    O sistema capitalista vive de traição em traição, por parte de economistas em relação ao seu país de origem. Em primeiro lugar porque eles usam dois sistemas: a conversão potencial do país com seu povo alienado para o estrangeiro; e o sistema nacional que renunciou governar os próprios valores da produção e exporta igual produção para receber a “conversão do câmbio de dimensão” que investiu na troca de moedas, anula o desenvolvimento alheio, e se reproduz no sujeito da doutrina imperialista.

    Em segundo lugar temos os economistas especuladores das nações, chamados de articulistas, que são os especialistas estrangeiros que, com competência de prostitutas, articularam as determinações empíricas do sistema satânico que engendrou tudo que poderia, a princípio, se tomar por uma simples abstração da produção, e a qual lhes pertencem efetivamente o saber, por perversão dos economistas que traíram a validade correta da reflexão; ignorando que o dinheiro com os correlatos naturais do valor do trabalho fundamentaria toda consciência que torna possível multiplicar em liberdade.

  4. Não

    Ele diz no texto

    “A capitalização bolsista nas bolsas de Mumbai, Joanesburgo, São Paulo e Xangai, por exemplo, quase triplicou nos anos que se seguiram à crise financeira”

    Mas a informação esta errada no que se refere a bolsa , no Brasil ocorreu o contrario, certo ?

  5. amenizando o pessimismo

    Nassif

    O Brasil tem uma boa  chance de se posicionar bem na critica situacao atual.

    Nossa mais expressiva  entrada de dolares hoje esta vinculada a venda de commodities e agricultura.

    Realmente nosso carro chefe, o minerio de ferro, esta despencando, com a baixa na importacao chinesa. A exportaçãao  de Petroleo, fica prejudicada em face dos preços  baixissimos no mercado mundial hoje. 

    Mas temos a agricultura. Transformamo-nos, graças as politicas de Roberto Rodrigues, no primeiro governo Lula, na maquina de exportação agro-pecuaria que somos hoje. E a China não vai deixar de importar alimentos, dos quais somos os mais importantes exportadores no mundo. E podemos continuar o crescimento, já que temos tido grandes investimentos em modernizacao dos portos, ou criacao de novos portos, assim como nas ferrovias, com investimentos de monta.

    Na  parte da materia de Stiglitz  sensurada pela Globo, sua indicacao de investimentos em infra estrutura, vai nos dar novos alentos, assim que a crise politica ficar amenizada. O empresariado não pode continuar apoiando essa loucura da oposição, do quanto pior melhor. O programa de leniencia devera se impor, e as empreiteiras poderao voltar a funcionar.

    E a parte mais dificil, nosso parque industrial, endividado em  dolares, em geral é divida de filial com a matriz.  Neste caso, o governo pode montar um mecanismo de uso de nossas imensas reservas em dolares, para amenizar a situacao de nossos industriais que importaram equipamentos do exterior.

    Continuar investindo pesado em infra estrutura, é a saída para o desemprego. Até que a situação se equilibre. Será um ano de reajuste pesado. Se Dilma conseguir montar um gabinete de crise, e atuar  nesse sentido, o Brasil mais uma vez será um dos menos afetados.

  6. amenizando o pessimismo

    Nassif

    O Brasil tem uma boa  chance de se posicionar bem na critica situacao atual.

    Nossa mais expressiva  entrada de dolares hoje esta vinculada a venda de commodities e agricultura.

    Realmente nosso carro chefe, o minerio de ferro, esta despencando, com a baixa na importacao chinesa. A exportaçãao  de Petroleo, fica prejudicada em face dos preços  baixissimos no mercado mundial hoje. 

    Mas temos a agricultura. Transformamo-nos, graças as politicas de Roberto Rodrigues, no primeiro governo Lula, na maquina de exportação agro-pecuaria que somos hoje. E a China não vai deixar de importar alimentos, dos quais somos os mais importantes exportadores no mundo. E podemos continuar o crescimento, já que temos tido grandes investimentos em modernizacao dos portos, ou criacao de novos portos, assim como nas ferrovias, com investimentos de monta.

    Na  parte da materia de Stiglitz  sensurada pela Globo, sua indicacao de investimentos em infra estrutura, vai nos dar novos alentos, assim que a crise politica ficar amenizada. O empresariado não pode continuar apoiando essa loucura da oposição, do quanto pior melhor. O programa de leniencia devera se impor, e as empreiteiras poderao voltar a funcionar.

    E a parte mais dificil, nosso parque industrial, endividado em  dolares, em geral é divida de filial com a matriz.  Neste caso, o governo pode montar um mecanismo de uso de nossas imensas reservas em dolares, para amenizar a situacao de nossos industriais que importaram equipamentos do exterior.

    Continuar investindo pesado em infra estrutura, é a saída para o desemprego. Até que a situação se equilibre. Será um ano de reajuste pesado. Se Dilma conseguir montar um gabinete de crise, e atuar  nesse sentido, o Brasil mais uma vez será um dos menos afetados.

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