CQC e o trabalho de deslegitimação da política

CARTA POTIGUAR

O que você faria se, sistematicamente, entrasse alguém em seu ambiente de trabalho – mesmo que público – com perguntas, muitas delas cretinas, ofensivas, procurando lhe colocar em uma situação de embaraço perante o país inteiro? É compreensível gostar do programa televisivo, mas não há como negar que a indagação com a qual eu iniciei o texto representa a estratégia básica do CQC veiculado pela Band.

CQC1Desinformativo, o “Custe o Que Custar” alimenta um senso comum muito bem estabelecido no Brasil – aquele que enfatiza a política como sinônimo de corrupção, de desperdício de dinheiro. Os entrevistadores liderados por Marcelo Tas, geralmente jovens portadores de uma linguagem modernosa de classe média e com uma pauta boba, tentam levar os deputados e senadores ao ridículo. No final, sempre a mensagem, digamos, subliminar – esse cara, o político, não sabe de nada, é um desocupado e por aí vai. Há uma paulatina perspectiva de não apresentação da verdadeira realidade das casas legislativas, geralmente as mais visitadas pelos repórteres.

Ora, na Câmara e no Senado se trabalha, e bastante. Um deputado permanece três dias da semana em Brasília – terça, quarta e quinta. Durante sua estadia na capital federal, participa de inúmeras votações, compõe comissões, recebe muita gente no seu gabinete com as mais variadas demandas. Mas seu labor não se encerra um dia antes da sexta. No fim de semana, retorna para a sua localidade aonde cumpre extensa agenda de contato direto com suas bases.

No meu estado, o Rio Grande do Norte, o senador pelo PMDB, Garibaldi Filho, chega a visitar mais de 10 municípios no sábado e domingo. Em semelhante espaço de tempo, a deputada federal Fátima Bezerra (PT), repercutiu o noticiário recentemente, bateu algumas cidades, para fechar acordos em prol da implantação de Institutos Federais. Não é passeio. É trabalho.

O salário de um legislador é muito bom, é válido argumentar. Mas não é nada fora da realidade, se compararmos com outras funções de Estado igualmente relevantes – juiz, procurador, membro de tribunais de contas, etc.

O CQC vende aquele tipo de ideologia que nos faz colocar a cabeça no travesseiro em paz. Afinal, se temos um Judas para malhar e para concentrar todas as nossas frustrações enquanto sociedade, o resto continua intacto – a desigualdade, por exemplo –, vira mundo cor de rosa.

REVELAÇÕES

É elucidativo o fato de que Rafinha Bastos e Danilo Gentili, ambos revelados pelo CQC, tenham, em suas carreiras solo, se enrolado em piadas racistas e de ataque aos direitos das mulheres. Como disse Jânio de Freitas, é o comediante que critica o politicamente correto, para se tornar, na verdade, politicamente fascista.

Redação

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