Crise: Energia e Economia

 

O declínio da qualidade da energia e a actual recessão

por ScienceDaily

Uma causa desapercebida da recessão económica nos EUA é o declínio ao longo de uma década da qualidade da oferta de energia do país, medida frequentemente como a quantidade de energia que obtemos de um dado input energético, afirma o perito em energia Carey King da Universidade do Texas-Austin. 

Muitos economistas apontaram a explosão de uma bolha imobiliária como o disparador inicial da actual recessão, a qual por sua vez fez com que investimentos globais no imobiliário dos EUA deteriorasse e arrastasse para baixo a economia global. King sugere que a bolha imobiliária explodiu porque muitos foram forçados a pagar uma percentagem cada vez mais alta do seu rendimento pela energia – incluindo electricidade, gasolina e óleo de aquecimento – deixando menos dinheiro para as suas hipotecas habitacionais. 

Em termos económicos, a qualidade da oferta de energia do país é referida pelo rácio Energia Retornada sobre Investimento em Energia (Energy Return on Energy Investment, EROI). Exemplo: se uma companhia de petróleo usa um décimo de um barril de petróleo para furar, bombear, transportar e refinar um barril de petróleo, o EROI para o combustível refinado é 10. 

“Muitos economistas não pensam acerca da energia como um factor limitante do crescimento económico”, diz King, investigador associado do Center for International Energy and Environmental Policy da universidade. “Eles pensam que melhorias contínuas na tecnologia e na eficiência separaram completamente os dois factores. A minha investigação faz parte de um crescente conjunto de evidências de que isso simplesmente não é verdade. A energia ainda desempenha um grande papel”. 

Num documento publicado em Novembro na publicação Environmental Research Letters, King apresentou um novo meio de medir a qualidade da energia, o Rácio de Intensidade da Energia (Energy Intensity Ratio, EIR), que é mais fácil de calcular, é altamente correlacionado com o EROI e em certos aspectos mais poderoso do que o EROI. O EIR mede quanto de proveito é obtido pelos consumidores de energia em relação aos produtores de energia. Quanto mais alto o EIR, mais valor económico os consumidores (incluindo negócios, governos e pessoas) obtém da sua energia. 

Quando King coloca o EIR num gráfico para vários combustíveis ano a ano desde da II Guerra Mundial, os gráficos indicam dois vastos declínios, um antes da recessões de meados dos anos 1970 e princípio dos anos 1980 e o outro durante os anos 2000, levando à actual recessão económica. Houve outras recessões nos EUA desde a II Guerra Mundial, mas a mais longa e mais profunda foi antecedida por declínios constantes do EIR em relação a todos os combustíveis. 

O EIR é proporcional ao EROI, o que significa que ascendem e caem em conjunto, mas os dados básicos por trás dos cálculos do EIR são divulgados anualmente ao passo que os do EROI a cada cinco anos. O EIR também dá percepção quanto às diferentes partes da cadeia da oferta tais como na refinaria e na bomba de gasolina, as quais são mais difíceis de estudar com o EROI. 

A análise de King sugere que se o EIR cai abaixo de um certo patamar, a economia cessa de crescer. Exemplo: em 1972 o EIR para a gasolina era 5,9 e em 2008 era 5,5. Durante tempo de crescimento económico robusto, tal como a década de 1990, o EIR da gasolina estava bem acima de oito. Ao comparar com algumas estimativas do EROI e do EIR para o etanol produzido a partir do milho fica claro porque este tem sido amplamente criticado como uma fonte de energia de baixa qualidade. 

Para conseguir que a economia dos EUA cresça outra vez, King diz que os americanos terão de produzir e utilizar energia mais eficientemente. O que é essencialmente o que fez o país após a última crise energética ao elevar padrões de eficiência do combustível em carros, aumentar a utilização do gás natural para a produção de energia eléctrica e desenvolver novas tecnologias como a Recuperação Melhorada de Petróleo (Enhanced Oil Recovery) para extrair mais óleo do solo. 

“Se não mudarmos fundamentalmente o modo como agora produzimos ou consumimos energia, não espere que a economia cresça tanto quanto nas últimas duas décadas”, afirma ele. 

02/Dezembro/2010

 

Referência: 
C. W. King. Energy intensity ratios as net energy measures of United States energy production and expenditures. Environmental Research Letters, 2010; 5 (4): 044006 DOI: 10.1088/1748-9326/5/4/044006 

O original encontra-se em http://www.sciencedaily.com/releases/2010/11/101130103617.htm 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

 

Luis Nassif

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