Crise no Grupo RBS provoca saída do presidente Duda Melzer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Nelson para Eduardo, na festa da posse da RBS em 2012: “Duda, não se acadele!”/Foto Divulgação RBS
 
Jornal GGN – Depois de apresentar, em setembro de 2014, o esquema do Grupo RBS – o grupo sulista afiliado da Rede Globo – para os seus principais executivos tentarem estancar a crise que sonda o conglomerado, o jornalista Luiz Cláudio Cunha anuncia que o presidente Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda, será afastado.
 
No segundo semestre do último ano, Luiz Cláudio Cunha publicou os efeitos da contratação do consultor Cláudio Galeazzi, que provocou mudanças estruturais em nomes de confiança do Grupo RBS, antes da rodada de demissões de 130 funcionários e a intenção de mais 200 outros cortes.
 
Contrariando as aparências de um executivo que sabe lidar com a crise dos meios de comunicação, como o seu artigo publicado na Folha de S. Paulo “O futuro a nós pertence“, no dia 12 de dezembro de 2014, e mais recentemente a sua apresentação “Liderar e construir oportunidades em tempos de crise”, para mais de 230 empresários, em maio deste ano, explanando sobre como enxergar na crise oportunidade, Eduardo Sirotsky deve ser cortado do posto em outubro, segundo o jornalista.
 
Do Jornal Já
 
Exclusivo: RBS busca substituto para Duda Melzer
 
Por Luiz Cláudio Cunha
 

Ainda não é oficial, mas será: caiu o presidente do Grupo RBS, Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda.

O afastamento do principal executivo do maior grupo de mídia do sul do país deverá ser formalizado em outubro. Uma empresa de head-hunters de São Paulo já está procurando um profissional que assuma o comando do conglomerado sulista e de forte repercussão na mídia nacional, já que a RBS é a maior afiliada da Rede Globo no Brasil.

O grupo possui 18 emissoras de tevê que cobrem 789 municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de sete rádios e seis jornais, liderados por Zero Hora, o diário mais influente da região e o sexto jornal de maior circulação no Brasil.

Eduardo Sirotsky, neto do fundador da RBS, Maurício Sirotsky (1925-1986), assumiu o comando do grupo em 2012, recebendo o bastão de comando do tio, Nelson Sirotsky, da segunda geração da família mais poderosa da mídia da região Sul.

O que parecia promessa virou decepção. O jovem Duda, então com 40 anos, se defrontou com uma crise de conjuntura que mesclou redução de faturamento, aumento de custos, fuga de leitores e a crise existencial da internet que atingiu o fígado, o bolso e o modo de operação dos jornais impressos, núcleo central que sempre deu prestígio e influência às famílias tradicionais da grande mídia brasileira.

A crise que afetou Zero Hora e outros grandes jornais erodiu o prestígio dos Sirotsky – e o comandante em exercício na terceira geração, Duda, acabou pagando o pato. Para tentar estancar a sangria, ele acertou em 2013 a contratação de um consultor respeitado em São Paulo e temido pelo apelido que o define: Cláudio Galeazzi, um especialista em hemorragias empresariais que, à custa de seu rigor impiedoso e cirúrgico, conquistou no mercado a merecida fama de Galeazzi Mãos de Tesoura.

Sua aparição no grupo, sobrevoando o emprego de seus 6.500 funcionários, foi revelada aqui no JÁ numa reportagem em setembro de 2014 sob o título de “A tesoura que assombra a RBS”. A lâmina de Galeazzi cortou fundo na empresa, fundo demais. O fio agudo do consultor acabou sangrando até as relações entre criador e criatura, os dois Sirotsky que se revezaram no poder, Nelson e Eduardo.

Gente de confiança de Nelson foi tesourada, sem piedade, pelo plano de arrocho imposto por Eduardo. Dois homens da tropa de elite de Nelson — o vice-presidente de jornais, rádio e digital, Eduardo Smith, e o diretor de jornalismo, Marcelo Rech — foram excluídos do círculo de decisão da RBS, provocando uma cisão irreparável nas relações entre tio e sobrinho. Eduardo afastou Rech da área crítica da direção editorial, contrariando frontalmente a visão de Nelson, que via o jornalista como uma referência de ponderação nas decisões sempre delicadas da redação.

Apostas erradas

O sobrinho, um inexperiente administrador de empresas com rápida passagem na juventude por uma inexpressiva franquia de pirulitos e balas, acabou sendo uma aposta errada do tio. Eduardo não mostrou o talento e o apego jornalístico que Nelson herdou do pai, Maurício, um homem que trazia a comunicação nas veias do veterano profissional de rádio.

A sangria desatada dos últimos tempos mostrou ao clã Sirotsky que o próprio Galeazzi e sua impiedosa tesoura também foram apostas equivocadas. Nelson e membros da família acham, agora, que a dose foi exagerada, e o desgaste na imagem vencedora da RBS tornou-se insuportável. Os laços profissionais com Galeazzi estão cortados, ele já cumpriu sua missão de serial killer com louvor, e ninguém mais quer lembrar de sua sangrenta passagem por lá. Para conveniência geral, a conta da contratação de Galeazzi ficou nos ombros largos do jovem Duda Sirotsky.

Diante do tamanho da crise que afeta os negócios da comunicação, agravada pelas dificuldades mais amplas da economia brasileira, a família Sirotsky percebeu agora que Eduardo não tem o perfil para cavalgar o tsunami da conjuntura e não tem o pulso necessário para impor um novo rumo à RBS.

Com a frieza de um Galeazzi, Nelson aprovou, na família, a dolorosa decisão de tesourar o sobrinho, afastando-o da cadeira de comando antes que o buraco fique maior. Coincidência ou não, isso fará com que Eduardo Sirotsky Melzer compareça à CPI do CARF, no Senado Federal, na condição de ex-dirigente da RBS. Ainda não há data marcada para seu depoimento, mas ele já foi convocado para depor em nome da RBS, uma das principais empresas brasileiras flagradas pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, que investiga a manipulação de multas e crimes de sonegação no âmbito da Receita Federal.

Fim da perpetuação

Eduardo prepara o desembarque da RBS há algum tempo. Nunca formalizou a transferência da mulher, Lica, de São Paulo para Porto Alegre e, há algum tempo, trocou a casa na capital gaúcha por um apartamento, onde mora só. A mudança já foi concluída para a sua mansão no elegante bairro do Morumbi, na capital paulista, onde ele pretende morar definitivamente — dentro ou fora da RBS.

A ousada decisão da RBS de requisitar os serviços de uma empresa head-hunter para definir o sucessor de Eduardo mostra que a família desistiu do privilégio hereditário de manter um Sirotsky no comando da empresa. É um exemplo inesperado de profissionalismo, que afeta o dogma da ‘perpetuação’ que o clã Sirotsky cultivou com obstinação até agora. Mas, revela também o reconhecimento de que não encontraram, nas veias familiares, o talento empresarial necessário para manter a RBS no rumo de sucesso que tinha com os dois primeiros Sirotsky, Maurício e Nelson.

No grande evento de Porto Alegre da transmissão de mando na RBS, em 2012, as fotos mostram um sorridente Nelson Sirotsky cumprimentando o eufórico Eduardo Sirotsky Melzer. Sem perceber que o microfone continuava aberto, o tio deu um forte abraço no sobrinho e fez uma clara recomendação, que repetiu duas vezes, numa inconfidência que ecoou pelo salão:

— Não se acadele, Duda, não se acadele!

O verbo acadelar, no restrito linguajar gauchesco, significa desmotivar-se, perder a coragem, apequenar-se, quase uma desonra para o rígido código de ética do gaúcho tradicional. Nelson Sirotsky, sem querer, definiu nesse descuido, num momento de festa, o que acontece agora no momento de tragédia pessoal do sobrinho.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. O caso RBS

    As cabeças ainda acreditam que o choque de gestão é a melhor maneira de reerguer uma empresa. No caso dos grupos de Comunicação nem cortes com pessoal vai resolver a imensa mudança paradigmatica que surge em nossos tempos.

     E sera que é so o Duda Melzer que deve responder pela sonegação do grupo RBS?

  2. A rbs, a propineira, amrgou

    A rbs, a propineira, amrgou quatro anos de governo petista. Qual assume o PT a rbs fica falida. Quando assumem os partidos empregados dessa empresa, quem fica flido é o estado.

  3. Colheita

    Um dito popular, sabio como tantos outros diz: “quem semeia vento colhe tempestade”.

    A globo e suas afiliadas, no intuito de desgastar a Presidenta Dilma e o seu partido, o PT, tem incutido na cabeça dos brasileiros, nas suas doses de pessimismo que ela chama de “tele jornais”,  que a crise que ainda atinge vários países, é  tão somente um problema  brasileiro. “Sábios” como sua  “analizadora de economia” a tal Mírian Leitão, não previram que o bumerangue voltaria contra eles mesmos. Quem vai veicular   propaganda comerciais “nessa crise braba”   que  eles com tanto gosto  propagam? A revista de fofocas veja, os pasquins folha e o globo e mentirosa época vestão colhendo o que plantaram: crise.

  4. mundos diferentes anos-luz de

    mundos diferentes países distantes anos-luz na gestão e governança…

    Crise no Grupo RBS provoca saída do presidente Duda Melzer

    elementar, meu caro nassif

    pero si

    Crise do Governo Dilma provoca ataque de nervos com unhas e dentes pra não largar o osso da presidência sem presidenta com crediblidade e confiança, mínimas que sejam, para exercer com poder de mando e sabedoria o cargo de presidente do Grupo Brasil SA.

     

     

  5.  
    O Homem não cansava de

     

    O Homem não cansava de dizer, e olhe que isso se passou há mais de dois milénios: “Quem com o ferro fere, com o ferro será ferido.”

    Orlando

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