Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Crônica das escolhas profissionais e gastronômicas, por Rui Daher

Estou quebrado? Ainda não. Pode ser que um dia esteja? Talvez, no Brasil atual. Continuarei lutando? Sim, pelos meus ideários e empresa. Trabalho a semana inteira. Dizem que assim dá certo

Esta crônica foi originalmente postada na página do Facebook da Biocampo Desenvolvimento Agrícola, nossa empresa de consultoria. Pretendo lá postar dois textos por semana sobre agronegócios. Continuo uma vez por semana no site de CartaCapital e o tempo todo aqui.

Não sou um especialista, mas o tempo de vida ensinou-me a comer bem e barato. Há 20 anos, quando às expensas de pessoas jurídicas, a segunda parte da equação não me incomodava. Não eram escolhas minhas. Vinham Ca D’Oro, La Tambouille, Rodeio, Suntory, etc. Acompanhava, mas me desesperavam conversas reacionárias, racistas, preconceituosas. Apenas contava os minutos para o sacrifício terminar. Naquele tempo, podia-se fumar nos restaurantes. A cada cigarro e mais um café que um deles acendia ou pedia, era como uma facada em meu saco.

Não terminavam nunca. Pior, sabia que no dia seguinte teria que aguentar o mesmo assunto em reuniões no escritório. Por que, então, não comer e deixar o trabalho para amanhã?

Esses eventos nunca eram às quintas-feiras. Claro. Na sexta, eles iriam aos seus sítios, fazendas e casas de praia. Não sem passarem o dia me ligando “se tudo estava bem”.

A um deles, preocupado de como andavam as coisas em sua fazenda, pronto à demissão, respondi: “Tudo bem senhor L., apenas seu mordomo cagou em sua piscina, o cavalariço foi flagrado comendo uma égua, e o fogo queimou 80% de seu laranjal. 

Ah, a Cutrale disse que não vai pagar pela colheita”. 

 Juro, que não falei isso com algum gosto. Eram os fatos.

Talvez, o que melhor tirei dessa época foram meus dedos, faro, experiência, sei lá, seja em qualquer lugar do Brasil, para acertar em 90% dos casos de onde comer e beber. Talvez, o conselho do “Dominó de Botequim”, lá no céu, tenha me ajudado nas escolhas.

Na quarta-feira passada, apesar da temperatura, cismei de que deveria antecipar-me ao inverno e saborear uma feijoada. Cairiam bem a salineira e a Serra Malte.

Escritório tenso, entro no Google, quarta-feira, feijoada, Moema, e proponho à minha sócia, Viviane (nariz um pouco ensimesmado)
encararmos meu drive.

Carai, véios, véias e jovens. Pepita de ouro, cotada como se a Bolsa de Valores, fosse na Rua dos Timbiras, em São Paulo.

A bariátrica me faz comer pouco. A sócia, preocupada com a empresa nesse governo não agropecuário, come como passarinhos. Reais 34, para os dois, e um calmo terceiro finalizaria a excepcional feijoada.

Por que eu continuaria no sacrifício de ser alto (não em estatura) de executivo de 20 anos atrás?

Estou quebrado? Ainda não. Pode ser que um dia esteja? Talvez, no Brasil atual. Continuarei lutando? Sim, pelos meus ideários e empresa. Trabalho a semana inteira. Dizem que assim dá certo.

Sei lá. É como sei viver.

https://www.youtube.com/watch?v=x8A1M6lnPGI

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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