Crônicas de uma civilização estúpida – por Helena Palmquist

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Muito calor na beira do rio Teles Pires. O rio transbordando nessa cheia de 2014 que todos os amazônidas sem exceção comentam assombrados ser a maior já vista. Uma nuvem negra de piuns segue e devora sem piedade, por todos os lados, tudo que é de carne e que se mexe. As casas dos índios são de paredes de madeira em treliça e cobertas de telhados belíssimos de palha. Dentro das casas, os piuns não entram por causa da treliça. E por causa da palha, mesmo sob o sol do meio-dia, não faz calor. A diferença é de uns 5 graus a menos, pelo menos, dentro das casas.

Aí eu vou visitar a casa dos profissionais de saúde que atendem a aldeia e me convidaram para comer uma galinha de panela (chupa Alex Atala). A galinha estava deliciosa (chupa de novo Alex Atala). Mas dentro da casa deles a temperatura é uns 5 graus mais quente do que do lado de fora. Em vez de fazer os telhados e as paredes do mesmo jeito que os índios, os brancos fizeram a casa pro pessoal da saúde de alvenaria e com telhado de brasilit. A opção é entre ser devorado pelos piuns do lado de fora ou cozinhar lentamente como uma galinha do lado de dentro.

Crônicas de uma civilização estúpida.

 

 

Redação

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