…das tragédias, da tragédia brasileira…

…das tragédias, e da tragédia brasileira….
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A origem da palavra “tragédia” remonta aos gregos, não vou entrar nos detalhes, apenas salientar que em relação à tragédia enquanto teatro, arte, Aristóteles acreditava que ela resultava numa “catarse da audiência”. Gosto dessa síntese, acho-a perfeita não só em relação à tragédia enquanto gênero teatral grego, como na forma que a palavra tomou na cultura ocidental ao longo dos séculos.
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Mas reflitamos um pouco sobre essa palavra, e como ela pode ser vista por nós de modo concreto: o que é trágico, afinal? o evento em si ou o que provoca em nós de sofrimento?
É trágica a morte do ser querido, ou é trágica a dor que sentimos por sua perda? Ou ambos? Haveria “tragédia” nesse evento se a morte, culturalmente falando para nós fosse um evento natural, sem conotação de perda e dor? É, portanto tragédia, “o olhar trágico ou não que coloco sobre determinado evento?” – se esse olhar não for “trágico”, perde o evento essa característica, a de ser tragédia?
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Toda essa introdução visa na verdade um breve e vulgar comentário sobre a situação do Brasil hoje, esse processo que vivemos, de aviltamento dos direitos, da pobreza intelectual, ética e espiritual de parcela imensa da sociedade, banhada em obscurantismos, preconceitos, fanatismos e ódio, e o golpe em si, a ditadura que se instala rapidamente no país.
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Podemos encarar essa “tragédia” de dois modos: o modo cartesiano, que vê apenas “a coisa em si” – o golpe, a saída de Dilma, as torpezas de Moro e Janot, a sordidez da grande mídia, o ódio dos antipetistas….. – Se pomos nessas coisas nosso “olhar trágico”, temos então nosso “objeto trágico”, o motivo de nosso sofrimento.
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Quero trazer um novo olhar, que apesar de exaustivamente comentado e estudado na Blogosfera, penso eu, “perdeu em importância” por seu caráter aparentemente “subjetivo” – e falo aqui, da verdadeira tragédia, sem a qual, talvez não houvesse condição para a tragédia “factual”, o golpe em si. Trata-se da facilidade absoluta que a grande mídia manipulou uma parcela imensa da sociedade, usando seus medos e preconceitos inconscientes, para criar um ambiente HISTÉRICO, PAROXÍSTICO, PERVERSO, FANÁTICO e mergulhado em medos e ódios diversos, SEM QUE HOUVESSE UMA RAZÃO OBJETIVA SEQUER que justificasse essas pessoas serem tão absurdamente escravizadas aos paradigmas criados pela mídia.
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Eis a verdadeira tragédia, por trás da tragédia factual, a que veio em função da primeira.
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Não existem heróis sem plateia que os reconheça e aplauda… Não haveria Sérgio Moro, num país civilizado!
Não existe violação gravíssimas dos direitos fundamentais, da Constituição, sem um Supremo acovardado pela mídia e pela opinião pública.
Ou seja, não haveria lava jato, nem prisões provisórias eternas, nem delações sob tortura, nem vazamentos seletivos à mídia de processos sob sigilo, num país sem a Globo e sem uma sociedade enferma, deseducada, bárbara, tosca, a engolir todas as farsas e enredos jogados pela Globo no inconsciente coletivo da nação…..
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É preciso enxergarmos os “porquês” das coisas, os fatores, todos eles, políticos, sociais, culturais, PSÍQUICOS, que envolvem sim as enfermidades sociais claramente presentes no Brasil, há séculos!
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É essa a nossa TRAGÉDIA PERMANENTE, foi o que engoliu Vargas, depois Jango, e agora destruirá Lula, com sua prisão e inelegibilidade…..
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Até quando, seguiremos vendo como “tragédias” apenas os eventos traumáticos oriundos desse caldo, disso que é, afinal, nossa sociedade, seus medos, seus preconceitos, seu narcisismo arrogante, sua indiferença total com nossos pobres, há séculos?
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Se nosso foco for apenas político, certamente um dia sairemos desse novo golpe, certamente um dia, um outro líder progressista, preocupado com inclusão social, soberania nacional, preservação de nossas riquezas, ganhará a eleição e reiniciará mais uma vez um processo que nos trará novidades, esperanças, sonhos….. Mas se a VERDADEIRA TRAGÉDIA NACIONAL não for enxergada, apreendida e resolvida, mais uma vez a força bruta, via militares ou Judiciário ou invasão externa, o que for, será utilizada por nossa plutocracia, para ter o poder de volta em suas mãos.
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Portanto, seja para vermos as possibilidades de “Educação” dessa parcela da sociedade zumbificada, afacistada, reacionária ao extremo, selvagem, tosca, ou a formação VERDADEIRA no país, de uma classe PROLETÁRIA POLITIZADA, o que o PT desprezou totalmente, para que tenhamos nas ruas números maiores que os da nossa elite e classe média, não importa, o fato é que precisamos saber que não é só política a luta, ela é contra toda uma classe social (classe média unida às elites do país….) IGNARA, MANIPULADA, CEGA, mas que vai ás ruas com furor, quando instigada pela mídia.
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A Globo é uma de nossas tragédias! A Não regulação da mídia, por consequência, é tragédia idem…. A indiferença como nossa esquerda trata a obra de chegar até nossas comunidades carentes, provavelmente a maior de nossas tragédias! E talvez uma tragédia irmã dela, seja a vaidade dos políticos de esquerda, e seus militantes, de se acharem “voz suficiente” para representar esses milhões e milhões de pobres, moradores em favelas e periferias…. A eleição de Dória Jr. no primeiro turno, demonstra o quanto estão enganados.
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Seria interessante então, que cada brasileiro que enxerga – com justiça! – o golpe em si como uma imensa tragédia, colocasse esse mesmo “OLHAR TRÁGICO” sobre cada fator presente ou ausente, que nos trouxe a esse caos, esse abismo.
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Toda a indignação do mundo, toda a revolta, todo o destemor, toda a luta, serão em vão, se eles souberem o que estão fazendo e onde colocar sua força, sua energia, suas falas e ações.
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Precisamos ter a coragem e a sabedoria, de ampliar nosso foco de visão, e aprendermos como juntar mais brasileiros em torno das ideias que acreditamos mais justas, mais libertárias, mais de nossa nação, precisamos aprender a “jogar o jogo deles”, precisamos mudar o foco de nossas “tragédias”, não só para os eventos em si, mas para tudo aquilo que “provocou os eventos” que hoje nos devoram.
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(eduardo ramos)

Redação

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