De como a Globo contou a história da saúde no Brasil pela metade

De como a Globo contou a história da saúde no Brasil pela metade
O que o senhor achou da reportagem da TV Globo sobre a saúde no Brasil?, perguntou Simplício ao professor Galileu.

– Tudo o que ela exibiu na tela é rigorosamente verdadeiro, respondeu o mestre. Mas a conclusão dela de que o sistema de saúde brasileiro todo não presta é uma falsidade.

– Como pode ser isso?, interveio Angeline.

– Simples, junte 300 milhões de pessoas que fazem consultas pagas pelo SUS por ano, algumas mais de uma vez, e selecione apenas os casos de mau atendimento e você terá um quadro totalmente distorcido da realidade.

– Mas tem gente morrendo nas filas do SUS, cutucou Angeline.

– Entre mais de 300 milhões de consultas, você há de convir que há pessoas mal atendidas e também gente sendo bem atendida e sobrevivendo. Provavelmente é a grande maioria.

– Então a Globo está exagerando a gravidade da situação?, perguntou Simplício.

– O objetivo da Globo é político: ela não tolera que Dilma esteja com popularidade tão alta e subindo. Tem que derrubá-la por todos os meios. Se o interesse dela fosse melhorar o sistema de saúde brasileiro ela faria uma campanha pela restauração da CPMF, a contribuição que se tentou criar para o financiamento da saúde e que foi liquidada pelas elites econômicas.

– O senhor está reconhecendo que o sistema é ruim na medida em que propõe mais imposto para financiá-lo.

– É verdade, o sistema de saúde não é perfeito. Está longe disso. Mas vocês hão de convir que pagar 12 milhões de operações complexas por ano, cerca de 1 milhão por mês, é um feito considerável e de poucos precedentes no mundo. Sem falar em certas aberrações acobertadas pelo Judiciário irresponsável.

– Como assim?, quis saber Angeline.

– Certos juízes obrigam o sistema público de saúde a pagar tratamentos ou comprar remédios caríssimos no exterior como se fosse possível estender esse privilégio a todos os doentes.

– Mas o senhor quer tirar a chance do sujeito viver?

– Compreenda bem, Angeline. Todos nós morremos. Se damos o privilégio de um tratamento especial a uma pessoa na expectativa de prolongar a vida dela, as famílias das demais pessoas em condições semelhantes também vão querer o mesmo privilégio. Ao final, estoura o orçamento da Seguridade comprometendo inclusive os tratamentos comuns de milhões de outras pessoas. Você acha que isso está certo?

– O senhor tem razão, disse Simplício antes que Angeline dissesse uma bobagem. O princípio justo nessas questões de vida e morte é condições iguais para todos.

Simplício escreveu na agenda vermelha: Já é tempo de o Judiciário brasileiro passar por uma boa faxina!

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